No espaço de uma semana participamos de duas grandes solenidades: a celebraçãode Pentecostes, vida e força da Igrejae a Festa de Nossa Senhora Auxiliadora, padroeira do município de Porto Velho, cuja proteção torna-nos mais solidários,“nas alegrias e esperanças, angústias e tristezas”, das pessoas de nosso bairro, comunidade e toda população de nossa cidade.
É fundamental para a maturidade cristã a experiência do Espírito Santo e a de ser Igreja-Povo de Deus: ou seja, a compreensão de que temos uma missão neste mundo e a certeza de que não estamos sozinhos nessa missão, pois somos guiados por Deus por meio de seu Espírito. Já a experiência de ser Igreja significa construir laços de pertença; entender o sentido e a importância da vida comunitária, da participação, comunhão e partilha, fé vivida na grande família de Deus, compromisso nos serviços e ministérios.
A liturgia nos oferece ainda três solenidades: hoje, a festividade da Santíssima Trindade: Deus Pai e Filho e Espírito Santo, festa de Deus, do centro da nossa fé. Na próxima 5ªfeira, Corpus Christi e na 6ªfeira sucessiva (dia 7/6), a festa do Sagrado Coração de Jesus, padroeiro da arquidiocese de Porto Velho.
Cada uma destas celebrações litúrgicas evidencia uma perspectiva a partir da qual se abrange todo o mistério da fé cristã: respectivamente, a realidade de Deus Uno e Trino, o Sacramento da Eucaristia e o centro divino-humano da Pessoa de Cristo. São aspectos do único mistério da salvação, que num certo sentido resumem todo o itinerário da revelação de Jesus, da encarnação à morte e ressurreição até à ascensão e ao dom do Espírito Santo(Bento XVI).
A festa da Santíssima Trindade é momento especial para refletir sobre nossa própria identidade e missão no mundo. Somos a família humana, formada por povos diversos e de culturas diferentes. Somos homens e mulheres chamados a nos acolher no respeito mútuo e na igualdade de direitos (VP). Somos diversos: na diversidade nos unimos.
Hoje, dia especial da família, quesaiu de dentro do coração de Deus. Ele quis que a família fosse reflexo da Trindade aqui na terra. A Igreja, através do Catecismo da Igreja Católica valoriza as famílias: “A família cristã é uma comunhão de pessoas, vestígio e imagem da comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Sua atividade procriadora e educadora é o reflexo da obra criadora do Pai. Ela é chamada a partilhar da oração e do sacrifício de Cristo. A oração cotidiana e a leitura da Palavra de Deus fortificam nela a caridade. A família cristã é evangelizadora e missionária” (n. 2205).
Quando pensamos na Trindade, vem à mente o aspecto do mistério: são Três e são Um, um só Deus em três Pessoas. Sobre este mistério, esclarece o papa Bento XVI: na realidade, Deus só pode ser um mistério para nós na sua grandeza, e, todavia, Ele revelou-se: podemos conhecê-lo no seu Filho, e assim conhecer também o Pai e o Espírito Santo. No entanto, a liturgia chama a nossa atenção não tanto para o mistério, mas para a realidade de amor que está contida neste primeiro e supremo mistério da nossa fé. O Pai e o Filho e o Espírito Santo são um só, porque são amor, e o amor é a força vivificadora absoluta, a unidade criada pelo amor é mais unidade do que uma unidade puramente física. O Pai doa tudo ao Filho; o Filho recebe tudo do Pai, com reconhecimento; e o Espírito Santo é como que o fruto deste amor recíproco do Pai e do Filho. Os textos litúrgicos de hoje falam de Deus, e por isso falam de amor; não se detêm tanto no mistério das três Pessoas, mas no amor que constitui a sua substância e, ao mesmo tempo, a sua unidade e trindade.
No evangelho de hoje (Jo 16,12-15),somos convidados a abrir-nos às novas interpretações e exigências suscitadas pelo Espírito Santo no contexto histórico em que vivemos. As três pessoas divinas são manifestamente citadas no texto. Entre elas há perfeita comunicação e perfeito entendimento. Essa realidade divina, em toda sua beleza e profundidade, é comunicada por Jesus aos seus discípulos. O Pai deu tudo ao Filho; assim também o Filho dá a conhecer tudo o que recebeu do Pai aos seus filhos e filhas. Podemos aqui trazer presente o que são Paulo escreve: “Todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. O próprio Espírito assegura ao nosso espírito que somos filhos e filhas de Deus. E, se somos filhos, somos também herdeiros: herdeiros de Deus, herdeiros junto com Cristo…” (Rm 8,16-17).
Entre todas as criaturas, a obra-prima da Santíssima Trindade é a Virgem Maria: no seu Coração humilde e repleto de fé, Deus preparou para si uma morada digna, para completar o mistério da salvação. O Amor divino encontrou nela uma correspondência perfeita e foi no seu seio que o Filho Unigênito se fez homem.
Corpus Christi: vida para o mundo
A igreja escolheu a 5ª feira depois da festa da Santíssima Trindade como dia consagrado a especial veneração pública da Eucaristia: o dia do Corpus Domini. Esta é a festa do Corpo Místico de Cristo, a Igreja, que ele nutre e leva à unidade da mútua doação.
A festa de Corpus Christi tem origem no século XIII. Santa Juliana de Mont Cornillon, da Bélgica, incentivou a solenidade em honra ao santíssimo sacramento e, em 1264, o papa Urbano IV publicou a bula Transiturus, na qual louva o amor de Jesus manifestado na eucaristia e ordena que seja celebrada a solenidade de Corpus Christi na quinta-feira seguinte ao domingo dedicado à Santíssima Trindade. A partir do século XIV, as procissões foram sendo incorporadas à celebração desta festa. O Concílio de Trento reconhece que, pela piedade popular, foi sendo introduzido na Igreja de Deus o costume de celebrar anualmente, em dia festivo, o excelso sacramento e declara que, com honra e reverência, seja levado em procissão pelas ruas e lugares públicos. Com essa manifestação pública de fé, os cristãos testemunham a sua gratidão pelo dom da eucaristia, pelo qual se torna presente a vitória sobre a morte e a ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo.
Porque foi escolhida uma 5ª feira para a solenidade de Corpus Christi? Responde o papa João Paulo II: esta solenidade refere-se ao Mistério historicamente ligado a tal dia, à Quinta-feira Santa. E aquele dia é, no sentido estrito da palavra, a festa eucarística da Igreja.
“Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue tem a vida eterna e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia” (Jo 6,54). Isto vale já para o mesmo Cristo, que inicia o Seu tríduo pascal na Quinta-feira Santa com a Última Ceia, é condenado à morte e crucificado na Sexta-feira Santa, e ressuscitará ao terceiro dia. A Eucaristia é o sacramento desta morte e desta ressurreição.
Nela o Corpo de Cristo torna-se verdadeiramente o Alimento; e o Sangue, a Bebida para a vida eterna, para a ressurreição. De fato, aquele que come este Corpo eucarístico do Senhor e bebe na Eucaristia o Sangue por Ele derramado para a redenção do mundo, chega àquela comunhão com Cristo, da qual o Senhor mesmo disse: “Permanece em Mim e Eu nele” (Jo 15,4).
E nós, permanecendo em Cristo, no Filho que vive no Pai, vivemos mediante Ele, daquela vida que forma a união do Filho com o Pai no Espírito Santo: vivemos a vida divina. Portanto, celebramos Corpus Christi na 5ª feira após a Festa da Santíssima Trindade, para colocar em evidência precisamente aquela Vida que nos dá a Eucaristia.
A festa de Corpus Christi oferece a oportunidade de refletir sobre o sentido da eucaristia na nossa vida de cristãos e em nossa missão de construir o corpo eclesial de Cristo, que somos nós a Igreja.
A Eucaristia é a força renovadora da sociedade enquanto vai nos ajudar pela vivência do amor a enfrentar os desafios que minam e destroem a convivência humana. É mensagem de comunhão fraterna, não só enquanto nos ajuda a vencer o egoísmo e partilhar o pão e também quando elimina o rancor e o dinamismo de vingança, mas enquanto consegue superar mágoas e ressentimentos e aproximar os distantes e convencer-nos de que em Cristo somos todos irmãos e irmãs, para além de toda diferença e divergência (Dom Luciano).
A força da Eucaristia deve nos impulsionar a transformar a sociedade por meio de leis e políticas públicas que modifiquem o sistema de acumulação doentia de bens aumentando a riqueza de poucos e segregando cada vez mais os pobres. Deve unir a comunidade a serviço dos mais pobres e habilitar os cristãos a contribuir para leis e medidas que garantam vida digna para todos: trabalho, salário justo e moradia