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Dom Moacyr

Fortalecer a democracia e a dignidade dos brasileiros!


  
O Dia Mundial da Terra (22/04) foi marcado pela nova etapa no combate às mudanças climáticas, com a assinatura do Acordo de Paris, inclusive com a presença do Brasil, na sede da Organização das Nações Unidas, em Nova York.

Aproximadamente 55 países, responsáveis por mais de 50% das emissões globais de gases de efeito estufa, deverão apresentar instrumentos de ratificação ou aceitação do acordo, visando manter o aumento da temperatura média global abaixo de 2ºC e limitar o aumento da temperatura a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. O acordo, que começa a vigorar em 2020, é mais um esforço global para diminuir o aquecimento global e seus efeitos nefastos.

Dentre os princípios da Carta da Terra, que inicia com o cuidado da comunidade da vida e o respeito à terra, destacamos dois princípios:

a) Reconhecer que todos os seres são interligados e cada forma de vida tem valor, independentemente de sua utilidade para os seres humanos;

b) Afirmar a fé na dignidade inerente de todos os seres humanos e no potencial intelectual, artístico, ético e espiritual da humanidade.

Reforçando estes princípios, papa Francisco, na Encíclica Laudato Si, que fala do cuidado da terra, nossa casa comum, afirma que “as criaturas deste mundo não podem ser consideradas um bem sem dono”.

Resgatando o verdadeiro humanismo, que reconhece a centralidade do ser humano, imagem e semelhança de Deus, frente à criação, que encontra nele o seu sentido último (GS 22), o papa destaca ainda que “nós e todos os seres do universo, sendo criados pelo mesmo Pai, estamos unidos por laços invisíveis e formamos uma espécie de família universal, uma comunhão sublime que nos impele a um respeito sagrado, amoroso e humilde”.

Devemos, contudo, “ter a preocupação de que os outros seres vivos não sejam tratados de forma irresponsável”. Deveríamos nos indignar com “as enormes desigualdades que existem entre nós, porque continuamos a tolerar que alguns se considerem mais dignos do que outros”. Continuamos a admitir que alguns se sintam mais humanos que outros, como se tivessem nascido com maiores direitos.

O documento reforça que “quando o coração está verdadeiramente aberto a uma comunhão universal, nada e ninguém fica excluído desta fraternidade”. Não pode ser autêntico um sentimento de união íntima com os outros seres da natureza, se ao mesmo tempo não houver no coração ternura, compaixão e preocupação pelos seres humanos.

Não podemos considerar-nos grandes amantes da realidade, se excluímos dos nossos interesses alguma parte dela: Paz, justiça e conservação da criação são três questões absolutamente ligadas, que não se poderão separar, tratando-as individualmente sob pena de cair novamente no reducionismo. Tudo está relacionado, e todos nós, seres humanos, caminhamos juntos como irmãos e irmãs numa peregrinação maravilhosa, entrelaçados pelo amor que Deus tem a cada uma das suas criaturas e que nos une também, com terna afeição, ao irmão sol, à irmã lua, ao irmão rio e à mãe terra (LS 89-92).

Em seu discurso no Parlamento Europeu em Estrasburgo, França (25/11/14), o papa fala da defesa e promoção da vida humana: A nossa história recente caracteriza-se pela inegável centralidade da promoção da dignidade humana contra as múltiplas violências e discriminações que não faltaram, ao longo dos séculos.

A percepção da importância dos direitos humanos nasce precisamente como resultado de um longo caminho, feito também de muitos sofrimentos e sacrifícios, que contribuiu para formar a consciência da preciosidade, unicidade e irrepetibilidade de cada pessoa humana.

Promover a dignidade da pessoa significa reconhecer que ela possui direitos inalienáveis, de que não pode ser privada por arbítrio de ninguém e, muito menos, para benefício de interesses econômicos. O ser humano corre o risco de ser reduzido a mera engrenagem dum mecanismo que o trata como se fosse um bem de consumo a ser utilizado, de modo que a vida, quando deixa de ser funcional para esse mecanismo, é descartada sem muitas delongas, como no caso dos doentes terminais, idosos abandonados e sem cuidados, ou crianças mortas antes de nascer.

Afirmar a dignidade da pessoa significa reconhecer a preciosidade da vida humana, que nos é dada gratuitamente não podendo, por conseguinte, ser objeto de troca ou de comércio. Na vossa vocação de parlamentares, sois chamados também a uma grande missão, ainda que possa parecer não lucrativa: cuidar da fragilidade dos povos e das pessoas.

A Liturgia de hoje está centrada no amor mútuo que circula, contagia e transforma a sociedade. Um amor multiplicativo que se espalha e fortalece as relações. Um Amor que ressuscita e dá a vida; faz-nos parecer com o Cristo da Páscoa e cria um mundo novo (R.Gravel).
Jesus fala do mandamento novo que supera todos os outros mandamentos. Deus e o ser humano são inseparáveis. E é somente amando as pessoas que amamos a Deus. Tal mandamento novo gera uma comunidade, que oferece uma alternativa de vida digna e liberdade perante a morte e a opressão (BP). “Por pouco tempo estou ainda convosco. Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros” (Jo 13,31-33a.34-35).

O que nos permite descobrir que uma comunidade que se diz cristã é realmente de Jesus, não é a confissão de uma doutrina, nem a observância de uns ritos, nem o cumprimento de uma disciplina, mas o amor vivido com o espirito de Jesus. É nesse amor que se encontra a sua identidade (Pagola).

Como descrever o comportamento de grande parte dos 513 deputados que debatiam a destituição da Presidente Dilma (17/04), transformando o local num circulo de constrangimento, desumano e fundamentalista, no qual faltou o testemunho do amor e do respeito ao outro?

Novamente pesou para os pobres que, olhando para seus políticos eleitos, constataram mais uma vez tratar-se de uma elite que vira as costas aos anseios da maioria da população.

Jesus, antes de formular o estatuto da nova comunidade, o mandamento do amor, viveu exemplarmente. O lava-pés caracteriza-se como a síntese de toda a vida de Jesus: ele veio para servir e não para ser servido. Seu testemunho de vida se dá junto à pequena comunidade constituída pelos apóstolos; eles deverão viver esse mandamento como condição para serem reconhecidos como seguidores de Jesus (VP).

Paulo é um dos que optaram por esse amor radical. Como discípulo missionário, põe-se a serviço da organização e da animação de comunidades cristãs. O Livro “Atos dos Apóstolos” fala da formação e do cuidado com as comunidades cristãs (At 14,21b-27) e da necessidade de fortalecer a fé e a esperança dos fiéis, pois viver na fidelidade a Jesus Cristo é como “remar contra a corrente” das ideologias dominantes.

O Livro do Apocalipse fala de uma nova ordem social “Um novo céu e uma nova terra” (Ap 21,1-5a) trazendo esperança para este momento nacional.

Trata-se do anúncio da era messiânica. A antiga ordem, alicerçada no mal, passará. O mar, morada do dragão da maldade, vai desaparecer. Não se trata, logicamente, do mar físico, mas do símbolo do caos construído pelos que seguem o projeto de Satanás, que, no caso das comunidades do Apocalipse, se refere ao Império Romano, e é fruto da intervenção divina.

O Criador de todas as coisas, conforme descrito no início do primeiro livro da Bíblia, é também aquele que renova todas as coisas, conforme descreve o último livro. Os relatos não se opõem, mas se completam e iluminam nossa realidade. O relato do Gênesis revela o rosto de Deus criador, que convive com suas criaturas e dialoga com o ser humano; do mesmo modo, o Apocalipse resgata essa feliz realidade da presença de Deus que recria e transforma (VP).

Está na hora de uma tomada de consciência “de nossa importância no cenário mundial, de resistir e buscar o fortalecimento de nossa democracia que represente menos os interesses das empresas e mais as demandas tão olvidadas de nosso povo e na construção de nosso próprio caminho rumo ao futuro” (L.Boff).

 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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