Terça-feira, 5 de outubro de 2010 - 07h35
O arcebispo de Porto Velho, Dom Moacyr Grechi, cumpre uma extensa agenda em sua visita ao Papa Bento XVI na cidade do Vaticano. A sua última visita ao papa foi em outubro de 2002. Trata-se da “Visita 'ad limina Apostolorum', que significa no limiar, na entrada das basílicas dos apóstolos Pedro e Paulo; é uma visita dos bispos diocesanos aos túmulos dos Apóstolos, na Diocese de Roma, realizada a cada cinco anos e está prevista no Código de Direito Canônico (Can. 399-400).
A comitiva dos bispos do Regional Noroeste da CNBB (Acre, sul do Amazonas e Rondônia) e do Regional Norte 1 (Norte do Amazonas e Roraima), foi recebida pelo Papa no sábado, dia 02 de outubro. Dom Moacyr dirigiu ao papa, em nome de todos, a seguinte saudação:
Palavras de Dom Moacyr ao Papa
Santidade, nós, Bispos dos Regionais Norte 1 e Noroeste, estamos aqui, nesta visita “ad limina”, para renovar e fortalecer nossa comunhão com Pedro presente na Sua pessoa e missão. Somos 18 bispos de 16 circunscrições eclesiásticas, incluídos 2 bispos auxiliares. Vivemos no coração da Amazônia Continental, que cobre uma região de mais de 2 milhões de Km2. A nossa realidade, em suas grandes linhas, Sua Santidade já conhece. Aqui me parece oportuno relembrar o que nos dizia o seu venerável predecessor João Paulo II: «Às vezes ouve-se dizer que o Papa desconhece a realidade local... Ele porém procura prestar a máxima atenção àquilo que seus irmãos bispos lhe dizem periodicamente nas visitas “ad limina» (Visita “ad limina” de 2002).
Além do mais, Sua Santidade recebe nossos relatórios, agora bem minuciosos. Não podemos esquecer também as informações que Lhe chegam da Nunciatura. Vale a pena lembrar que o saudoso Núncio Armando Lombardi, no seu curto período de tempo no Brasil, visitou pessoalmente quase todas as Dioceses e Prelazias do Brasil. E isso foi muito positivo para a caminhada da Igreja do Brasil. A Amazônia sempre tem sido considerada colônia do resto do Brasil. Seus problemas surgem, quase todos, de fora.
Também a Igreja do Brasil só acordou para a realidade da Amazônia como parte de sua estrutura e missão há poucas décadas. As etapas principais dessa mudança foram o Concílio Vaticano II, Medellín e a reunião dos bispos da região em Santarém-PA, com suas orientações e prioridades, em 1972. Este encontro é como que a carta de identidade da Igreja da Amazônia.
O Projeto “Igrejas Irmãs”, a vinda dos padres “fidei donum” (padres diocesanos mandados por suas Igrejas de origem) e a Comissão Episcopal para a Amazônia, foram decisivos para uma profunda mudança de atitude principalmente das dioceses do Sudeste e Sul do Brasil, em relação à sua responsabilidade quanto à Amazônia.
A pobreza, o reduzido número de padres, a invasão das Igrejas Pentecostais de todo gênero, são um desafio, sem contar os de natureza sócio-econômica e cultural. Só agora temos um modesto Instituto Superior na Amazônia aprovado oficialmente. Se hoje a Missão na Amazônia é difícil, o era infinitamente mais no tempo de nossos predecessores vindos de tantos países, e que prepararam o terreno para o nosso trabalho atual. Muitos deles e delas (Irmãs) seriam dignos/as da glória dos altares.
Em nome de todo o episcopado da Amazônia quero agradecer a ajuda econômica que Sua Santidade, pessoalmente, se empenhou em nos oferecer nestes últimos anos. Agora estamos aqui totalmente abertos a suas palavras que servirão para confirmar-nos na Fé de acordo com a missão solicitada por Jesus ao Seu primeiro predecessor (Lc 22, 31-32).
Discurso do Papa aos bispos da Amazônia
E na segunda-feira, 4 de outubro, o Papa Bento XVI dirigiu um Discurso aos bispos dos Regionais Norte 1 e Noroeste do Brasil. , que transcrevemos na íntegra:
Caros Irmãos no Episcopado:
É com muita satisfação que vos dou as boas-vindas, Pastores dos Regionais Norte 1 e Noroeste da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, por ocasião da vossa visita ad Limina Apostolorum. Agradeço a Dom Moacyr Grechi pelas suas amáveis palavras e pelos sentimentos expressos em vosso nome, ao mesmo tempo em que asseguro que vos tenho presente diariamente nas minhas orações, pedindo ao Céu que sustente e torne fecundos os esforços que fazeis - muitas vezes carecendo de meios adequados - para levar a Boa Nova de Jesus a todos os cantos da floresta amazônica, conscientes de que "Deus quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade" (1 Tim 2,4).
Deus pode realizar esta salvação por vias extraordinárias que somente Ele conhece. Entretanto, se o seu Filho veio, foi precisamente para nos revelar, pela sua palavra e pela sua vida, os caminhos ordinários da salvação; e Ele mandou-nos transmitir aos outros essa revelação, com a sua própria autoridade. Sendo assim, não podemos furtar-nos a este pensamento: os homens poderão salvar-se por outras vias, graças à misericórdia de Deus, se não lhes anunciar o Evangelho; mas poderei eu salvar-me se por negligência, medo, vergonha ou por seguir idéias falsas, deixar de o anunciar?
Por vezes deparamos com esta objeção: impor uma verdade, ainda que seja a verdade do Evangelho, impor uma via, ainda que seja a salvação, não pode ser senão uma violência à liberdade religiosa. Apraz-me transcrever a reposta pertinente e elucidativa que lhe deu o Papa Paulo VI: "É claro que seria certamente um erro impor qualquer coisa à consciência dos nossos irmãos. Mas propor a essa consciência a verdade evangélica e a salvação em Jesus Cristo, com absoluta clareza e com todo o respeito pelas opções livres que essa consciência fará - e isso, sem pressões coercitivas, sem persuasões desonestas e sem aliciá-la com estímulos menos retos - longe de ser um atentado à liberdade religiosa, é uma homenagem a essa liberdade, à qual é proporcionado o escolher uma via que mesmo os não crentes reputam nobre e exaltante. (...) Esta maneira respeitosa de propor Cristo e o seu Reino, mais do que um direito, é um dever do evangelizador. E é também um direito dos homens seus irmãos receber dele o anúncio da Boa Nova da salvação" (EN 80).
"Ai de mim, se eu não anunciar o Evangelho!" (1 Cor 9,16) exclamava o Apóstolo das gentes. O desejo de anunciar o Evangelho nasce de um coração enamorado por Jesus, que anela ardentemente que mais pessoas possam receber o convite e participar no banquete das Bodas do Filho de Deus (cf. Mt 22,8-10). De fato, a missão é o desbordar da chama de amor que se inflama no coração do ser humano, que, ao abrir-se à verdade do Evangelho e deixar-se transformar por ela, passa a viver a sua vida - como dizia São Paulo - "na fé do Filho de Deus que me amou e se entregou por mim" (Gal 2,20). Conseqüentemente, o chamado à missão não é algo destinado exclusivamente a um restrito grupo de membros da Igreja, mas um imperativo dirigido a cada batizado, um elemento essencial da sua vocação. Como afirmou o Concílio Vaticano II: a "vocação cristã é, por sua própria natureza, vocação ao apostolado" (AA 2). Neste sentido, um dos compromissos centrais da V Conferência do Episcopado Latino-Americano e Caribenho, que tive a alegria de iniciar em Aparecida, em 2007, foi o de despertar nos cristãos a consciência de discípulos e missionários, resgatando a dimensão missionária da Igreja ao convocar uma "Missão Continental".
Ao pensar nos desafios que esta proposta de renovação missionária supõe para vós, Prelados brasileiros, vem-me a mente a figura do Beato José de Anchieta. Com efeito, a sua incansável e generosíssima atividade apostólica, não isenta de graves perigos, que fez com que a Palavra de Deus se propagasse tanto entre os índios quanto entre os portugueses - razão pela qual desde o momento de sua morte recebeu o epíteto de Apóstolo do Brasil - pode servir de modelo para ajudar as vossas Igrejas particulares a encontrar os caminhos para empreender a formação dos discípulos missionários no espírito da Conferência de Aparecida (cf. Documento de Aparecida, 275).
Contudo, os desafios do contexto atual poderiam conduzir a uma visão reducionista do conceito de missão. Esta não pode ser limitada a uma simples busca de novas técnicas e formas que tornem a Igreja mais atrativa e capaz de vencer a concorrência com outros grupos religiosos ou com ideologias relativistas. A Igreja não trabalha para si: está ao serviço de Jesus Cristo; existe para fazer que a Boa Nova seja acessível para todas as pessoas. A Igreja é católica justamente porque convida todo o ser humano a experimentar a nova existência em Cristo. A missão, portanto, nada mais é que a conseqüência natural da própria essência da Igreja, um serviço do ministério da união que Cristo quis operar no seu corpo crucificado.
Isso deve levar a refletir que o esmorecimento do espírito missionário talvez não se deva tanto a limitações e carências nas formas externas da ação missionária tradicional quanto ao esquecimento de que a missão deve alimentar-se de um núcleo mais profundo. Esse núcleo é a Eucaristia. Esta, como presença do amor humano-divino de Jesus Cristo, supõe continuamente o passo de Jesus aos homens que serão seus membros, que serão eles mesmos Eucaristia. Em suma, para que a Missão Continental seja realmente eficaz, esta deve partir da Eucaristia e conduzir para a Eucaristia.
Amados irmãos, ao retornardes às vossas dioceses e prelazias, peço-vos que transmitais aos vossos sacerdotes, religiosos, religiosas, seminaristas, catequistas e fiéis, a saudação afetuosa do Papa, que em todos pensa e por todos ora com grande afeto e firme esperança. À intercessão do Beato José de Anchieta, que encontrava no Sacrário o segredo da sua eficácia apostólica, confio as vossas pessoas, as vossas intenções e propósitos pastorais, para que o nome de Cristo esteja sempre presente no coração e nos lábios de cada brasileiro. Com estes sentimentos vos acompanham a minha prece e a minha Bênção Apostólica.
Encerramento da Visita ao papa
A visita ad limina está prevista para encerrar no dia 09 de outubro. Além do encontro com o Papa, estão programadas reuniões e contatos que os bispos fazem junto à Santa Sé e a seus diversos organismos e dicastérios e comissões pontifícias. Dom Moacyr só retorna a Porto Velho, no dia 14 de outubro, pois deve visitar ainda o Colégio Pio Brasileiro e a Ordem dos Servos de Maria na Itália.
A organização dessa Visita foi feita através do Núncio Apostólico, e da Congregação para os Bispos e da própria Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Um relatório quinquenal sobre o estado da diocese confiada ao Bispo, constitui o aspecto principal da fase preparatória da visita. Três são os momentos principais da visita: a peregrinação aos túmulos dos dois apóstolos; o encontro com o Romano Pontífice; os colóquios, a nível individual ou coletivo, com os dicastérios da Cúria Romana.
A veneração e a peregrinação a estes túmulos exprimem a unidade da Igreja, fundada por Jesus Cristo e edificada sobre S. Pedro. O encontro com o sucessor de Pedro tende a consolidar a unidade na mesma fé, esperança e caridade, e a fazer conhecer e apreciar o imenso patrimônio de valores espirituais e morais que toda a Igreja, em comunhão com o bispo de Roma, difundiu pelo mundo inteiro. Esta visita é, pois, um sinal de comunhão e colegialidade episcopal.
Fonte: Pascom
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