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Dom Moacyr

CEBS e a saúde ecológica do planeta



A nova encíclica "Caritas in veritate" (Caridade na verdade) do Papa Bento XVI, assinada no dia 29 de Junho, Solenidade de São Pedro e São Paulo e com lançamento marcado para terça-feira, 07 de julho, trata das questões sociais e aprofunda alguns aspectos do desenvolvimento integral “à luz da caridade na verdade", tornando-se um instrumento que a Igreja "oferece à Humanidade, no seu empenho por um progresso sustentável, no pleno respeito pela dignidade humana e pelas reais exigências de todos".

A Carta faz referencia aos temas tratados por Paulo VI, na encíclica "Populorum progressio”, à luz da Doutrina Social da Igreja. “A abertura à vida está no centro do verdadeiro desenvolvimento", e, "se perdermos a sensibilidade pessoal e social com relação à acolhida de uma nova vida, outras formas de acolhida úteis à vida social também se empobrecem. Tudo é considerado, luta à fome e defesa da vida e atenção ao "estado de saúde ecológica do planeta", uma vez que "os deveres que temos com relação ao ambiente se unem aos deveres com relação à pessoa": porque "o primeiro capital a ser protegido e valorizado é o homem na sua integridade".

O sociólogo e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Ivo Lesbaupin, presença confirmada e um dos assessores do 12º. Intereclesial das CEBS fez nestes dias uma analise da Conjuntura brasileira, que foi publicada na ADITAL, afirmando que a atual crise “não se trata de uma crise meramente econômica, é também uma crise ecológica”. Sua analise nos ajuda a refletir sobre um novo modelo de sociedade baseado numa economia solidária e ecológica, eixo temático de nosso Intereclesial que se aproxima (21 a 25 de julho de 2009):

O capitalismo desenfreado dos últimos anos acelerou fortemente as mudanças climáticas, aumentando o aquecimento global e acelerando a destruição dos elementos mais essenciais: a água (poluição e desperdício), a terra (erosão, envenenamento), as florestas (desmatamento). A campanha -bem sucedida -a favor do consumismo está promovendo a depredação dos recursos naturais. É também uma crise energética, porque este desenvolvimento se apoiou na exploração da energia de origem fóssil (petróleo), altamente prejudicial ao meio-ambiente. E não investiu no aproveitamento das energias renováveis (solar, eólica, sobretudo).

É, finalmente, uma crise alimentar, porque investiu na produção de alimentos carregados de agrotóxicos ou potencialmente prejudiciais à saúde humana, ao meio-ambiente e à agricultura orgânica (como os transgênicos). O fato de que parte da humanidade, em pleno século XXI, não tem acesso aos alimentos necessários é uma denúncia do sistema capitalista: há meios suficientes para produzir e distribuir alimentos para todos, mas eles estão submetidos à lógica do lucro. O controle da produção é feito por um pequeno número de grandes multinacionais; e o preço dos alimentos é objeto de jogo na bolsa. 
 
Trata-se, portanto, de uma crise de civilização, que coloca em risco a humanidade, por motivos ligados unicamente à lógica do lucro exorbitante para poucos e o rebaixamento da grande maioria à pobreza, à miséria e à fome - sobretudo através do desemprego massivo e estrutural. A saída não é a retomada do crescimento econômico anterior, é a ruptura com o modelo econômico baseado na exploração e no lucro e o estabelecimento de um modelo de sociedade baseado em uma economia solidária e uma economia ecológica, na relação respeitosa com a natureza, na busca do bem-viver, produzindo aquilo que é necessário, evitando o esgotamento dos recursos naturais.

Os participantes do Seminário “Espiritualidade ecológica: um olhar sobre o baixo Amazonas” que foi realizado de 19 a 21 de junho e promovido pela Pastoral Social da arquidiocese de Santarém (PA), debateram sobre a questão ecológica da região amazônica, divulgando uma Declaração em favor do meio ambiente, verdadeiro grito que vem do ventre da terra:

“Refletindo sobre a questão ecológica da região amazônica, constatamos que mais uma vez a nossa população é tratada com desrespeito pelas autoridades do nosso país. Os projetos planejados para a nossa região, além de serem apenas respostas à ganância das empresas transnacionais, não levam em conta a população local e desrespeitam as áreas de preservação ambiental. Um exemplo desse desrespeito é o projeto hidrelétrico planejado para o rio Tapajós, que atingirá grande parte do Parque Nacional da Amazônia, além das terras indígenas do povo Munduruku (povo que vai enviar representantes ao 12º Intereclesial através do CIMI). Entendemos que esta proposta do governo destruirá o rio Tapajós e manifestamos nossa preocupação e indignação pelos danos irreparáveis que esse projeto, se concretizado, causará à vida das populações residentes nas comunidades localizadas ao longo do agonizante Tapajós, além da fauna e flora que serão dizimadas...Sofremos com a falta de políticas públicas básicas como saúde, educação, transporte que trariam a verdadeira qualidade de vida para a região. Diante do desrespeito das autoridades para com nossos povos, nós..atingidos e ameaçados pelo Complexo do Tapajós, e por outras obras, declaramos que somos contrários ao Complexo Hidrelétrico do Tapajós que, além de prejudicar nossa cultura e meio ambiente, não nos trará benefícios, beneficiando apenas o grande capital e empresas nacionais e estrangeiras.

Declaramos ainda que a atual ordem econômica, que promove a cobiça, o desperdício, a acumulação, agrava as injustiças sociais e ambientais. O esbanjador estilo de vida de uma minoria destrói o planeta e a vida da grande maioria. Por isso, não haverá soluções ecológicas sem rever seriamente o estilo de vida no sentido da simplicidade, moderação e disciplina, em fraternidade com os povos e a Criação. Continuamos explorando os recursos da Mãe Terra, sem permitir que ela se recomponha, para satisfazer nossa ganância. É necessário desenvolvermos uma espiritualidade que integre toda a criação como digna de respeito e admiração. É urgente e vital que as pessoas e a natureza estejam acima do lucro e da tecnologia. A nossa generosidade é a medida da nossa humanidade. O mundo tem que mudar a partir da nossa capacidade de partilha e não a partir de nossa capacidade de destruição e acumulação. Sentimos que a salvação das pessoas e da natureza é parte integrante da sua missão de cristãos com base numa espiritualidade centrada na Criação e no bem das pessoas e dos povos, numa espiritualidade integradora da criação. Cremos que somos chamados a passar de uma fé cristã apenas interior e subjetiva para uma fé engajada não só social, mas também ecologicamente. Na conclusão da declaração, os participantes do Seminário manifestaram repúdio à MP 458.

A leitura do Texto Base que deve ser intensificada nesses poucos dias que antecedem o 12º. Intereclesial ajuda-nos a ouvir os clamores trazendo a Amazônia mais para dentro de nossos corações e a descobrir novas formas de defender esta vasta e ameaçada região. A perceber o Deus que vive nas inumanas cidades, em meio as suas alegrias, desejos e esperanças, como também em meio as suas dores e sofrimentos. A viver, segundo padre Gunter Kroemer (antropólogo, defensor da causa indígena, trabalha em Lábrea, mas atualmente encontra-se muito doente em um Hospital do sul do país) a economia da reciprocidade como fator de integração social (Texto-Base do 12º).
 
Fonte: Pascom

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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