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Dom Moacyr

IGREJA MISSIONÁRIA RUMO À ASSEMBLÉIA



Ser missionária é a razão de ser da Igreja que aprendeu de Jesus a chamar e a enviar. Sua missão é de compromisso com o Reino, “para que todos tenham vida e a tenham em abundancia” (Jo 10,10).

O Missionário, capaz de ver a presença de Deus nos processos históricos, na luta dos pobres, nos esforços de tantos irmãos generosos, tem a convicção de que sua missão é pelo Reino, sua luta é “pela causa de Jesus que é a causa de Deus, e ao mesmo tempo, causa da humanidade” (Vigil).

O missionário não é um funcionário e sim, um discípulo, cujo absoluto é o Reino e não suas mediações. Sua paixão maior é fazer que em tudo reine o amor de Deus e que as mediações e instituições se rendam completamente ao seu reinado e se ponham a seu serviço.

Temos a convicção de que quando a Igreja chama e envia, está sendo instrumento do Espírito Santo. Dom Antonio Possamai, afirma que “muitos são os chamados que a Igreja da Amazônia tem feito para que mais missionários escutem as vozes dos povos amazônidas”. Muitos se deixam iludir por palavras que não são a Palavra de Deus. Isto acontece por falta de proclamadores da PALAVRA. A iniciativa mais recente da nossa Igreja foi a aprovação da Semana Missionária para a Amazônia, que acontece em toda a Igreja na quarta semana de outubro, mês das missões.

Precede esta Semana a Coleta missionária, portanto nos dias 22 e 23 de outubro todas as paróquias e comunidades estarão em comunhão com os missionários do mundo inteiro, partilhando sua solidariedade e ajuda efetiva.
De 4 a 11 de novembro, a Arquidiocese de Porto Velho realizará sua 20ª Assembléia Arquidiocesana de Pastoral, que tem como tema central o Estudo das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2011-2015). O assessor, Pe. Manoel Godoy, é diretor do Instituto de Filosofia e Teologia Santo Tomás de Aquino de Belo Horizonte.

Novas Diretrizes

A mudança da realidade leva, igualmente, a mudar o modo de levar a cabo a ação evangelizadora. Instrumentos e métodos de um determinado tempo, podem se apresentar inadequados em outro tempo (A.Brighenti).

De nosso novo contexto globalizado, emergem algumas urgências na evangelização, que precisam estar presentes em todos os processos de planejamento e planos de pastoral, independentemente do local onde a evangelização aconteça. Assumir estas urgências mostra uma Igreja em comunhão com as conclusões de Aparecida, com as demais Igrejas e com a realidade sofrida de nossos povos.

A forma de responder a estas urgências depende das necessidades e das condições concretas do contexto de nossa Arquidiocese. A eficácia da ação e o testemunho de unidade entre as Igrejas exigem uma ação orgânica, em torno a algumas perspectivas comuns de ação.

A primeira urgência: “Igreja em estado permanente de missão” vai exigir de nós decisão e perspectivas de ação. Dado que o mensageiro também é mensagem, na missão, o testemunho da comunidade eclesial é condição para o anúncio. Os mensageiros são, antes de tudo, testemunhas daquilo que viram, encontraram e experimentaram. A comunidade reunida no amor e na oração é a atestação mais palpável de que Deus está entre nós. Respaldada pelo testemunho, na sequência apresenta-se a necessidade do anúncio explícito, da pregação do Evangelho, nas mais variadas formas que o ministério da Palavra pode assumir. Na ação pastoral, cabe a cada comunidade eclesial priorizar os grupos humanos ou as categorias sociais que merecem atenção especial.

A segunda urgência: “Igreja, casa da iniciação à vida cristã”. A iniciação cristã, entretanto, não se esgota na preparação aos sacramentos do Batismo, Crisma e Eucaristia. É um processo permanente de conversão a Jesus Cristo e sua mensagem, que exige maior familiaridade com a Palavra de Deus e vida em comunidade. No processo de iniciação têm importante papel os “introdutores” e os catequistas. Eles são a ponte entre Jesus e a comunidade dos irmãos.

Numa sociedade massificada, cabe dar grande atenção às pessoas, com atendimento personalizado, estabelecendo diálogo interpessoal e reflexão sobre sua própria experiência de vida. Na iniciação cristã, o lugar da relação interpessoal é no seio de uma comunidade eclesial. O cristão crê com os outros e naquilo que os outros crêem. As pessoas não buscam em primeiro lugar doutrinas, mas acolhida pessoal e relacionamento fraterno.

A terceira urgência: “Igreja, lugar de animação bíblica da vida e da pastoral”: infelizmente, a Bíblia nem sempre é tratada como luz para a vida. Muitas vezes é instrumentalizada e usada até mesmo como engodo. Não é o discípulo quem indica à Palavra o que ela deve dizer; antes ele é um ouvinte, que a acolhe na gratuidade, deixando-se interpelar por ela. Da mesma forma como no contato com a Palavra, também sua acolhida não se dá isoladamente, mas em comunidade. Neste particular, quanto bem têm feito os Círculos Bíblicos, os Grupos de Reflexão..

A vida cristã e todos os serviços eclesiais precisam estar fundamentados na Palavra de Deus e serem por ela iluminados. Para isso, é preciso estimular as iniciativas que permitam colocar a Bíblia nas mãos de todos, especialmente dos mais pobres.

A quarta urgência é: “Igreja, comunidade de comunidades”, pois, a fé cristã é eclesial, comunitária e se funda no mistério da Trindade e na utopia do Reino de Deus, que é uma realidade coletiva. Por sua vez, a forma de viver em comunidade está sujeita às condições de cada tempo e lugar. Hoje, além de comunidades territoriais (entre vizinhos), surgem comunidades ambientais ou afetivas, por eleição. Entretanto, mais importante que o modo de ser comunidade, é o imperativo da Igreja ser uma rede de comunidades, inclusive a Paróquia, pois, a vivência cristã em comunidade implica convívio, vínculos profundos, afeto, buscas comuns, solidariedade.

Neste particular, as CEBs, hoje, são sinal de vitalidade da Igreja, presença eclesial junto aos mais pobres, comprometida com uma sociedade justa e solidária. Mas, no contexto atual, também elas precisam se repensar. A paróquia, para a maioria dos fiéis, o único espaço de inserção na Igreja, precisa ser cada vez mais comunidade de comunidades vivas e dinâmicas.

A quinta urgência: “Igreja a serviço da vida plena para todos”, pois o Evangelho da vida está no centro da mensagem de Jesus; é através da promoção da cultura da vida que os discípulos missionários de Jesus Cristo testemunham verdadeiramente sua fé. A opção pelos pobres não é fazer deles um objeto de caridade, mas sujeitos de um mundo justo e fraterno. Para isso, a atuação no mundo da política é indispensável.

No cuidado e promoção da vida, está a preocupação com a ecologia, num planeta degradado, ameaça à viabilidade da vida humana e de seus ecossistemas. Um olhar especial merece a família, lugar e escola de fé, que precisa ser considerada um dos eixos transversais de toda a ação evangelizadora. Atenção aos migrantes, forçados pela busca de trabalho e moradia.

Na promoção e defesa da vida, cabe aos cristãos apoiar as iniciativas em prol da inclusão social e o reconhecimento das populações indígenas e africana. É preciso denunciar toda prática de discriminação e racismo e apoiar as reivindicações pela defesa de seus territórios, na afirmação de seus direitos, cidadania, projetos próprios de desenvolvimento e vivência, segundo suas próprias culturas. O empenho da Igreja na promoção humana e da justiça social exige educar a comunidade eclesial como um todo no conhecimento e na aplicação da Doutrina Social da Igreja.

É condição para os cristãos tornarem-se verdadeiros missionários da caridade, no seio da sociedade secular.


Fonte: Pascom

 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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