Sexta-feira, 31 de outubro de 2008 - 20h48
Lembramos hoje com saudades de nossos parentes queridos que já partiram. São Francisco sabia fazer desse momento um ato de louvor à "irmã morte", que nos toma pela mão no momento da "grande passagem”. Ele se sentia irmão de tudo e de todos; da água e da terra, da vida e da morte.
Neste Dia de Finados, estamos celebrando a Eucaristia em todos os cemitérios, inclusive no cemitério da Vila Candelária, pois são lugares sagrados, nos quais depositamos os corpos de nossos irmãos falecidos. Nossos mortos vivem: oramos por eles e com eles, sabendo que em Cristo, não há mortos, todos vivem. A celebração de Finados é a celebração da esperança, porque comungamos a história de vida de nossos antepassados e a certeza do encontro definitivo com Deus.
A Eucaristia é fonte de vida; proclamamos a ressurreição de Cristo, enquanto esperamos a sua volta. Professamos “creio em Jesus Cristo que foi crucificado, morto e sepultado e ressuscitou ao terceiro dia”. E “o Senhor de novo há de vir, em sua glória, para julgar os vivos e os mortos”.
A morte deixa um vazio na família e na comunidade. É a presença de alguém que amamos que desaparece para sempre. É uma voz orante que emudece; um testemunho de vida que se vai; à mesa, um lugar vazio e uma pessoa a menos nas comunidades, nos encontros, nos cursos, nas conversas. Tudo isso faz sofrer! Entretanto, apesar da dolorosa ausência, a fraternidade não termina; ao contrário, continua, embora de maneira diferente; expande-se e se fortalece na dimensão do Corpo Místico de Cristo. Mantém-se o diálogo, firma-se a amizade e cresce a caridade, na esperança que, na casa do Pai, toda a família se reencontre e os laços, que aparentemente se haviam desfeito, voltem a recompor-se, assim como os fios de um tecido que nada mais poderá desgastar ou rasgar.
Aquele que partiu, agraciado pela misericórdia purificadora de Deus e pelas orações da Igreja, torna-se cidadão da Jerusalém celeste e comensal do banquete do Reino. Nele temos um amigo solícito pela sorte dos outros irmãos e irmãs ainda peregrinos na terra. A oração de sufrágio, de nossa parte, é uma expressão de fé e comunhão fraterna. Deus que está na eternidade vê como presente nossa oração futura e mesmo passada. Pode por isso, por nossa intercessão, autocomunicar-se amorosamente ao homem e à mulher na situação de purificação que acontece por ocasião de nossa morte, pois no Reino não pode entrar nada de pecaminoso (Ap. 22,15).
Um dia “não haverá mais luto, nem grito, nem dor, porque as coisas anteriores passaram” (Ap. 21,4) e faremos parte, ressuscitados, daquela multidão imensa que ninguém conseguia contar “de todas as nações, tribos, povos e línguas... que cantavam em voz forte: A salvação pertence ao nosso Deus, que está sentado no trono e ao Cordeiro” (Ap. 7, 9-10).
No Dia de Finados é importante também ter presente, os sinais de morte que dificultam e até aniquilam a vida. Não podemos comungar com estruturas e interesses mesquinhos que geram ou patrocinam a morte. O Mercado mundial, mesmo em crise, continua sendo um mecanismo de exclusão e eliminação dos pobres. “Não há dúvida que estamos diante de um sistema de morte que cobra caro para se manter vivo”. E aqui estamos falando de “pobres, cujas posses são inferiores à sua condição ou posição social”. Os que vivem privados dos bens necessários para uma existência digna ou por estarem excluídos do sistema socioeconômico. Aqueles, cujo conceito de pobre torna-se insuficiente, necessitando enfatizá-la como extrema-pobreza.
(R.J.Martins). São segundo Gutierrez, "aqueles que morrem antes do tempo". E, de acordo com M. Fabri dos Anjos, trata-se da morte indireta, mas eficaz, uma situação de mistanásia. "A sobrevivência de quem vive em extrema pobreza é quase inexplicável. São cadáveres vivos, que vivem, cotidianamente, com a morte no meio deles" (Ellacuría, P. Richard).
A Campanha da Fraternidade deste ano tem nos ajudado a refletir e a assumir o desafio “Escolhe, pois, a vida”. O desenvolvimento da tecnologia levou a humanidade à tentação da onipotência e, ao mesmo tempo, a ciência e os “profissionais da ciência” a se transformarem no absoluto que norteia as condutas. Foi retirada a naturalidade da morte como se ela tivesse sido expropriada das pessoas. Há condutas de “ter que tentar de tudo até o último momento” independente da efetividade das medidas técnicas.
Há a ilusão de dominar a morte ao decidir sobre o “momento certo” de morrer. Há a tristeza de não estar junto dos entes queridos no momento da morte e acontece, também, a rejeição de estar junto aos pacientes terminais. Entretanto, não existe vida sem morte e a morte persiste sendo o grande desafio. Porém, morte é diferente do morrer. A morte é um fato, um acontecimento inevitável, inacessível à compreensão humana diante do qual cabe a resignação. O morrer, por outro lado, é um processo, uma vivência existencial incomunicável, insistentemente desafiante que pede uma atitude interior. Entretanto, assim como sucede com a dor, é uma vivência individual que pode ser amparada em uma interação com pessoas queridas e com a equipe de saúde. (TB/CF 115)
Ao longo da história, a morte sempre foi para todos os povos algo inevitável, fascinante e, ao mesmo tempo, indecifrável e ameaçador. O medo de morrer é natural, instintivo diante do desconhecido, da dor, da imobilização, do temor ao “nada” existencial. A negação da morte, por outro lado, é algo cultural, rejeição da realidade da vida, rejeição aos próprios limites. Esta negação se manifesta de diferentes formas nos dias de hoje, em nossa sociedade que valoriza a força, o prazer, a beleza da juventude, a vitalidade e a produtividade, enquanto a morte representa o sofrimento, a imobilidade, a impotência, o fracasso da ciência. (n.238)
“A morte é o termo da vida terrestre. Nossas vidas são medidas pelo tempo, ao longo do qual passamos por mudanças, envelhecemos e, como acontece com todos os seres vivos da terra, a morte aparece como o fim normal da vida. Este aspecto da morte marca nossas vidas com um caráter de urgência: a lembrança de nossa mortalidade serve também para recordar-nos de que temos um tempo limitado para realizar nossa vida”. Por outro lado, a morte é transformada por Cristo. “Jesus, o Filho de Deus, sofreu também Ele a morte, própria da condição humana”. “A obediência de Jesus transformou a maldição da morte em bênção”. Graças a Ele, a morte cristã tem um sentido positivo: “Para mim, viver é Cristo, e morrer é lucro” (Fl 1,21). Essa visão é expressa de forma admirável na Liturgia da Igreja: “Senhor, para os que crêem em vós, a vida não é tirada, mas transformada. E, desfeito nosso corpo mortal, nos é dado, nos céus, um corpo imperecível” (n. 239-240)
A morte é o grande momento da vida, seja para aquele que a experimenta, seja para quem está junto dele. Pode-se afirmar que cada pessoa tem o direito de viver a própria morte, quando ela se apresenta como inevitável, como oportunidade única e definitiva de tomar consciência do “si mesmo”. Isto é totalmente diferente de determinar a própria morte: é assumir o morrer. A vivência da morte é a oportunidade pessoal e intransferível de descoberta definitiva do valor da vida e de seu sentido último, cuja busca é própria da pessoa humana. No mundo descrito pela ciência, está ausente a indagação sobre o sentido último da existência humana. Isso não significa que este sentido não exista. Significa, sim, que a ciência não tem condições de atingi-lo, o que não lhe dá condições de negá-lo. Afinal de contas, a vivência pessoal da morte não pode ser analisada: ela acontece no mais íntimo da pessoa, portanto num plano radicalmente diferente daquele da lógica científica. (n.241-242)
Que a recordação da realidade da morte nesse dia não nos entristeça a ponto de obscurecer esta outra realidade tão importante: "é morrendo que se vive para a vida eterna". O Senhor acolha todos os falecidos no seu Reino de vida em abundância.
Fonte: Pastoral da Comunicação
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