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Gente de Opinião

Dom Moacyr

Justiça e misericórdia!


 

Estamos nos preparando para a chegada do novo arcebispo de Porto Velho, dom Roque Paloschi, pastor de coração amazônico, e para a proclamação do Ano Santo da Misericórdia, que se inicia no dia 8 de Dezembro, solenidade da Imaculada Conceição.
 
A data da abertura da Porta Santa na Basílica de São Pedro marca o cinquentenário do encerramento do Concílio Ecumênico Vaticano II, no dia 8 de dezembro de 1965, numa demonstração de que “a Igreja deve ser o lugar da misericórdia gratuita, onde todos possam sentir-se acolhidos, amados, perdoados e animados a viverem segundo a vida do Evangelho” (EG 114).
 
     Com Tomás de Aquino o papa invoca a Misericórdia como “a maior das virtudes”. “Um pouco de misericórdia torna o mundo menos frio e mais justo”: era 17 de março de 2013 quando o atual papa pronunciou essas palavras. Já em seu primeiro Angelus como Pontífice traçava assim uma das linhas-mestras do seu Magistério: a misericórdia (P.Suess).
 
Para o papa Francisco, a Misericórdia vai além da justiça: “É por isso que se diz que é próprio de Deus usar de misericórdia e é, sobretudo nisto, que se manifesta a sua onipotência” (EG 37). Na misericórdia Deus se faz pequeno como no presépio e na cruz: “Deus nunca se cansa de perdoar” (EG 3).
 
     Na Bula de proclamação do Jubileu, denominada Misericordiae Vultus, o papa motiva-nos para “um novo compromisso” de testemunharmos, “com mais entusiasmo e convicção, a nossa fé” e de nos tornamos “o sinal vivo do amor do Pai”. Há momentos em que somos chamados, de maneira ainda mais intensa, a fixar o olhar na misericórdia, para nos tornarmos sinal eficaz do agir do Pai (MV).
 
A misericórdia é definida como “o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro”. Como “a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida”. Como “o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado”.
 
A liturgia deste domingo tem como centro a atitude de misericórdia diante da necessidade dos irmãos, em sintonia plena com os ensinamentos e gestos de Jesus. Misericórdia que se traduz numafé total em Deus e na generosidade sem limites.
 
Jesus critica duramente a generosidade calculista que encontramos hoje. Em vez da prática da justiça social e da aplicação de leis que garantam a distribuição equitativa dos bens, a sociedade mantém um sistema de beneficência paternalista, que justifica lucros maiores (Mc 12, 38-44).
 
     Segundo o Relatório anual sobre a riqueza no mundo, o ano de 2015 tornou-se uma referência à marca da história recente. Isso porque a cada 100 pessoas no mundo, uma detém riqueza equivalente à soma das 99 restantes (IHu). É entre essas 99 que vamos encontrar a minoria excluída da qual fala Jesus no evangelho de hoje.
 
     Dos mais de 4,8 bilhões de habitantes adultos que vivem em mais de 200 países no planeta terra, 34 milhões concentram mais de 45% da riqueza do mundo, enquanto os 10% mais ricos monopolizam quase 90% de todos os ativos. Conforme aponta o economista Marcio Pochmann, “o Brasil não fez a reforma agrária e isso causa uma série de problemas estruturais; metade do território rural brasileiro pertence a 40 mil proprietários de terras”.
 
De acordo com a Oxfam no Brasil, entre as causas da desigualdade, que aumenta cada vez mais o fosso entre ricos e pobres, está o “fundamentalismo do mercado”, que promove um crescimento econômico que beneficia apenas uma elite pequena, deixando em situação ainda mais difícil os pobres; 70% da população mundial vivem em países onde a concentração de riqueza e a desigualdade aumentaram nos últimos anos; desde que a crise financeira teve início o número de bilionários do mundo dobrou.
 
A generosidade que Jesus preza é radical, é gratuita, pois ocorre sob os olhos de Deus, com quem não é possível fazer negócios escusos. Dá-se tudo sem pedir nada de volta. Assim, o exemplo da viúva que oferece a Deus tudo o que tinha. “Loucura, a vida não é assim!” Mas na loucura está a felicidade de amar sem restrição nem cálculo, como que para responder ao infinito amor de Deus para conosco (J.Konings).
 
A leitura do livro dos Reis fala-nos da predileção de Deus pelos pobres, desfavorecidos, explorados, por aqueles que são colocados à margem da vida. Numa época de escassez, seca e fome, o profeta Elias pede alimento à viúva de Sarepta, que desafiada a partilhar, ofereceu o único alimento que tinha para si e para seu filho; e esse escasso alimento foi multiplicado e nunca mais faltou comida à mesa (1Rs 17,10-16), demonstrando que os bens repartidos tornam-se fonte de vida e de bênção para nós e para todos aqueles que deles beneficiam.
 
     A Carta aos hebreus fala da prática do verdadeiro culto a Deus e do sacrifício eucarístico (Hb 9,24-28).
 
Cristo é o sacerdote que entrou no Santuário santificado por seu próprio sangue, no qual todos são santificados. Sendo homem verdadeiro, vivendo a fidelidade à sua missão até o fim, mostrando que Deus é amor, Jesus aboliu todas as maneiras de aplacar Deus por sacrifícios violentos e sangrentos.
 
O sacrifício de Cristo não se repete; só pode ser comemorado, atualizado sempre de novo em cada existência cristã, em cada celebração de sua eterna atualidade.
 
“Juventude construindo uma nova sociedade” é o lema do Dia nacional da Juventude a ser celebrado pela juventude arquidiocesana de Porto Velho no próximo dia 15 de novembro. Muitas dioceses já celebraram no último domingo de outubro.
 
O 30º DNJ tem como tema: “Fraternidade: Igreja e sociedade” em sintonia com a Campanha da Fraternidade desse ano, sob a inspiração bíblica: “Estou no meio de vós como aquele que serve” (Lc 22,27). O lema quer fortalecer a presença dos jovens cristãos na sociedade, na qual são chamados a serem construtores da paz, da vida nova, superando a cultura do consumo e do descarte.
 
Chamados a ser uma “Igreja em Saída”, os jovens querem que este dia seja um dia missionário, pois, a missão é permanente! São convidados os jovens das Comunidades paroquiais, ribeirinhas, urbanas, rurais, indígenas. Grupos de Jovens, dos movimentos, da Pastoral da Juventude, da Crisma e Catequese, da Renovação Carismática, Focolares, neocatecumenato. Jovens da Legião de Maria e Apostolado da Oração, aqueles que participaram da JMJ, jovens seminaristas, das congregações religiosas, estudantes e vocacionados, voluntários e jovens dos diversos segmentos e movimentos sociais.
     Aqui, na Amazônia, construindo o Reino de Deus os jovens reconhecem que “são chamados a se colocarem em missão partilhando a vida de muitas comunidades”.
 
No Encontro nacional da PJ de 2015 em Manaus, assumiram o compromisso de serem profetas da esperança e protagonistas na ação evangelizadora. “Muitos são os desafios e muitas são as possibilidades e brechas de testemunharmos o reinado de Deus acontecendo também nas sementes que são os nossos grupos de base”.
 
O Reino de Deus já está aí entre nós. “Nunca percam a esperança e a utopia, você são os profetas da esperança, são o presente da sociedade e da nossa amada Igreja e, sobretudo são os que podem construir a civilização do Amor” (Papa Francisco aos jovens do 11º ENPJ).

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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