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Gente de Opinião

Dom Moacyr

Compromisso e frutos da justiça!


 
Iniciamos o mês de Maio com a celebração dos 90 anos de criação da Prelazia, hoje, Arquidiocese de Porto Velho; com a Romaria do Trabalhador e a Festa de São José Operário.

Neste Maio das mães, das noivas, da devoção mariana, as paróquias e as Comunidades Eclesiais de Base, rurais, ribeirinhas e urbanas celebram Nossa Senhora festivamente: Fátima (dia 13), Auxiliadora, padroeira de Porto Velho (dia 24) e com tantos outros nomes e títulos, entregando sob sua proteção os povos da Amazônia, do Brasil e do continente, pedindo com o papa Francisco: viemos bater à porta da casa de Maria; ela abriu-nos, fez-nos entrar e nos aponta o seu Filho; agora Ela nos pede: “Fazei o que Ele vos disser” (Jo 2,5).

Perseverando junto aos Apóstolos à espera do Espírito Santo (At 1,13-14), ela cooperou com o nascimento da Igreja missionária, imprimindo-lhe um selo mariano que a identifica profundamente. Maria é a mãe que fortalece os vínculos fraternos, estimula a reconciliação e o perdão e ajuda os discípulos de Jesus a se experimentarem como família, a família de Deus (DAp 267).

Antecede a Solenidade de Pentecostes (dia 24) a Vigília (23), a celebração da Ascensão, o Dia Mundial das Comunicações Sociais (17/05) e a Semana de Oração pela unidade cristã (17 a 24/05). Importante lembrar que a Coleta de Assinaturas para Reforma Política encerra dia 10 de maio. A Igreja não pode ficar alheia à luta pela justiça, portanto, ao declarar seu apoio ao Projeto, a CNBB o faz com a consciência de que é dever da Igreja cooperar com a sociedade para a construção do bem comum, conservando a autonomia e independência que a caracterizam em relação à comunidade política, como lembra o Concílio Vaticano II (GS 76).

Um fato extraordinário vai marcar a América Latina, no dia 23 de maio, véspera de Pentecostes: a beatificação de dom Oscar Arnolfo Galdámez Romero, arcebispo de El Salvador, assassinado brutalmente no dia 24 de março de 1980, domingo de Ramos, com um disparo no coração por um atirador do exército, enquanto celebrava a missa na capela do hospital da Divina Providência da capital salvadorenha.

Na década de 70, El Salvador vivia grandes conflitos, enquanto a maioria dos países sul-americanos era dominada por ditaduras militares. Em 1977, ele foi nomeado arcebispo de El Salvador, dois anos depois, o presidente do país foi deposto por um golpe militar. A ditadura se instalou e acirrou a violência. Reinou o caos político, econômico e institucional no país. De janeiro a março de 1980 foram assassinados 1015 salvadorenhos. Os responsáveis pertenciam às forças de segurança e às organizações conservadoras do regime militar no país.

Dom Romero foi perseguido durante a Guerra Civil do país, conflito armado que se estendeu de 1980 a 1992 entre o governo de direita e a guerrilha de esquerda, deixando 75 mil mortos. Ele assumiu a defesa dos índios, pobres e perseguidos políticos. Semanas antes de sua morte, intensificou as denúncias contra o governo salvadorenho e militares por violações aos direitos humanos.

Na Universidade de Louvain, declarou: “Estar a favor da vida ou da morte. Não há neutralidade possível. Ou servimos à vida, ou somos cúmplices da morte de muitos seres humanos. Aqui se revela qual é a nossa fé: ou cremos no Deus da vida, ou usamos o nome de Deus, servindo aos algozes da morte”.

O assassinato do arcebispo chamou a atenção no mundo todo, provocando a consciência mundial sobre a realidade iníqua de El Salvador. Recentemente, o povo tem conseguido eleger governos democráticos e mudar, em alguns aspectos, a estrutura da sociedade. A realidade do país, no entanto, continua sendo de grande desigualdade social. El Salvador vive um processo de integração no continente, buscando restabelecer a justiça para o povo empobrecido.

Hoje, dom Romero é símbolo do profeta dos pobres e mártir da justiça. Para os cristãos da América Latina, é chamado de “São Romero das Américas” (M.Barros). Para as pessoas e grupos que se sentem ameaçados pelas pressões das elites sociais, políticas e econômicas que continuam impondo suas armas e o seu modo de organizar a sociedade contra os pobres e contra a natureza, valem as palavras de dom Oscar Romero na véspera de seu martírio:

Frequentemente tenho sido ameaçado. Como cristão, não creio em morte sem ressurreição. Se me matarem, ressuscitarei no povo salvadorenho. Ofereço a Deus o meu sangue pela libertação e pela ressurreição do meu país. O martírio é uma graça que não creio merecer. Mas, se Deus aceitar o sacrifício de minha vida, que meu sangue seja semente de liberdade e o sinal de que, em breve, a esperança se tornará realidade. Um bispo vai morrer, mas a Igreja de Deus que é o seu povo, não morrerá nunca.

Em 1996, foi apresentado o processo de beatificação de dom Romero pela Congregação para a Causa dos Santos, mas somente em 2006, houve autorização da Congregação para a Doutrina da Fé. Com a eleição do Papa Francisco (2013), no entanto, o processo foi acelerado. Por ter sido reconhecido como mártir, dom Oscar Romero não precisará da comprovação de um milagre para ser beatificado. Essa exigência somente será necessária para que seja declarado santo.

Só vamos entender o martírio aprofundando o mistério do Senhor Jesus glorioso, no qual transparece o amor do Pai, fonte do seu amor por nós e de nosso amor aos irmãos. Isso fica claro na liturgia dos domingos depois da Páscoa, de modo especial hoje, 5º domingo pascal: através da parábola da videira, as raízes e frutos da comunidade cristã ganham força e visibilidade.

Somos os produtores dos frutos de Jesus no mundo de hoje, comenta o teólogo J.Konings. Para não comprometermos essa produtividade, devemos cuidar de nossa ligação ao tronco, nossa vida de comunhão com Cristo, nossa oração na celebração e na prática da vida; devemos produzir os frutos da justiça e do amor fraterno, permanecendo em Cristo. Importa, como comunidade cristã, reunir para celebrar a fé e cimentar nossa união com Cristo, a videira, cujos ramos são todos os que o aceitam e o seguem (VP). A fé que celebramos tem sua expressão maior no amor entre os membros da comunidade (Jo 15,1-8).

Celebrar a fé é ser solidário e ter compromisso com os perseguidos, com os “marcados para morrer” por causa do testemunho. Com Paulo Apostolo aprendemos o sentido da conversão e do seguimento de Jesus (At 9,26-31).

O amor deve ser a expressão visível da fé em Deus, pois, sem amor não há cristianismo, nem religião, nem fé (1ªJo 3,18-24). Se o nosso coração não tem paz e nos condena, o que fazer? Devemos acreditar que Deus é maior que nosso coração. Se nosso coração nos acusa, devemos confia-lo a Deus: conversão. E se não nos acusa, podemos viver da comunhão com Deus (VP).

Homenageamos hoje, de modo especial, uma missionária que deu testemunho de fé e solidariedade, consagrando boa parte de sua vida a serviço do povo rondoniense e que partiu para a Casa do Pai, na madrugada de sábado (25/04): Ir. Teresinha Morandi, religiosa da Congregação Carlista. Tendo completado neste ano 45 anos de vida religiosa, deixou um legado de serviço à população mais carente de Porto Velho, na área da saúde alternativa; de participação em diversas pastorais e comunidades, sobretudo, no inicio da paróquia Santa Luzia (década de 80) e na paróquia São Cristóvão; de apoio aos migrantes, na fidelidade ao carisma da congregação: Neste tempo que estou vivendo com a saúde debilitada, ofereço as dores e sofrimentos pelas vocações. Uma certeza eu tenho: a vocação passa pelo cadinho da dor, sou agradecida a Deus.

Ao proclamar o Jubileu extraordinário da Misericórdia, através da Bula Misericordiae Vultus (Abertura: 8/12/2015), o papa Francisco pede que façamos a experiência de abrir o coração àqueles que vivem nas mais variadas periferias existenciais, que muitas vezes o mundo contemporâneo cria de forma dramática. Quantas situações de precariedade e sofrimento presentes no mundo atual!

Quantas feridas gravadas na carne de muitos que já não têm voz, porque o seu grito foi esmorecendo e se apagou por causa da indiferença dos povos ricos. Não nos deixemos cair na indiferença que humilha, na habituação que anestesia o espírito e impede de descobrir a novidade, no cinismo que destrói. Abramos os nossos olhos para ver as misérias do mundo, as feridas de tantos irmãos privados da própria dignidade e sintamo-nos desafiados a escutar o seu grito de ajuda. As nossas mãos apertem as suas mãos e que o seu grito se torne o nosso e, juntos, possamos romper a barreira de indiferença que frequentemente reina soberana para esconder a hipocrisia e o egoísmo (MV).

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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