Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Dom Moacyr

Encontro de todos os povos!


Neste ano, seguimos Jesus no itinerário proposto pelo evangelista São Marcos. Ele apresenta, neste período litúrgico, denominado “Tempo Comum”, Jesus como o Filho de Deus, o Messias, Caminho, Verdade e Vida.

Nos acontecimentos cotidianos da vida e na caminhada com Jesus, vamos percebendo o Mistério maior que está presente também em nossa vida, tanto nos acontecimentos extraordinários, como naqueles rotineiros, ou mesmo, nos momentos de dúvida e sofrimento.

A fé é um dom, mas também, uma conquista que pode se perder a cada dia, e a cada dia pode ser reconquistada. O Cardeal Martini escreveu, certa vez, que “a dúvida faz parte de nossa condição humana; seríamos anjos e não homens se tivéssemos afugentado a dúvida para sempre. A fé intensa é alegria, é amor pelos outros e por si mesmo, ao serviço do Senhor.

O Evangelho diz: ama o teu próximo como amas a ti mesmo. Não há nessa mensagem a negação do amor também por si mesmo. O amor, segundo Martini, se é verdadeira paixão, atua em todas as direções, é transversal, é ao mesmo tempo vertical para Deus e horizontal para os outros.

Como seguidores e discípulos de Cristo Caminho, Verdade e Vida, olhamos para Ele e reconhe­cemos o melhor de nós mesmos en­quanto criaturas criadas, sustentadas e habitadas por Deus, que nos chama à confiança n’Ele e na radical fraterni­dade com as outras pessoas.

Entendemos seu mistério “na transparên­cia total à presença de Abba; em seu viver radical “a partir de Deus”, como de seu pão de cada dia; em sua disponibilida­de plena ao chamado que constitui seu ser enquanto saído do Pai, até o ponto em que ver e escutar Jesus é ver e escutar o Pai” (A. Queiruga).

A melhor maneira de compreender Jesus é a partir do encontro com Ele, de nossa capacidade de imitá-lo e se­gui-lo, enfim, de reconhecer que nele se realiza o melhor de nós, aquilo a que aspiramos e que estamos buscando continuamente. Compreender a compaixão na missão de Jesus é entender que o amor, como a água, sempre tende a des­cer até onde estão a carência, a margi­nalização e o sofrimento: os “pobres”, no sentido evangélico.

No Evangelho de Marcos, deste domingo (Mc 4,26-34), Jesus fala do Reino de Deus que possui força extraordinária, porém diferente das forças e mecanismos de pressão atuantes em nossa sociedade.

O Evangelho de Marcos foi, talvez, o primeiro catecismo para os catecúmenos. Com eles também ocorria algo semelhante ao que se passava com a atividade de Jesus: no início, estavam bem-dispostos, prontos para tudo, assíduos. Aos poucos, porém, dúvidas, crises e abandonos se avolumam (VP).

A parábola do grão de mostarda, tida popularmente como a menor de todas as sementes, ilustra o contraste entre o início e o resultado da ação de Jesus e dos cristãos. O centro da parábola está no contraste entre a menor de todas as sementes da terra e a maior de todas as hortaliças. E as aves do céu construíam ninhos em seus ramos. Assim é a proposta do Reino: pequena em seu início, insignificante por causa dos conflitos e resistências, mas grandiosa em seu resultado, tornando-se proposta universal: as aves do céu representam nações e povos que vão aderindo ao projeto de Deus semeado por Jesus, beneficiando-se dele.

O reino de Deus será o ponto de encontro de todos os povos!

Rio + 20: Tempo de repensar o futuro da humanidade

Para o encontro de todos os povos na Rio+20, a Aliança Internacional de Organizações Católicas (CIDSE) publicou uma declaração que aborda uma série de itens da agenda a ser discutida na Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, principalmente sobre a questão do desenvolvimento dos povos: “Nós, os representantes da Igreja Católica e da sociedade civil provenientes de todos os continentes, empenhados na erradicação da pobreza e em prol do desenvolvimento humano integral, apelamos aos líderes mundiais que mostrem liderança política na Conferência Rio+20 e incentivamos todas as pessoas de boa vontade a agirem a favor de um mundo mais justo e sustentável.

Não podemos esperar para repensar e realizar um mundo mais justo e mais verde onde as pessoas, mulheres e homens, reconheçam que são uma parte integral da criação, vivendo em harmonia e respeito consigo e com os outros. A tarefa é urgente, porque construímos um mundo onde ainda demasiadas pessoas não têm alimentação, água e energia suficientes para viverem com dignidade.

Trabalhamos diariamente com aqueles que vivem em grandes dificuldades e queremos dar-lhes uma voz de esperança. As comunidades pobres lutam pela obtenção dos recursos necessários ao seu próprio desenvolvimento, ao mesmo tempo tornando-se cada vez mais vulneráveis às ameaças ambientais com os ecossistemas gradativamente mais esgotados ou destruídos.

A procura de terra, água, alimentação, recursos minerais e energia está aumentando drasticamente. Isso tem sido a origem de violentos conflitos no mundo inteiro e a luta pelos recursos naturais tornar-se-á ainda mais intensa nas gerações vindouras. As mudanças climáticas são cada vez mais visíveis e rápidas e só poderemos mitigá-las se agirmos já. As pessoas mais pobres e mais vulneráveis no mundo inteiro são as mais afetadas, muito embora elas sejam as menos responsáveis pelas suas causas....

Juntos, seremos capazes de traçar um novo caminho que conduza a um mundo justo e sustentável. Esta mudança depende igualmente do indivíduo, sendo a nossa tarefa fundamental agir para uma conversão radical, promover um estilo de vida alternativo e uma nova cultura de respeito pela criação, de simplicidade e de solidariedade com vista a um desenvolvimento humano mais forte e autêntico e uma melhor qualidade de vida. Os pobres podem ser marginalizados, mas no seu esforço diário pela sobrevivência demonstram criatividade e têm forjado alternativas que constituem uma fonte inesgotável de aprendizagem e referência na elaboração das políticas públicas.

Exigimos da Conferência do Rio+20 a implementação de mudanças estruturais que permitam às mulheres e aos homens alcançarem de maneira equitativa o seu pleno potencial e um verdadeiro desenvolvimento pessoal. É tempo de repensar e retomar ao controle!

.. O que significa crescimento se os mais pobres não podem participar nos seus benefícios, se ele não melhora a qualidade de vida e piora as desigualdades persistentes? O que significa crescimento econômico em vista da destruição das nossas florestas, dos nossos oceanos e dos nossos recursos naturais? Precisamos valorizar as coisas que tenham sentido, a economia tem que ser julgada na sua capacidade de reduzir a pobreza, criar postos de emprego dignos e melhorar a sustentabilidade ecológica bem como a estabilidade social. Uma economia que nos conduza verdadeiramente ao desenvolvimento sustentável deve ser justa e equitativa, reconhecendo as valiosas contribuições e soluções locais com amplos benefícios sociais e, acima de tudo, que respeite a dignidade e os direitos humanos, tanto para as mulheres como os homens.

O desenvolvimento sustentável deve ser apoiado por um sistema financeiro que coloque a dignidade humana, o bem comum e o cuidado pela criação no centro da vida econômica... Os governos devem assegurar que as condições básicas dessem prioridade às necessidades básicas e ao direito das comunidades e dos países pobres, como por exemplo, água, alimentação e energia....

O escândalo de 1 bilhão de pessoas sofrendo fome, em violação do direito humano à alimentação, não pode continuar. Maior apoio deve ser destinado os milhões de famílias agrícolas que produzem respeitando o meio ambiente.. Devem ser tomadas medidas mais ambiciosas baseadas nos princípios da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas....

Esperamos que a Cúpula do Rio transmita uma mensagem de esperança bem fundada para todos aqueles que estão sofrendo e para as gerações futuras! Esperamos que os líderes mundiais assumam a sua responsabilidade e se responsabilizem pelos seus compromissos. Exigimos dos líderes mundiais e de todas as pessoas de boa vontade que não deixem passar esta oportunidade de caminharmos juntos em prol de um desenvolvimento baseado nos direitos e equitativo, rumo a uma vida verdadeiramente humana e a um mundo onde aceitemos que somos parte da criação que nos foi dada para dela cuidarmos.


Fonte: Arquidiocese

 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoDomingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Pentecostes: Comunidades de rosto humano!

Pentecostes: Comunidades de rosto humano!

Palavra de Dom Moacyr Grechi – Arcebispo Emérito de Porto Velho

Páscoa do povo brasileiro - Por Dom Moacyr Grechi

Páscoa do povo brasileiro - Por Dom Moacyr Grechi

Hoje reafirmamos a nossa fé na ressurreição de Cristo; somos uma Igreja Pascal. Na oração do Credo, proclamamos a ressurreição dos mortos e a vida ete

Verdade libertadora! Por Dom Moacyr Grechi

Verdade libertadora! Por Dom Moacyr Grechi

  A Igreja, convocada a fortalecer o povo de Deus na atual conjuntura, é chamada a estar ao lado daqueles “que perderam a esperança e a confiança no B

Lugar seguro para viver! - Por Dom Moacyr Grechi

Lugar seguro para viver! - Por Dom Moacyr Grechi

  Diante do aumento da violência agrária que atinge trabalhadores rurais, indígenas, ribeirinhos, quilombolas, pescadores artesanais, defensores de di

Gente de Opinião Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)