Sábado, 19 de março de 2016 - 22h37
Dentre os mártires de março, recordamos Dom Oscar Romero, arcebispo de S. Salvador, assassinado, quando celebrava a eucaristia no dia 24 de março de 1980 e beatificado no dia 23 de maio de 2015. Sobre ele, papa Francisco escreveu: “Deus lhe concedeu a capacidade de ver e de ouvir o sofrimento do seu povo e plasmou o seu coração a fim de que, em seu nome, o orientasse e iluminasse, a ponto de fazer do seu agir uma prática repleta de caridade cristã”.
“Eu tenho sido frequentemente ameaçado de morte”, disse o arcebispo Oscar Romero a um repórter guatemalteco duas semanas antes de seu assassinato, “e se as ameaças chegarem a se cumprir, desde agora ofereço meu sangue a Deus pela redenção e ressurreição do povo de El Salvador; que o meu sangue seja semente de liberdade e sinal de que a esperança logo se transformará em realidade”.
E na véspera do seu martírio, falou em sua homilia: “Frequentemente tenho sido ameaçado. Como cristão, não creio em morte sem ressurreição. Se me matam, ressuscitarei no povo salvadorenho .. um bispo vai morrer, mas a Igreja de Deus que é o seu povo não morrerá nunca”.
A liturgia de hoje começa com manifestações do povo aclamando Jesus, o Messias, com ramos de oliveira. De outro lado, hostilidades por parte das autoridades e sacerdotes. Estamos celebrando o Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, que abre a Semana Santa ou a Semana Maior rumo à Pascoa.
Na liturgia deste domingo, três símbolos estão presentes na celebração: os ramos, a procissão com ramos e a proclamação do Evangelho da Paixão. Fazemos parte de um povo que sai às ruas, agitando ramos, cantando ao Cristo, nosso Rei e Redentor e aclamando-o como Messias, o esperado das nações.
No caminho da cruz, Jesus deixa entender que na sua morte violenta se decide o destino do povo de Deus e da humanidade. O julgamento histórico de Deus abater-se-á sobre a cidade de Jerusalém, símbolo da humanidade infiel e rebelde aos apelos dos profetas (VP).
Esta é uma Semana de silêncio, reflexão e oração. Tempo de mudança, de renovação, de avaliar a caminhada em busca da vida plena. De ler e escutar a Palavra de Deus, colocando a vida em dia diante do Senhor e dos irmãos.
No Evangelho da Procissão de Ramos (Lc 19,28-40) e na Leitura da Paixão (Lc 22,14-23,56) percebemos uma rápida e progressiva aceitação de Jesus, por parte do povo, correlata ao crescimento das hostilidades, por parte dos responsáveis religiosos. Jesus consente nesta “entrada festiva” que lhe foi preparada. “Bendito és tu que vens com tanto amor”! Hosana nas alturas!
De fato, se fosse um desconhecido, perdido no meio da massa, um homem comum, a demonstração que irá se seguir não poderia ter acontecido: foi preciso ser alguém reconhecido como Senhor, que se tivesse feito servidor. Em lugar de uma entronização, haverá o processo e o suplício.
E, no entanto, será esta exatamente a entronização (como dizia a antiga liturgia, Deus reinou pelo madeiro da cruz); o suplício de Cristo será a verdadeira tomada do poder. Um poder real, mais real do que o dos “grandes deste mundo”. Os discípulos que seguiam Jesus com os ramos nas mãos (não com armas) estavam dando início à glória, mas uma glória cuja natureza sequer podiam suspeitar (M.Domergue).
A morte de Jesus inaugura o combate decisivo dentro da história, e os seguidores de Jesus devem estar preparados para enfrentá-lo. Na primeira missão nada faltou aos discípulos. Agora, porém, é hora de luta (espada), e cada um deve prover o seu próprio sustento e enfrentar todas as forças que impedem a concretização do Reino (BP).
Se Jerusalém não reconhece a hora de visitação do Senhor, os pobres, a multidão dos discípulos, o reconhecem, contudo, os detentores do poder não querem reconhecê-lo, nem ouvir o testemunho dos pequenos. Por isso, Jerusalém será destruída, porque não reconheceu a hora de sua visitação.
Ora, a salvação que Jesus traz torna-se eficaz na medida em que a assimilamos, numa vida semelhante à dele. Ele é o modelo que os cristãos devem imitar, e seus passos, o caminho que devem seguir. Diante da cruz do justo que morre, temos que optar: ou pelo lado dos que dão sua vida para viver e fazer viver o amor de Deus, ou pelo lado dos que se dão as mãos para suprimir a justiça; lado de quem carrega a cruz ou de quem a impõe (J.Konings).
Por que o justo sofre? O profeta Isaias fala que toda missão profética realiza-se no sofrimento e na dor. O anúncio das propostas de Deus provoca resistências e perseguição, porém, a paixão pela Palavra se sobrepõe ao sofrimento. A certeza de que não está só, mas que tem a força de Deus torna o profeta mais forte do que a dor e o sofrimento (Is 50,4-7).
Paulo Apóstolo tem consciência de que está pedindo aos seguidores de Jesus algo realmente difícil; mas é algo que é fundamental, à luz do exemplo de Cristo (Fl 2,6-11). Também a nós é pedido, nestes últimos dias antes da Páscoa, um passo em frente neste difícil caminho da humildade, do serviço, do amor: será possível que, também aqui, sejamos as testemunhas da lógica de Deus?
A Semana Santa traz muitas luzes para a realidade brasileira e para a crise política, institucional e ética. O Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil – CONIC, do qual a CNBB faz parte, acompanhando os acontecimentos políticos que provocam a necessidade de profundas reflexões sobre o atual momento do Brasil, divulgou, no dia 11 de março, uma Declaração em favor da Democracia e do Estado de Direito defendendo “que todas as ações de corrupção, independentemente de quem as pratica, sejam investigadas e seus autores responsabilizados”.
Diante do viés presente nos processos que investigam casos de corrupção, o CONIC observa “com grande preocupação o processo de judicialização da política e o risco claro que este processo apresenta à democracia brasileira”.
Percebe-se que, para determinados julgamentos, não se têm observado o amplo direito à defesa, ao contraditório e à imparcialidade do julgamento, garantidos pela Constituição. É necessário que sejam respeitados os princípios da inocência e afastados os riscos de julgamentos sumários. Em vez disso, o que temos visto são ordens judiciais com ações repressivas absolutamente à revelia da nossa Constituição.
As polarizações, coerções e uso abusivo de poder não são condizentes com a prática da justiça. Um país democrático como o Brasil precisa garantir espaços seguros de diálogo, debate de ideias e projetos sem que os adversários políticos sejam considerados inimigos a serem aniquilados a qualquer custo.
Por apoiar e acreditar na democracia, reivindicamos o respeito aos resultados das eleições de 2014. No entanto, isso não significa não debater o Brasil que temos e que queremos. É necessário que superemos a distância do que nos separa entre o que somos e o que esperávamos ser.
O recrudescimento dos aparatos repressivos do Estado está reescrevendo uma história no país que não gostaríamos de ver repetida. A recente Lei Antiterrorismo é o exemplo mais claro deste fenômeno. A justiça não deve ser distorcida e nem a lei deve ser usada para fazer prevalecer os interesses dos fortes (Hc 1.4).
Os movimentos sociais chamam a atenção e se mobilizam para que a democracia se aprofunde por meio da distribuição de renda e das riquezas, ampliação de direitos, saneamento básico, fontes renováveis de energia, garantia de direitos de trabalhadores e trabalhadoras, democratização dos meios de comunicação e de uma segurança pública eficaz e cidadã.
Essas são agendas essenciais para serem encaminhadas nos espaços representativos da política brasileira. Interesses privados e caprichos políticos não devem ser colocados acima do bem coletivo e das tarefas urgentes para superação da crise econômica e social.
Exortamos ao povo brasileiro, diante da polarização estimulada por uma mídia partidarizada e tendenciosa, que expresse pacificamente sua opinião e posição sobre o momento político que vivemos e evite o incentivo e a prática de qualquer tipo de violência e ilegalidade.
Precisamos, antes de tudo, preservar a nossa jovem democracia, o Estado de direito e as conquistas sociais que a sociedade brasileira alcançou nos últimos anos.
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