Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Dom Moacyr

Juntos na esperança! - Por Dom Moacyr Grechi


 Juntos na esperança! - Por Dom Moacyr Grechi - Gente de Opinião

Estamos iniciando uma semana “iluminada pela fé na Ressurreição”: a Solenidade de Todos os Santos e a Comemoração de todos os fiéis defuntos nos ajudarão a refletir sobre a meta final da nossa peregrinação terrena.

O Dia de Finados desperta em cada um de nós a consciência para a realidade da morte, nos abre para o mistério da existência humana e nos ajuda a redescobrir a nossa identidade.

Juntos na esperança! - Por Dom Moacyr Grechi - Gente de Opinião

Celebraremos Missas em sufrágio de nossos entes queridos, os quais Deus chamou para junto de si; vamos rever seus rostos, que nos são familiares, citaremos seus nomes, na certeza consoladora de que eles “estão escritos no Céu” (Lc 10,20) e nas palavras de Jesus: “Quero que onde Eu estiver, estejam também comigo aqueles que Tu me confiaste, para que contemplem a minha glória” (Jo 17,24).

Recordar os nomes destes nossos irmãos na fé remete-nos para o sacramento do Batismo, que marcou para cada um deles, assim como para cada cristão, a entrada na comunhão dos santos (Bento XVI).

Juntos na esperança! - Por Dom Moacyr Grechi - Gente de Opinião

A fé na Ressurreição está vinculada ao diálogo entre Deus e o seu povo, que acompanha a caminhada do povo de Deus na história. Para papa Francisco, não causa admiração que um mistério tão grandioso e tão sobre-humano como o da Ressurreição tenha exigido todo o tempo necessário, até chegar a Jesus Cristo.

Ele pode dizer: “Eu sou a Ressurreição e a Vida” (Jo 11,25), porque nele este mistério não apenas se revela plenamente, mas também se concretiza e se realiza, tornando-se definitivamente realidade. A narração de sua morte e a do sepulcro vazio representa o ápice de todo esse caminho: é o acontecimento da Ressurreição, que corresponde à longa busca do povo de Deus, à procura de cada homem e da humanidade inteira.

Cada um de nós é convidado a entrar neste acontecimento. Somos chamados a estar primeiro diante da Cruz de Cristo, como Maria, como as mulheres, como o centurião; a ouvir o clamor de Jesus, o seu último suspiro, e finalmente o silêncio que se prolonga durante o sábado inteiro. Depois, somos chamados a ir ao túmulo, para ver que a grande pedra foi removida; para ouvir o anúncio: “Ele ressuscitou, já não está aqui” (Mc 16,6).

Aqui está a resposta. Aqui está o fundamento, a rocha. Não em persuasivos discursos, mas na palavra viva da Cruz e da Ressurreição de Jesus. É o que prega o Apóstolo Paulo: Se Ele não ressuscitou, a nossa fé é vazia e inconsistente. Mas dado que Ele ressuscitou, aliás, Ele é a Ressurreição, então a nossa fé está repleta de verdade e vida eterna.

O Dia de Finados é o momento de fortalecer a nossa fé no Cristo que assumiu a nossa morte. “Quando considero a curta duração da minha vida, absorvida pela eternidade que a precede e por aquela que lhe segue, o pequeno espaço que ocupo e que vejo, mergulhado na imensidão infinita de espaços que ignoro e que me ignoram, assusto-me e surpreendo-me por ver-me aqui, em vez de lá, agora ao invés de então. Quem me colocou? Pela vontade de quem este lugar e este tempo me foram destinados?”. Para então chegar à conclusão: “Sendo incapaz de eliminar a morte, a miséria e a ignorância, os homens decidiram não pensar sobre essas coisas” (Blaise Pascal). 

O nosso caminho de homens e mulheres é um caminho, às vezes, na noite profunda, às vezes na névoa, porque não sabemos ver bem, não sabemos escutar bem. A noite, a escuridão da fé, o silêncio de Deus são apenas aspectos do enigma do mal: somos criaturas frágeis e capazes de pecar, e o nosso pecado começa justamente com a não escuta de Deus (E.Bianchi).

O silêncio de Deus acolhido como nossa não escuta, como nossa surdez, faz parte do nosso caminho árduo, da tarefa de viver como humanos e como cristãos.

O mal, sob qualquer forma de sofrimento, não vem de Deus (Tg 1,13-15). O amor de Deus não deve ser merecido, e nenhum de nós pode pensar que tem em si mesmo um amor que Deus nega, detesta ou não vê, porque o Seu amor é maior do que o nosso coração e o nosso amor (1Jo 3,20).

A liturgia deste domingo está centrada na visita de Deus, no acolhimento e ternura sem preconceito. O Evangelho de Lucas nos ajuda a perceber, de modo mais claro, a misericór­dia de Jesus, ao narrar o seu encontro com Zaqueu. No desejo de ver o Senhor, Zaqueu é surpreendido pela aproximação de Jesus. Mais surpreendido, ainda, pelo fato de Jesus ir à sua casa, fazer comunhão na mesa de um pecador.

A misericórdia do ato de Jesus reside no fato de fazer aquilo que outros jamais fariam: sentar-se à mesa com um pecador, para desfrutar de sua hospitalidade. O gesto de amor gratuito de Jesus é o próprio acontecimento de salvação para Zaqueu e para sua família, excluídos socialmente por sua condição: “Hoje a salvação entrou nessa casa” (Lc 19,1-10).

Jesus veio procurar e salvar o que estava perdido. O Reino é para todos. Ninguém pode ser excluído. A opção de Jesus é clara: não é possível ser amigo de Jesus e continuar apoiando um sistema que marginaliza e exclui tanta gente. Denunciando as divisões injustas, Jesus abre o espaço para uma nova convivência, regida pelos novos valores da verdade, da justiça e do amor.

O Livro da Sabedoria convida-nos a refletir sobre o Egito, o país que uma vez havia escravizado os hebreus e agora hospedava com muita generosidade os seus descendentes, os comerciantes e cientistas judeus. Os egípcios continuam fazendo coisas abomináveis (Sb 11,22;12,2). Deus já os castigou no tempo de Moisés. Na verdade, “corrigiu-os”, pois Deus ama suas criaturas. Tem compaixão, fecha os olhos aos seus pecados, para que se arrependam. Deus é amigo dos humanos, “amigo da vida” (VP).

Paulo Apóstolo nos alerta: devemos estar prontos para o Dia do Senhor, vivendo ocupados com as obras justas que Deus nos confiou, sobretudo, o serviço fraterno (2Ts 1,11;2,2). A proximidade da vinda não nos dispensa da hospitalidade, transformando o mundo em moradia para nossos irmãos (Konings).

O mês de Outubro foi um avanço nas iniciativas em vista da unidade cristã: papa Francisco abriu o mês com uma visita histórica à Geórgia onde se encontra a Igreja ortodoxa mais conservadora.

O encontro entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa no final de setembro, em Chieti, foi significativo e tratou do primado do bispo de Roma e a sinodalidade da Igreja inteira. O documento, votado por todos os participantes, exceto pela Igreja da Geórgia, fortalece a única fé professada por todas as Igrejas, a compreensão comum a serviço da unidade, a comunhão episcopal e renova a vitalidade pastoral das Igrejas presentes em todo o planeta.

No início do mês, em Roma, papa Francisco rezou com o líder da Comunhão Anglicana, Justin Welby, na celebração do 50º aniversário do primeiro encontro entre um papa e um arcebispo de Canterbury desde a Reforma. Presentes, 36 bispos anglicanos e católicos de 19 países unidos pela Comissão Anglicana-Católica Romana para a Unidade e a Missão. Mais um passo anglicano-católico no diálogo teológico para uma missão conjunta.

Dia 31/10 e dia 1º de novembro, todas as atenções estarão voltadas para chegada do papa à Suécia para a comemoração Católico-Luterana dos 500 anos da Reforma de Lutero. Gesto “sem precedentes”, gesto histórico: “pela primeira vez em absoluto, os líderes da Igreja Católica e da Federação Luterana Mundial lançarão um olhar conjunto sobre a Reforma”. Na Catedral de Lund e no Estádio de Malmö, oração ecumênica comum, testemunhos de compromisso pela paz sob o lema: “Juntos na esperança”.

Na 4ª feira (02/11), convocadas pelo papa pela 3ª vez, as lideranças dos movimentos sociais se reúnem em Roma. O 3º encontro Mundial dos Movimentos Populares, dando continuidade ao encontro da Bolívia (2015), pretende aprofundar a partilha e o intercâmbio entre os movimentos populares e as Igrejas nacionais, com uma especial atenção no estímulo do início de processos semelhantes em nível local.

O Encontro coloca o foco da atenção naquelas massas populares que representam hoje a maioria da população mundial e lhes dá o direito de palavra, oferecendo um espaço para a escuta, partilha e auto-organização. Para encontrar os pobres, é preciso sair do “centro” do sistema econômico e ir na direção da sua periferia. A mensagem do Papa Francisco, portanto, é clara: colocar os mais pobres no centro e caminhar juntos.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoDomingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Pentecostes: Comunidades de rosto humano!

Pentecostes: Comunidades de rosto humano!

Palavra de Dom Moacyr Grechi – Arcebispo Emérito de Porto Velho

Páscoa do povo brasileiro - Por Dom Moacyr Grechi

Páscoa do povo brasileiro - Por Dom Moacyr Grechi

Hoje reafirmamos a nossa fé na ressurreição de Cristo; somos uma Igreja Pascal. Na oração do Credo, proclamamos a ressurreição dos mortos e a vida ete

Verdade libertadora! Por Dom Moacyr Grechi

Verdade libertadora! Por Dom Moacyr Grechi

  A Igreja, convocada a fortalecer o povo de Deus na atual conjuntura, é chamada a estar ao lado daqueles “que perderam a esperança e a confiança no B

Lugar seguro para viver! - Por Dom Moacyr Grechi

Lugar seguro para viver! - Por Dom Moacyr Grechi

  Diante do aumento da violência agrária que atinge trabalhadores rurais, indígenas, ribeirinhos, quilombolas, pescadores artesanais, defensores de di

Gente de Opinião Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)