Nossas comunidades preparam-se para a Campanha da Fraternidade, cujo tema em 2015 é “Fraternidade: Igreja e Sociedade”.
Que Igreja queremos? A esta interpelação, encontramos pontos comuns nas conclusões do 11º Encontro Nacional da Pastoral da Juventude, realizado em Manaus (18-25/01) e da 1ª Reunião Ampliada (21-25/01), em preparação ao 14º Intereclesial de Londrina (22-27/01/2018).
Os jovens demonstram que “não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande ideia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva”. Por sua vez, este encontro é mediado pela ação da Igreja, ação que se concretiza em cada tempo e lugar, de acordo com o jeito de ser de cada povo, de cada cultura (doc 94, CNBB, 37).
Na Carta Final do encontro de Manaus, jovens e assessores da Pastoral da Juventude se perguntaram “como a Igreja, comunidade dos seguidores de Jesus, tem se posicionado em relação à realidade”? Sentiram “a necessidade de reafirmar a opção por uma Igreja pobre, para os pobres”, pois, “é através do pobre como sujeito de sua vida que continuamos construindo o Reino de Deus”.
Fomos chamados a nos colocar em missão partilhando a vida de muitas comunidades ribeirinhas, indígenas, rurais e nas periferias urbanas. Olhamos a Amazônia como lugar de vida e ensinamento de diversos povos. Afirmamos nosso apoio aos povos que vivem na Amazônia e manifestamos nossa indignação por toda situação de descaso político e social.
A atuação da Igreja na sociedade assume novos desafios conforme o tempo.
“Cada tempo e cada lugar têm um modo característico para apresentar Jesus Cristo e suscitar nos corações o seguimento apaixonado não a algo, mas à sua pessoa, que a todos convida para com Ele vincular-se intimamente” (doc 94, CNBB, 38).
Na Carta Final, participantes da reunião da Ampliada Nacional das Comunidades Eclesiais de Base, representando os 18 regionais da CNBB, “diante da complexidade do mundo urbano” e “da missão das CEBs de aprofundar a reflexão sobre as contradições da modernidade e apresentar caminhos de superação” e ser “fermento na massa, sinal de esperança e alimentar a espiritualidade de que outro mundo é possível”, definiram o tema do 14º Intereclesial: “CEBs e os desafios no mundo urbano” e o lema “Eu vi e ouvi os clamores do meu povo e desci para libertá-lo” (Ex 3,7).
A fé deve incidir em todas as dimensões da vida. A CF deste ano ajuda-nos a refletir que, enquanto força de transformação deste mundo à luz do Reino de Deus, anunciado e mostrado presente por Jesus Cristo, a Igreja pauta sua atuação em valores que tem seus pontos altos na dignidade da pessoa humana, no bem comum e na justiça social. A melhoria das condições de vida dos brasileiros ainda não se traduziu em melhorias nas condições estruturais de vida da população, sobretudo dos necessitados. Isso requer uma ação mais incisiva, pois envolve situações estruturantes fundamentais do direito à vida e ao reconhecimento da dignidade humana. Além disso, ferem o bem comum e a justiça social, gerando exclusão e violência (VP).
Papa Francisco recorda que a Igreja necessita de conversão e contínua reforma evangélica; “também o papado e as estruturas centrais da Igreja universal precisam ouvir este apelo a uma conversão pastoral; uma centralização excessiva, em vez de ajudar, complica a vida da Igreja e a sua dinâmica missionária” (EG 32).
O papa “aposta na mudança das estruturas da Igreja pela força do élan missionário, servindo as pessoas em comunidade, o que implica renovação interna da Igreja e diálogo com o mundo, e alerta para o risco da ideologização da pregação do evangelho” (Libânio).
Conversão pastoral significa precisamente isso: proximidade do sofrimento, das angústias, da vida das pessoas e daí falar-lhes palavras de conforto, de estímulo, de coragem, de esperança, a partir da fé em Jesus Cristo e na Igreja. Significa ainda uma Igreja mais pastoral que administrativa, que visa o diálogo com povo. Eis a conversão pastoral.
Somos convocados à conversão missionária; existem desorientação e vazio na sociedade, até em decorrência de decepções religiosas. Para o teólogo jesuíta, Victor Codina, a história nos ensina que as grandes transformações da Igreja, como também da sociedade, surgiram debaixo para cima, a partir de onde ordinariamente age o Espírito: desde os leigos, os pobres, as mulheres, a gente marginalizada. Cabe a todos renovar e reformar a Igreja a partir do Evangelho, convertendo-nos a Jesus de Nazaré e ao seu Reino.
Através de um decálogo e da atuação do papa Francisco, Codina destaca as características da Igreja hoje: Igreja das comunidades de base, da Bíblia devolvida ao povo, da profunda religiosidade popular dos pobres; de leigos comprometidos com a justiça e com a pastoral, de uma vida religiosa inserida entre os pobres, de numerosos mártires assassinados por defenderem a fé e a justiça.
Uma Igreja simples, próxima do povo, desclericalizada, voltada para o diálogo, saindo de si e assumindo o espírito missionário. Uma Igreja pobre, acolhedora, sincera, realista, que promove a cultura do encontro e da ternura. Uma Igreja dos pobres preocupada, sobretudo com a dor e o sofrimento humano, a guerra, a fome, o desemprego juvenil, os anciãos, onde os últimos sejam os primeiros, onde não se possa servir a Deus e ao dinheiro; Igreja profética, livre em relação aos poderes deste mundo.
Uma Igreja centrada em Cristo, que vai ao essencial, pede aos jovens que não se envergonhem de ser cristãos e coloquem Jesus no centro de suas vidas. Igreja da misericórdia de Deus e compaixão, que cura feridas de emergência, cuida da criação, na qual os sacramentos são para todos, não só para os perfeitos. Igreja que respeita os que seguem a sua própria consciência e as outras religiões; de portas abertas, atenta aos novos sinais dos tempos. Que considera o Vaticano II irreversível, quer evitar o centralismo, caminhar em meio às diferenças.
Uma Igreja jovem e alegre, fermento na sociedade, com a alegria e a liberdade do Espírito, com luz e transparência, sem nada a ocultar, com cheiro de lar, onde os jovens sejam protagonistas. Uma Igreja que sai às ruas e vai às margens sociais e existenciais, às fronteiras, aos que estão longe, mesmo sob o risco de sofrer acidentes; não teme uma Igreja minoritária e pequena, contanto que seja semente e fermento, abra caminhos novos e vá sem medo para servir, sai às sarjetas do mundo, uma Igreja em estado de missão.
Constatamos que a existência de comunidades cristãs fechadas em torno de si mesmas, sem relacionamento com a sociedadeem geral, com as culturas, com os demais irmãos que também creem em Jesus Cristo e com as outras religiões, contradiz profundamente a dinâmica do Reino de Deus e de uma Igreja em estado permanente de missão, (DGAE 80).
A sustentação da Igreja “em saída” só pode residir nos setores cujas raízes se encontram no Concílio Vaticano II(Pedro Ribeiro). Qualquer instituição, religiosa ou laica, que se aferra ao passado e não encarna as novas compreensões e linguagens corre sério risco de perder a adesão das pessoas. Portanto, “se não renovarmos as estruturas e a própria instituição o processo de mudanças, ao qual as ações se propõem perseguir, estará prejudicado, quando não estagnado” (DGAE 137).
A liturgia deste domingo nos impele a anunciar o amor de Deus, mediante a construção de uma sociedade mais justa e fraterna. A dimensão profética do nosso batismo nos é dada por iniciativa de Deus. Ninguém é profeta por escolha própria, mas porque Deus o chama. Tal como Jesus, somos chamados a viver nosso profetismo, segundo a autoridade mesma de Jesus, que abre para nós os caminhos (Mc 1,21-28). O profeta é suscitado por Deus, tomado dentre seu povo para transmitir o que o Senhor lhe comunicou (Dt 18,15-20). Paulo Apóstolo orienta o seguidor de Cristo a assumir sua causa adotando o estado de vida que deixe seu espírito mais livre para pensar em sua missão (1 Cor 7,32-35).
Somos Evangelizadores que não se fecham em exclusivismos nem impõem uniformidade segundo planos meramente humanos (EG 131). Estamos todos ao serviço do único e mesmo Evangelho!