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Dom Moacyr

Fé a serviço do bem comum e da justiça!


Três documentos marcam o Ano da Fé, cujo encerramento acontece neste último domingo do ano litúrgico (24/11), Festa de Cristo Rei e Dia Nacional dos Cristãos Leigos.

O primeiro é a Carta apostólica “Porta Fidei” (Porta da Fé), de Bento XVI que destaca o cinquentenário do Concílio Vaticano II e os objetivos do Ano da Fé: renovação da Igreja e nova evangelização. Apresenta a fé como um caminho que culmina na comunhão eterna com Deus. Fé que deve ocupar o centro da missão eclesial e não pode ser dada por pressuposta no cuidado pastoral. Fé como resposta ao amor de Deus anunciado pela Palavra de salvação, de modo que envolve toda a vida de quem a ele se abre, tornando-se critério de ação, que purifica e molda a vida segundo a novidade da ressurreição. O testemunho da vida dos Cristãos faz brilhar no mundo a Palavra de Deus.

O segundo é a Encíclica “Lumen Fidei” (Luz da Fé), escrita inicialmente por Bento XVI, concluída e assinada pelo papa Francisco. Propõe uma fé baseada no amor, “que transforma a pessoa por completo”. Uma fé “nada arrogante nem intransigente, mas humilde” e sempre em busca. Fé que é transmitida na memória eclesial, através do “sujeito único da memória que é a Igreja”; de geração em geração. “O rosto de Jesus chega até nós através de uma cadeia ininterrupta de testemunhas”. Fé que beneficia “a cidade dos homens”, colocando-se a serviço da concretização da justiça, do direito e da paz, convertendo-se “em um bem para todos, em um bem comum”.

O terceiro documento marca o encerramento do Ano da Fé; trata-se da Exortação apostólica “Evangelii Gaudium” (Alegria do Evangelho), do papa Francisco, apresentada hoje, durante a missa solene e exposição das relíquias de São Pedro e com lançamento oficial programado para 26 de novembro. É o apelo do papa, diante dos testemunhos comoventes de fé também nos lugares mais escondidos de pobreza e sofrimento, para que sejamos evangelizadores. A fé uniu e permitiu recordar a todos o fundamento do nosso crer: Jesus Ressuscitado, esperança para uma vida nova. Um compromisso ao qual a Igreja é chamada. Crer significa comunicar aos outros a alegria do encontro com Cristo.

Ser comunicador significa assumir nossa missão de “evangelizar, a partir de Jesus Cristo e na força do Espírito Santo, como Igreja discípula, missionária e profética, alimentada pela Palavra de Deus e pela Eucaristia, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, para que todos tenham vida (Jo 10,10), rumo ao Reino definitivo” (Obj.Geral/DGAEIB).

As comunidades celebram hoje o Dia Nacional dos Cristãos leigos e leigas.

O Concílio Vaticano II reafirmou a base laical da Igreja: o Batismo é a vocação fundante do ser cristão e do ser Igreja, de onde brotam todos os ministérios, inclusive os ministérios ordenados (A.Brighenti). Para a Lumen Gentium há uma radical igualdade em dignidade, de todos os ministérios.

A Igreja, através do documento de Aparecida, reafirma o protagonismo dos leigos e sua missão “no coração do mundo e no coração da Igreja” (DAp 209). Missão que deve ser permeada do testemunho concreto de fé e vida, com coerência e autenticidade: “Sua missão própria e específica se realiza no mundo, de tal modo que, com seu testemunho e sua atividade, eles contribuam para a transformação das realidades e para a criação de estruturas justas segundo os critérios do Evangelho” (DAp 210).

As paroquias que se “colocaram em estado de missão”, abrindo espaços à ação pastoral dos leigos, investiram na formação, hoje dão testemunhos de ações efetivas na evangelização e demais atividades pastorais de suas comunidades. “A evangelização do Continente, nos dizia o papa João Paulo II, não pode se realizar hoje sem a colaboração dos fiéis leigos. Eles hão de ser parte ativa e criativa na elaboração e execução de projetos pastorais a favor da comunidade. Isto exige, da parte dos pastores, uma maior abertura de mentalidade para que entendam e acolham o “ser” e o “fazer” do leigo na Igreja, que por seu batismo e sua confirmação, é discípulo e missionário de Jesus Cristo. Em outras palavras, é necessário que o leigo seja levado em consideração com um espírito de comunhão e de participação (DAp 211-213).

Hoje, Festa de Cristo Rei e abertura da Campanha para a Evangelização, queremos acentuar o compromisso evangelizador da Igreja. A evangelização é a missão essencial da Igreja. Ela é necessária, principalmente por causa da falta de critérios e de valores que marcam a sociedade contemporânea. “Na medida em que as mudanças de época atingem os critérios de compreensão, os valores e as referências, os quais já não se transmitem mais com a mesma fluidez de outros tempos, torna-se indispensável anunciar Jesus Cristo, apresentando, com clareza e força testemunhal, quem é Ele e qual sua proposta para toda a humanidade”

Tendo como lema: “Eu vos anuncio uma grande alegria” (Lc 2,10), somos convidados nesta Campanha a anunciar a alegria de ser discípulo missionário de Jesus Cristo, participando de sua vida e mostrando ao mundo que “este povo, que jazia nas trevas, viu resplandecer uma grande luz; e surgiu uma aurora para os que jaziam na região sombria da morte” (Mt 4,16). Precisamos mostrar a alegria que é conhecer e se relacionar com o Filho de Deus que nos tira das trevas e da região sombria da morte para que todos tenham luz e vida plena (TB/CE 2013).

Não somos anunciadores de maus presságios ou legitimadores dos sofrimentos que marcam a vida humana. A nossa mensagem é de alegria, conforme nos ensina São Paulo: “Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito: alegrai-vos!” (Fl 4,4). E esta alegria tem motivo: a esperança no Reino anunciado por Jesus que afirmou: “Disse-vos essas coisas para que a minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja completa” (Jo 15,11).

Evangelizadores e comunicadores da Boa Nova, o caminho a percorrer dos seguidores de Jesus é o mesmo de todos os discípulos missionários: a partir do encontro pessoal com Cristo, Fonte de Vida há a conversão, onde o fiel se torna discípulo; com esta conversão, ele se entusiasma e se transforma em missionário e vai anunciar esta Boa-notícia a seus irmãos de todo o continente.

Recordando a inquietação de Santo Agostinho, o papa Francisco diz que a inquietação do amor oferece-nos a dádiva da fecundidade pastoral, e nós devemos nos questionar: como está hoje a minha fecundidade espiritual, a minha fecundidade pastoral?

São Pedro lembra-nos que devemos colocar toda a nossa esperança na graça de Deus (1Pd 1,13) demonstrando as razões da nossa esperança (1Pd 3,15). Isso significa não só que a esperança deve marcar o nosso agir, mas também que ela deve ser explicitada de forma inequívoca, mostrando ao mundo que “manifestou-se, com efeito, a graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens. Veio para nos ensinar a renunciar à impiedade e às paixões mundanas e a viver neste mundo com toda sobriedade, justiça e piedade, na expectativa da nossa esperança feliz, a aparição gloriosa de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo” (Tt 2,11-13). Por isso, respondemos na liturgia: Caminhamos no amor e na alegria.

Ninguém se torna um evangelizador por acaso. Trabalhar na obra evangelizadora é participar da obra da salvação da humanidade, que não é uma obra humana, mas divina, de modo que ser evangelizador é, em primeiro lugar, graça, dom de Deus, chamado, vocação. Este chamado vem do próprio Jesus: “Nota essencial da espiritualidade missionária é a comunhão íntima com Cristo: não é possível compreender e viver a missão, senão na referência a Cristo, como Aquele que foi enviado para evangelizar” (J.Paulo II).

No entanto, fé é fidelidade definitiva, como a de Maria, afirma papa Francisco. Deus nos surpreende com o seu amor, mas pede fidelidade em segui-Lo. Pensemos quantas vezes já nos entusiasmamos por uma iniciativa, um compromisso, mas depois, ao surgirem os primeiros problemas, abandonamos tudo. Perguntemo-nos: sou cristão sempre? Deus pede-nos que sejamos fiéis, todos os dias. Mesmo se às vezes não Lhe somos fiéis, Ele é sempre fiel e, com a sua misericórdia, não se cansa de nos estender a mão para nos erguer e encorajar a retomar o caminho, a voltar para Ele e confessar-Lhe a nossa fraqueza a fim de que nos dê a sua força. E este é o caminho definitivo: sempre com o Senhor, mesmo com as nossas fraquezas, mesmo com os nossos pecados. Nunca podemos ir pela estrada do provisório. Isto nos destrói.

Interceda Maria por nós, para que nos deixemos surpreender por Deus sem resistências, sejamos sempre fiéis e agradecidos porque Ele é a nossa força.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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