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Dom Moacyr

COMBATI O BOM COMBATE


Nesta semana que antecede a posse do novo arcebispo de Porto Velho, Dom Esmeraldo Barreto de Farias, quero agradecer a todo o povo de Deus da Arquidiocese de Porto Velho pelas manifestações de carinho e amizade.

Aos queridos padres e seminaristas, estimados religiosos e religiosas, verdadeiros missionários, a todos os irmãos e irmãs na fé, agentes das pastorais e organismos, movimentos e serviços, grandes colaboradores, nos momentos felizes e difíceis de minha missão episcopal, minha profunda gratidão. Obrigado, Porto Velho!

Atendendo ao convite de Dom Esmeraldo, permanecerei ainda algum tempo com vocês, sendo o arcebispo emérito que, a exemplo de Dom João, continuará sendo o amigo das pequenas Comunidades, o sacerdote dos doentes e necessitados da misericórdia divina.

Nesta Quaresma queremos contemplar Jesus em seu tríplice êxodo: êxodo do Pai na encarnação, êxodo de si mesmo na liberdade e na entrega, êxodo para o Pai na páscoa. Na cruz sucede uma história trinitária marcada por misteriosas entregas. Para quem continua marcado pelo sinal da Cruz e da Trindade, compreende que a Trindade é a história eterna do Amor.

Contemplando o rosto do nosso Mestre e Senhor na hora em que “levou até ao extremo o amor pelos seus”, todos nós, como o apóstolo Pedro, deixamo-Lo lavar-nos os pés para termos parte com Ele (Jo 13, 1-9). E, com a força que d'Ele recebemos na santa Igreja, repetimos em voz alta diante dos nossos presbíteros e diáconos, de todas as pessoas de vida consagrada e de todos os caríssimos fiéis leigos: “Como quer que sejamos, que a vossa esperança não esteja posta em nós: se formos bons, somos ministros; se formos maus, ministros somos. Mas só se formos ministros bons e fiéis, é que seremos verdadeiramente ministros”.

Precederam-nos neste anúncio pascal uma multidão de santos Pastores, que foram sinais eloquentes do Bom Pastor. Também por eles, louvamos e agradecemos sem cessar a Deus onipotente e eterno, porque, como canta a liturgia sagrada, fortalecem-nos com o exemplo da sua vida, instruem-nos com a sua palavra e protegem-nos com a sua intercessão. A fisionomia de cada um destes santos Bispos, desde os primórdios da vida da Igreja até aos nossos dias, pode ser comparada a um ladrilho que, colocado numa espécie de místico mosaico, compõe o rosto de Cristo Bom Pastor (PG 5).

Para o arcebispo Bruno Forte, o tríplice êxodo do discípulo realiza-se na fé, no amor, na esperança. Na fé, o discípulo recebe do Pai a própria vida e abandona-se a ele no seguimento de Jesus; por amor põe-se a serviço com liberdade e gratuidade, mediante gestos significativos, na solidariedade com o pobre e o oprimido, sem confundir as esperanças históricas com a esperança no futuro prometido por Deus; na esperança, dá testemunho do sentido da vida e da história revelado na ressurreição de Jesus. O amor à Pátria prometida e manifestada em Jesus Cristo alimenta a fidelidade às realidades penúltimas e aos compromissos exigidos pela vida e pela história no cotidiano.

O amor, ou seja, “a caridade na verdade, que Jesus Cristo testemunhou com a sua vida terrena e, sobretudo com a sua morte e ressurreição, é a força propulsora principal para o verdadeiro desenvolvimento de cada pessoa e da humanidade inteira”. O amor é uma força extraordinária, que impele as pessoas a se comprometerem com coragem e generosidade, no campo da justiça e da paz.

É uma força que tem a sua origem em Deus, Amor eterno e Verdade absoluta. Cada um encontra o bem próprio, aderindo ao projeto que Deus tem para ele a fim de o realizar plenamente: com efeito, é em tal projeto que encontra a verdade sobre si mesmo e, aderindo a ela, torna-se livre (Jo 8, 22). Por isso, defender a verdade, propô-la com humildade e convicção e testemunhá-la na vida são formas exigentes e imprescindíveis de caridade.

Todos os homens sentem o impulso interior para amar de maneira autêntica: amor e verdade nunca desaparecem de todo neles, porque são a vocação colocada por Deus no coração e na mente de cada homem. Jesus Cristo purifica e liberta das nossas carências humanas a busca do amor e da verdade e desvenda-nos, em plenitude, a iniciativa de amor e o projeto de vida verdadeira que Deus preparou para nós. Em Cristo, a caridade na verdade torna-se o Rosto da sua Pessoa, uma vocação a nós dirigida para amarmos os nossos irmãos na verdade do seu projeto (CV 1).

Dom Esmeraldo, ministro do evangelho e da esperança!

Em sua primeira mensagem, Dom Esmeraldo, atendendo ao chamado de Deus para se dirigir a Porto Velho, escreve que aqui também há um povo numeroso que pertence a Deus (At 18,10), que acolhe a sua santa Palavra e assume o caminho do seguimento a Jesus Cristo, como caminho para a edificação do Reino de Deus.

Ele chega animado diante do testemunho de fé da Igreja Particular de Porto Velho, e diante do mistério da Encarnação pede-nos que contemplemos a ação do Espirito Santo na realidade de hoje, realidades urbana, ribeirinha, indígena e rural. Essa contemplação marca de modo muito claro a nossa espiritualidade a fim de que, superada toda dicotomia, o processo de evangelização possa continuar avançando com atenção à pessoa, oferecendo sempre mais oportunidades para o encontro com Jesus e a vivência em comunidade.

Jesus, ao assumir as realidades da vida, nos aponta para o projeto do Pai, a fim de contribuirmos para a edificação do seu Reino, Reino de justiça, de solidariedade, de partilha, de paz que marque concretamente a vida de nossa sociedade.

Em 1972, reunidos em Santarém (Pa), os bispos da Amazônia deixaram um belo testemunho escrito que continua sendo muito atual, porque fundado na vida de Jesus Cristo, seu mistério da Encarnação e da Páscoa, inspirado no Vaticano II, na encíclica Populorum Progressio e em Medellín e também porque os bispos traziam no coração a realidade do povo da Amazônia e, diante dos desafios, pediam luzes ao Espírito Santo. Esse documento revela o sentido profundo da comunhão que os bispos da Amazônia sempre buscaram, desde aquele primeiro encontro em 1952, por ocasião do Congresso Eucarístico em Manaus.

Na Encarnação e na Páscoa, estão motivos profundos que nos fazem estar convencidos da missão para a qual somos chamados e consagrados pela Trindade Santa. Isto está muito claro no documento de Aparecida quando aponta para a importância e a necessidade de uma conversão pessoal e pastoral em vista de uma pastoral decididamente missionária (DAp 366.370).

As Diretrizes Gerais da ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, com muita razão e em boa hora, convidam o Brasil inteiro a viver o Estado Permanente de Missão. A partir do encontro com Jesus Cristo, ir ao encontro das pessoas e aí contemplar a ação de Deus. Logo se vê que o protagonismo não é nosso. A Obra é de Deus! Somos chamados a ser servos, pois do ser configurado com Cristo decorre um agir conforme ao de Cristo, Cristo servo missionário.

Nesse estado permanente de missão, a Palavra de Deus ocupa um lugar especial em nossa vida e na missão. Precisamos acolher essa palavra, meditá-la pô-la em prática, porque nessa palavra, que é Jesus Cristo, está a vida, a alegria, a paz e a felicidade!

Dom Esmeraldo vem para viver conosco o caminho da Páscoa. Confirma que foi uma bênção de Deus ter participado do 12º Intereclesial das CEBs, celebrado em Porto Velho. Pode escutar a partilha e ver experiências de Comunidades enraizadas no Evangelho, celebrantes do mistério pascal, solidárias, missionárias, trabalhando o processo de iniciação à vida cristã e vivendo o dinamismo da comunhão para a missão e da missão que conduz à comunhão.

Viver a missão é estar aberto ao serviço da vida plena para todos, pois Jesus Cristo veio “para que todos tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10,10).

A exemplo de Maria, como discípulo missionário, Dom Esmeraldo quer ter ouvidos para escutar e para aprender; olhos e coração para ver e discernir os sinais da ação de Deus e disponibilidade para que possa colaborar na evangelização a partir de Jesus Cristo e na força do Espírito Santo, como Igreja discípula missionária e profética, alimentada pela Palavra de Deus e pela Eucaristia, evangelizando à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres para que todos tenham vida, rumo ao Reino definitivo.

Fonte: Arquidiocese
 

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