Domingo, 17 de julho de 2011 - 06h07
Jesus dedicou-se a anunciar, a promover o Reino de Deus. No entanto, “o culto de Jesus vai substituindo o seguimento de Jesus”. Quem faz essa constatação é o padre Comblin em um de seus últimos escritos antes de falecer. Jesus nunca havia pedido aos discípulos um ato de culto. Nunca havia pedido que lhe oferecessem um rito. Mas queria o seguimento, seu seguimento.
“Não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande ideia, mas através do encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, um rumo decisivo”. Esta afirmação do papa Bento XVI implica que vejamos os Evangelhos não apenas como fonte de conhecimento sobre Jesus Cristo e sua mensagem, mas como a Palavra de Deus que nos interpela, desinstala, e questiona, urgindo uma resposta de nossa parte (M.F.Miranda). Esta Palavra é um convite a nos entregarmos e a nos comprometermos com Jesus Cristo, a partir do encontro pessoal com Cristo e da experiência salvífica e da dimensão mística da fé.
Jesus tem algo que atrai o povo. Pagola, ao tratar do encontro com Jesus e do perfil de seus seguidores, diz que alguns se aproximam dele movidos pela curiosidade e a simpatia com o profeta curador. Eram os mais numerosos. Entre essa multidão há, porém, quem sinta Jesus com algo mais que curiosidade. Sua mensagem lhes convence. Alguns lhe manifestam sua plena adesão, porém não abandonam sua casa para seguir-lhe; oferecem-lhe ajuda e hospitalidade quando chega à sua aldeia. Há por último um grupo de discípulos e discípulas que o acompanham na sua vida itinerante e colaboram com Ele de diversas maneiras. Entre estes, Jesus escolhe 12 que formam seu grupo mais estável e próximo.
Os futuros discípulos foram aproximando-se de Jesus de diferentes formas. A alguns os chamou Ele mesmo arrancando-os de seu trabalho. Outros se aproximaram animados por quem já tinha se encontrado com Ele. Houve talvez quem se oferecesse, por própria iniciativa, e Jesus lhes fez tomar consciência do que supunha seguir-lhe (Lc 9,57-62; Mt 8,18-22). As mulheres provavelmente acercaram-se atraídas por sua acolhida. Com grande surpresa para muitos, Jesus as aceitou no seu grupo de seguidores. Em qualquer caso, o grupo forma-se por iniciativa exclusiva de Jesus. Sua chamada é decisiva. Jesus não se detém em dar explicações. Não lhes seduz propondo-lhes metas atraentes ou ideias sublimes. Irão aprendendo tudo junto a Ele. Agora os chama a seguir-lhe. Isso é tudo.
Jesus não argumenta motivos nem razões. Não admite condições. Há que seguir-lhe de imediato. Seu chamado exige disponibilidade total: fidelidade absoluta por cima de qualquer outra fidelidade; obediência por cima inclusive de deveres religiosos considerados como sagrados. Jesus vai chamando-os urgido pela paixão que se tem despertado n’Ele pelo reino de Deus. Quer por imediatamente em andamento um movimento que anuncie a Boa Noticia de Deus: o povo tem que experimentar já sua força curativa; há que semear nos povos signos de misericórdia.
A chamada de Jesus é radical. Os que o seguem têm que abandonar tudo o que têm entre mãos. Jesus vai imprimir uma orientação nova a suas vidas. Tira-os da segurança e os engata a uma existência imprevisível. O reino de Deus está irrompendo. Nada os têm que distrair. A partir de agora viverão ao serviço do reino de Deus, incorporados intimamente à vida e tarefa profética do próprio Jesus.
Jesus lhes convida a deixar a casa onde moram, a família e as terras pertencentes ao grupo familiar (Mc 10,28-30). Não é fácil. A casa era a instituição básica onde cada indivíduo tinha suas raízes; dela todos recebiam seu nome e identidade; nela encontravam a ajuda e solidariedade dos demais parentes. A casa é tudo: refúgio afetivo, local de trabalho, símbolo da posição social. Romper com a casa é uma ofensa grave para a família e uma desonra para todos. Porém, sobretudo, significa lançar-se a uma insegurança total. Jesus o sabe por própria experiência, e não o oculta a ninguém: “As raposas têm suas tocas, os pássaros do céu seus ninhos, porém, este homem não tem onde recostar a cabeça” (Lc 9,58; Mt 8,20).
Dentro daquele grupo de seguidores há pessoas de diferentes procedências, porém, Jesus os vê a todos como uma família. A nova família que Deus quer ver crescer no mundo. Junto a Ele vão aprender a conviver, não como aquela família patriarcal que deixaram para trás, senão como uma família nova, unida pelo desejo de fazer a vontade de Deus. Não os unem laços de sangue nem interesses econômicos. Não estão juntos para defender seu status social; sua honra consiste em fazer a vontade do Pai de todos. Não é uma família estruturada hierarquicamente: entre eles reina a igualdade. Sem dúvida, estes são os dois eixos que mais cuida Jesus entre seus seguidores e seguidoras: a igualdade de todos e a acolhida serviçal aos últimos. Esta é a herança que quer deixar atrás de si: um movimento de irmãos e irmãs a serviço dos mais pequenos e desvalidos. Este movimento será símbolo e germe do reino de Deus.
Entre seus seguidores ficam invertidos os valores normais daquela sociedade. A grandeza não se mede pelo grau de autoridade que um possa exercer, senão pelo serviço que ofereça aos demais. “Sabeis que os que são tidos como chefes das nações as dominam como senhores absolutos e os grandes as oprimem com seu poder. Porém, não há de ser assim entre vocês. O que quiser ser grande entre vocês, que seja vosso servidor; e o que quiser ser o primeiro entre vocês, que seja escravo de todos” (Mc 10,42-44).
Assim imagina Jesus a sua família de seguidores: um grupo de irmãos e irmãs que lhe seguem para acolher e difundir a compaixão de Deus no mundo. Jesus nem pode nem quis pôr em andamento uma instituição forte e bem organizada, senão um movimento de cura que fora transformando o mundo numa atitude de serviço e amor. Não pensou em bons governantes nem buscou grandes homens para comandar nem habilidosos estrategistas. Sua primeira preocupação é deixar atrás de si um movimento de irmãos e irmãs, capazes de viver servindo aos últimos. Eles serão o melhor símbolo e a semente mais eficaz do reino de Deus.
A dimensão mística da fé consiste em passar adiante essa experiência significativa feita com Jesus Cristo. Daí a importância do testemunho existencial de quem evangeliza. Daí também a importância do contato com a pessoa de Jesus Cristo. Quando esta experiência inicial se encontra ausente, nosso zelo por formulações doutrinais corretas, nossas recomendações para práticas religiosas, nossos apelos a maiores compromissos pelo Reino, numa palavra, nossas pastorais não conseguem alcançar o fruto desejado. E aqui nasce a pergunta: em nossa vida de fé e em nossa atividade pastoral ocupa esta familiaridade com Jesus Cristo o lugar que lhe compete? Ou enquadramos de tal modo a fé cristã em categorias racionais ou jurídicas, em práticas e instituições, embora em si necessárias, que leva muitos a buscarem em outras religiões a mística que temos sobejamente na nossa? Não se concentra aqui todo o impulso para uma autêntica iniciação cristã, como desejam os recentes documentos do magistério?
Entretanto para não sucumbirmos a um relacionamento com Jesus Cristo de cunho intimista, interesseiro, sentimental, não podemos separar a pessoa do Mestre de Nazaré de sua missão: proclamar e fazer acontecer o Reino de Deus na história humana.
Em suas palavras e em suas ações transparece o amor do Pai por todos, convidando a todos a ter com seus semelhantes a mesma atitude de Deus. Assim mostrava que só no amor fraterno, na atenção e no cuidado com o outro, sobretudo com o próximo em necessidade, seria possível uma convivência humana na paz e na justiça. Portanto, acolher a pessoa de Jesus Cristo é acolher a causa do Reino de Deus. De fato, muitos chegam a uma autêntica experiência de Deus no serviço, muitas vezes despercebido, aos mais pobres e excluídos.
Fonte: Pascom
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