Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Dom Moacyr

Construtores do desenvolvimento social!


Construtores do desenvolvimento social! - Gente de Opinião
 
A Solenidade de Pentecostes e a Festa da Padroeira de Porto Velho, Nossa Senhora Auxiliadora, neste domingo, marcam um novo tempo de esperança.
 
Hoje, saudamos cada pessoa com as mesmas palavras de Jesus: “A paz esteja convosco”! Saudamos o novo Administrador Apostólico, Dom Benedito Araújo, saudamos os presbíteros e seminaristas, religiosos e missionários; saudamos de modo especial, as famílias com seus jovens e crianças, e todas as comunidades que se dirigem ao Campo da 17ª. Brigada, em caravana, romaria e procissão, para celebrar o Espírito Santo e o nascimento da Igreja missionária.
 
Aqui, nesta cidade abençoada e em cada comunidade ribeirinha, rural e dos municípios mais distantes, vamos renovar o mistério deste grande dia e reviver aquela mesma experiência espiritual dos primeiros discípulos, transformando este local em um grande Cenáculo. 
 
Inspiram nossa reflexão as palavras de João Paulo II: ao falar da “perenidade do Pentecostes” afirmava: “temos o direito, o dever e a alegria de dizer que o Pentecostes continua” e de reavivar a expectativa de uma renovada efusão do Espírito Santo. Assídua e concorde na oração com Maria, Mãe de Jesus, ela não cessa de invocar: desça o vosso Espírito, ó Senhor, e renove a face da terra (Sl 103,30)!
 
O lema deste ano: “O Espírito me consagrou para servir” (Lc 4,18)está em sintonia com a Campanha da Fraternidade, cujo lema é “Eu vim para servir” (Mc 10,45) e o tema “Fraternidade: Igreja e sociedade”. É tambémsequencia do lema de Pentecostes do ano 2014: “O Espírito do Senhor está sobre mim” (Lc 4,18-20).
 
Jesus confiou aos apóstolos a missão de construir o Reino de Deus no coração dos homens e mulheres deste mundo. Com a morte e ressurreição de Jesus, Deus cumpriu sua promessa de enviar o Espírito Santo (At 2,1ss). Assim, receberam a força salvadora que impele os discípulos missionários de Jesus a anunciar este Reino e a chamar as nações a fazerem parte dele (TB/CF n.138).
 
“Essa festa toda missionária alarga o nosso olhar para o mundo inteiro” e nos faz compreender que somos “Igreja em missão” (J.Paulo II), “missão que se encarna nas limitações humanas” e se manifesta “na sede de participação de numerosos cidadãos, que querem ser construtores do desenvolvimento social e cultural” (EG 67).
 
A ordem social e o seu progresso devem, pois, reverter sempre em bem das pessoas, já que a ordem das coisas deve estar subordinada à ordem das pessoas e não ao contrário; essa ordem, fundada na verdade, construída sobre a justiça e vivificada pelo amor, deve ser cada vez mais desenvolvida e, na liberdade, deve encontrar um equilíbrio cada vez mais humano. O Espírito de Deus, que dirige o curso dos tempos e renova a face da terra com admirável providência, está presente a esta evolução. E o fermento evangélico despertou e desperta no coração humano uma irreprimível exigência de dignidade (GS 26).
 
Ao celebrar a beatificação do arcebispo Dom Oscar Romero (23/5), assassinado em El Salvador, no dia 24 de março de 1980, fazemos memória de suas palavras: A verdadeira paz só pode ser construída sobre a justiça social. O meu trabalho consistiu em manter a esperança do meu povo. Se há um pouco de esperança, o meu dever é alimentá-la. O maior perigo diante de tanta violência é que fiquemos insensíveis. Eu tento pensar diante de Deus que um só morto representa uma grave ofensa e que, todas as vezes que um homem ou uma mulher morre, é como matar novamente Jesus Cristo. Rezo ao Espírito Santo, para que me faça caminhar nas estradas da verdade; eu sei apenas que a sua graça guia a Igreja e torna fecunda sua palavra. Confio no Espírito Santo e procuro ser seu instrumento, amando e servindo sinceramente o povo, a partir do Evangelho.
 
Não deixemos que nos roubem a esperança, faz um apelo o papa Francisco na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (n.86). Somos todos discípulos missionários.  A força santificadora do Espírito atua em nós, a partir do batismo e nos impele a evangelizar. O povo de Deus é san­to em virtude desta unção, o Espírito guia-o na verdade e o conduz à salvação (EG 119; LG 12).

A nova evangelização deve implicar um novo protagonismo; cada cristão é missionário na medida em que se encontrou com o amor de Deus em Cristo Jesus; esta convicção transforma-se num apelo dirigido a cada cristão para que ninguém renuncie ao seu compromisso de evangelização, porque, se uma pessoa experimentou verdadeiramente o amor de Deus que o salva, não precisa de muito tempo de preparação para sair a anunciá-lo (EG 120).

Neste Pentecostes, “somos chamados a crescer como evangelizadores”; deixemos que os outros nos evan­gelizem constantemente; sejamos um teste­munho mais claro do Evangelho; que encontremos o modo de comunicar Jesus que cor­responda à situação em que vivemos e que hoje cada um possa reafirmar a sua fé profunda e sólida no Espírito Santo: espírito de justiça, verdade, santidade.
 
Assim, nos anima o papa: o teu coração sabe que a vida não é a mesma coisa sem Ele; pois bem, aquilo que descobriste, o que te aju­da a viver e te dá esperança, isso é o que deves comunicar aos outros. A nossa imperfeição não deve ser desculpa; pelo contrário, a missão é um estímulo constante para não nos acomodarmos na mediocridade, mas continuarmos a crescer. O testemunho de fé, que todo o cristão é chamado a oferecer, implica dizer como São Paulo: “Não que já o tenha alcançado ou já seja perfeito; mas corro para ver se o alcanço, lançando-me para o que vem à frente” (Fl 3,12-13; EG 121).
 
O Evangelho de hoje (Jo 20,19-23) tem especial significado: a comunidade recebe o mesmo Espírito que animou Jesus. Ele se apresenta no meio da comunidade e saúda: “A paz esteja com vocês!” Fortificada pela presença de Jesus, a comunidade está pronta para a mesma missão que ele recebeu: “Como o Pai me enviou, assim também eu envio vocês”. Quem vai garantir a missão da comunidade será o Espírito Santo. “Tendo falado isso, Jesus soprou sobre eles, dizendo: Recebam o Espírito Santo!” Aqui nasce a comunidade messiânica. O Espírito, então, liberta-nos de tudo o que impede a graça de Deus de atuar em nós. De agora em diante, batizados no Espírito Santo como Jesus, os cristãos têm o encargo de continuar o projeto de Deus (VP). Qual é, portanto, a missão de nossa comunidade? Mostrar onde está a vida e onde se aninha a morte; promover a vida e quebrar os mecanismos que procuram destruí-la; conscientizar as pessoas e desmascarar os interesses ocultos dos poderosos. Assim, os cristãos provocam o julgamento de Deus. Tarefa ímpar das comunidades cristãs, nem sempre fiéis a essa vocação. O que significa, por exemplo, não perdoar os pecados dos latifundiários, dos corruptos, dos políticos que utilizam o poder para defender seus interesses? Não é missão da comunidade, como não era a de Jesus, julgar os homens. Seu julgamento não é senão o de constatar e confirmar o juízo que o homem faz de si próprio diante do projeto de Deus (J. Mateos).

Com a leitura dos Atos dos Apóstolos (At 2,1-11) celebramos a nossa vocação missionária e aprendemos que a experiência de Pentecostes não se limita a um evento, é uma experiência contínua, por isso relata novas descidas do Espírito Santo, pois, o Espírito Santo sopra onde quer, sobre quem quer, em favor do Reino de Deus. Entregando seu Espírito, Deus realiza com a comunidade cristã a nova e definitiva aliança, na consecução do projeto divino, confiado agora aos que sonham com a humanidade livre de todas as formas de opressão, violência e morte. O Espírito Santo é o principal protagonista da evangelização. É quem garante a unidade da fé em Jesus Cristo na diversidade de línguas e culturas.
 
Paulo Apostolo na 1ª Carta aos Coríntios (1Cor 12,3b-7.12-13)afirma que ninguém possui plenamente o Espírito; ninguém é privado dele! A comunidade é o corpo de Cristo! Em Deus não há divisão, mas harmonia. É pelo Espírito Santo que reconhecemos a Jesus Cristo como Senhor e salvador. É ele quem nos une num só corpo e distribui os dons diversos para a edificação da comunidade (VP).
 
De Deus provém somente o que é bom para os seus filhos. A diversidade revela a magnanimidade e a criatividade divinas. A graça de Deus não pode ser acolhida de forma egoísta. Por isso, todo dom desdobra-se em serviços concretos em favor do bem comum. Não importa o tipo de ministério, pois, sendo graça divina, todos têm a mesma importância. O que deve brilhar é o projeto comum, que, em nossa comunidade, é o mesmo projeto de Jesus. Congregados num mesmo Espírito, formamos um só corpo, somos Igreja. 
 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoDomingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Pentecostes: Comunidades de rosto humano!

Pentecostes: Comunidades de rosto humano!

Palavra de Dom Moacyr Grechi – Arcebispo Emérito de Porto Velho

Páscoa do povo brasileiro - Por Dom Moacyr Grechi

Páscoa do povo brasileiro - Por Dom Moacyr Grechi

Hoje reafirmamos a nossa fé na ressurreição de Cristo; somos uma Igreja Pascal. Na oração do Credo, proclamamos a ressurreição dos mortos e a vida ete

Verdade libertadora! Por Dom Moacyr Grechi

Verdade libertadora! Por Dom Moacyr Grechi

  A Igreja, convocada a fortalecer o povo de Deus na atual conjuntura, é chamada a estar ao lado daqueles “que perderam a esperança e a confiança no B

Lugar seguro para viver! - Por Dom Moacyr Grechi

Lugar seguro para viver! - Por Dom Moacyr Grechi

  Diante do aumento da violência agrária que atinge trabalhadores rurais, indígenas, ribeirinhos, quilombolas, pescadores artesanais, defensores de di

Gente de Opinião Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)