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Dom Moacyr

Cristãos rumo à Páscoa


Neste tempo quaresmal somos convidados a aproximar-nos de Cristo e através d’Ele, uns dos outros. A Quaresma é tempo de sacrifício e de penitência; mas é também tempo de comunhão e de solidariedade (Paulo VI).

É hora de escutar os apelos que nos chegam de várias direções: quantos irmãos e irmãs das CEBs do Acre estão isolados; muitos próximos de nós estão sofrendo porque tiveram que deixar suas casas devido às inundações do Rio Acre.

A Campanha da Fraternidade apresenta neste ano um concreto apelo que afeta todos nós e se torna um compromisso na vivência da Quaresma. O tema: "Fraternidade e Saúde Pública” e o lema: "Que a Saúde se difunda sobre a Terra” (Eclo 38,8) pede que nos mobilizemos em favor de melhorias no Sistema Público de Saúde.

Diante das estruturas de morte, Jesus faz presente a vida plena. Por isso, Ele cura os enfermos, expulsa os demônios e compromete os discípulos na promoção da dignidade humana e de relacionamentos sociais fundados na justiça e na misericórdia. É através de atitudes claramente solidárias que o discípulo missionário de Jesus Cristo será capaz de dizer uma palavra específica a respeito do sofrimento.

As dores de muitos de nossos irmãos e irmãs são imensas e não podem passar despercebidas. Elas desafiam a ação evangelizadora a não seguir os caminhos da indiferença ou do ativismo, que não deixam o tempo para se colocar ao lado dos que estão sofrendo. O caminho das promessas fáceis e enganadoras, com oferta de prodígios, milagres, curas e sucessos, como se Jesus Cristo estivesse preso nas mãos de alguns privilegiados ou de quem cumpre certas obrigações. Estes caminhos não levam ao encontro com Jesus Cristo e geram cristãos marcados pelo egoísmo e não pelo amadurecimento na fé (Doc CNBB 87, 110-112).

Contemplando os diversos rostos de sofredores desta Terra de Santa Cruz, de modo particular, aqui da Amazônia, enxergamos em cada um, o rosto de nosso Senhor: chagado, destroçado, flagelado (Is 52,13s). É nosso amor por Jesus Cristo e Cristo Crucificado (1Cor 1,23-25) que nos leva a buscar o Mestre em meio às situações de morte (Mt 25,31-46). Leva-nos a não aceitar tais situações de morte, sejam elas quais forem, envolvendo-nos na preservação da vida (Doc CNBB 94,69).

O mundo está “gravemente enfermo”, dizia Ellacuría, necessita de salvação e cura. Por isso, desejo que “Deus passe por esse mundo”, pois essa passagem sempre traz salvação às pessoas e ao mundo em seu conjunto. Tivemos a sorte de sentir essa passagem de Deus com Medellín, Dom Romero, com muitas comunidades e pessoas boas e simples, com os mártires e o povo crucificado (J.Sobrino).

A conversão pede que as estruturas de morte sejam transformadas (TB/CF).O espírito de penitência e a sua prática levam-nos a desapegar-nos de tudo o que possuímos de supérfluo e, algumas vezes, mesmo do necessário, que nos impede de ser verdadeiramente aquilo que Deus quer que sejamos: “Onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração”.
Na Quaresma, devemos ouvir com mais frequência a Palavra de Deus e orar com mais insistência, preparando-nos para a celebração do mistério pascal. Assim, a penitência quaresmal e o jejum pascal nos ajudam nessa caminhada rumo à alegria da Ressurreição do Senhor com elevação e largueza de espírito (SC 109-110).

A Ressurreição do Senhor (Mt 28,9; Jo 20,20) é a alegria do cumprimento, que se expande na vida dos fiéis: “Os sinais da vitória de Cristo ressuscitado nos estimulam enquanto suplicamos a graça da conversão e mantemos viva a esperança que não defrauda. O que nos define não são as circunstâncias dramáticas da vida, nem os desafios da sociedade ou as tarefas que devemos empreender, mas todo o amor recebido do Pai, graças a Jesus Cristo pela unção do Espírito Santo. Esta prioridade fundamental é a que tem presidido todos os nossos trabalhos que oferecemos a Deus, a nossa Igreja, a nosso povo.., enquanto elevamos ao Espírito Santo nossa súplica para que redescubramos a beleza e a alegria de ser cristãos”(DAp 14).

O caminho da Quaresma rumo à alegria divina só é possível no seio da Mãe Misericordiosa. Ajude-nos, nesse período, a sua companhia sempre próxima, cheia de compreensão e ternura. Que Ela nos ensine a sair de nós mesmos no caminho de sacrifício, de amor e serviço, para que, peregrinos no caminho, cantemos as maravilhas que Deus tem feito em nós, conforme a sua promessa (DAp 553).

As leituras bíblicas desse domingo falam da solidariedade que passa por leis que promovam a vida, sobretudo daqueles que estão sendo privados da dignidade, e passa também por meio de uma religião que abandone, de uma vez por todas, a exploração das pessoas, mesmo que os exploradores da religião estejam invocando em sua defesa o próprio Deus (VP).

Os comerciantes que se sentem lesados pelo gesto de Jesus (Jo 2,13-25) de acabar com o comércio no templo querem intimidá-lo: “Que sinal nos mostras para agir assim?” (v. 18). Jesus responde, dizendo que sua morte e ressurreição serão o grande sinal: “Destruam este templo, e em três dias eu o levantarei” (v. 19). Temos aqui o centro do evangelho deste dia. Jesus não só aboliu os sacrifícios no Templo de Jerusalém, ele decretou que o fim do templo já chegou. É por meio do seu corpo, morto e ressuscitado, que o povo se reencontra com Deus para celebrar a Páscoa da libertação.

Jesus foi ao encontro da morte na cruz como a uma consumação. Não como ao final desua existência, mas como a seu momento mais alto. Não “alto” porque introduziu algo de diferente em relação à vida que viveu, mas porque na cruz ele viveu as atitudes de sempre com absoluta radicalidade.

O modo como Jesus se colocou diante da morte foi a continuação de como ele se colocou diante da vida, isto é, na mais profunda confiança no Pai e na total doação de si mesmo aos homens. É nesse sentido que Jesus “preparou” ao longo da vida a sua morte. E é nesse sentido profundo que a cruz é a hora para a qual a existência de Jesus se orientou desde o começo.
Por isso, nossa insistência para que nesta quaresma nos aproximemos de Cristo e através d’Ele, uns dos outros. A conversão leva-nos a mudar totalmente a mente e o coração, para escutarmos a voz do Senhor que nos convida a voltarmos para Ele, em novidade de vida, e a sermos cada vez mais sensíveis aos sofrimentos dos que nos rodeiam.

A expectativa da Páscoa definitiva nos anima e encoraja para testemunhar, ainda nesta vida, os valores do Reino de Cristo: a confiança na misericórdia divina, o amor gratuito a todos, a luta pelos direitos humanos, o serviço aos necessitados e o perdão das ofensas (D.Luciano).

Como testemunhas da Páscoa do Senhor, celebremos a Eucaristia, presença sempre viva de Jesus Crucificado e Ressuscitado, comprometendo-nos com todos os crucificados de nossa sociedade, com suas lutas por libertação, para construirmos outro mundo possível, sempre acompanhados pela proteção e benção da Mãe de Deus, invocada na região amazônica, com outros nomes; no Brasil, com o título de Aparecida, e na nossa América, com o de Virgem de Guadalupe (Carta Final do 12º Intereclesial).

Fonte: Arquidiocese

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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