Diante do enfraquecimento das instituições brasileiras: Executivo, Legislativo, Judiciário, mídia, partidos políticos, a palavra do Papa Francisco no Encontro de Juízes e Magistrados comprometidos contra o tráfico de seres humanos e criminalidade organizada (vaticano, 03-04/06), no qual participaram juízes brasileiros, fortalece “a missão insubstituível” dos magistrados “diante dos novos desafios que nos apresenta a globalização da indiferença, respondendo à crescente exigência da sociedade e no respeito das leis nacionais e internacionais”.
Assumir a própria vocação significa também sentir-se e proclamar-se livre. Juízes e magistrados livres: do quê? Das pressões dos governos; livres das instituições privadas e, naturalmente, livres das “estruturas de pecado”, livres do crime organizado. Sei que sofreis pressões e ameaças em tudo isto; e sei também que hoje ser juiz ou magistrado significa arriscar a vida, e isto merece um reconhecimento à coragem dos que querem continuar a ser livres no exercício da própria função jurídica. Sem esta liberdade, o poder judiciário de uma nação se corrompe e semeia corrupção.
Na liturgia de hoje, um profeta do povo (Natã) denuncia o abuso de poder da autoridade. O Rei Davi não se dá conta da gravidade de seus pecados; o poder obscurece a sua consciência (2Sm 12,7-10.13), até ouvir a acusação: “Esse homem és tu”! A intervenção do profeta desperta sua consciência adormecida, ele reconhece seu pecado e se arrepende com sinceridade. Deus lhe perdoa e o livra da morte; porém não o livra das consequências provenientes de suas faltas, porque cria uma cadeia de injustiças; a responsabilidade dos atos deve ser assumida (VP).
O Evangelho deste Domingo está centrado na misericórdia e no acolhimento que afugenta a discriminação (Lc 7,36-8,3). Jesus mostra que a justiça de Deus se manifesta como amor que perdoa os pecados e transforma as condições das pessoas. O amor é expressão e sinal do perdão recebido.
Ao dar continuidade a sua missão, Cristo vai formando uma comunidade nova, a partir daqueles que são marginalizados pela sociedade do seu tempo, como eram as mulheres. Elas também são parte integrante do grupo que acompanha Jesus (BP).
Assim o acolhimento e compreensão de Jesus aos setores mais excluídos por quase todos e a bênção de Deus: prostitutas, cobradores, leprosos... Sua mensagem é escandalosa: os desprezados pelos homens mais religiosos têm um lugar privilegiado no coração de Deus (Pagola). A razão é só uma: são os mais necessitados de acolhimento, dignidade e amor.
Paulo Apóstolo reafirma que somente Aquele que criou nossa vida é capaz de restaurá-la na sua integridade (Gl 2,16.19-21). A cruz de Jesus, para Paulo, é a chave por excelência que permite abrir a mente e o coração para a verdadeira compreensão do desígnio divino.
Uma pessoa comentava na comunidade: “a crise está estampada no rosto de nossa gente”, e é para esse rosto que Cristo continua a olhar e a demonstrar seu amor preferencial. Rostos que nos interpelam.
O 102º Dia Mundial do Migrante e Refugiado foi celebrado neste ano, no dia 17 de janeiro, com o tema escolhido pelo Papa Francisco, inserido no contexto do Ano Jubilar da Misericórdia: “Migrantes e refugiados nos interpelam. A resposta do Evangelho da misericórdia”.
Para o papa os migrantes não são um perigo, mas estão em perigo. Muitas vezes se olha de maneira preconceituosa para os migrantes sem lhes dar muita atenção.
O Relatório das Nações Unidas mostra aumento de 71 milhões de refugiados em todo o mundo nos últimos 15 anos. O número de migrantes internacionais atingiu a marca de 244 milhões de pessoas em 2015, um aumento de 41% em relação ao ano de 2000, segundo um relatório da ONU divulgado em janeiro de 2016.
Com o tema “Migração e Ecologia” e o lema “O Grito que vem da Terra”
estamos iniciando hoje a 31ª Semana do Migrante (12-19/06), em sintonia com a temática da Campanha da Fraternidade 2016 e com a Encíclica Laudato Si.
O Cartaz da Semana do Migrante mostra o símbolo da natureza, PHISIS, para expressar a nossa Terra e que somos parte dela, e ela é nossa raiz. O rosto é feminino e materno, porque a Terra gera a vida; é jovem e filial porque a Terra precisa de cuidado, não é capaz de sobreviver às inúmeras violências, exige que seus filhos a defendam.
Filhos que a perpassam em todos os sentidos, em todos os aspectos os biomas que a compõem: água, ar, terra, superfícies, alturas, profundezas, macro e micro. A terra, feita de matéria plural é o ser em continua mudança, a alma é o movimento: não consegue parar, mesmo quando doente, sofredora, oprimida.
A terra fecha os olhos para que as injustiças a serem encaradas não a ceguem, e também para encontrar a força no que é invisível: a trilha espiritual não é fora, é dentro! A mãe terra não tem mãos, ela produz com as nossas, é acolhedora, aceita a nossa energia transformativa, mas também não tem como concertar nossos estragos.
Alagamentos, destruição, desmoronamentos de represas, enchentes, terremotos, tsunamis, incêndios, desmatamentos e exploração exacerbada: tudo o que ela sofre a fere e fere por sua vez quem a habita: o estilo dela é radical, totalizante, e permeia o dia-dia de qualquer um. Ela não tem pernas: não foge, e dela não se escapa. A terra grita a alegria de cada arvore que nasce e chora silenciosa em cada floresta que morre.
Uma das mais intensas realidades da natureza é a mobilidade: a humanidade migrante flui como lágrima no rosto da Terra levada pela imensa esperança de alcançar uma Terra boa, para cicatrizar as feridas, para renascer, e viver novamente.
A Igreja do Brasil, através da CNBB tem procurado ressaltar a importância dos migrantes, a gravidade dos problemas relacionados a eles. No trabalho pastoral contamos com o Setor de Mobilidade Humana, o Serviço Pastoral dos Migrantes e com a Pastoral dos Brasileiros no Exterior.
Para o presidente da CNBB, dom Sergio da Rocha, a migração forçada no Brasil é uma questão desconhecida e, por isso, se torna um espaço para o trabalho escravo. Não podemos nos acomodar, como diz o papa Francisco, jamais desistir de sonhar. Que a Casa Comum na qual vivemos seja casa onde acolhemos os migrantes. Em muitos lugares, se verifica um desconhecimento e desinteresse pela causa dos migrantes, e pela nova situação de imigrantes e refugiados, que acabam sendo ignorados.
As religiosas da Congregação das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeo (Scalabrinianas) apostam no protagonismo e na promoção e defesa da vida e dos direitos dos migrantes e refugiados e tantas outras categorias de pessoas e grupos em situação de mobilidade, voluntária ou forçada. As irmãs Carlistas, com seu carisma e presença atuante, fazem parte da trajetória das famílias migrantes de Rondônia e do Acre.
Diante da falta de acolhida dos migrantes, papa Francisco fez um apelo: Que “cada paróquia, cada comunidade religiosa, cada santuário hospede uma família, começando pela minha diocese de Roma” (Angelus/6/9/2015). Que cada um de nós possa “descobrir a misericórdia como forma de convivência”. Devemos construir pontes e não muros. “Onde há um muro, há o fechamento do coração”.
O sistema que produz a mobilidade humana segue dominando o mundo e não dá sinais de mudanças. Segundo a ONU, um número recorde de 130 milhões de pessoas precisa atualmente de ajuda humanitária, sendo que o volume de deslocados hoje é o maior desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Os seres humanos têm se movimentado de um lugar para outro há milênios, por opção ou sob coação, e continuarão a fazê-lo em um futuro próximo.
Na Cúpula Mundial Humanitaria, realizada em Istambul, foi destacado que os direitos humanos precisam estar presentes em todas as fases da ajuda humanitária: da prevenção ao preparo, às respostas de emergência e recuperação, ajudando a moldar a construção da paz, justiça e o desenvolvimento de medidas para mitigar a possibilidade de novas crises.
“Eu era migrante e tu me acolheste”!