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Dom Moacyr

Construtores da sociedade



 

Na Festa de Cristo Rei, que encerra o ano litúrgico, convidamos todos os cristãos a refletir na “integridade moral dos políticos”; são os leigos, conscientes de sua chamada à santidade em virtude de sua vocação batismal, os que têm de atuar à maneira de um fermento na massa para construir uma cidade temporal que esteja de acordo com o projeto de Deus e de uma nova ordem para o Estado de Rondônia, que passa principalmente, pelos padrões de moralidade dos homens públicos. (DA 505,507)

Lembramos neste “Dia Nacional dos Cristãos Leigos e Leigas” todos aqueles que pela sua índole secular, santificam e transformam o mundo segundo os valores do Reino de Deus; conforme o documento de Aparecida, todos aqueles que iluminam “com a luz do Evangelho todos os espaços da vida social”


A opção preferencial pelos pobres, de raiz evangélica, exige uma atenção pastoral atenta aos construtores da sociedade. Se muitas das estruturas atuais geram pobreza, em parte é devido à falta de fidelidade a compromissos evangélicos de muitos cristãos com especiais responsabilidades políticas, econômicas e culturais. (DA 501)


Plínio Arruda Sampaio, em O Ofício da Política, desvenda a dimensão maior da política: a política enquanto “ciência, arte e virtude de bem comum”. Constatamos na V Conferencia de Aparecida “uma notável ausência no âmbito político, comunicativo e universitário, de vozes e iniciativas de líderes católicos de forte personalidade e de vocação abnegada que sejam coerentes com suas convicções éticas e religiosas”. (DA 502)

    
Aos cristãos leigos compete uma atuação insubstituível na construção da sociedade justa e fraterna, a partir de sua condição e ambiente próprios. Aí eles enfrentam, particularmente, dois desafios básicos: a luta contra a pobreza e a defesa intransigente da ética pública. O Concílio exorta os leigos a que se empenhem generosamente no desempenho do seu papel de evangelizadores, capazes de opor, uma visão cristã dos problemas de hoje às gravíssimas ameaças à ética e à religião. (doc 62,CNBB n.107)

    
Gostaríamos de encorajar as pessoas que "têm fome e sede de justiça" (Mt 5,6) e que procuram corajosamente ser fiéis aos valores humanos e evangélicos, mas sofrem pela crise ética da nossa sociedade. Os sinais desta crise são evidentes, e a opinião pública os aponta. Falta honradez na vida política, profissional e particular. Impressionantes são os níveis de violência, discriminação social, abuso do poder, corrupção, permissivismo, cinismo e impunidade. Chega-se à deformação das consciências, que aceitam como "normal" ou "inevitável" o que não tem nenhuma justificativa ética. Sem a superação da crise ética, as atuais mudanças sociais e culturais não poderão conduzir a uma sociedade justa e digna. Ao contrário, poderá haver uma ulterior degradação das relações sociais e um aumento da injustiça, da violência e da insensatez. (doc. Ética, Pessoa, Sociedade n.1,3)             

    
Em nosso País, muitas vezes de forma humilde e escondida, outras vezes através de uma atuação pública e destemida, muitos leigos e leigas cristãos lutaram e lutam pela justiça e a paz, dando corajoso testemunho evangélico e contribuindo para o serviço do mundo, cuja responsabilidade última cabe a todo o povo de Deus. Não há dúvida de que a tarefa de promover a justiça e a paz, de efetivamente prestar solidariedade e serviço aos irmãos, especialmente aos mais necessitados, é uma responsabilidade dos cristãos empenhados na economia, na política, nas relações internacionais, no sindicato, nas organizações assistenciais, nos movimentos populares, nas pastorais sociais. O Concílio tinha consciência disto. A constituição Lumen Gentium afirma que na tarefa de impregnar do espírito de Cristo o mundo e fazer que "atinja mais eficazmente o seu fim na justiça, na caridade e na paz,..compete aos leigos a principal responsabilidade". E reconhece que "os leigos são chamados de modo especial a tornar presente e operante a Igreja naqueles lugares e circunstâncias, onde ela só por meio deles pode vir a ser sal da terra". (Doc. 62 CNBB n.56-57)

           
Uma das propostas aprovadas na última Assembléia Arquidiocesana em vista da renovação da vida eclesial é a criação da Escola de “Fé e Política” de Porto Velho, que tem entre seus objetivos contribuir com a formação de lideranças inseridas na política, em suas diferentes formas e níveis, a partir de uma reflexão bíblica, teológica, das ciências sociais e da filosofia. É uma maneira de fortalecer a formação do laicato, no sentido de poder oferecer ao mundo cristãos leigos preparados para responder aos desafios da sociedade e do momento atual. Construtores de uma realidade social cada um é chamado a edificar o futuro do Estado e da Nação, um futuro de paz, de prosperidade e de concórdia, um futuro que somente será garantido quando todos os cidadãos, segundo as próprias responsabilidades e com uma única comum preocupação, souberem criar e manter relações sociais baseadas no respeito do bem comum, que põe no centro de tudo o Homem, criatura de Deus. (João Paulo II).


Acreditamos no valor positivo da ação política, como verdadeiro exercício da caridade, como uma missão a serviço do bem e da vida de todos. Temos consciência também de possuir uma riqueza de reflexão e de tradição de vida comunitária que nos permite acreditar que podemos reconstruir a Esperança. A Doutrina Social da Igreja oferece princípios básicos que podem sinalizar uma caminhada social alicerçada sobre a procura do bem autêntico: os princípios do bem comum, da destinação universal dos bens, da subsidiariedade, da solidariedade e da participação comunitária (DA 539).

    
Não basta uma democracia puramente formal, fundada em procedimentos eleitorais honestos, mas é necessário uma democracia participativa e baseada na promoção e respeito dos direitos humanos. Uma democracia sem valores como os mencionados torna-se facilmente uma ditadura e termina traindo o próprio povo. Com a presença da Sociedade Civil assumindo uma atitude mais protagonista e a irrupção de novos atores sociais como são os indígenas, os afro-americanos, as mulheres, os profissionais, uma extensa classe média e os setores marginalizados organizados, está se fortalecendo a democracia participativa e estão se criando maiores espaços de participação política. Estes grupos estão tomando consciência do poder que têm em suas mãos e da possibilidade de gerarem mudanças importantes para a conquista de políticas públicas mais justas, que revertam sua situação de exclusão. Não pode existir democracia verdadeira e estável sem justiça social, sem divisão real de poderes e sem a vigência do Estado de direito. (DA 74-76)

           
É necessária muita força e muita perseverança para conservar a honestidade que deve surgir de uma nova educação que rompa o círculo vicioso da corrupção que reina absoluta. Realmente necessitamos de muito esforço para avançar na criação de uma verdadeira riqueza moral que nos permita prever nosso próprio futuro. Queremos acompanhar os construtores da sociedade, visto que é a vocação fundamental da Igreja neste setor, formar as consciências, ser advogada da justiça e da verdade e educar nas virtudes individuais e políticas. Queremos chamar ao sentido de responsabilidade dos leigos para que estejam presentes na vida pública e mais concretamente “na formação dos consensos necessários e na oposição contra a injustiça”. É imprescindível que o discípulo se fundamente no seguimento do Senhor que concede a ele a força necessária, não só para não sucumbir diante das insídias do materialismo e do egoísmo, mas para construir ao redor dele um consenso moral sobre os valores fundamentais que tornam possível a construção de uma sociedade justa. (DA 506-508)

Fonte: Pastoral da Comunicação

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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