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Dom Moacyr Greachi (E) e Sergio Gomes (D) |
O programa a “
BRONCA É SUA A AJUDA É NOSSA”, da
rádio Caiari, comandado pelo jornalista
Sergio Gomes entrevistou na última sexta-feira o Arcebispo de Porto Velho Dom Moacyr Greachi, que falou principalmente sobre o momento político que vivemos as vésperas da eleição do município de Porto Velho, que acabou de completar 94 anos de emancipação. Concorrem ao cargo majoritário para prefeito 7 candidatos e mais 360 postulam as 16 vagas para Câmara de vereadores na capital.
Confira a entrevista:
Sergio Gomes - Qual sua reflexão sobre esse momento político às vésperas da eleição?
Dom Moacyr - Eu acredito que a Igreja como instituição deve fazer parte da política, digo política com “P” maiúsculo, em busca do bem comum porque na visão da Igreja Católica a política é uma alta expressão de amor, de caridade, então se eu não participo da política em sentido do bem comum, outros participam, se eu me abstenho, estou dando força ao adversário, aquele que eu considero não apto para o exercício do Poder na busca do bem comum. Não é só aconselhado, é uma obrigação ética que o cristão participe da política, inclusive com seu voto.
Sergio Gomes – Hoje as regras eleitorais não permitem postes e muros sujos com divulgação e material de campanha dos candidatos. Na sua avaliação, as restrições, melhorou ou dificultou o acesso a informação?
Dom Moacyr - Eu acredito que essas restrições, pelo menos as que eu conheço, são benéficas. Graças a Deus, não se vê mais muros emporcalhados com propagandas de mau gosto, eu acredito que essas restrições são altamente positivas, e depois essa Lei (
9.840) que cassa o mandato de candidatos que compram votos também é um progresso. Essa tentativa de controle das eleições para que sejam limpas e corretas, tudo isso eu considero altamente positivo, a única coisa que ainda deve melhorar é a punição dos culpados, para que não possam interpelar e recorre, e recorre, e recorre. Dizia-me um Juiz, em um debate outro dia, que um político brasileiro já recorreu quatrocentas vezes e continua no poder, quer dizer, deve haver um aperfeiçoamento da lei para que aquele que é culpado pague imediatamente e seja excluído da política, porque política é busca do bem comum e não do interesse próprio.
Sergio Gomes – Outra coisa que mudou foi o fim dos ‘Showmício’ com várias atrações.
Dom Moacyr - Graças a Deus, outra grande mentira essa de evitar e confundir alhos com bugalhos, então as pessoas iam lá pra escutar o cantor preferido deles e eram obrigados a escutarem um sermão insuportável e uma propaganda de má qualidade e até mentirosa.
Sergio Gomes – Segundo a Justiça, o objetivo é aproximar as propostas do candidato para o eleitor.
Dom Moacyr – Sem dúvida, eu creio que os debates são feitos para isso. Agora devemos aprender e aperfeiçoar os debates onde cada candidato apresente o seu projeto, o seu propósito, que seja argüido de maneira respeitosa,
ética, que não se traga mentiras ou suposições, e que realmente apresente a sua proposta, para que o cidadão que está assistindo o debate possa escolher de uma maneira objetiva.
Sergio Gomes – Dom Moacyr, quais foram as suas impressões sobre o seminário realizado pela OAB em parceria com Arquidiocese de Porto Velho?
Dom Moacyr - Bem, quanto a limpeza, digamos física, que é juntar as propagandas, santinhos, os panfletos, essa é mais fácil de controlar e de coibir e resolver, agora a limpeza ética é mais difícil, essa exige todo um aprendizado e aperfeiçoamento de leis, não deixar impune, não aplicar a lei só depois que o candidato termina o seu mandato, há uma série de aperfeiçoamentos e cobranças que devemos fazer a respeito de eleições sempre mais limpas, porque há o
risco de elas se tornarem as eleições limpas e o exercício do poder sujo, ele continua um risco e até é uma realidade. Então devemos trabalhar por eleições limpas depois por um controle dos que forem eleitos,
não devemos sós, devemos cobrar. Deveria existir até uma lei para deseleger aqueles que não estão cumprido o que prometeram ou que não tenham um comportamento a altura da sua missão de bem comum, mas muita coisa já melhorou, vamos devagarzinho. E quem não assinou ainda a proposta popular para ser encaminhada ao congresso, que assine, para que pessoas condenadas em primeiras instância e pessoas que já foram cassadas não possam ser candidatos, isso já seria um grande progresso, vamos ver se agente consegue.
Sergio Gomes – Ainda sobre ética na política, nesse pleito eleitoral temos 7 candidatos ao cargo majoritário de prefeito e 360 candidatos a vereador em Porto Velho. Qual a sua avaliação nesse processo eleitoral de 2.008?
Dom Moacyr – Quanto aos candidatos a prefeito eles tiveram mais tempo para se apresentar seja nos debates ou nos programas eleitorais, e eu tenho a impressão que um bom número de eleitores tem, pelo menos uma referência clara para um voto consciente. Agora esses trezentos e sessenta candidatos, eu dizia hoje no programa “Amanhecer com Ave Maria” da rádio Caiari, vote naquele candidato que mora na rua de vocês, que faz parte de sua igreja, agora candidato que busca interesse de Padre, Bispo, Pastor, que busca interesse momentâneo, esses não são bons candidatos, devem ser excluídos, o candidato verdadeiro deve buscar o bem comum, senão não é candidato, ele deve prescindir dos interesses da própria Igreja e buscar os interesses da população - escola de qualidade, no que depender dele, políticas públicas ele deve propor - e fiscalizar hospitais, escolas, transporte, tudo aquilo que estiver nas possibilidades de um vereador. Porque tem candidato a vereador que parece que são presidente da República ou então uma convergência dos três Poderes, vão fazer tudo, os eleitores devem votar em pessoas conhecidas, do seu bairro e na sua igreja, e conhecidos do seu passado, como é o relacionamento dele com a sua família, eles trabalham para viver ou vivem de expedientes, são dispostos a colaborar espontaneamente com a comunidade, sem interesses econômicos ou políticos imediatos, porque na minha história de vida, que já e longa, eu nunca vi um político-candidato ruim virar bom depois das eleições, não vira, se torna pior, agora já vi candidatos razoáveis se estragarem na política. Deve-se votar pelo bem da cidade, do bairro, eu volto a dizer, é escola, posto médico, vigilância nos atos do governo, são tantos candidatos, mas votemos nos conhecidos cujo passado seja limpo e que mereça o nosso apoio.
Sergio Gomes – Existe um ditado que diz “Se conhecer uma pessoa dê poderes a ela e você vai conhecê-la”. Será que uma pessoa muda com o dinheiro e o poder?
Dom Moacyr - A minha convicção é de que o poder revela. A pessoa já é egoísta, aventureira, quer pegar o poder a qualquer custo, eu creio que poder revela, ele não faz a pessoa pior do que ela é, simplesmente lhe dá a chance de ser o que ela sempre foi, alguém que buscou o seu interesse e quando teve na mão um instrumento ele usou, a arrogância, a prepotência, a corrupção tudo isso ele já carregava em si em semente, quando apareceu a oportunidade, aí a coisa se expandiu, foi uma terra boa, essa é minha convicção, não creio que a pessoa se estrague, ela se manifesta.
Sergio Gomes – Durante o programa, o jornalista Abelardo Jorge perguntou: Dom Moacyr, o senhor continuará o apoio e o incentivo na campanha referente ao abaixo-assinado contra os candidatos que tenham algum processo na justiça?
Dom Moacyr - Sem dúvida vamos continuar. As quatrocentas mil assinaturas que temos é pouco ainda, vai ser um jeito modesto de colaborar para que as eleições se aperfeiçoem cada vez mais. Outra coisa que vou fazer é escrever uma carta pastoral sobre isso, que os eleitores na suas paróquias e comunidades criem comissões de acompanhamento na Câmara, e que todos os dias em que houver seção fiquem anotando, para depois comunicar ao resto da comunidade o que os vereadores estão fazendo, que leis estão propondo, que interesses eles manifestam. Eu sei que em Machadinho já tem um, em Candeias do Jamari já teve, mas eu gostaria que a coisa ficasse quase institucionalizada. "Eu convido católicos, evangélicos e todas as pessoas de boa vontade, a controlar seja prefeito, mas principalmente os vereadores, e depois poderemos saber se pioraram depois que entraram."
Sergio Gomes – O senhor lembra do Cacique Juruna que tinha um gravador?
Dom Moacyr - Lembro, todo mundo deveria ter uma gravador.
Sergio Gomes – O ouvinte Marcelo do bairro Caiari, perguntou ao bispo: Dom Moacyr, o que o senhor acha do registro em cartório das propostas-promessas dos políticos sob pena serem penalizados com falsidade ideológica?
Dom Moacyr – Olha registrar em cartório seria bom, pelo menos para depois publicar em jornal, isto serviria para uma próxima eleição e também para conscientizar a população que nem sempre acredite em promessas.
Sergio Gomes – E o sobre o Dozinho que aconteceu na semana passada?
Dom Moacyr – Bem, para quem não sabe o que é dozinho, significa o diminutivo de doze, e refere-se ao
12º Intereclecial das Comunidades de Base, outro nome que parece misterioso, mas simplesmente é a menor comunidade da Diocese. Já tivemos 11 Encontros de Comunidades de Base em todo o Brasil, e agora Rondônia sediará o próximo em 2.009 e para preparar de maneira concreta esse futuro 12º Encontro, fizemos o dozinho. Foram mais de 1.500 pessoas e aproveitamos para fazer um teste, onde abrigar, acolher e alimentar tanta gente, no ano que vem vai ser o dobro de participantes, encontramos algumas falhas relativamente pequenas, mas foi muito bom.
Sergio Gomes – E sobre a procissão de São Francisco?
Dom Moacyr – São Francisco, um homem tão aceito, simpático e venerado, é o homem do milênio. Dois dos melhores livros sobre São Francisco foram escritos por evangélicos, eu tenho um artigo escrito por um luterano, do Rio Grande, que é uma maravilha, e seu fizer propaganda contrária, do tipo: Meus irmãos não vão para a procissão de São Francisco, podem ficar certos que vão todos, meu convite vai cair no vazio, não precisa fazer propaganda. A procissão sai da igrejinha de São Francisco às 17 horas. Esse homem realmente amava Jesus, não queria nada para
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Dom Moacyr Greachi/Foto:Serginho |
si, pobreza total e partilha, valorizava as criaturas, as plantas, as flores, a terra, os animais, "
ele deveria ser inspiração para os devastadores da Amazônia, essas formigas terríveis que não podem ver nada verde e nada vivo que destroem." Ele é o protetor e um convite para que respeitem a natureza. Francisco, no seu tempo, acordou a sociedade para os pobres, era uma sociedade rica, de guerra, de prestígio, e ele se fazendo pobre e miserável, embora sem perder a sua nobreza de comportamento, acordou a sociedade para toda uma multidão que era excluída do trabalho, excluída da vida, da participação e abriu os olhos de toda a massa, e hoje que nós temos milhões não só de excluídos, mas de descartáveis. Que São Francisco nos acorde e que Rondônia seja para todos, sem excluídos.
Fonte: PROGRAMA A BRONCA É SUA A AJUDA É NOSSA,
conduzido por Sergio Gomes/Rádio Caiari de Porto Velho – RO.
Fotos: Serginho/Gentedeopinião