Domingo, 31 de julho de 2016 - 05h01
O mês de agosto chega cheio de esperança e de motivações para alimentar a nossa fé cristã. Celebrando as vocações: sacerdotal (7/8), familiar (14/8), religiosa (21/8), leiga e catequista (28/8), somos chamados a refletir sobre a nossa missão neste mundo, a nossa vida como dom de Deus e o nosso compromisso com a Igreja e a sociedade.
A liturgia deste domingo trata da fugacidade da vida que interpela a nossa existência. Questiona-nos sobre a atitude que assumimos face aos bens deste mundo. Sugere que eles não podem ser os deuses que dirigem a nossa vida e convida-nos a descobrir e a amar bens que dão verdadeiro sentido à nossa existência e que garantam a vida em plenitude.
O Livro do Eclesiastes ensina que tudo é vaidade, tudo é passageiro. O homem e a mulher sábios são aqueles que não gastaram seus dias debaixo do sol, na busca desenfreada por acumular riquezas. Riquezas, essas, que a qualquer momento podem lhes ser tiradas ou perdidas, diante da finitude da vida (Ecl 1,2;2,21-23).
Jesus fala a seus discípulos em parábolas, a fim de que compreendam que a ganância não convém aos que se propõem segui-lo. Desmascara a insensatez e “mostra que é idiotice acumular bens para assegurar a própria vida”. Só Deus pode dar ao homem a riqueza que é a própria vida (BP).
Nesse sentido, o homem rico da parábola de Lucas não se dá conta de que vive encerrado em si mesmo, prisioneiro de uma lógica que o desumaniza esvaziando-o de toda a dignidade. Só vive para acumular, armazenar e aumentar o seu bem-estar material; torna-se ícone dos que não são sábios, dos que preferem acumular bens para si, pensando num futuro que não lhes pertence.
Os discípulos devem aprender que “a vida de um homem não consiste na abundância de bens” (Lc 12,13-21), mas no cultivo da pobreza de espírito. A “sabedoria do lucro” é injusta e assassina. Leva as pessoas a desconsiderar os fracos.
“Neste mesma noite vai ter que devolver a sua vida. E as coisas que você preparou para quem será?”. Esta é a sentença de Deus: a vida deste rico é um fracasso e uma insensatez.
Para o teólogo Antonio Pagola, a crise econômica que estamos sofrendo é uma “crise de ambição”: os países ricos, os grandes bancos, os poderosos da terra... Escolhemos viver acima das nossas possibilidades, sonhando com acumular bem-estar sem limite algum e esquecendo cada vez mais os que se afundam na pobreza e na fome.
Esta crise não é uma mais. É um “sinal dos tempos” que exige uma leitura à luz do evangelho. Não é difícil escutar a voz de Deus no fundo das nossas consciências: “Basta já de tanta insensatez e tanta falta de solidariedade cruel”. Nunca superaremos as nossas crises econômicas sem lutar por uma mudança profunda do nosso estilo de vida: temos que viver de forma mais austera; temos de partilhar mais o nosso bem-estar.
Paulo Apostolo alerta-nos a não depositarmos nossa esperança nos bens materiais que passam e nos convida a nos esforçarmos “por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo”. Esse deve ser o exercício cotidiano dos que ressuscitaram com Cristo, dos que foram recriados pelo Criador, porque despojados do homem velho (Cl 3,1-5.9-11).
A Oxfam chama atenção para a desigualdade crescente entre cidadãos comuns na América Latina e multimilionários e pergunta: quantos anos um trabalhador comum levaria para alcançar os rendimentos mensais de um multimilionário em seu país? No Brasil, um cidadão que vive sozinho e tem renda mensal de um salário mínimo (R$ 880) precisaria trabalhar 43 anos para obter o mesmo rendimento recebido por mês pela classe mais afortunada da população. A conta também pode ser feita ao contrário, quando se descobre que um multimilionário gastaria menos de 1h30 para receber os R$ 880 que aquele assalariado recebe em um mês inteiro (Envolverde, 29/07/2016).
A calculadora da desigualdade escancara a desigualdade e a segmentação da sociedade em que vivemos. Permite comparar os ganhos nas diferentes faixas de renda da população, lembrar que a concentração da riqueza vai de mãos dadas com a concentração de poder, afetando a qualidade de nossas democracias porque perverte as instituições e processos políticos, submetendo-os para servir os interesses da elite, não da cidadania.
O patrimônio das 15 famílias mais ricas do Brasil é dez vezes maior que a renda de 14 milhões de grupos familiares atendidos pelo programa Bolsa Família. De acordo com a publicação americana Forbes, os 15 clãs mais abastados do Brasil concentram uma fortuna de 270 bilhões de reais, cerca de 5% do PIB do País. O Programa Bolsa Família, por sua vez, atendeu 14 milhões de famílias em 2013 com um orçamento de 24 bilhões de reais, equivalentes a 0,5% do PIB.
Para Eric Hobsbawn, o objetivo de uma economia não é o ganho, mas sim o bem-estar de toda a população. O crescimento econômico não é um fim, mas um meio para dar vida a sociedades boas, humanas e justas.
Uma das grandes novidades do documento Evangelii Gaudium, do papa Francisco, segundo Jung Mo Sung, Diretor da Faculdade de Humanidades e Direito da Universidade Metodista de São Paulo, é a contribuição ao mundo de hoje de colocar a crítica à idolatria do dinheiro e à absolutização do mercado no centro da discussão teológica e da missão de evangelização.
O anúncio da boa-nova deve sempre ser pensado e realizado a partir do discernimento dos principais problemas que afetam a vida dos mais vulneráveis.
Para o papa, a modernidade capitalista é idólatra. O bezerro de ouro se apresenta nos nossos dias sob a forma de fetichismo e idolatria do dinheiro e de uma ditadura da economia sem rosto (n.55).
O principal critério utilizado para criticar a idolatria é que o fetichismo do dinheiro e a absolutização do mercado inverte o papel da economia: o de estar a serviço da vida humana e do bem comum de toda a sociedade, isto é, também dos excluídos do mercado. O ídolo se opõe ao ser humano concreto, por isso, se opõe a Deus da Vida.
A vida concreta do ser humano vulnerável é o critério para discernir entre ídolo e Deus. A fé cristã confessa que Deus entrou na história pela encarnação em um ser humano concreto, nascido pobre na periferia do mundo.
Para a fé cristã, não há caminho a Deus que não passe pelo ser humano concreto; não há como encontrar a face do Jesus Ressuscitado a não ser na face das vítimas das opressões e explorações.
Por isso, a evangelização não pode passar ao lado das pessoas concretas que estão morrendo antes do tempo, seja pela pobreza ou pela violência que cresce alimentada pelo aumento tão brutal da desigualdade social, do escândalo de ostentações absurdas (como carros de 2,3 milhões de euros) frente a tantas pessoas que lutam desesperadamente para conseguir o “pão de cada dia”.
No documento, o papa lembra-nos que a Igreja não é o ponto de chegada de uma caminhada, mas um “porto” onde buscamos força para sair ao mundo e anunciar a boa-nova.
E esse anúncio só será boa-nova aos pobres se desmascararmos os ídolos que hoje dominam cabeças e corações de muitas pessoas e levarmos a esperança e o testemunho de que Deus ainda continua ouvindo os seus clamores e está às nossas portas batendo, para que abramos nossos ouvidos e a nossa visão e lutemos por uma sociedade mais humana.
A democracia é uma luta permanente, assim a resistência de nosso povo, das minorias excluídas, de nossas comunidades rurais, migrantes, indígenas, ribeirinhas, quilombolas que sofrem todo tipo de violência.
Continuamos a caminhada, reafirmando nossa opção pelos excluídos, apoiando a luta por direitos e justiça, mas pegadas dos mártires da Amazônia, que morreram em prol da Paz.
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