Encerramos o mês de Agosto homenageando os cristãos leigos/as que têm por missão o ministério da Catequese: aqueles que “através do sacerdócio comum do povo de Deus” (DAp 157) transmitem a fé, vivem a sua vocação na construção da Igreja de Cristo e são portadores de esperança para a sociedade. “Espalhados nas comunidades das estradas, ribeirinhas, indígenas e de nossas cidades, estão sempre presentes e atuantes, contribuindo para o dinamismo missionário do Reino” (doc Manaus 71).
Com os catequistas, a Igreja é a educadora da fé que conduz seus filhos e filhas a crescerem em uma espiritualidade autêntica e adulta, comprometida com a missão de testemunhar os valores do Reino, da justiça, solidariedade e misericórdia no meio do mundo (n.75; Rm 12,9-21). A serviço do processo de educação da fé os catequistas exercem sua missão na gratuidade, transformando as CEBs em comunhão de Comunidades de fé, celebração e caridade.
Como estamos educando nossos filhos na fé, como estamos alimentando nossa experiência cristã? O documento de Aparecida ainda questiona: ou educamos na fé, colocando as pessoas realmente em contato com Jesus Cristo, convidando-as para seu seguimento, ou não cumpriremos nossa missão evangelizadora (DAp 287).
Muitos católicos não têm consciência de sua missão de serem sal e fermento no mundo, vivem uma identidade cristã fraca e vulnerável (DAp 287). Em alguns setores da sociedade, constata-se a tendência ao cultivo da fé de forma intimista, privativa.
O caminho de formação do cristão na tradição mais antiga da Igreja “teve sempre um caráter de experiência, na qual era determinante o encontro vivo e persuasivo com Cristo, anunciado por autênticas testemunhas” (SC 64). Trata-se de uma experiência que introduz o cristão numa profunda e feliz celebração dos sacramentos, com toda a riqueza de seus sinais. Deste modo, a vida vem se transformando progressivamente pela catequese e vivência dos santos mistérios que se celebram, capacitando o cristão a transformar o mundo (DAp 290).
Nessa nossa caminhada de fé, Deus nos conduz nesta constante troca de ensinamentos e aprendizados no exercício de nossa missão. Na Exortação Evangelli Gaudium o papa Francisco lembra-nos que “cada um dos batizados, independente da própria função na Igreja e do grau de instrução da sua fé, é um sujeito ativo de evangelização” (EG 120). A nova evangelização deve implicar um novo protagonismo de cada um dos batizados. Cada cristão é missionário na medida em que se encontrou com o amor de Deus em Cristo Jesus.
Somos chamados a dar aos outros o testemunho explícito do amor de Deus, que, sem olhar às nossas imperfeições, nos oferece a sua proximidade, a sua Palavra, a sua força, e dá sentido à nossa vida. A nossa imperfeição não deve ser desculpa; pelo contrário, a missão é um estímulo constante para não nos acomodarmos na mediocridade, mas continuarmos a crescer (EG 121). O testemunho de fé, que todo o cristão é chamado a oferecer, implica dizer como São Paulo: “Não que já o tenha alcançado ou já seja perfeito; mas corro para ver se o alcanço, lançando-me para o que vem à frente” (Fl 3,12-13).
Como servidores do evangelho que gera Vida em abundância, cada catequista coloca em prática o ensinamento de Jesus, dedicando seu tempo para que adultos, jovens, adolescentes e crianças possam encontrar o caminho do discipulado missionário, a partir da experiência pessoal e comunitária com Jesus Cristo.
Ao celebrar o Dia do Catequista neste ano, a Igreja no Brasil está envolvida em dois projetos interligados: a lembrança dos 50 anos da conclusão do Concílio Vaticano II e a celebração do Ano da Paz, motivado pela situação nacional e mundial, onde a violência se destaca. Esses projetos valorizam a vocação dos catequistas, que são dedicados transmissores dos valores cristãos e animadores do processo de crescimento na fé. A Igreja agradece a Deus por seus catequistas e convida as comunidades a demonstrar o reconhecimento de valor desse apostolado.
A liturgia de hoje ilumina nossa vida cristã, que deve estar centrada na verdadeira religião. Uma religião que não é exterioridade, mas sintonia com
Deus, verdadeira piedade, amor a Deus e aos irmãos.
Para muitas pessoas, as leis e preceitos de Deus são um caminho de escravidão, que condicionam a autonomia e limitam a liberdade do homem; para outras, as leis e preceitos de Deus são uma moral ultrapassada, que não condiz com os valores do nosso tempo e que deve permanecer, coberta de pó, no museu da história. No Livro do Deuteronômio (Livro da Lei, da Aliança) a Palavra de Deus é um caminho sempre atual, que liberta o homem da escravidão do egoísmo e que o conduz ao encontro da verdadeira vida e liberdade (Dt 4,1-2.6-8).
No Evangelho, Jesus ensina-nos qual é a vontade de Deus. Ele respeita a Lei, melhorando-a para torná-la mais de acordo com a vontade de Deus, que é o verdadeiro bem do ser humano. Isso é o essencial.
O que vem de fora não torna o homem pecador, e sim o que sai do coração, isto é, da consciência humana, que cria os projetos e dá uma direção às coisas (BP). Jesus anuncia uma nova forma de moralidade, onde os homens podem relacionar-se entre si na liberdade e na justiça. Com isso, aboliu a lei sobre a pureza e impureza (Lv 11), cuja interpretação era o fundamento de uma sociedade injusta, baseada em tabus que criavam e solidificavam diferenças entre as pessoas, gerando privilegiados e marginalizados, opressores e oprimidos (Mc 7,1-8.14-15.21-23).
Mais ainda que a Lei de Moisés em sua simplicidade original, a “religião de Jesus” deve brilhar por sua profunda sabedoria e bondade. Deve mostrar com toda a clareza o quanto Deus ama seus filhos e filhas ensinando-lhes a amarem-se mutuamente (Konings). Daí nossa pergunta: nossas práticas religiosas ajudam a amar mais a Deus e ao próximo, ou apenas escondem nossa falta de compromisso com a humanidade pela qual Jesus deu a sua vida?
Verdadeira religião não é doutrina, mas amor prático, para com os mais humildes em primeiro lugar; é o que nos ensina o apóstolo Tiago, afastando–nos do legalismo, do cumprimento sem sentido da lei, para acolhermos o verdadeiro espírito da Palavra de Deus, que é vida (Tg 1,17-18.21b-22.27); assim, em nossa caminhada de fé, junto à comunidade de irmãos, passamos a testemunhar nossa fidelidade à Boa-Nova de Jesus, enquanto esperamos o dia de habitarmos na casa do amor, o coração do Pai (Sl 14/15).
Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação
Dia 1º de setembro iniciaremos o mês da Bíblia com o “Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação”. Instituído pelo papa Francisco esse dia já ocorre há tempos na Igreja Ortodoxa. Em sua carta, o papa fala das motivações e fundamenta a razão deste dia:
Anualmente, o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação oferecerá a cada fiel e às comunidades a preciosa oportunidade para renovar a adesão pessoal à própria vocação de guardião da criação, elevando a Deus o agradecimento pela obra maravilhosa que Ele confiou ao nosso cuidado, invocando a sua ajuda para a proteção da criação e a sua misericórdia pelos pecados cometidos contra o mundo em que vivemos.
A celebração deste Dia, na mesma data, com a Igreja Ortodoxa, será uma ocasião profícua para testemunhar a nossa crescente comunhão com os irmãos ortodoxos. Vivemos num tempo em que todos os cristãos enfrentam idênticos e importantes desafios, diante dos quais, para ser mais críveis e eficazes, devemos dar respostas comuns. Por isto, é meu desejo que este Dia também possa envolver, de alguma forma, outras Igrejas e Comunidades eclesiais, e ser celebrado em sintonia com as iniciativas que o Conselho Mundial de Igrejas promove sobre este tema.
O papa pede que “a celebração deste dia seja devidamente organizada com a participação de todo o Povo de Deus: sacerdotes, religiosos e fiéis leigos”. Que seja “um momento forte de oração, reflexão, conversão e uma oportunidade para assumir estilos de vida coerentes”. E que este Dia Mundial “possa tornar-se sinal de um caminho percorrido conjuntamente por todos os que creem em Cristo”.