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Dom Moacyr

Em defesa das comunidades da Amazônia!


 
A Rede Eclesial Pan-amazônica (REPAM), através do Comitê Nacional Ampliado, está realizando diversos seminários temáticos pelo Brasil, com o objetivo de refletir a Encíclica do papa Francisco Laudato Sí, que trata da defesa do meio ambiente e o cuidado da Casa Comum.

O 1º Seminário, realizado em Cuiabá/MT, aconteceu semana passada (17-19). O 2º Seminário “Laudato Si/Repam” está acontecendo em Porto Velho (24-26/06) e conta com a presença de representantes das dioceses do Regional Noroeste da CNBB, inclusive dos Organismos (CIMI,CPT,CJP) e Pastorais Sociais. Presentes, membros da sociedade civil organizada, dos povos indígenas, quilombolas e ribeirinhos, assessores da CNBB, Repam, religiosos, presbíteros e bispos. O próximo é em Manaus (29-31/07); em Rio Branco vai acontecer em setembro (24-26) e em Lábrea de 27 a 29/01/2017. Outros seminários já estão agendados nas dioceses do Norte e demais regionais da CNBB.

Segundo o presidente do Comitê Nacional da REPAM, dom Erwin Kräutler, que apresentou aos bispos, reunidos na última Assembleia, a programação e metodologia dos seminários, disse que além da divulgação e conhecimento da Laudato Si, existe a necessidade de que a encíclica tenha “consequências pastorais na ação das Igrejas”. Foi a preocupação com a defesa da Amazônia, considerada pelo papa Francisco como um “banco de provas” para a Igreja no Brasil e na América Latina, que motivou a criação da REPAM.

A mobilização nos regionais da CNBB, através de seminários para a divulgação da “Laudato Si” junto às lideranças comunitárias e populares da Amazônia, contribui para que as ações da Rede e as reflexões do texto do pontífice ganhem força, inclusive no Regional Noroeste.

Visa ainda contribuir para estabelecer uma base da plataforma de mapeamento das articulações presentes na região, além de ajudar no intercâmbio e colaboração dos esforços em defesa da vida da floresta amazônica, das populações locais e do bem comum em toda a bacia amazônica dando uma atenção especial às fronteiras.

Dentre os maiores desafios da Amazônia, a violência em Rondônia continua sendo destaque no cenário nacional. A recente visita da Comissão de Direitos Humanos, formada pelos relatores do Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH), ao Estado de Rondônia, foi motivada pelo altíssimo número de assassinatos de camponeses por conflito agrário, registrados pela Comissão Pastoral da Terra, em 2015 e pelas mortes cruéis, desaparecimentos, ameaças e tentativas de execução neste primeiro semestre de 2016.

O relatório-denúncia “Amazônia, um bioma mergulhado em conflitos”, lançado pela CPT, em Manaus, reúne nove casos emblemáticos de conflitos por terras nos estados da Amazônia legal; conflitos com mineradoras, madeireiras, confronto com o Incra, embates intensos de comunidades que são isoladas, e a sociedade não tem conhecimento sobre o que ocorre com essas famílias.

Segundo Ruben Siqueira, membro da Coordenação Executiva Nacional da CPT, este dossiê visa “sensibilizar a opinião pública para olhar uma avalanche de problemas desse novo ciclo de exploração da Amazônia”. Ciclo este caracterizado pelo aumento do desmatamento para a criação de gado e o cultivo de soja; diversas hidrelétricas em implantação; mineração se ampliando; empreendimentos que buscam controlar a água e explorar a biodiversidade das florestas.

“É como se não existissem as comunidades, os povos nesse local”. Quando o rio e as matas devolvem corpos sem vida, carbonizados, com sinais de violência, “é como se não existissem moradores nessa região”.

O corpo de Nicinha foi achado (21/6) com mãos e braços amarrados a pedras pesadas, o que o mantinha dentro da água, a 400 metros de distância do local em que morava. Desaparecida desde 07 de janeiro, Nilce de Souza Magalhães era uma das lideranças do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) em Porto Velho, Rondônia. Atingida pela Usina Hidrelétrica de Jirau, Nicinha denunciava constantemente os impactos socioeconômicos causados pelo empreendimento na região.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), órgão independente ligado à Organização dos Estados Americanos (OEA), emitiu uma nota condenando o assassinato de seis defensores de direitos humanos registrados nos dois primeiros meses desse ano no país, entre eles, a ativista Nicinha.

Na Nota, a Comissão lembra que “o Estado tem obrigação de iniciar uma investigação sobre eventos dessa natureza, e punir os autores materiais e intelectuais”. Nesse sentido, sobre o assassinato dos defensores, as investigações devem seguir a hipótese de que esses assassinatos foram cometidos, dado a conexão com os trabalhos na defesa dos direitos humanos.

A CIDH insta ao Estado a tomar todos os passos necessários para garantir a vida, integridade e segurança dos defensores de direitos humanos. A adotar medidas de proteção à vida e à integridade dos líderes indígenas e defensores de direitos humanos em uma maneira que respeite suas identidades culturais, perspectiva e conceitos de direitos humanos.

Reitera que estes atos de violência e outros ataques contra defensores de direitos humanos, não apenas afetam as garantias de todos os seres humanos, mas também enfraquecem o papel fundamental que eles praticam na sociedade. Esses atos afetam as pessoas pelos quais eles trabalham, contribuindo para sua vulnerabilidade e falta de defesa. O trabalho de defensores de direitos humanos é crítico na construção de uma sociedade democrática e na consolidação do estado de direito.

O Encontro dos Povos Indígenas - Fronteira Brasil, Colômbia, Peru, nos dias 7 a 10 de junho, promovido pela REPAM foi mais um passo para fortalecer ações conjuntas em defesa da Amazônia. Lideranças dos povos indígenas e lideranças religiosas dos três países analisaram a realidade da região fronteiriça e da Pan Amazônia destacando os desafios socioambientais e as orientações para a relação da Igreja com os povos indígenas e estratégias de ação conjunta para responder a estes desafios.

Aos seguidores de Jesus, uma das exigências é a capacidade de renunciar a seguranças e, iniciado o caminho, jamais voltar para trás.

A liturgia de hoje esta centrada no Reino de Deus e no caminho a seguir. Somos comunidades a caminho. A estrada para a vida exige a morte de todo o passado: e esta é uma necessidade que está presente em toda a Bíblia.

A vida está sempre num outro lugar, mais distante. O profeta Eliseu faz um exercício da liberdade quando recebe a missão de ser o sucessor de Elias, ele se despede de seus pais e imola toda a junta de bois, demonstrando a radicalidade da sua entrega ao serviço do Senhor (1Rs 19,16b.19-21).

Em Jesus, essa radicalidade é ainda mais expressiva: colocar o Reino em primeiro lugar significa confiar inteiramente no Senhor, desapegando-nos de tudo o que possa “atrasar” o caminho da missão (Lc 9,51-62). Não significa insensibilidade da parte de Jesus, querer que seus discípulos façam uma opção radical pelo serviço do Reino. Ao contrário, tal opção corre­sponde ao exercício pleno da liberdade: nada deve impedir o anúncio do Reino de Deus, nem mesmo a tentação de olhar para trás.

Abandonar tudo é a verdadeira liberdade do cristão, para a qual Cristo nos chamou (Gl 5,1.13-18). Para Paulo Apostolo, o cristão está livre da lei judaica e de tudo quanto aprisiona o ser humano. A lei judaica era uma estrutura de comportamento, que impunha certas exigências e reprimia, às vezes, as prioridades verdadeiras, pelas quais, Cristo doou a sua vida: a misericórdia e a verdadeira justiça (Konings).

Hoje, papa Francisco encerra sua viagem à Armênia, 14ª peregrinação internacional daquele que considera como sentido de sua presença e missão pastorais levar sua proximidade e sua preocupação às Igrejas e aos povos que são protagonistas da história, do presente e do passado, de toda a região, que está em uma encruzilhada entre a Ásia e a Europa.

No Memorial às vítimas do massacre da população armênia, o papa orou e escreveu: “Aqui rezo, com dor no coração, para que nunca mais existam tragédias como essa, para que a humanidade não se esqueça e saiba vencer o mal com o bem. Deus conceda ao amado povo armênio e ao mundo inteiro a paz e a consolação. Que Deus guarde a memória do povo armênio. A memória não deve ser diluída nem esquecida, a memória é fonte de paz e de futuro”.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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