Faltam apenas trinta dias para o início da Campanha da Fraternidade (13/02) que retoma o tema Juventude, contudo, 2013 já é o Ano da Juventude, considerando a intensa preparação e a realização da Jornada Mundial da Juventude no Brasil, que vai acontecer no Rio de Janeiro de 23 a 28 de julho.
A Campanha da Fraternidade tem como proposta um olhar mais atento à realidade dos jovens, acolhendo-os com a riqueza de suas diversidades, propostas e potencialidades; auxiliando-os neste contexto de profundo impacto cultural e de relações midiáticas; maior solidariedade em seus sofrimentos e angústias, especialmente junto aos que mais sofrem com os desafios da exclusão social, reavivando seu potencial de participação e transformação.
A Campanha, no contexto do Ano da Fé, pretende mobilizar a Igreja e os segmentos da sociedade, a fim de se solidarizarem com os jovens, favorecendo-lhes espaços, projetos e políticas públicas que possam auxiliá-los a organizarem a própria vida a partir de escolhas fundamentais e de uma construção sólida do projeto pessoal, a se compreenderem como força de transformação para os novos tempos, a desenvolverem seu potencial comunicativo pelas redes sociais em vista da ética e do bem de todos, a assumirem seu papel específico na comunidade eclesial e no exercício do protagonismo que deles se espera, nas comunidades e na luta por uma sociedade que proporcione vida a todos.
A juventude brasileira constitui um dos maiores segmentos da população: são 51 milhões de jovens entre 15 e 29 anos no Brasil segundo o censo do IBGE (2010), isto é, um quarto da população.
Segundo dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), 18 milhões de jovens entre 15 e 24 anos estão fora da escola e 1,8 milhão de jovens brasileiros não cursam o ensino médio. Esse número representa 17,9% do total de talentos que temos no Brasil. Entre 18 e 24 anos, fase de ingressar em uma universidade, mais de 16,5 milhões de jovens não estudam, ou seja, 69,1% do total.
Quanto à população carcerária, de acordo com os dados de 2007 do Ministério da Justiça, 60% dos presos (as) do país têm entre 18 e 29 anos.
A Revista “Carta Capital” (nº 730, de 9/1/2013), em uma reportagem, apresenta a juventude como o grupo mais desprotegido da sociedade brasileira: são os jovens de hoje, pouco contemplados por políticas, os responsáveis pelo futuro.
“A juventude foium dos últimos segmentos a ganhar reconhecimento das políticas públicas no Brasil”, certifica a secretária Nacional de Juventude, Severine Macedo. A secretaria foi criada somente em 2005, com o Conselho Nacional de Juventude e do Pro jovem, na esteira do Plano Nacional da Juventude. Hoje, essa faixa da população tem, oficialmente, direito a ações específicas do Estado em educação e na geração de emprego. Funciona? Pouco. “Estamos disputando uma visão do que é ser jovem no Brasil”, diz Severine. O projeto de lei, que cria o Estatuto do Jovem e define os seus direitos e o Sistema Nacional de Juventude, está emperrado no Congresso.
Desde a criação da secretaria, mais de mil municípios montaram estrutura semelhante, o que não evita a sobreposição de ações: o jovem é ponto cego das políticas públicas. Tem estado com a Secretaria da Juventude e Esporte, Juventude e Cultura e por aí vai. E o que dizer do orçamento de 30 milhões de reais da pasta? Hoje, o órgão repassa meros 150 mil reais a cada estado, para seminários e conselhos de discussão.
Não é que oEstado não tenha iniciativas: elas só não funcionam de forma integrada. Na meta da inclusão, além de investir na educação, devem existir outras formas para atrair o jovem excluído.
Os especialistassão unânimes ao afirmar que a educação na juventude parece manter-se por um fio. Muitos enfrentam problemas como a pobreza extrema, drogas, violência e gravidez. Têm uma vida instável, que afasta a prioridade da educação e os leva a abandonar a escola.
No campo e na cidade, os jovens carecem de apoio distinto: são juventudes no plural, dizem os especialistas, cada uma com sua realidade. Nenhuma juventude sofre mais que a negra e (geralmente) pobre. Segundo o Unicef, um adolescente negro tem quase quatro vezes mais risco de ser assassinado do que um branco. O número de jovens negros analfabetos, na faixa etária de 15 a 29 anos, é quase duas vezes maior que o de brancos. “Mesmo que o jovem negro consiga enfrentar a desigualdade e educar-se, ainda resta o preconceito”, diz Carrano. “Para sair desse ciclo vicioso, ele precisa ser ajudado. E políticas públicas não adiantam se não vencermos a pobreza”. Enquanto o ideal de distribuição de renda segue longe, políticas específicas ajudariam a integrar esses jovens. Por exemplo, facilitar o trânsito da periferia até o centro, dar-lhes acesso ao lazer e à cultura - inclusive, a mostrar a cultura que produzem.
A despeito da pecha de “apáticos”, os jovens cada vez mais têm lutado por direitos. Após cerca de 1,5 mil reuniões em todo o Brasil, que mobilizaram meio milhão deles, segundo a secretaria, milhares foram a Brasília para a segunda Conferência Nacional da Juventude. Dentre as propostas aprovadas estavam o aumento das cotas e de cursos técnicos gratuitos. Não são burocratas sentados em suas mesas na capital ditando regras: os jovens é que apontam suas próprias carências (Carta Capital, n.730, por Willian Vieira e Gabriel Bonis).
Analisando a realidade da juventude hoje, nosso olhar se volta para o modo como a juventude aparece no Documento de Aparecida.
Os jovens, segundo o Documento, “constituem a grande maioria da população da América Latina e do Caribe” e “representam enorme potencial para o presente e o futuro da Igreja e de nossos povos” (DAp 443).
De um lado, a Igreja reconhece, através do documento, que “inumeráveis jovens do nosso continente passam por situações que os afetam significativamente”: as sequelas da pobreza; a socialização de valores implantada em novos ambientes com forte carga de alienação; a permeabilidade às novas formas de expressões culturais, afetando a identidade pessoal e social do jovem; o fato de os jovens serem presa fácil das novas propostas religiosas e pseudo-religiosas; as crises da família produzindo, na juventude, profundas carências afetivas e conflitos emocionais (444); a repercussão que tem, nos jovens, uma educação de baixa qualidade (445); a ausência de jovens na esfera política devido à desconfiança que geram as situações de corrupção, o desprestígio dos políticos e a procura de interesses pessoais frente ao bem comum” (445); o suicídio de jovens; a impossibilidade de estudar e trabalhar; o fato de terem que deixar seus países “dando ao fenômeno da mobilidade humana e da migração um rosto juvenil” (445); o uso indiscriminado e abusivo da comunicação virtual.
E, de outro lado, destaca no documento de Aparecida (n.443) qualidades juvenis: A Sensibilidade: os jovens “são sensíveis a descobrir sua vocação”. Recorda que João Paulo II os chamou de “sentinelas da manhã”. “São capazes e sensíveis para descobrir o chamado particular que o Senhor Jesus lhes faz”. A Generosidade: os jovens são generosos para servir, especialmente os mais necessitados. A Potencialidade: os jovens “têm capacidade de se opor às falsas ilusões de felicidade e aos paraísos enganosos das drogas, do prazer, do álcool e de todas as formas de violência”. A Missionariedade: “As novas gerações”, diz o Documento, “são chamadas a transmitir a seus irmãos jovens a corrente de vida que procede de Cristo e a compartilhá-la em comunidade, construindo a Igreja e a sociedade”.
Aos nossos jovens que se preparam para a Jornada Mundial da Juventude, fazemos votos de que a Campanha da Fraternidade e a Semana Missionária contribuam para o crescimento da fé e da solidariedade, ao encontro pessoal com Jesus Cristo e sua proposta de amor e, sobretudo, vivencia da experiência missionária, tornando-se protagonistas da evangelização.
Pelos nossos jovens, convidamos todas as comunidades a orarem: “Fica, Senhor, com nossas crianças e com nossos jovens, que são a esperança e a riqueza de nosso Continente, protege-os de tantas armadilhas que atentam contra sua inocência e contra suas legítimas esperanças” (DAp 554).