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Dom Moacyr

NÃO AO SISTEMA QUE EXCLUI! - Por Dom Moacyr Grechi


 
Acompanhando de perto a situação de nossos irmãos na Itália, o sofrimento das famílias que tudo perderam no terremoto do dia 24, tantas mortes, pessoas desaparecidas, hospitalizadas, cidades destruídas, constatamos que em meio à tragédia, a força da vida toma a forma de solidariedade, aqui e no mundo todo.

Ao encerrar o mês de agosto, aproximamo-nos do desfecho do processo de impeachment, caminhando para um retrocesso das politicas sociais e “um perigoso aprisionamento da democracia”. No Senado, dos 81 senadores que estão julgando, mais da metade são réus ou investigados por outros crimes.

NÃO AO SISTEMA QUE EXCLUI! - Por Dom Moacyr Grechi - Gente de OpiniãoO povo, no entanto, não está anestesiado e “nem a verdade aprisionada na injustiça” (Rm 1,18). Muitos são os sinais de indignação, de resistência, que não compactuam com o poder derrotado pelo voto e lutam em favor da cidadania. Comunidades se reúnem, movimentos dialogam, fóruns sociais são agendados para que a democracia não seja jogada fora e muito menos o poder do voto.

A Igreja, através da CNBB, conclama a população, legítima autora da Lei da Ficha Limpa, a defendê-la de toda iniciativa que vise ao seu esvaziamento. Na Nota “Em defesa da Lei da Ficha Limpa”, assinada no dia 24 de agosto, reafirma a importância da Lei 135/2010, rejeitando toda e qualquer tentativa de desqualificá-la. Resultado da mobilização popular que coletou 1,6 milhões de assinaturas, a Lei da Ficha Limpa expressa a consciência da população de que, na política, não há lugar para corruptos.

Tendo sua constitucionalidade confirmada pelo Supremo Tribunal Federal que, em 2012, votou favoravelmente pelas Ações Declaratórias de Constitucionalidade (ADC 29 e 30), a Lei da Ficha Limpa insere-se no rol das leis mais importantes no combate à corrupção eleitoral e na moralização da política. Respaldada por grandes juristas e aprovada pelo Congresso Nacional, ela atesta a sobriedade de quem a propôs de forma que atacá-la ou menosprezá-la é enfraquecer a vontade popular de lutar contra a corrupção.

A Nota expressa ainda que a CNBB recebeu com perplexidade a decisão do STF que reconhece a exclusividade das Câmaras Municipais para julgar as contas dos prefeitos em detrimento da competência dos Tribunais de Contas. Na prática, isso significa o fim da inelegibilidade dos executivos municipais mesmo que tenham suas contas rejeitadas pelo Tribunal de Contas. Trata-se de um duro golpe contra a Lei da Ficha Limpa o qual favorecerá o fisiologismo político e a corrupção, considerando o poder de barganha que pode haver entre o executivo e o legislativo municipais.

No documento encaminhado às autoridades e sociedade do Peru, Bolívia e Brasil, cerca de 120 representantes dos movimentos, organizações da sociedade civil, pastorais, líderes religiosos e lideranças de comunidades tradicionais e povos indígenas, reunidos de 23 a 25 de agosto, em Guajará Mirim/RO, após o estudo dos grandes projetos desenvolvimentistas e seus impactos negativos na vida das comunidades, povos e ao meio ambiente, reafirmam o compromisso em Defesa da Vida, porque “nós somos guerreiras e guerreiros e não vamos deixar que matem a mãe Terra” e nos unimos em Aliança para impulsionar os processos de informação, de conscientização, de mobilização e de fortalecimento das práticas milenares, que defendem o Bem Viver como alternativa e solução para enfrentar as mudanças climáticas decorrentes deste modelo econômico excludente.

Na ocasião, denunciaram “as várias faces desse desenvolvimento perverso, que produz o Ecocídio, o Etnocídio e o Genocídio da mãe terra e alimenta o capitalismo selvagem, mercantilizando os rios, as florestas, o ar e a terra mãe, expulsando as filhas e os filhos da terra em favor dos projetos, que produzem morte cultural, econômica, social e organizacional dos povos indígenas, comunidades tradicionais, campesinos, comunidades de matriz africana e comunidades urbanas.

O tema da liturgia desta última semana de agosto está centralizado na lógica do Reino: espaço de irmãos, de fraternidade e comunhão.

No Evangelho de hoje, Jesus critica o conceito de honra baseado no orgulho e ambição, que geram aparências de justiça, mas escondem os maiores contrastes sociais (Lc 14,1.7-14).

A honra depende de Deus, o único que conhece a situação real e global do homem; essa honra supera a crença que ser humano pode ter nos seus próprios méritos. Jesus mostra que o amor verdadeiro não é comércio, mas serviço gratuito, pois o pobre não pode pagar e o inimigo não pode merecer. Só Deus pode retribuir ao amor gratuito (BP).

Gratuidade do amor tão bem expresso pelos catequistas de nossas comunidades. A eles nossa homenagem neste 4ºdomingo de Agosto, dia das vocações Leigas. Dia de todos “os cristãos que formam o povo de Deus, pelo batismo, participam das funções de Cristo e realizam, segundo sua condição, a missão de todo o povo cristão na Igreja e no mundo”. Cristãos que são “ homens e mulheres da Igreja no coração do mundo e do mundo no coração da Igreja” (LG 31,Puebla 786,DAp 209).

Catequistas e leigos inseridos em todos os ministérios são protagonistas da nova evangelização, da promoção humana e da cultura cristã (Conf.SD 97). Na mensagem da CNBB aos catequistas de todo o Brasil, dom José Antônio Peruzzo, agradece tanta dedicação e lembra os desafios diante do chamado para evangelizar por meio da catequese.

Catequese é um caminho, um discipulado, um encontro que perdura e atravessa os anos. Catequista, neste dia louvamos ao Senhor por seu ministério. Que Deus lhe multiplique em bênçãos a bênção que é Você para a nossa Igreja!

Na próxima semana, vamos iniciar o mês de setembro com a celebração do 2º Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação (01/09; quinta-feira). Que nesse dia o apelo de papa Francisco ecoe em nosso coração: “Queria pedir a quantos ocupam cargos de responsabilidade em âmbito econômico, político ou social, a todos os homens e mulheres de boa vontade: sejamos guardiões da criação, do desígnio de Deus inscrito na natureza, guardiões do outro, do ambiente; não deixemos que sinais de destruição e morte acompanhem o caminho deste nosso mundo”!

No próximo domingo, Madre Teresa de Calcutá será inscrita no álbum dos Santos (04/09). Foi o que anunciou o Papa em março de 2016. A Fundadora das Missionárias da Caridade absorveu o estilo de vida bengali e se dedicou aos pobres e doentes de hanseníase trabalhando nas ruas de Calcutá sempre com seu sari branco debruado de azul, a imagem com que o mundo se habituou a vê-la. A Congregação cresceu rapidamente e hoje conta com quase 5 mil religiosas em mais de 130 países, nos quais mantém cerca de 700 casas dedicadas a ajudar os mais desfavorecidos.

Com o lema “Este sistema é insuportável: exclui, degrada e mata” e o tema “Vida em primeiro lugar”, o 22º Grito dos Excluídos está sendo preparado em todo o Brasil, pois o Grito é um processo e não só um evento que acontece no dia 7 de setembro.

NÃO AO SISTEMA QUE EXCLUI! - Por Dom Moacyr Grechi - Gente de Opinião

Há 22 anos, o Grito dos Excluídos tem levado milhares de pessoas às ruas para denunciar uma série de violações. As manifestações acontecem na Semana da Pátria, com ponto máximo no dia 7 de setembro, Dia da Independência do Brasil.

Nasceu a partir da Campanha da Fraternidade de 1995, cujo tema era “Fraternidade e os excluídos” e o lema: Eras tu, Senhor?

O lema deste ano inspira-se no discurso do Papa Francisco durante o IIº Encontro Mundial com os Movimentos Populares, ocorrido na Bolívia, em 2015. Nele, o Papa conclama a promovermos mudanças que transformem este sistema capitalista depredador para uma economia a serviço da vida e dos povos.

O desafio do Grito é estar no meio do povo como espaço de organização e mobilização, como um pequeno grande professor que contribui levando informação e formação e incentivando a participação popular, condição essa para construirmos as mudanças.

O Grito dos Excluídos nasceu da necessidade de dar voz ao povo, às minorias e à população historicamente excluída pelo Estado, que opta por uma engrenagem de negociações que somente obedecem aos interesses dos que já têm. Assim, os direitos à saúde, moradia, transporte, trabalho, informação e vida digna ficam comprometidos e aumenta a desigualdade social no país.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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