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Gente de Opinião

Dom Moacyr

Iniciação à Vida Cristã



Nossa saudação a todos os pais que vivem a sua vocação crista no seio da família,assumindo com responsabilidade a educação de seus filhos através da compreensão, firmeza e dialogo. Aos pais e mães, presbíteros e religiosos, sobretudo, aos jovens, catequistas e leitores, queremos dirigir neste mês vocacional, uma reflexão sobre a Iniciação à Vida Cristã.

“Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade e, em última análise, de O conhecer, para que, conhecendo-O e amando-O, possa chegar também à verdade plena sobre si próprio” (Doc.Fides et Ratio)

Hoje um dos desafios de nossa pastoral é a transmissão da fé às novas gerações, incorporar as pessoas na comunidade cristã, celebrar consciente e profundamente os sacramentos e manter e alimentar a fé recebida e professada. Para muitos cristãos apresenta-se o desafio de uma re-iniciação na comunidade e na vida cristã, já que o batismo os iniciou “sacramentalmente” na fé (Pe.Luiz A.Lima). Paralelamente, o desafio também é a luta contra o fenômeno da descristianização de grande parte da população, fomentada pelo secularismo, consumismo materialista e ideologias anticristãs.

Iniciação à Vida Cristã é o processo pelo qual uma pessoa é incorporada ao mistério de Cristo, morto e ressuscitado, se torna discípula de Cristo e em seguida é admitida aos sacramentos do Batismo, da Crisma e da Eucaristia (Leão Magno, De Baptismo I,1). A Iniciação Cristã acontecia através de um método chamado catecumenato. Este método marcou os primeiros tempos da Igreja. Esta catequese levava o catequizando a fazer uma experiência profunda com Jesus Cristo e seu reino. Não era apenas uma doutrina, um ensino, um catecismo, era um verdadeiro encontro, uma experiência de vida que encantava e contagiava o catequizando, no amor a Deus e aos irmãos.

A Cartilha de Iniciação Crista da diocese de Londrina explica porque se dá a este processo o nome de Iniciação Cristã: porque era o inicio de uma caminhada, de um itinerário, com diversas etapas, através da qual o catequizando adquiria maturidade, profundidade, transformação de sua vida, tornando-se um cristão adulto, competente, participativo, alegre, um verdadeiro discípulo missionário. Tornava-se um cristão evangelizado. Iniciação cristã é o inicio de um caminho que leva a um processo de transformação pessoal, comunitária e social.

O catequizando se chamava de catecúmeno, porque a Iniciação Cristã acontecia através de um método chamado catecumenato, ou seja, era a catequese de preparação para os sacramentos do Batismo, Crisma e Eucaristia. O catecumenato ou Iniciação Cristã não era uma doutrinação, um ensino racional, mas envolvia o catequizando de tal maneira que ele se tornava evangelizado, discípulo, missionário. Era realizada em etapas, com ritos, celebrações, gestos, símbolos. Assim, o catequizando aprendia e celebrava os mistérios da fé. Mistério é aquilo que estava escondido e que foi revelado nas Sagradas Escrituras. Deus nos salva através da Palavra e de gestos, de acontecimentos, de sinais que são os mistérios. A Catequese de Iniciação Cristã, ou seja, o catecumenato, tinha ritos e celebrações que ajudavam o catequizando a celebrar e viver o que ele aprendia. Todo esse jeito de ensinar, celebrar e viver a fé chama-se de mistagogia.

É possível hoje uma experiência profunda de Deus mediante o contato vivo e pessoal com Jesus Cristo? Para começar é preciso uma mudança de foco. Sair da mentalidade de Iniciação Cristã como sinônimo de “preparação para receber sacramentos” para “o processo de quem quer tornar-se cristão”. E essa mudança é missão de todos nós: pais, padrinhos, introdutores, ministros ordenados, etc.(Estudos, CNBB 97: Iniciação à Vida Crista, um processo de inspiração catecumenal). Não basta estudar sobre o Cristianismo. É necessário um mergulho no mistério. Não se trata, portanto, de “aprender coisas”, mas de aderir a um projeto de vida (Resumo Doc.97,arquidiocese R.de Janeiro).

São seis os passos da iniciação cristã, cuja experiência foi vivida por Jesus e os apóstolos: Tudo começa com uma busca: “Que procurais?” (Jo 1,38). Essa busca gera um encontro: “Mestre, onde moras?.. Vinde e vede.” (Jo 1,38-39). O encontro produz conversão; a conversão leva à comunhão, ou seja, a compartilhar tudo. A comunhão impele à missão, a buscar que outros também façam a mesma experiência. A Missão leva à transformação da sociedade (At 4, 32-34).

A Iniciação Cristã começa por um encontro vivo, envolvente, atraente com Jesus Cristo. A própria catequese ajudava o catequizando a encontrar-se com Jesus e encantar-se por Ele. Este encontro era uma experiência, provocava um fascínio através do qual se iniciava uma grande amizade com Jesus. O catequizando queria ser como Jesus, imitar Jesus, seguir o jeito de Jesus, ter as atitudes de Jesus.

O catequizando se transformava, mudava de vida, tornava-se discípulo fiel. Adquiria o desejo de ser sempre melhor e por isso deixava o Espírito Santo ir cristificando toda a sua pessoa e a sua vida. O evangelho mudava a vida do catequizando. Ele era evangelizado, convertido, transformado em nova criatura.

A catequese de Iniciação Cristã criava o desejo e o gosto de ser melhor, de aprofundar-se, de crescer. As pessoas sentiam-se atraídas pela Bíblia, pela Palavra de Deus. Sua formação e sua catequese eram permanentes, não parava, pelo contrário, os catequizandos pediam e buscavam mais conhecimento para amar e servir melhor a Deus e aos irmãos. A condição primeira para o discipulado é o aprofundamento bíblico.

O engajamento na comunidade. A Catequese de Iniciação cristã conduzia o catequizando a amar a Igreja, envolver-se na comunidade, participar da vida da comunidade, vibrar com sua comunidade. A presença, o testemunho de vida e os trabalhos na comunidade eram frutos da catequese de Iniciação Cristã. Na verdade os catequizandos não fugiam, não se afastavam, não viraram as costas para a comunidade. Recebiam uma consciência comunitária, uma fé comunitária, um cristianismo comunitário. Permaneciam e perseveravam na comunidade e tinham profunda vivência litúrgica.

A catequese de Iniciação Cristã unia catequese e celebração, catequese e liturgia. Unia fé e oração, fé e vida sacramental. Nesta catequese a pessoa aprendia e celebrava os sinais e gestos litúrgicos, os ritos e hinos, os sacramentais e a religiosidade popular. Sacramentos, sacramentais e celebração eram chamados de: mistérios. Iniciar-se ou seja, conhecer e celebrar estes mistérios, aprender estas verdades era a introdução aos mistérios. Nada era realizado por obrigação mas por convicção, por maturidade na fé.

A Iniciação leva à missão, à evangelização, ao apostolado. Anunciar, pregar, divulgar para os outros até os confins da terra, as maravilhas do amor de Deus que salva a todos, era o grande resultado da Iniciação.

“Não podemos deixar de falar do que vimos e ouvimos” (Atos 4, 20). Este zelo e consciência missionária chegavam, às vezes, até ao martírio. A catequese de Iniciação deixava no coração dos catequizando a audácia, o desassombro, a criatividade e o ímpeto missionário.

O cristão iniciado testemunha sua fé onde quer que esteja. Assume compromissos e tarefas na comunidade eclesial e na sociedade civil. Luta contra todo o tipo de injustiça, combate a corrupção, promove com todo ardor a paz.

Dom Juventino Kestering, durante a III Semana Nacional de Catequese, reafirmou que a Catequese é caminho para o discipulado. Há muita gente deixando Jerusalém e caminhando para Emaús, tristes,desiludidos, abatidos, sofridos, machucados, desencantados, perdidos, quer entre adultos,jovens, crianças, idosos, nas periferias, nos centros urbanos, nos condomínios e prédios, no campo, na universidade. Poucos têm possibilidade de encontrar um caminhante, um catequista, um evangelizador que se aproxima, escuta, explica, aquece o coração e a mente, sinaliza para o rito gestual de Jesus de partir o pão e o reconhecer no caminho e ajudar a fazer a mesma experiência dos discípulos de Emaús. É necessário que cresça entre nós a compreensão de que discípulo não é um chamado especial, mas é o chamado de todos os batizados.

Fonte: Pascom/Arquidiocese de Porto Velho-RO

 

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