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Dom Moacyr

CIDADÃO DE PORTO VELHO


Ser homenageado pela Câmara Municipal com o título de cidadão honorário de Porto Velho, no dia 11 de outubro, foi profundamente significativo, expressando a importância de uma vez mais ser aceito como filho deste chão amazônico, um irmão a serviço de toda a sociedade desta querida cidade, capital de Rondônia.

Ser cidadão honorário de Porto Velho resgata meus sentimentos de respeito e fé e tudo o que representa o povo de nossa cidade; significa ainda beneficiar-me da proteção de nossos padroeiros Sagrado Coração de Jesus, Nossa Senhora Auxiliadora, São Francisco de Assis, Nossa Senhora de Nazaré; ser mais humano e cristão com todos.

Sou grato ao vereador Cláudio Carvalho a iniciativa de me conferir o título de Cidadão Honorário de Porto Velho, proposição que teve o assentimento de todos os Vereadores, evidenciando mais uma vez que nessa Casa (Câmara Municipal) se cultivam verdadeiros valores, além do reconhecimento e hospitalidade.

Como cidadão honorário da cidade, além de agradecer esse título, tive a oportunidade de convocar todos os seus filhos para lutar pela ética e pelo humanismo cristão da cidade e de toda nossa região.

Segundo Jacques Maritain, o humanismo tende essencialmente a tornar o homem mais verdadeiramente homem e a manifestar a sua grandeza original fazendo-o participar em tudo o que pode enriquecê-lo na natureza e na história, concentrando o mundo no homem, e dilatando o homem até o mundo.

Para o humanista cristão, o homem não se basta a si mesmo. É criatura e filho de Deus. A sua dignidade, segundo Etcheverry “pressupõe a existência de Deus. É esta a essência de toda a dialética vital do humanismo. O homem só é pessoa na medida em que for um espírito livre, refletindo o Ser supremo”. Seguindo esta diretriz o homem ergue-se acima do universo, aumenta seu valor pessoal e promove o bem de todos.

O humanismo Cristão é um humanismo de harmoniosa expansão e um humanismo de ultrapassagem. Esse caráter duplo confere à alma humana uma plenitude perfeita e abre-lhe o caminho da felicidade.

Ao escrever a obra “Humanismo integral: uma visão nova da ordem cristã”, Maritain ofereceu um “Estado leigo cristãmente constituído…..em que o profano e o temporal possuem plenamente seu papel e sua dignidade de fim e de agente principal,….”. Isto foi a alternativa de Maritain frente aos regimes liberais tradicionais ou totalitários. Para ele, um Estado cristão não seria mais possível. Sua “visão nova da ordem cristã” tinha como base fundamental, a frase bíblica, já citada, “Daí a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. A “visão nova da ordem cristã” seria paradoxalmente leiga, pluralista, tolerante onde os cristãos seriam os agentes entre outros para criar uma ordem temporal penetrada pelo humanismo cristão.

Para Maritain democracia era muito mais que um sistema de governo pela maioria; era uma “maneira humana de viver”. Seguiu uma das idéias principais de Tocqueville sobre a democracia em geral – que a cultura da ordem social que sustenta uma democracia teria uma influência profunda sobre ela. Os dois acreditavam que a democracia era muito susceptível para o materialismo e, por causa disso, precisava ter um fundamento espiritual. Sem esta precaução, a democracia, segundo Maritain, se tornaria uma democracia burguesa liberal como aquela defendida por Rousseau. Nessa, a democracia colocaria o lado espiritual de homem subserviente ao lado material e incentivava a tendência natural da democracia para o materialismo. Para reverter essa tendência, Maritain argumentou que a democracia deve apropriar-se o evangelho social do cristianismo visto que esse tem duas características marcantes da democracia, a igualdade e a liberdade. Argumentou, também, que a democracia poderia ser mais beneficiada se fosse fundada na natureza espiritual do homem vivificada pela força espiritual do cristianismo.

Alceu Amoroso Lima, em seu texto “Tudo é Mistério” escreveu: A natureza do homem não é a natureza das coisas ou dos vegetais ou dos animais. O homem participa da natureza de todas as coisas. Mas o que o torna verdadeiramente homem é precisamente a capacidade de arrancar uma parte de seu ser – a parte exclusivamente humana – a esse impacto determinista das naturezas inferiores a ele. A natureza do homem é precisamente ultrapassar as naturezas inferiores, de que participa, e aproximar-se da perfeição contida em naturezas superiores, que a sua intuição, mesmo puramente racional, pode prever (...). O que torna o homem realmente homem não é o que ele tem de comum com as naturezas inferiores, mas o que ele tem de próprio à sua natureza. E nesse ponto é que dizemos que o único imperativo da moral, norma do aperfeiçoamento humano, não é mais do que tornar o homem verdadeiramente um homem.

Em uma de suas palestras, Alceu Amoroso Lima Filho, que herdou do pai o vigor humanista e o entusiasmo para prosseguir na luta do pai, fala sobre o Humanismo ameaçado: Para ser coerente, não vejo outra postura moral de cidadão, no quadro do país hoje, do que uma postura de indignação, que leve a atitudes pessoais e grupais de ver a realidade, julgar as opções que se colocam e agir no sentido de, dentro das possibilidades e do alcance de cada cidadão, trabalhar para transformar a realidade, à luz da ética. Não me refiro às coisas explícitas, claras, tais como a espantosa e vergonhosa concentração de renda no Brasil, ou à chocante miséria de uma parcela considerável da população, que entra pelos nossos olhos todos os dias, andando pelas ruas. Na verdade, essas são ameaças claras ao humanismo, cuja existência não resiste ao mínimo exame de qualquer pessoa, e por cuja mudança, temos todos o dever de lutar. É preciso falar sobre elas e lutar para que acabem, mas, por serem tão claras, são também fáceis de esgotar nossa indignação e aplacar nossa consciência... Refiro-me às coisas escondidas, disfarçadas, que passam desapercebidas, e que, por isso mesmo, são mais difíceis de serem vistas, portanto complexas para julgar, e cuja análise e compreensão apresenta dificuldades para que as pessoas se sensibilizem, dificultando, assim, qualquer ação conseqüente. São as ameaças escondidas, contra as quais poucos lutam; às vezes, porque nos incomodam pessoalmente ou, no mínimo, porque afetam nossa confortável vidinha de todos os dias, mas que, se não forem resolvidas, o país não vai andar! Refiro-me à corrupção, ao corporativismo, ao nepotismo, ao clientelismo, vícios bem arraigados na nossa cultura, cuja prática vai fundo na ameaça ao humanismo, na concepção ética que Maritain, e nós, seus seguidores, queremos propagar, divulgar e defender. Tudo colocado debaixo do disfarce do chamado “jeitinho brasileiro”, que, a meu ver, fez muito mais mal a esse país do que se possa imaginar!

O “jeitinho brasileiro”, segundo Alceu Amoroso Lima Filho, é a prática de ações que beneficiam poucos em detrimento da maioria! É muito fácil ter posições paternalistas, humanitárias sim, porém no fundo pouco humanistas. Dar esmola na rua é humanitário, mas será que está presente um espírito humanista ou serve para confortar a consciência com alguns reais que não nos farão falta, e esquecer a substância do problema? A substância do problema é que a sociedade não proporcionou condições para que aquela pessoa, aquele ser humano, viesse a ter a oportunidade de conseguir uma vida digna, trabalhar e não precisar pedir esmola. O humanismo é ameaçado quando um ser humano tem que depender de outro para sua mínima subsistência! Será espírito humanista defender os tão falados direitos adquiridos que, na realidade, são privilégios adquiridos?

Será espírito humanista defender privilégios adquiridos de aposentados funcionários públicos cujo ganho é sete vezes maior do que aposentados da empresa privada? Então, não são seres humanos igualmente trabalhadores, igualmente merecedores do respeito da sociedade?

Somos chamados a ser "humanos”, viver a humanidade em graus crescentes de profundidade e intensidade, nunca ninguém exagera em ser "humano”, nunca ninguém é "humano” demais. Somos cristãos, e em nome da fé, não temos o direito de sermos omissos, mas devemos estar sempre na linha de frente em todas as lutas que visam tornar a sociedade e o mundo mais humanos.

Fonte: Pascom
 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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