O domingo da Alegria é uma referencia ao 3º domingo de adventoe motivação para fortalecer a fé, renovar a esperança e permanecer no amor e na alegria de ser cristão: “Fiquem sempre alegres no Senhor! Repito: fiquem alegres... O Senhor está próximo!” (Fl 4,4-5), este é o convite do apóstolo Paulo à comunidade cristã.
O Evangelho de hoje (Lc 3,10-18) fala de mudança de vida e construção de uma nova história. João prepara o povo para a vinda do Senhor. Lucas começa a falar da missão de Jesus apresentando os requisitos básicos contidos na pregação do Precursor. A nova história e a nova sociedade nascem da pregação de João e recebem pleno acabamento na prática de Jesus.
“O que devemos fazer?” Essa pergunta aparece três vezes no evangelho deste domingo. Sua resposta traça um programa de vida para os cristãos em suas comunidades. O Natal que está para chegar marca a presença de Deus em nosso meio, “pequeno resto” que procura manter-se fiel ao Senhor. É conosco que Deus quer construir a nova história e a nova sociedade (VP).
A certeza da nova visita de Deus é motivo de alegria, é força para construir novos relacionamentos: “que a bondade de vocês seja notada por todos”. João Batista indica como construir novas relações em vista da vinda do Senhor.
Estamos iniciando hoje a Novena do Natal, uma das grandes riquezas na nossa caminhada pastoral. “Jesus está presente em meio a uma comunidade viva na fé e no amor fraterno” (DAp 256). Ali Ele cumpre sua promessa: “Onde estão dois ou três reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles” (Mt 18,20).
Há famílias e Comunidades que iniciaram antes a Novena, valorizando este momento como “uma forte expressão de fé” (DAp 258) e lugar de encontro com Jesus Cristo e com os irmãos.
Nossas CEBs são lugar de vivência fraterna, ao redor da Palavra e da Eucaristia, como um ensaio concreto de relações novas a serviço dos mais pobres e como fonte de uma mística capaz de alimentar a resistência diante da lógica do lucro e da dominação (TB/CF 2008, 333).
No advento, a Igreja vive a experiência de evangelização e a concretização do Reino, anunciado por Jesus. A Coleta da Campanha para a Evangelização que acontece hoje é expressão da fraternidade de pessoas que tem responsabilidade não somente sobre si, mas sobre o mundo inteiro, pelas suas opções, suas atitudes, sua consciência e seus compromissos. Significa a abertura de um caminho para canalizar a solidariedade de todos os católicos no sustento da missão da Igreja em nosso País. Com isso, segue o exemplo das primeiras comunidades, às quais Paulo recomendava que os que têm “se enriqueçam de boas obras, deem com prodigalidade, repartam com os demais” (1Tm 6, 1; e 2Cor 8, 12).
O Natal, que estamos prestes a celebrar, marca a presença definitiva do Deus pobre que se alia aos pobres para construir com eles a nova sociedade. E como construir a nova história? O evangelho deste domingo é um pequeno “programa de vida” para a comunidade cristã: viver a partilha, a justiça e o poder-serviço.
O nascimento do Deus pobre desmascara a sociedade que se regula pela ganância, pela injustiça e pelo abuso de poder. Quais atos de partilha, justiça e serviço podemos realizar, tendo em vista a vinda do Senhor? Diálogo, união, equilíbrio, fraternidade e discernimento geram alegria e levam as comunidades e famílias ao crescimento contínuo.
Ser cristão é processo dinâmico de ajustamento ao projeto de Deus.
Sou cristão porque fui conquistado por uma criança com membros frágeis que foi deitada em um cocho, pois não havia espaço para ela em sua sociedade, testemunha o teólogo Martin Dreher, professor do Programa de Pós-Graduação em História da Unisinos. Não nasceu nem no palácio de Augusto, nem no palácio de Herodes, mas entre os animais. Teve pai e mãe, mas teve que nascer na margem da margem, em terra ocupada por estrangeiros, em aldeia insignificante, reverenciada por gente da margem: pastores e pastoras fedorentos e astrólogos nada ortodoxos. Sou cristão porque fui conquistado pelos membros frágeis do crucificado do Gólgota que me ensinou a ter esperança e a depositá-la no Reino de Deus, utopia que buscou concretizar em sua existência, lembrando as aves do céu, as raposas em seus covis, os lírios do campo, a semente que cresce enquanto dormimos, partilhando cinco pães e dois peixes e conseguindo saciar quem tinha fome, que soube devolver à mãe o único filho, amparo na velhice, que soube devolver dignidade a excluídos. Com base nesses sinais, manifesto minha esperança no Reino de Deus e procuro comunicá-los, mesmo que de maneira imperfeita e provisória. Estou convicto de que eles são mais importantes do que ciência e técnica e que um mundo secularizado carece, desesperadamente, deles.
No evangelho de hoje, João Batista não propõe exercícios de penitência, jejum, nem sacrifícios. Nada disso. A conversão que ele apresenta é uma mudança no estilo de vida, para assim construir um mundo novo.
“O que devemos fazer?” As respostas que dá João são as trilhas novas para a comunidade percorrer e ir assim ao encontro do Messias que já está chegando!
A primeira: “Quem tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo!”. Cerca de 2% dos mais ricos do Planeta possuem mais da metade da riqueza mundial. Diante desta escandalosa notícia, é atual o apelo do Batista pela partilha. Ela é o primeiro requisito para a construção da nova história e da nova sociedade: partilhar os bens da criação, só assim reinará a alegria para todos.
A segunda trilha: “Não cobrem nada além da taxa estabelecida”. João está se dirigindo aos cobradores de impostos, que, no tempo de Jesus, exploravam o povo, enriquecendo fácil e ilicitamente. ”A América do Norte detém 34% da riqueza mundial; a Europa:30%; Ásia-Pacífico: 24%; a América Latina: 4%; o resto da Ásia-Pacífico, 3%; a China também 3%; e a África e a Índia, 1% cada uma”. Cabe-nos perguntar o porquê de tanta diferença. Não estaremos diante de outros cobradores de impostos, agentes de injustiça deste século?
A terceira resposta é dirigida aos soldados: “Não maltratem ninguém; não façam acusações falsas e fiquem contentes com o salário de vocês”. Os soldados eram aqueles que acompanhavam aos cobradores de impostos e faziam uso de seu poder para roubar o povo. João condena o abuso de poder, a dominação pelo medo ou mentira. Não são caminhos que acolhem o projeto do Messias. Por isso, ele exorta a deixá-los, e sua voz chega até nós hoje, questionando nossas relações. São de poder ou de serviço? (Konings/Mosconi)
Portanto, mudança de vida e construção de uma nova história são possíveis para quem sabe partilhar. Vimos que a partilha é o primeiro requisito para a construção da nova história e da nova sociedade: partilhar os bens da criação. Note-se que não se trata de esmola: quem tem duas túnicas reparte pela metade o que possui, dando uma a quem não tem. João mostra assim como surge a nova sociedade e a nova história, completamente diferente da “história oficial”, baseada na ganância e no acúmulo de bens em detrimento dos desfavorecidos.
A resposta de João mostra qual é o segundo requisito fundamental para entrar na nova sociedade: “Vocês não devem cobrar mais do que a taxa estabelecida”. Sua missão, porém, é preparatória. Para os cobradores de impostos, converter-se significa entrar na justiça do Reino, não se limitando à justiça da “história oficial”. Isso se torna claro se olharmos a conversão de Zaqueu: ele devolve, aos que explorou, mais do que era estipulado.
O terceiro grupo de pessoas que se apresentam a João são os soldados de Herodes Antipas, que acompanhavam os cobradores de impostos. Quando estes não conseguiam roubar o povo mediante pressões verbais, utilizavam-se da força militar da polícia. Os abusos de poder não levam a construir sociedade e história novas.
O programa de vida apresentado na pregação de João suscitou expectativas, sua resposta identifica-o como precursor da grande novidade. O Messias é Jesus. É ele quem vai realizar, com o povo que o segue, a nova história e a nova sociedade. O programa de vida de João é preparação para a acolhida do Messias.
Fonte: Pascom