Concluindo o tempo litúrgico do Natal, estamos celebrando a festa da Epifania,a manifestação de Cristo para a humanidade,lembrando a adoração de Jesus pelos Magos, representantes das pessoas do mundo inteiro.
Toda liturgia de hoje é permeada pelo sentido universal da obra de Cristo. A palavra “Epifania” significa: Manifestação de Deus aos homens.
A Liturgia desse domingo nos leva à manifestação de Jesus, como “Luz” que atrai a si todos os povos. Essa “Luz” brilhou no meio das trevas do mundo e iluminou os caminhos dos homens com uma proposta de salvação. “Cumprindo o projeto libertador que o Pai nos queria oferecer, essa “luz” encarnou na nossa história, iluminou os caminhos dos homens, conduziu-os ao encontro da salvação, da vida definitiva” (João XXIII).
Santo Agostinho comenta que Epifania é uma palavra grega que significa "manifestação". Na pessoa dos Reis Magos, o Menino-Deus se revelou a todas as nações que, no futuro, seriam iluminadas pela luz da Fé. Os três magos do Oriente chegaram a Belém pelo caminho da fé. E hoje, a Igreja percorre, seguindo a estrela de Belém, ao lado de cada pessoa.
Portanto, celebramos hoje, a vocação dos povos de todas as nações, sem distinção, à mesma salvação! Paulo VI sugere que nós devemos ser como os Magos, demonstrando que a vinda de Deus no mundo é destinada a todas as pessoas e países, e isso deve levar-nos “à expansão de consciência, a uma capacidade de vida nova e de esperança do destino inefável, que é precisamente a Redenção de Cristo”.
A Epifania preanuncia a abertura universal da Igreja, sua vocação a evangelizar todos os povos. Mas a Epifania nos fala também da maneira como a Igreja realiza esta missão: refletindo a luz de Cristo e anunciando a sua Palavra (Bento XVI).
Somos chamados a imitar o papel que a estrela teve para os Reis Magos. Devemos brilhar como filhos da luz, para atrair todos à beleza do Reino de Deus. E aos que buscam a verdade, devemos oferecer a Palavra de Deus, que leva a reconhecer em Jesus “o verdadeiro Deus e a vida eterna” (1Jo 5,20).
Nosso coração se volta para Maria, a Mãe de Jesus. Ela é a imagem perfeita da Igreja, que oferece ao mundo a luz de Cristo: é a Estrela da Evangelização. “Respice Stellam”, diz São Bernardo: “olha para a Estrela, tu que buscas a verdade e a paz; dirige teu olhar a Maria e Ela te mostrará Jesus, luz para cada pessoa e para todos os povos”.
A visita dos magos ao menino de Belém (Mt 2,1-12) é um episódio que, ao longo dos séculos, tem provocado um impacto considerável na reflexão dos cristãos. A análise dos vários detalhes do relato confirma que a preocupação do evangelista era catequética: sua insistência no fato de Jesus ter nascido em Belém de Judá; a referência a uma estrela “especial” que apareceu no céu por esta altura e que conduziu os “magos” para Belém. A palavra grega “magos”, que poderia designar astrólogos mesopotâmios, em contato com o messianismo judaico, representa, na catequese de Mateus, esses povos estrangeiros de que falava Isaías 60,1-6, que se põem a caminho de Jerusalém com as suas riquezas (ouro e incenso) para encontrar a luz salvadora de Deus que brilha sobre a cidade santa. Jesus é, segundo Mateus e a catequese da Igreja primitiva, essa “luz”.
Além de uma catequese sobre Jesus, este relato recolhe, de forma paradigmática, duas atitudes que se vão repetir ao longo de todo o Evangelho: o Povo de Israel rejeita Jesus, enquanto que os “magos” do oriente (que são pagãos) O adoram; Herodes e Jerusalém “ficam perturbados” diante da notícia do nascimento do menino e planeiam a sua morte, enquanto que os pagãos sentem uma grande alegria e reconhecem em Jesus o seu salvador.
Mateus anuncia, desta forma, que Jesus vai ser rejeitado pelo seu Povo; mas vai ser acolhido pelos pagãos, que entrarão a fazer parte do novo Povo de Deus. O itinerário seguido pelos “magos” reflete a caminhada que os pagãos percorreram para encontrar Jesus: estão atentos aos sinais (estrela), percebem que Jesus é a luz que traz a salvação, põem-se decididamente a caminho para encontrá-lo, perguntam aos judeus, que conhecem as Escrituras, o que fazer, encontram Jesus e adoram-no como “o Senhor”. É muito possível que um grande número de pagãos e cristãos da comunidade de Mateus descobrissem neste relato as etapas do seu próprio caminho em direção a Jesus.
Os “magos” são apresentados como os “homens dos sinais”, que sabem ver na “estrela” o sinal da chegada da libertação… Somos pessoas atentas aos “sinais” – isto é, somos capazes de ler os acontecimentos da nossa história e da nossa vida à luz de Deus? Procuramos perceber nos “sinais” que aparecem no nosso caminho a vontade de Deus?
Impressiona também, no relato de Mateus, a “desinstalação” dos “magos”: viram a “estrela”, deixaram tudo, arriscaram tudo e vieram procurar Jesus. Somos capazes da mesma atitude de desinstalação, ou estamos demasiado agarrados ao nosso sofá, ao nosso colchão especial, à nossa televisão, à nossa aparelhagem, ao nosso computador? Somos capazes de deixar tudo para responder aos apelos que Jesus nos faz através dos irmãos?
Os “magos” representam os homens de todo o mundo que vão ao encontro de Cristo, que acolhem a proposta libertadora que Ele traz e que se prostram diante d’Ele. É a imagem da Igreja – essa família de irmãos, constituída por gente de muitas cores e raças, que aderem a Jesus e que O reconhecem como o seu Senhor.
Iluminados pela Luz de Cristo, devemos nos dirigir pelos caminhos da verdade, da justiça, da fraternidade e da paz, e ser Estrela a guiar os irmãos até Jesus que é a Luz para os que estão nas trevas. Quem O acolhe, transforma-se em luz, em estrela que atrai outros e os guia até Jesus para que O adorem e O tenham como seu Deus e Guia.
“A realização da bênção de Deus na história humana, como parte da História da Salvação, a Epifania, na liturgia cristã, mostra que Deus se dá a conhecer a muitas gentes, mais que isso: a todas as gentes, povos, religiões e culturas; não só ao povo judeu; não só aos discípulos do movimento do Nazareno. Os mais distantes, do Oriente, vislumbram a estrela mágica que orienta para o caminho onde se encontrará o Salvador. Os Magos do Oriente renderam-se à revelação de Deus no menino depositado no cocho da estrebaria de Belém”(Pastor Dasilio da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil).
Somos chamados a brilhar como filhos da luz. Deus nos criou para Si, toda pessoa humana leva dentro de si o desejo de Deus, de conhecê-lo, de se encontrar com Ele, de uma vida em plenitude, de um amor infinito. Todo ser humano leva a marca da eternidade que o impulsiona sair de si em busca dela!
Como reza poeticamente Santo Agostinho: "Fizeste nosso coração para ti e inquieto andar o nosso coração enquanto não repousa em ti".
Essa sede de eternidade, essa busca, muitas vezes sem saber, de Deus, é a estrela que cada um de nós leva dentro. É a presença do Espírito que nos movimenta, que nos põe em caminho a Deus, como os Magos de Oriente.
Deus nos ama, vem ao nosso encontro na pessoa de Jesus e infunde seu Espírito em nós para que iluminados pela sua presença possamos livremente sair na sua busca e viver a alegria de ser encontrados por Ele!
Como é possível reconhecer a presença do Espírito? Uma das maneiras mais simples é através dos presentes que ele nos dá, e um deles é a alegria (Gl 5,22). Por isso é que o evangelho nos diz que "ao verem de novo a estrela, os magos ficaram radiantes de alegria".
Os magos são fieis ao caminho que sinaliza a estrela e descem de Jerusalém a Belém. Finalmente a estrela parou e eles, são envolvidos no mistério de Deus que se fez presente numa criança: "viram o menino com Maria, sua mãe".
Reconhecem nele o Messias esperado de todos os tempos, o Salvador de toda a humanidade, ao vê-Lo, se ajoelham, o adoram, o amam! Depois, não voltam para Jerusalém, senão que partem para suas terras para comunicar que tinham visto, encontrado o Salvador (Konings).
Junto com os magos tenhamos uma atitude de adoração e acolhida do mistério de Deus que se nos comunica na gruta de Belém, e assim "cheios" do Espírito Santo possamos exclamar olhando ao menino: É o Senhor! (1Cor 12,3).