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Dom Moacyr

Momento singular na historia da Igreja


Neste tempo da Quaresma e momento singular na historia da Igreja, somos chamados a intensificar nossas orações, em espirito de comunhão e penitencia.
 
O apelo à penitência é um instrumento de purificação e de renovação espiritual. Não é uma voz nova ao ouvido do cristão, mas um convite do próprio Jesus, convite que com frequência tem sido repetido pela Igreja através da voz da sagrada liturgia, dos santos Padres e dos concílios. Assim, há séculos que a Igreja suplica a Deus no tempo de quaresma: “a nossa alma que se mortifica pela penitência corporal viva junto de ti com o desejo de possuir-te” (João XXIII, C.E.Paenitentiam Agere,11).
 
A liturgia de hoje convida-nos a celebrar a reconciliação (Lc 15,1-3.11-32). Jesus mostra que o Pai sai em busca de quem está perdido e festeja porque é resgatado. Na reconciliação, o perdão é essencial (2Cor 5,17-21).
 
     A confissão é o encontro com o perdão divino, oferecido em Jesus e transmitido a nós mediante o ministério da Igreja. “Se o pecado é aquele que definimos como o verdadeiro pecado do mundo, a expiação não requer somente o ressarcimento material do dano; a expiação comporta muito mais: comporta a reeducação do pecador, a descoberta, de sua parte, de uma vida diversa; é a descoberta da alegria que aquela vida nova e diversa infunde em sua alma” (Martini). A confissão deve ser para os cristãos o início de um percurso penitencial que dura toda a vida. Procuremos, portanto, neste tempo o Sacramento da Penitência, acompanhado do exame de consciência, arrependimento dos pecados, propósito de mudança, confissão e absolvição.
 
“Somos embaixadores a serviço de Cristo” (v.20), portanto, enviados ao encontro dos nossos irmãos. Nesta Campanha da Fraternidade (13/2-24/3) vivendo o tema: Fraternidade e juventude, e o lema “Eis-me aqui, envia-me!” (Is 6,8), queremos ir ao encontro das comunidades, famílias, pessoas mais carentes. A Coleta nacional da solidariedade que acontece no Domingo de Ramos, próximo dia 24, deve nos encontrar, neste tempo quaresmal de comunhão, mais fraternos e solidários, partilhando e “colocando nossos bens em comum”.
 
     O amor na verdade é um grande desafio para a Igreja..  Só através da caridade, iluminada pela luz da razão e da fé, é possível alcançar objetivos de desenvolvimento dotados de uma valência mais humana e humanizadora. A partilha dos bens e recursos, da qual deriva o autêntico desenvolvimento, não é assegurada pelo simples progresso técnico e por meras relações de conveniência, mas pelo potencial de amor que vence o mal com o bem (Rm 12,21) e abre à reciprocidade das consciências e das liberdades (CV 9).
 
     Durante a Campanha da Fraternidade somos impulsionados a ir ao encontro da juventude. Ao mesmo tempo, a CF é um convite aos jovens para se deixarem encontrar por Jesus Cristo, Caminho, verdade e vida (Jo 14,6). É também uma preparação à Jornada Mundial da Juventude: jovens missionários, evangelizando jovens: Eis-me aqui, envia-me!
 
Esta Campanha busca motivar em todas as comunidades eclesiais e na sociedade, a conversão necessária para a urgência de se criar espaços de cultivo de subjetividades juvenis que escapem ao individualismo e descubram na vivência comunitária o germe do mundo novo, pautado na lei do amor. A descoberta do Evangelho proporciona abertura para convivência com o outro, para experiências grupais de comunhão mais ampla e para intercâmbio com o diferente. Os jovens participantes de nossas comunidades já têm dado testemunho da possibilidade dessa vivência naquilo que eles vêm produzindo em nosso meio. Isso precisa ser reconhecido e ampliado a fim de que nossos jovens sejam impactados pela força do Evangelho da Comunhão e da Vida.
 
     Desde a década de 90, diversos movimentos juvenis e expressões plurais de juventude vêm surgindo nas comunidades eclesiais, criando “tribos juvenis” católicas com espiritualidades, métodos, vivências de fé e de inserção social distinto. Os jovens católicos, representantes legítimos deste mundo contemporâneo, têm produzido um novo jeito de ser Igreja: não mais uniformizado, mas plural, dinâmico e aberto. Para dialogar com essa diversidade de expressões do universo juvenil, as dioceses estão organizando o Setor da Juventude, segundo as orientações do Documento 85, como resposta a uma necessidade de maior conexão entre as pluralidades (TB/CF,223-225).
 
     Os bispos da América Latina, reunidos em Medellín, propunham que, em todo o continente, se apresentasse cada vez mais o rosto de uma Igreja missionária, pobre e pascal, despojada dos meios de poder e que fosse lugar de comunhão aberta a toda humanidade (doc.Med.5,13).
 
     Retomando o espírito profético de Medellín, as orientações de Santarém, como Igreja de Jesus Cristo nessa região amazônica, assumimos algumas atitudes fundamentais e inspiradoras para a ação evangelizadora (encarnada e libertadora) na Amazônia: ser Igreja: discípula da Palavra, testemunha do diálogo, servidora e defensora da vida, irmã da Criação.
 
     Uma Igreja discípula tem consciência de que a Palavra de Deus se manifesta também no mundo e na diversidade das culturas. Na escola de Jesus, aprendemos a nos relacionar com todos atra­vés de um diálogo respeitoso, que não se impõe e nem exclui nin­guém. Como Paulo, somos chamados a nos tornar ianomâmi com os ianomâmi, seringueiros com os seringueiros..., “fazendo-nos tudo para todos a fim de salvar a todos” (lCor 9,20.22).
 
     A Igreja, discípula do Espírito de Deus, se torna parecida com Jesus Cristo em sua vida, palavra e ação. Assume a misericórdia e a compaixão de Cristo, em relação a todo ser vivo e à vida ameaçada, como principio de toda a ação evangelizadora, e retoma a convicção fundamental de que Deus não a quis para si mesma, mas em função do reino da vida, e da paz. Só o diálogo, paciente e humilde, baseado na aproximação pessoal, ajuda a superar o fanatismo e o proselitismo.
 
Cremos que toda a criação, sacramento vivo da presença e do amor de Deus, participa da redenção de Cristo que, por sua Páscoa, recon­cilia o universo. De acordo com a revelação de Deus, a Igreja recebe do Criador e do Cristo, “primogênito de toda criatura”, a missão de ser, junto com toda a humanidade, Irmã da Criação. Porisso, considera como parte da sua opção fundamental a salvaguarda de toda a criação, e chama todos os homens e mulheres a cuidarem do Planeta como sua casa comum (Doc Igreja se faz carne..19-37).
 
     “Importa encarnar a Igreja no chão concreto da Amazônia”, reafirmaram os bispos no 10º Encontro em Santarém (2012).
 
     No caminho de “Santarém”, novamente nos lançamos nas estradas e rios, nas aldeias e quilombos, nos interiores e periferias das cidades, nos grandes centros urbanos desta imensa Amazônia, abraçando a Missão que nos foi confiada, comprometidos com toda a criação e na busca de sermos autênticas comunidades de fé alimentadas pela Palavra e pela Eucaristia. Nesta hora da história o nosso coração às vezes, se angustia por causa de tantas dificuldades que nos desafiam, aparentemente insuperáveis; no entanto, continuamos a ser chamados e enviados como missionários e profetas para alimentar a esperança, como âncora firme e segura (Hb 6,19), de um mundo novo, inaugurado por Jesus Cristo Crucificado e Ressuscitado.
 
                Neste momento singular na historia da Igreja, percebemos que “que a Igreja Católica se perpetua com perene juventude e é bandeira levantada sobre as nações (Is 11,12), fonte de viva luz e de suave amor para todos os povos” (João XXIII, C.E. Ad Petri Cathedram, 1).

     Procurando os traços da juventude mais fervorosa da Igreja e todo o esplendor do seu rosto, intensifiquemos nossas orações pelos cardeais reunidos em Conclave (E.A. Sacrae Laudis, 27). Para essa ocasião recordemos o pedido do então Cardeal Ratzinger, em 2005, antes do Conclave que o elegeu Sucessor de Pedro: “Peçamos com insistência ao Senhor que (...) nos ofereça um pastor segundo o seu coração, um pastor que nos guie ao conhecimento de Cristo, ao seu amor, à verdadeira alegria”.

 
     Não pedimos somente orações aos nossos caríssimos filhos, pedimos-lhes também aquela renovação da vida cristã que, mais do que as próprias orações, é capaz de nos tornar Deus propício, a nós e aos nossos irmãos. “Revesti-vos de sentimento de compaixão, da caridade, que é o vínculo da perfeição. E reine nos vossos corações a paz de Cristo, à qual fostes chamados em um só corpo”(Cl 3,12 -15/João XXIII;C.E. Ad Petri Cathedram, 75).

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