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Dom Moacyr

Falar e pensar com a Palavra de Deus



Ao dirigir a sua Mensagem ao Povo de Deus sobre as CEBs (doc 92), a Igreja reafirma que as Comunidades Eclesiais de Base constituem, em nosso país, uma realidade que expressa um dos traços mais dinâmicos da vida da Igreja(doc 25); são um sinal da vitalidade da Igreja (RM 51); os discípulos e as discípulas de Cristo nelas se reúnem para uma atenta escuta da Palavra de Deus, para a busca de relações mais fraternas, para celebrar os mistérios cristãos em sua vida e para assumir o compromisso de transformação da sociedade. E na conclusão da Mensagem lemos: "Só uma Igreja com diferentes jeitos de viver a mesma fé será capaz de dialogar relevantemente com a sociedade contemporânea”.

Somos convidados neste mês da Bíblia, a uma maior familiaridade com a Palavra de Deus, refletindo nos Grupos de Reflexão das Paróquias o Livro do Êxodo, renovando e fortalecendo nossa fé na Palavra do Senhor. Por isso é necessário olhar para uma pessoa em quem a reciprocidade entre Palavra de Deus e fé foi perfeita, ou seja, para a Virgem Maria, que, com o seu sim à Palavra da Aliança e à sua missão, realiza perfeitamente a vocação divina da humanidade. A realidade humana, criada por meio do Verbo, encontra a sua figura perfeita precisamente na fé obediente de Maria. Desde a Anunciação ao Pentecostes, nós a vemos como mulher totalmente disponível à vontade de Deus. É a Imaculada Conceição, Aquela que é cheia de graça de Deus (Lc 1,28), incondicionalmente dócil à Palavra divina (Lc 1,38). A sua fé obediente face à iniciativa de Deus plasma cada instante da sua vida. Virgem à escuta, vive em plena sintonia com a Palavra divina; conserva no seu coração os acontecimentos do seu Filho, compondo-os por assim dizer num único mosaico (Lc 2,19.51;VD 27).

O papa exorta na encíclica Verbum Domini, sobre a necessidade de descobrirmos melhor a ligação entre Maria de Nazaré e a escuta crente da Palavra divina. Exorta ainda os estudiosos a aprofundarem ainda mais a relação entre mariologia e teologia da Palavra. Daí poderá vir grande benefício tanto para a vida espiritual como para os estudos teológicos e bíblicos. De fato, quando a inteligência da fé olha um tema à luz de Maria, coloca-se no centro mais íntimo da verdade cristã. Na realidade, a encarnação do Verbo não pode ser pensada prescindindo da liberdade desta jovem mulher que, com o seu assentimento, coopera de modo decisivo para a entrada do Eterno no tempo. Ela é a figura da Igreja à escuta da Palavra de Deus que nela Se fez carne. Maria é também símbolo da abertura a Deus e aos outros; escuta ativa, que interioriza, assimila, na qual a Palavra se torna forma de vida (VD 27).

A familiaridade de Maria com a Palavra de Deus transparece com particular vigor no Magnificat. Aqui, em certa medida, vê-se como Ela Se identifica com a Palavra, e nela entra; neste maravilhoso cântico de fé, a Virgem exalta o Senhor com a sua própria Palavra: O Magnificat – um retrato, por assim dizer, da sua alma – é inteiramente tecido de fios da Sagrada Escritura, com fios tirados da Palavra de Deus. Desta maneira se manifesta que Ela Se sente verdadeiramente em casa na Palavra de Deus, dela sai e a ela volta com naturalidade. Fala e pensa com a Palavra de Deus; esta torna-se Palavra d’Ela, e a sua palavra nasce da Palavra de Deus. Além disso, fica assim patente que os seus pensamentos estão em sintonia com os de Deus, que o d’Ela é um querer juntamente com Deus. Vivendo intimamente permeada pela Palavra de Deus, Ela pôde tornar-Se mãe da Palavra encarnada.

Além disso, a referência à Mãe de Deus mostra-nos como o agir de Deus no mundo envolve sempre a nossa liberdade, porque, na fé, a Palavra divina nos transforma. Também a nossa ação apostólica e pastoral não poderá jamais ser eficaz, se não aprendermos de Maria a deixar-nos plasmar pela ação de Deus em nós: A atenção devota e amorosa à figura de Maria, como modelo e arquétipo da fé da Igreja, é de importância capital para efetuar também nos nossos dias uma mudança concreta de paradigma na relação da Igreja com a Palavra, tanto na atitude de escuta orante como na generosidade do compromisso em prol da missão e do anúncio.

Contemplando na Mãe de Deus uma vida modelada totalmente pela Palavra, descobrimo-nos também nós chamados a entrar no mistério da fé, pela qual Cristo vem habitar na nossa vida. Como nos recorda Santo Ambrósio, cada cristão que crê, em certo sentido, concebe e gera em si mesmo o Verbo de Deus: se há uma só Mãe de Cristo segundo a carne, segundo a fé, porém, Cristo é o fruto de todos. Portanto, o que aconteceu em Maria pode voltar a acontecer em cada um de nós diariamente na escuta da Palavra e na celebração dos Sacramentos (VD 28).

Nossa Senhora das Dores e a Santa Cruz!

Celebramos a Festa da Exaltação da Santa Cruz, no dia 14 de setembro, data em que relacionamos de forma mais profunda a Cruz com o testemunho de amor que Cristo expressou por ela. Usada na morte de Jesus, deixou de ser sinal de condenação, para se tornar, para os cristãos, sinal de salvação.

Nossa Senhora das Dores é venerada sob diversos nomes como: Nossa Senhora da Piedade, da Soledade, das Angústias, das Lágrimas, Nossa Senhora das Sete Dores, Senhora do Calvário ou ainda Nossa Senhora do Pranto. Em 1233, sete mercadores da classe média emergente de Florença, Itália, devotos de Nossa Senhora, pertenciam a uma confraria chamada Associação-mor de Santa Maria. Estes mesmos homens fundaram a Ordem dos Servos de Maria e por iniciativa deles, em 1239 foi promulgado pelo papa Bento XIII, o dia 15 de setembro como dia de Nossa Senhora das Dores. A veneração de Maria como Senhora das Dores se deve às dores que ela sofreu durante sua vida terrena, e é representada com sete espadas transpassando seu coração, para lembrar não somente suas dores, mas também as infinitas dores da humanidade. A devoção a Nossa Senhora das Dores possui fundamentação bíblica, pois é na Palavra de Deus que encontramos as sete dores de Maria: o velho Simeão que profetiza a lança que transpassaria (de dor) o seu coração; a fuga para o Egito; a perda do menino Jesus no templo; a paixão de Jesus; a crucifixão e morte e o sepultamento de Jesus Cristo.

Maria, imagem da Igreja, está nos apontando para uma Vida Nova, que não significa ausência de sofrimentos, mas, sim, de entrega de Si para uma civilização de Amor. Para que possamos encontrar o sentido de nosso sofrimento e dores, oremos nesse dia: Ó Mãe de Jesus e nossa mãe, Senhora das Dores, nós vos contemplamos pela fé, aos pés da cruz, tendo nos braços o corpo sem vida do vosso Filho. Uma espada de dor transpassou vossa alma como predissera o velho Simeão. Vós sois a Mãe das dores. E continuais a sofrer as dores do nosso povo, porque sois Mãe companheira, peregrina e solidária. Recolhei em vossas mãos os anseios e as angústias do povo sofrido, sem paz, sem pão, sem teto, sem direito a viver dignamente. E com vossas graças, fortalecei aqueles que lutam por transformações em nossa sociedade. Permanecei conosco e dai-nos o vosso auxílio, para que possamos converter as lutas em vitórias e as dores em alegrias. Rogai por nós, ó Mãe, porque não sois apenas a Mãe das dores, mas também a Senhora de todas as graças. Amém!

Fonte: Pascom
 

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