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Dom Moacyr

Justiça Social e força da ressurreição!



     Neste Domingo da Ressurreição, nossas comunidades celebram a certeza de que “Cristo caminha a frente dos seus” (sequencia pascal). “Como se fosse um só e longo Domingo”, a alegria da ressurreição vai iluminar todo o tempo da Páscoa, prolongando-se por sete semanas, até a Festa de Pentecostes, que já está sendo preparada, de forma participativa, pela nossa Arquidiocese.
 
     A Ressurreição, centro da nossa fé, é o ponto alto da Semana Santa, por isso, hoje, “anunciamos a morte do Senhor, proclamamos sua ressurreição e aguardamos sua vinda definitiva”. Sim, Ele está vivo no meio de nós, reparte conosco o pão de sua palavra e do Corpo e Sangue e nos convoca a sermos sinais de sua Páscoa na nossa realidade.
 
     Através de uma santa caminhada, a liturgia da Palavra nos conduziu e nos ajudou a percorrer o caminho de Jesus. O Tríduo pascal, que constitui o coração e o fulcro de todo ano litúrgico, como também da vida da Igreja, começou na 5ª Feira Santa unindo eucaristia e sacerdócio. O Lava-Pés, sinal do “amor até ao fim” (Jo 13,1) orientou-se também para a Eucaristia. Sentamos à mesa com o Senhor, onde ele estabelece uma aliança conosco e nos ensina o verdadeiro sentido do amor: dar a vida pelos outros, numa atitude constante de serviço humilde e despojado.
 
     “E Ele amou-nos até ao dom total da sua vida, realizado na Sexta-feira Santa na Cruz, transformando então o suplício no mais perfeito, pleno e puro ato de amor” (papa Francisco). Na sexta da Paixão do Senhor, com a liturgia da Palavra, meditamos o IV cântico do Servo de Deus, a carta aos Hebreus com a passagem do Sumo Sacerdote e a Paixão segundo São João: Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado, a Igreja, comunidade de fé, contemplando a paixão do Senhor Jesus, celebra o seu próprio nascimento do lado de Cristo. A oração universal, a entronização da cruz como sinal de vitória e a comunhão com o Pão eucarístico consagrado na 5ª feira santa uniu-nos a todas as comunidades de fé, vigilantes junto à cruz do Senhor e da Virgem das Dores.
 
     Participando da procissão do Senhor Morto, refizemos a Via Sacra de Jesus. Seguimos seus passos repetindo “para quem havemos nós de ir, Senhor”? “Tu tens palavras de vida eterna” (Jo 6,68). Agora “devemos carregar aos ombros o mal do mundo e compartilhar o seu sofrimento, absorvendo-o profundamente na nossa carne, como fez Jesus, como fizeram os mártires” (papa Francisco).
 
Por que nos comovemos com a paixão sangrenta de Jesus, mas não fazemos o mesmo face à paixão dolorosíssima dos crucificados da história? (Leonardo Boff) Povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, os atingidos pelas enchentes, os doentes e trabalhadores, os desalojados, as vitimas do tráfico e das drogas e todos os que carregam pesadas cruzes e vivem a Paixão de Jesus em sua vida em comunhão com a Paixão dolorosa do mundo.
 
     Descobrimos novamente que Ele quer servir-Se de nós para chegar cada vez mais perto do seu povo amado. Toma-nos do meio do povo e envia-nos ao povo, de tal modo que a nossa identidade não se compreende sem esta pertença. A entrega de Jesus na cruz é apenas o culminar deste estilo que marcou toda a sua vida. Fascinados por este modelo, queremos inserir-nos a fundo na sociedade, partilhamos a vida com todos, ouvimos as suas preocupações, colaboramos material e espiritualmente nas suas necessidades, alegramo-nos com os que estão alegres, choramos com os que choram e comprometemo-nos na construção de um mundo novo, lado a lado com os outros. Mas não por obrigação, nem como um peso que nos desgasta, mas como uma opção pessoal que nos enche de alegria e nos dá uma identidade(EG 268-269).

     O Tríduo Pascal alcança o seu apogeu na celebração da vigília pascal: nesta Noite iluminada nos é dada a luz do Ressuscitado para que, em nós, “viva a esperança de quem se abre a um presente cheio de futuro: Cristo venceu a morte, e nós vencemo-la com Ele”.

 
     Velamos, pois, nesta única noite junto do túmulo selado de Jesus de Nazaré, tendo a consciência de que tudo quanto foi anunciado pela Palavra de Deus no curso das gerações se cumprirá esta noite, e que a obra da redenção do homem atingirá nesta noite o seu zênite. Velamos, portanto, e, embora a noite seja profunda e o sepulcro se encontre selado, confessamos que já se acendeu nela a Luz e ela caminha através do negrume da noite e da obscuridade da morte. É a luz de Cristo: Lumen Christi (J.Paulo II).
 
     Celebrando a Vigília Pascal neste Sábado Santo os símbolos são abundantes e de uma grande riqueza espiritual: o ritual do fogo e da luz que evoca a ressurreição de Jesus e a marcha de Israel no deserto guiado pela coluna de fogo; anunciamos a “luz do Cristo ressuscitado que resplandece, dissipando as trevas do coração e da mente”; escutamos as narrativas das ações salvíficas de Deus na história humana, desde a primeira criação até a nova criação em Cristo; passamos pelas águas do batismo, batizando novos filhos e renovando nossas promessas batismais; e, por fim, celebramos o ápice de sua Páscoa, dele que é o verdadeiro Cordeiro que tira o pecado do mundo e se entrega a nós nos sinais do pão e do vinho. De fato, esta é a noite de alegria verdadeira, pois o Cristo, ressurgindo, nos trouxe a luz.
 
     No domingo da Páscoa, na missa do dia, a liturgia convoca novamente os fiéis para o “dia que fez o Senhor”. Com alegria, cantos, sinos e Aleluia, acontece a procissão de Cristo ressuscitado, saudando Maria com o “Regina coeli”. A liturgia pascal destaca a meta para onde nos dirigimos seguindo Cristo e que Paulo expressa: “Sempre que comemos deste pão e bebemos deste cálice, anunciamos a tua morte Senhor, até que venhas” (1Cor 11,26).
 
Hoje, Jesus ressuscitado se faz presente em todas as comunidades com a sua força de vida e de liberdade. Cristo ressuscitou, caminha conosco e nos concede a paz. A sua glória somos nós: o homem vivo (Ireneu).
 
     Acolhamos a graça da Ressurreição de Cristo! “Cristo ressuscitado e glorioso é a fonte profunda da nossa esperança, e não nos faltará a sua ajuda para cumprir a missão que nos confia”.
 
A sua ressurreição não é algo do passado; contém uma força de vida que penetrou o mundo. Onde parecia que tudo morreu, voltam a aparecer por todo o lado os rebentos da ressurreição. É uma força sem igual. É verdade que muitas vezes parece que Deus não existe: vemos injustiças, maldades, indiferenças e crueldades que não cedem. Mas também é certo que, no meio da obscuridade, sempre começa a desabrochar algo de novo que, mais cedo ou mais tarde, produz fruto. Num campo arrasado, volta a aparecer a vida, tenaz e invencível. Haverá muitas coisas más, mas o bem sempre tende a reaparecer e espalhar-se. Cada dia, no mundo, renasce a beleza, que ressuscita transformada através dos dramas da história. Os valores tendem sempre a reaparecer sob novas formas, e na realidade o ser humano renasceu muitas vezes de situações que pareciam irreversíveis. Esta é a força da ressurreição, e cada evangelizador é um instrumento deste dinamismo (EG 275-276).
 
A vida cristã é fundamentalmente vida em Cristo pelo dom do Espírito, fruto da Páscoa. Deixemo-nos, portanto, renovar pela misericórdia de Deus, e que a força do seu amor transforme a nossa vida, tornando-nos instrumentos desta misericórdia. Sejamos homens e mulheres de fé que “acreditam que Deus nos ama verdadeiramente, que está vivo, que é capaz de intervir misteriosamente, que não nos abandona e caminha vitorioso na história”. A ressurreição de Cristo produz por toda a parte rebentos deste mundo novo (EG 278). Sim, um mundo novo é possível porque Jesus ressuscitou e caminha conosco.
 
     Que a Páscoa seja a passagem de um olhar indiferente para um olhar mais sensível às lutas e causas que exigem maior atenção. Que você tenha a certeza que a sua vida dará frutos, mas sem pretender conhecer como, onde ou quando; esteja seguro de que não se perderá nenhuma das suas obras feitas com amor, não se perderá nenhuma das suas preocupações sinceras com os outros, não se perderá nenhum ato de amor a Deus, não se perderá nenhuma das suas generosas fadigas, não se perderá nenhuma dolorosa paciência. Tudo isto circula pelo mundo como uma força de vida. O Espírito Santo trabalha como quer, quando quer e onde quer; e nós nos gastamos com grande dedicação, mas sem pretender ver resultados espetaculares. No meio da nossa entrega criativa e generosa, aprendamos a descansar na ternura do Pai (EG 278-280) e a lutar contra as desigualdades, pois, a Páscoa é uma convocação para que se estabeleça a Justiça Social como rota a ser palmilhada com determinação e inteligência (J.B.Herkenhoff).
 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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