Estamos celebrando a Solenidade de Pentecostes, festa do Corpo místico de Cristo, espalhado em toda a terra, na qual seus seguidores tornam-se verdadeiramente Igreja, Povo de Deus (LG 9-17), irradiando a solidariedade de seu Mestre e Senhor.
Como Jesus convocou seus discípulos para estarem com ele, do mesmo modo, convoca-os também hoje para estarem com ele e dele aprenderem o amor ao Pai, a fidelidade ao Espírito e o compromisso para a transformação em um mundo de irmãos e irmãs. É lá, na comunidade eclesial de base, Igreja toda ministerial a serviço do Reino de Deus, que vem acontecendo a formação do discípulo missionário, a partir da experiência do encontro com Jesus Cristo, sua vida e seu destino (Doc.92/CNBB).
Cremos que “o Espírito Santo guia a missão” (RM 24); que “o Espírito nos impele a anunciar as grandes obras de Deus” (RM 1); e que a Igreja, sob o impulso do Espírito, continuamente se renova.
É o mesmo Espírito que falou por meio dos profetas que sustenta e inspira a Igreja no dever de anunciar a Palavra de Deus e na pregação dos Apóstolos. A missão do Filho e a do Espírito Santo são inseparáveis e constituem uma única economia da salvação. O mesmo Espírito, que atua na encarnação do Verbo no seio da Virgem Maria, guia Jesus ao longo de toda a sua missão e é prometido aos discípulos (VD 15).
A missão da Igreja, tal como a de Jesus, é obra de Deus, ou, usando uma expressão frequente em S. Lucas, é obra do Espírito Santo. Depois da ressurreição e ascensão de Jesus, os Apóstolos viveram uma intensa experiência que os transformou: o Pentecostes. A vinda do Espírito Santo fez deles testemunhas e profetas (At 1,8; 2,17-18), infundindo-lhes audácia e capacidade de testemunhar Jesus sem medo (RM 24).
A missão renova a Igreja, revigora a sua fé e identidade, dá-lhe novo entusiasmo e novas motivações. É dando a fé que ela se fortalece (RM 2).
Assim a multidão, formada pelas comunidades e paroquias, reunida no Campo da 17ª Brigada, celebrando Pentecostes sob o tema: “Guiados pelo Espírito: livres para servir”, pode hoje confirmar “com a fé e a experiência da Igreja, que abrir-se ao amor de Cristo é a verdadeira libertação”. Nele e só nele somos libertos de toda a alienação e extravio, da escravidão ao poder do pecado e da morte. Cristo é verdadeiramente a nossa paz (Ef 2,14) e o amor de Cristo nos impele (2 Cor 5,14) dando sentido e alegria à nossa vida (RM 11).
Encerrando nesta data a Semana de oração pela unidade dos cristãos, estamos nos preparando para a Caminhada da Paz (11/06). Diante dos desafios que nos cercam qual sinal melhor da presença do Espírito Santo do que a capacidade de partilhar, comunicar, criar comunhão entre nós?
O papa Francisco faz um apelo para que fortaleçamos nossa identidade cristã mediante à pertença a um povo, a Igreja, pedindo a Deus três graças necessárias: a graça da memória do caminho que fez o povo de Deus; a graça da memória pessoal lembrando sempre o que Deus fez comigo na minha vida e como me fez caminhar. A terceira graça é a da esperança e de renovar todos os dias a aliança com o Senhor que nos chamou.
Pe. Antoniazzi sabiamente sugere ainda um programa de vida a partir dos sete recados do Espirito Santo:
1. AIgreja volte-se para o futuro: Foi ao Espírito Santo que Jesus confiou a direção da Igreja. Já Lucas tinha percebido, refletindo sobre a história da Igreja primitiva que, diante de situações novas, não bastava olhar para o exemplo de Jesus histórico. Era preciso que o Espírito de Cristo iluminasse os caminhos da Igreja e a mantivesse fiel à vontade de Cristo mesmo no momento de assumir atitudes inovadoras e criativas. Ainda temos muito a aprender do Espírito, para que a Igreja cresça vitalmente e se revele ao mundo de hoje como uma comunidade que anuncia o futuro, e não como uma instituição demasiadamente apegada ao passado, com tudo de transitório e obsoleto que o passado tem.
2. AIgreja procure, antes de tudo, a santidade: O Espírito de Deus é o Espírito Santo, porque Deus é santo (Lv 19,2). O Espírito quer conduzir a Igreja à busca da santidade. Certamente o fez de muitos modos ao longo dos séculos. Trata-se de colocar a santidade onde ela merece: acima de tudo! Diante da santidade, desaparecem na Igreja as diferenças de “status” ou de hierarquia. A santidade é o que permanece para sempre na Igreja; funções e ministérios duram apenas na construção da Igreja nesta terra. No Espírito, homens e mulheres são realmente iguais como pessoas, sobretudo, como batizados, incorporados em Cristo, igualmente chamados à santidade (Gl 3,28).
3.AIgreja valorize sua verdadeira riqueza, dom do Espírito: Carismas são as graças especiais que o Espírito concede a cada cristão, para crescer na santidade e no serviço da comunidade. O Concílio, retomando o apóstolo Paulo, pede que os carismas sejam postos a serviço da “utilidade comum”. Uma Igreja que espalhe o espírito das Bem-aventuranças e desconfie do poder humano baseado sobre o dinheiro ou prestígio: esta é a Igreja que o Espírito quer e que poderá corresponder aos anseios de tantos, que esperam um novo tempo de amor e paz. E o verdadeiro critério de discernimento dos carismas será este: que não tragam “poder” para a Igreja, mas espírito de serviço e humildade.
4.A Igreja proporcione uma experiência de liberdade e plenitude: O Jesus das bem-aventuranças, nunca aliado dos poderes constituídos, fiel à missão recebida do Pai, é o “homem verdadeiramente livre”. Paulo também descreveu a experiência cristã como uma experiência de liberdade. “É para a liberdade que Cristo nos libertou (Gl 5,1). Fundamento da liberdade cristã é o Espírito: “Porque o Senhor é o Espírito, e lá onde está o Espírito do Senhor, lá está a liberdade” (2Cor 3,17). A experiência cristã da liberdade é um dom do Espírito (2Cor 3,17). Só o Espírito pode conduzir o cristão para a verdadeira liberdade.
5. A Igreja assuma o compromisso do serviço e da partilha: O primeiro grande serviço que o cristão, imbuído pelo Espírito, presta aos outros, é a partilha de sua fé, de sua alegria por ter encontrado a Deus em Cristo pelo Espírito. O mais conhecido relato desta experiência, que se confunde com o relato do próprio nascimento da Igreja, é o de Pentecostes (At 2,1-41). Os Doze sob o impulso do Espírito anunciam nas diversas línguas a experiência do Deus de Jesus Cristo (At 2,13). Depois disso, de muitas formas, o Espírito transformará os cristãos em missionários e evangelizadores. O Espírito é o protagonista da missão, mas se serve de instrumentos humanos os mais variados. A missão cristã não é feita somente do anúncio explícito do Evangelho. Este exige muitas vezes um longo trabalho de preparação do terreno, feito de solidariedade, serviço, diálogo, busca em comum do Deus verdadeiro ou da verdade a respeito de Deus.
6.A Igreja se torne lugar de misericórdia e consolação: Desde o Antigo Testamento, o Espírito Santo prepara um povo que herdará o reino de Davi e do Messias: é o povo dos pobres segundo o Espírito, humildes e mansos, de quem falam profetas e salmos. A Igreja, obra do Espírito, exerce com Jesus uma função régia. Mas para Cristo e para a Igreja, reinar é servir particularmente os pobres (LG 8). “Paráclito” é muito mais que consolador. É para o evangelista João, mais do que um defensor ou um advogado, que defenda os cristãos, quando processados e perseguidos.
7. AIgreja tenha coragem diante de conflitos e perseguições e não cesse de promover a paz: Entre os dons do Espírito, está o dom da fortaleza, da firmeza e da coragem. Os evangelhos já estão marcados pela experiência que os discípulos do Crucificado fizeram da perseguição. Diante dessas dificuldades, Jesus promete a ajuda eficaz do Espírito Santo. A era do Espírito foi e é sonhada como era de paz, de superação dos conflitos e das armas, de entendimento e fraternidade. O certo é que o Espírito Santo pede aos cristãos para enfrentarem o futuro sem medo, confiantes na força de Deus. Pede especialmente um empenho novo pela paz e o diálogo entre os povos e as religiões. Este empenho não é apenas empenho do Papa, não é um privilégio da Santa Sé. É um empenho que os cristãos no mundo inteiro podem e devem assumir, seja em seu próprio país, removendo as causas da violência, seja agindo como intermediários para reaproximar povos, etnias ou partidos que se tornaram inimigos e preferiram as armas ao diálogo (VP).