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Dom Moacyr

Igreja e sociedade!



Com o tema “Fraternidade: Igreja e Sociedade” e o lema “Eu vim para servir” (Mc 10,45), a Campanha da Fraternidade 2015 reflete a vocação e missão de todo o cristão e das comunidades de fé, a partir do diálogo e colaboração entre Igreja e Sociedade, propostos pelo Concílio Ecumênico Vaticano II.

Pela primeira vez nos seus 50 anos de história, a CF faz uma abordagem propositadamente global: qual sociedade temos, e qual Igreja queremos? Por isso voltamos ao tema da “análise institucional” que supõe uma “conversão” também institucional (VP 301).

O Concílio Vaticano II propõe o diálogo na relação da Igreja com a sociedade. Assim, a Igreja é chamada a reconhecer os “sinais dos tempos” (GS 4,11,44), pois a história é rica em sinais da presença de Deus.

O Concílio destacou a pastoral e a ação evangelizadora da Igreja para que esta seja sinal de Cristo no mundo (LG 15; GS43). Tal posicionamento exige que a Igreja se revitalize continuamente no Espírito que se revela nos sinais dos tempos. Para isso é preciso considerar que as mudanças na Igreja, especialmente na sua forma de evangelizar, constituem a sua identidade de acolher o que o Espírito Santo dá a conhecer em diferentes momentos históricos; daí se compreende o aforismo: ecclesia semper reformanda (a Igreja está sempre se renovando; UR 6).

Enfrenta-se a realidade para encontrar as demandas novas que se apresentam para a evangelização. Trata-se de discernir “os acontecimentos, nas exigências e nas aspirações de nossos tempos, quais sejam os sinais verdadeiros da presença ou dos desígnios de Deus” (GS 11; doc. CNBB 100,9-10).

A CF 2015, cuja abertura acontece na Quarta-feira de Cinzas (18/02), é uma retomada dos ensinamentos do Concílio Vaticano II. A inspirada iniciativa de João XXIII de convocar o Concílio Vaticano II foi uma oportunidade de reaproximação entre a Igreja e a sociedade com seus anseios.

Eis a grande realização do Concílio Vaticano II: possibilitar que a Igreja consiga de novo dialogar com o mundo e a humanidade que o habita. Mais ainda, a Igreja se reconhece, nas palavras da Gaudium et Spes, servidora do mundo e essa noção de Igreja servidora do mundo é que comandará a ação pastoral nos anos seguintes ao concílio, exatamente com a Igreja atentando ao fato de que sua ação é, antes de tudo, pastoral. E por ação pastoral se entendem não apenas as atividades religiosas, como orações e celebrações, e administrativas, próprias da organização eclesiástica, mas também aquelas que se preocupam fundamentalmente com a organização da vida das pessoas e das sociedades (A. Manzatto).

A Igreja vê sua ação como a de cuidado com o mundo, com as pessoas que o integram. É nesse sentido que ela é servidora do mundo e lhe anuncia e testemunha a salvação. A preocupação fundamental da Igreja é com o ser humano, com todo homem e o homem todo, para dizer como Paulo VI na Encíclica Populorum Progressio.

Papa Francisco nunca escondeu sua enorme preocupação diante do que considera um dos maiores desafios da humanidade, “a custódia da criação e a ecologia”. Na missa de inauguração do pontificado (19/03/2013) salientou a importância de “custodiar a natureza”.

Na ocasião, o pontífice chegou a dizer que São Francisco de Assis, em cujo nome e mensagem se inspiram seu papado, representa o modelo de vida austero, respeitoso com a criação, tão distante da atual “conjuntura do descarte”, por culpa da qual em alguns países se desperdiça de forma caprichosa alimentos e recursos naturais, enquanto em outras latitudes milhões de pessoas morrem de fome. Só cuidando da natureza, advertiu o papa, é possível também “custodiar as pessoas, preocupar-se com todos, especialmente as crianças, os idosos e os mais frágeis”.

Neste Ano da Paz (CNBB) e Ano da Luz (Unesco), contra a “globalização da indiferença”, o papa vai lançar sua primeira encíclica sobre a ecologia.

Somos convidados a promover e a restabelecer relações justas com Deus e com outros seres humanos da mesma forma e com a mesma urgência que somos chamados a restaurar e curar as relações rompidas com a criação. Como curar um mundo ferido quando tantos irmãos nossos são despejados e assassinados aqui em Rondônia, por causa da terra?

Celebramos hoje o Batismo de Jesus: a liturgia apresenta Jesus o Filho (”Servo”) enviado pelo Pai, sobre quem repousa o Espírito e cuja missão é realizar a libertação dos homens (Mc 1,7-11). Obedecendo ao Pai, Ele tornou-Se pessoa, identificou-Se com as fragilidades dos homens, caminhou ao lado deles, a fim de promovê-los e levá-los à reconciliação com Deus, à vida em plenitude.

Hoje somos convidados a renovar nosso batismo e a professar a nossa fé em Cristo, Ele que veio fazer-se um conosco, no sofrimento em que as nossas violências nos mergulharam, para que, com ele, nos fizéssemos também um, em sua nova humanidade recriada, para além das águas da morte.

Não somos cristãos anônimos, pelo batismo fomos consagrados na mesma missão de nosso irmão maior Jesus Cristo. O batismo nos faz membros vivos do corpo de Jesus, nos faz Igreja, é nela e junto com todos os batizados que realizamos esta missão, e em comunhão com todos os homens e mulheres de boa vontade, de diferentes etnias e religiões que são também conduzidos pelo Espírito do Deus da vida.

As palavras vindas do céu: “Tu és o meu Filho amado, em ti ponho meu benquerer” são de alguma forma um selo divino, uma marca indelével que dará segurança a Jesus, no decurso de todas as provações que deverá sofrer. É uma iluminação prévia que, apesar de tudo, permitirá conservar a confiança e a segurança. O que quer que aconteça com Jesus, será sempre o amado de Deus e nele será revelado todo o amor de Deus para com os homens, este amor mais forte do que a morte. Não percamos de vista que o que está dito sobre o Cristo vale também para nós. O nosso batismo nos designa também como filhos amados, repletos de todo o amor de Deus (Ihu).

Batismo é compromisso, é missão. Sem esses elementos o batismo se esvazia.

Lembramos as “pessoas batizadas que não vivem as exigências do Batismo”, não sentem uma pertença cordial à Igreja. Mãe sempre solícita, a Igreja esforça-se para que elas vivam uma conversão que lhes restitua a alegria da fé e o desejo de se comprometerem com o Evangelho. Os cristãos têm o dever de anunciar o Evangelho, sem excluir ninguém. Não podemos ficar tranquilos, em espera passiva, em nossos templos, sendo necessário passar de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária. Esta tarefa continua a ser a fonte das maiores alegrias para a Igreja (Lc 15,7; EG 14-15).

A celebração do 13º Encontro Intereclesial das CEBs está completando um ano. Nos dias 07 a 11 de janeiro de 2014, as cidades de Crato, Barbalha, Missão Velha, Caririaçu e Juazeiro do Norte abriram as portas e o coração de cada família acolheu as CEBs de todos os cantos do Brasil, inclusive da Arquidiocese de Porto Velho. Representantes das CEBs da América Latina e diversos países da Europa, Ásia e África também estavam presentes para a partilha de suas experiências exitosas e reflexão das problemáticas contemporâneas que desafiam a evangelização da Igreja nestes novos tempos, principalmente na opção pelos pobres.

A motivação norteadora para o 13º teve como fundamento o tema: “Justiça e profecia a serviço da vida” e o lema: “Cebs, romeiras do reino no campo e na cidade”, tendo como principal fonte de espiritualidade a Palavra e a Eucaristia.

Em sua mensagem, Pe. Vileci Vidal, da equipe de coordenação, afirma que o 13º Intereclesial foi uma autentica “experiência da Igreja Comunidade de Comunidades” e o fortalecimento das CEBs. A próxima parada das Comunidades Eclesiais de Base será no Paraná em 2018, onde a Arquidiocese de Londrina será essa terra de partilha e construção cotidiana do Reino de Deus para nossas comunidades de todo o Brasil. Neste mês de janeiro (21-25/01) acontece a 1ª reunião em preparação ao 14º Intereclesial das CEBs.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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