A Arquidiocese de Porto Velho está reunida em Assembleia para a avaliação das ações pastorais e evangelizadoras e proposição de prioridades que levem a um Plano de Pastoral capaz de responder aos desafios levantados pelas diversas Assembleias Paroquiais.
Sobre este acontecimento especial na vida da arquidiocese, de conversão pastoral e de renovação eclesial para o compromisso missionário, bem como, pelo êxito da Assembleia, suplicamos as luzes do Espírito Santo.
Presidida pelo arcebispo de Porto Velho, Dom Esmeraldo Barreto de Farias, a Assembleia expressa a unidade e comunhão de uma Igreja em estado permanente de Missão, comprometida com a evangelização missionaria a partir das Comunidades Eclesiais de Base, que tanto enriquece a vida eclesial na Amazônia.
A 13ª Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos, realizada no Vaticano de 7 a 28 de outubro, teve como tema a “Nova Evangelização para a transmissão da Fé”. O Instrumentum Laboris desse Sínodo assinala, nos números 162-165, alguns aspectos da nova evangelização:
Com a sua vinda até nós, Jesus Cristo comunicou-nos a vida divina que transfigura a face da terra, fazendo novas todas as coisas (Ap 21,5). A sua Revelação envolveu-nos, não apenas como destinatários da salvação que nos foi dada, mas também como seus anunciadores e testemunhas.
O Espírito do Ressuscitado habilita, deste modo, a nossa vida para o anúncio eficaz do Evangelho em todo o mundo. É a experiência da primeira comunidade cristã que via o difundir-se da Palavra mediante a pregação e o testemunho (At 6,7).
A primeira evangelização teve início no dia do Pentecostes, quando os Apóstolos, todos reunidos no mesmo lugar em oração com a Mãe de Cristo, receberam o Espírito Santo (At 1,14; 2,1-3).
Nova evangelização não significa um “novo Evangelho”, porque “Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e pelos séculos” (Heb 13,8).
Nova evangelização significa dar resposta adequada aos sinais dos tempos, às necessidades dos homens e dos povos de hoje, aos novos cenários que mostram a cultura por meio da qual exprimimos a nossa identidade e procuramos o sentido da nossa existência.
Nova evangelização significa, por isso, promoção de uma cultura mais profundamente radicada no Evangelho. Quer dizer descobrir o “homem novo” (Ef4, 24) que está em nós graças ao Espírito dado por Jesus Cristo e pelo Pai.
Nova evangelização significa, segundo João Paulo II, “reacender em nós o zelo das origens, deixando-nos invadir pelo ardor da pregação apostólica que se seguiu ao Pentecostes. Devemos reviver em nós o sentimento ardente de Paulo que o levava a exclamar: “Ai de mim se não evangelizar”! (1 Cor 9,16).
“Esta paixão não deixará de suscitar na Igreja uma nova missionariedade, que não poderá ser delegada a um grupo de “especialistas”, mas deverá corresponsabilizar todos os membros do povo de Deus”. Quem verdadeiramente encontrou Cristo, não pode guardá-lo para si; tem de anunciá-lo. “É preciso um novo ímpeto apostólico, vivido como compromisso diário das comunidades e grupos cristãos”.
Para o Padre Geral da Companhia de Jesus, pe. Adolfo Nicolas, “não entramos com suficiente profundidade nas culturas em que o Evangelho foi proclamado de modo a ver essa parte do Reino de Deus que já estava lá, enraizada e ativa nos corações e nas relações das pessoas”. Não tivemos muita vontade de encontrar o “fator surpresa” na obra do Espírito Santo, fazer a semente crescer mesmo quanto o semeador está dormindo, ou o missionário, ausente. “Estou convencido de que isso pode ser aplicado à Missio ad Gentes assim como à Nova Evangelização no mundo moderno”. Cada geração se queixa da seguinte e considera que algo da sabedoria do passado se perdeu. No entanto, o Espírito de Deus não esteve ocioso, mas sim trabalhando nos corações das pessoas e nas percepções dos sábios. Cabe a nós escutar com mais atenção e com uma imensa humildade para reconhecer a voz de Deus onde não esperamos que possa ser escutada.
Ao citar o documento de Aparecida, meu confrade Clodovis Boff ilumina-nos nessa caminhada missionária: A mensagem de Deus-amor é a coisa mais preciosa que a Igreja tem a oferecer ao mundo. É disso que ela vive e é para isso que ela existe. Esta é a essência mesma do Evangelho. Isso vale para todos e mais ainda para os nossos povos pobres. Estes, excluídos que são pelos poderosos, precisam sentir-se acolhidos pelo Criador e Pai, de modo a criarem coragem para viver e lutar por tão grande dignidade. Quanto à “aplicação” da mensagem do amor de Deus, deve-se dizer que, mais do que se aplicar, ela precisa ser vivida a plenos pulmões e em todo o tempo. É como uma luz que enche de beleza, energia e calor cada realidade da vida, desde o eros até à vida na pólis.
A evangelização objetiva despertar antes de tudo essa paixão mística e esse deslumbramento espiritual. Se a fé é bastante intensa, ela mesma encontra suas formas concretas de se manifestar. Pois, como disse Nietzsche , “quem tem um porquê sempre encontra um como”. Quanto à operacionalização pastoral do anúncio do Evangelho do Amor, os bispos propuseram concretamente uma “grande missão continental” (DAp 376-8). Esta objetiva mobilizar todas as forças vivas da Igreja para “sair ao encontro” dos distantes. E isso não com intenções de proselitismo ou de reconquista, mas para partilhar a alegria do Evangelho e comunicar as maravilhas da vida em e com Cristo.
Ao partilhar a alegria do evangelho, estamos dando as razões de nossa própria fé, como assinala o Instrumentum Laboris do último Sínodo: O contexto em que nos encontramos requer que se explicite e ative a missão de anunciar e de transmitir a fé que compete a todo o cristão. Em mais do que numa resposta, afirma-se que, hoje, a primeira prioridade da Igreja é o dever de despertar a identidade batismal de cada um, para que saiba ser verdadeiro testemunho do Evangelho, saiba dar razão da própria fé (n.118).
É necessário que cada cristão sinta-se interpelado por esta tarefa que a identidade batismal lhe confia, que se deixe guiar pelo Espírito, segundo a própria vocação, na resposta a tal missão. Num tempo em que a escolha da fé e do seguimento de Cristo é menos acessível e pouco compreensível pelo mundo, senão mesmo contrastada e hostilizada, aumenta a missão da comunidade e dos cristãos individuais em serem testemunhas intrépidas do Evangelho. A lógica de semelhante comportamento é sugerida pelo apóstolo Pedro quando nos convida a darmos razões, a responder a quem nos pede razões da esperança que está em nós (1Pd 3,15). Uma nova estação para o testemunho da nossa fé, novas formas de resposta a quem nos pede a razão da nossa fé, são as estradas que o Espírito indica às nossas comunidades cristãs (n.119).
Nesta perspectiva, o convite que nos foi endereçado no Ano da Fé a uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, é uma oportunidade para aproveitarmos ao máximo, de modo a que cada comunidade cristã, cada batizado, possa ser o ramo que, levando fruto, é podado “para que dê mais fruto ainda” (Jo 15,2).
Os frutos que esta transformação, apenas possível graças à vida de fé, gera no seio da Igreja como sinal da força vivificante do Evangelho ganham forma no confronto com os desafios do nosso tempo.
As respostas indicam esses frutos: famílias que são um verdadeiro sinal de amor, de partilha e de esperança aberta à vida; comunidades dotadas de um verdadeiro espírito ecumênico; a coragem de apoiar iniciativas de justiça social e solidariedade.. A Igreja, que transmite a sua fé na nova evangelização, em todos estes ambientes mostra o Espírito que a guia e transfigura a história (121-128).
Nesta hora da história o nosso coração às vezes, se angustia por causa de tantas dificuldades que nos desafiam, aparentemente insuperáveis; no entanto, continuamos a ser chamados e enviados como missionários e profetas para alimentar a esperança, como âncora firme e segura (Hb 6,19), de um mundo novo, inaugurado por Jesus Cristo Crucificado e Ressuscitado. Neste caminho, novamente nos lançamos nas estradas e rios, nas aldeias e quilombos, nos interiores e periferias das cidades, nos grandes centros urbanos desta imensa Amazônia, abraçando a Missão que nos foi confiada, comprometidos com toda a criação e na busca de sermos autênticas comunidades de fé alimentadas pela Palavra e pela Eucaristia (mens.Santarem 2012).