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Dom Moacyr

Igreja e sociedade na construção do bem comum!


 Igreja e sociedade na construção do bem comum!     - Gente de Opinião

Estamos participando da 53ª Assembleia Geral da CNBB (15-24/04) na cidade de Aparecida/SP. Todos os dias, iniciamos os trabalhos com a celebração da missa, às 7h30, no Santuário Nacional, com transmissão ao vivo pelas emissoras católicas de rádio e televisão. Em seguida, no auditório do Centro Pe. Vítor Coelho, desenvolvemos a pauta em torno dos temas central e prioritários.

A Assembleia Geral, definida pelo Estatuto da CNBB como a expressão da comunhão e corresponsabilidade dos bispos de todo o Brasil (CNBB, doc.70, IV art. 27-30), é espaço de fraternidade, espiritualidade, diálogo, “discernimento solidário sobre os grandes problemas da sociedade e da Igreja e estímulo para oferecer orientações pastorais que animem os membros do Povo de Deus a assumirem com fidelidade a sua vocação de discípulos missionários” (DAp 181).

Aqui refletimos, dialogamos e celebramos juntos, fortalecendo a comunhão e a colegialidade episcopal, tão necessária diante da complexidade do país.

O tema central trata da atualização das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil para o período 2015-2019. Há um consenso em dar prosseguimento à pastoral orgânica de conjunto no Brasil e ao processo de aplicação do Documento de Aparecida, principal referência das Diretrizes 2011-2015. Estas continuarão a nortear e inspirar o trabalho da Igreja no próximo quadriênio, levando em consideração a palavra do papa Francisco durante a Jornada Mundial da Juventude e os apelos da Exortação Evangelii Gaudium, que nos indica caminhos para o percurso da Igreja nos próximos anos (EG 1), convoca-nos a “avançar no caminho da conversão pastoral e missionária”, a “não deixar as coisas como estão” e a nos organizarmos “em estado permanente de missão” (EG 25). A celebração do 50ºaniversário da conclusão do Concílio Vaticano II convida-nos a prosseguir a jornada de renovação pastoral, no contexto de uma nova evangelização com muita criatividade pastoral.

Dentre os temas prioritários está o Documento que representa os leigos do Brasil. O novo texto foi enriquecido com novas sugestões e emendas, enviadas pelas dioceses e regionais. O texto Estudos 107: “Cristãos leigos na Igreja e na sociedade, Sal da Terra e Luz do mundo” está sendo avaliado para aprovação. E ainda, a discussão e aprovação da 2ª edição do texto das Pastorais Sociais “Pensando o Brasil”, que aborda a temática das desigualdades sociais no Brasil e a Reforma Politica.

A reforma política, um dos itens mais citados na pauta das manifestações populares realizadas no País desde 2013, é uma necessidade urgente, reafirmou o cardeal Dom Raymundo Damasceno. O documento “Por uma reforma do Estado com participação democrática” de 2010, já apontava alguns dos graves motivos que justificam a necessidade da reforma política: “as crises consecutivas nas casas legislativas em todos os níveis da Federação, os escândalos que se sucedem nos executivos em suas relações com o capital privado e nas suas relações nada republicanas com os legislativos pertinentes” (doc.91,100).

O documento defende a participação “de todas as instâncias da cidadania” no processo da reforma política e sugere “alguns eixos básicos para nortear a definição das propostas”. A Coalizão pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas, que hoje reúne mais de cem entidades, dentre elas, a CNBB, OAB, Mov. de Combate à Corrupção Eleitoral, Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político, nasceu em 2013, apresentando ao Congresso Nacional as propostas de reforma política.

Segundo Dom Damasceno, a diversidade das propostas analisadas exigiu muito discernimento e diálogo entre as entidades da Coalização, que, ao final dos debates, entraram em consenso em torno de 04 pontos: a proibição do financiamento de campanhas por empresas; a adoção do voto proporcional em dois turnos, denominado voto transparente; a alternância de homens e mulheres nas listas de candidatos e o fortalecimento da democracia mediante a regulamentação do art., caput, da Constituição Federal, que trata das formas como é exercida a soberania popular. Das reuniões, resultou a elaboração de um projeto de lei de iniciativa popular que detalha cada um desses pontos.

O projeto recebeu o endosso da 52ª Assembleia da CNBB, em maio de 2014, com a aprovação do documento “Pensando o Brasil”. Por iniciativa da Coalizão, o Projeto (PL 6316/2013) foi apresentado, mediante subscrição de parlamentares de diversos partidos, à Câmara dos Deputados, onde tramita desde agosto de 2013. Para apoiá-lo, está-se realizando a coleta de 1,5 milhão de assinaturas de eleitores, providência fundamental para pressionar o Congresso a votar mais esta proposta de iniciativa popular.

Ao declarar seu apoio ao Projeto, a CNBB o faz com a consciência de que é dever da Igreja cooperar com a sociedade para a construção do bem comum, conservando a autonomia e independência que a caracterizam em relação à comunidade política, como lembra o Vaticano II (GS 76). Se à Igreja não cabe assumir a responsabilidade da organização política da sociedade nem colocar-se no lugar do Estado, tampouco pode ela ficar alheia à luta pela justiça. A CNBB acredita que, para levar a bom termo um empreendimento tão amplo e complexo como a reforma política, é preciso juntar esforços e superar os radicalismos e as ideias preconcebidas que obstruem a via do diálogo e impedem o aperfeiçoamento da democracia. Considera saudável, tanto para o mundo político quanto para a Igreja, o pluralismo que marca a sociedade democrática na qual vivemos: ele favorece o diálogo, o debate respeitoso e a busca de harmonia nas diferenças. Por isso, quanto ao projeto que tem o seu apoio, a CNBB se declara aberta ao debate e reitera profundo respeito à pluralidade que enriquece a sociedade brasileira, conclui dom Damasceno.

Muitas vezes, a gente só descobre o sentido profundo das coisas depois que aconteceram (Konings). Assim a mensagem do evangelho deste 3º domingo da Páscoa (Lc 24,35-48): Os discípulos de Emaús, depois de terem encontrado e reconhecido o Senhor ressuscitado, voltam para Jerusalém para contar aos apóstolos e aos outros discípulos o que lhes tinha acontecido. A forma como Jesus abriu seus olhos para entenderem as Escrituras. E como reconheceram Jesus ao partir o pão. E Jesus aparece no meio deles saudando-os: “A paz esteja com vocês!” Após o diálogo, afirma: “Vocês são testemunhas de tudo isso”.

Testemunho e universalidade da salvação são a bagagem e a tarefa dos que acreditam em Jesus ressuscitado; assim seus seguidores darão continuidade à história e sociedade novas: proclamando que a sociedade injusta não conseguiu anular o processo de vida e liberdade que ele trouxe (VP).

A Escritura e a Eucaristia como lugares de encontro com Cristo, são evocadas na narração da aparição do Ressuscitado aos discípulos de Emaús. No encerramento do Concílio Vaticano II, Paulo VI recordou que “no rosto de todo homem, transparente pelas lágrimas ou pelas dores, podemos e devemos descobrir o rosto de Cristo” (Ecclesia in America, 8-12).

Qualquer ação humana que traz mais vida para os corpos oprimidos, doentes, torturados, famintos e sedentos, não é apenas obra de misericórdia, mas é sinal concreto do fato central da fé cristã: a ressurreição do próprio Senhor Jesus. A missão cristã nasce da leitura das Escrituras, onde se percebe o testemunho de Jesus (vida-morte-ressurreição) como seu centro e significado. Essa missão continua no anúncio de Jesus a todos os povos, e provoca a transformação da história a partir da atividade de Jesus voltada para os pobres e oprimidos. A conversão e o perdão supõem percorrer o caminho de Jesus na própria vida e nos caminhos da história. A missão é iluminada pelo Espírito.

Conscientes de que o momento histórico que vivemos exige que delineemos o rosto de uma Igreja viva e dinâmica que cresce na fé, se santifica, ama, sofre, compromete-se e espera em seu Senhor, queremos voltar a descobrir o Senhor Ressuscitado que vive em sua Igreja, se entrega a ela, santifica-a (Ef 5,25-26) e a faz sinal da união de todos os homens entre si e destes com Deus (LG 1). Queremos refletir este rosto em nossas Igrejas particulares, paróquias e comunidades, ser uma igreja decididamente missionária (Doc.S.Domingo,54,303).

Por isso, “fica conosco, Senhor” (Lc 24,29), acompanha-nos ainda que nem sempre tenhamos te reconhecido. Fica conosco, porque Tu és a Luz, conforta-nos na fração do pão para anunciar a nossos irmãos que tu tens ressuscitado e que nos tem dado a missão de sermos testemunhas de tua ressurreição. Fortalece a todos nós em nossa fé para que sejamos teus discípulos e missionários (DAP 554).

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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