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Dom Moacyr

Natal e a estrela da esperança



Capazes de construir um Natal Fraterno na Comunidade, nossa Novena do Natal em Família nos direciona à mais bela das experiências: a festa da fraternidade: "Nisso conhecerão todos que sois meus discípulos se tiverdes amor uns pelos outros" (Jo 13,34-35).

As verdadeiras estrelas da nossa vida são as pessoas que souberam viver com retidão. Elas são luzes de esperança.

Cristo é a luz sobre todas as trevas da história. Mas, para chegar até Ele precisamos também de luzes vizinhas, de pessoas que dão luz recebida da luz d'Ele e oferecem, assim, orientação para a nossa travessia. E quem mais do que Maria poderia ser para nós estrela de esperança? Ela que, pelo seu "sim", abriu ao próprio Deus a porta do nosso mundo; que Se tornou a Arca da Aliança viva, onde Deus Se fez carne, tornou-Se um de nós e estabeleceu a sua tenda no meio de nós (Jo 1,14). Através de seu "sim", a esperança dos milênios tornou-se realidade, entrou neste mundo e na sua história.

Quando Maria, cheia de santa alegria, atravessou apressadamente os montes da Judéia para encontrar a sua prima Isabel, tornou-se a imagem da futura Igreja, que no seu seio, leva a esperança do mundo através dos montes da história. Sobre o nascimento no presépio de Belém brilhou o esplendor dos anjos que traziam a boa nova aos pastores, mas, ao mesmo tempo, a pobreza de Deus neste mundo era demasiado palpável.(SS n.47-50)

A paz na Terra é o reflexo da glória de Deus e fruto da vivência do amor como Jesus nos ensinou. Há, no entanto, um desafio constante para os que se empenham em promover a paz, pois a miséria e a violência marcam a história da humanidade.

A miséria tem sua fonte no egoísmo, que gera a cobiça doentia, causando a desordenada concentração de riquezas nas mãos de uma minoria e relegando à condição de excluídos contingentes cada vez maiores da humanidade. A injusta distribuição de bens, com a inaceitável desigualdade social, questiona nossa consciência. É triste constatar os enormes bolsões de miséria que escondem milhões de cidadãos à espera de quem lhes estenda as mãos. Como ter paz quando tantos irmãos sofrem assim?
  
Natal é tempo de alimentar a esperança. A crise atual não é apenas financeira: é uma crise ambiental, energética e de humanidade. O sistema capitalista de mercado está prestes a esgotar sua capacidade de produzir riqueza. Ter esperança não é desconhecer o que está acontecendo ao nosso redor, nem as graves dificuldades, aparentemente sem saídas, com as quais nos deparamos, porque Deus em seu desígnio de amor não deixa ninguém desamparado.

A nossa esperança é sempre essencialmente também esperança para os outros; como cristãos, devemos nos perguntar: o que posso fazer a fim de que nasça também para meus irmãos a estrela da esperança? Quando alguém experimenta na sua vida um grande amor, conhece um momento de redenção que dá um sentido novo à sua vida. Mas, rapidamente se dará conta também de que o amor que lhe foi dado não resolve, por si só, o problema da sua vida. É um amor que permanece frágil. Pode ser destruído pela morte.

O ser humano necessita do amor incondicionado. Se existe este amor absoluto com a sua certeza absoluta, então o homem está redimido, independentemente do que lhe possa acontecer naquela circunstância. É isto o que se entende, quando afirmamos: Jesus Cristo redimiu-nos. Através d'Ele tornamo-nos seguros de Deus, de um Deus que não constitui uma remota "causa primeira" do mundo, porque o seu Filho unigênito fez-Se homem e d'Ele cada um pode dizer: "Vivo na fé do Filho de Deus, que me amou e Se entregou a Si mesmo por mim" (Gal 2,20).
  
Quem não conhece Deus, mesmo podendo ter muitas esperanças, no fundo está sem esperança, sem a grande esperança que sustenta toda a vida (Ef 2,12). A verdadeira e grande esperança do homem, que resiste apesar de todas as desilusões, só pode ser Deus, o Deus que nos amou, e ama ainda agora "até ao fim", "até à plena consumação" (Jo 13,1 e 19,30). Quem é atingido pelo amor começa a intuir em que consistiria propriamente a vida e o significado da esperança. (SS n. 48,26-27)

Deus nos encoraja para o compromisso com a defesa e a promoção da vida, superando toda violência, aprofundando a justiça e a solidariedade e construindo a verdadeira paz.
  
Um exemplo de luta que não pode parar é a 4ª Mobilização Nacional de coleta de assinaturas para o projeto de lei de iniciativa popular sobre a vida pregressa dos candidatos: a Campanha Ficha Limpa, iniciada no dia 09 de dezembro pelo Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE). Desde abril, quando foi lançada a Campanha, o MCCE conseguiu coletar mais de meio milhão de assinaturas. O objetivo é alcançar 1,3 milhão de assinaturas. Como em Rondônia, os comitês 9840 são poucos, as secretarias paroquiais, a Comissão Justiça e Paz e o Centro Pastoral continuam recebendo assinaturas.
  
É chegado o tempo da promoção efetiva da cidadania e da dignidade de toda pessoa e da construção da solidariedade e da justiça. Não deixemos que a festa do Natal se transforme apenas em  luzes artificiais e presentes. Na sociedade de consumo, tudo vira comércio e  lucro. Nosso Natal, se   não cuidarmos, acaba perdendo o encanto e o sentido.
  
Contemplando, nos braços de Maria, Jesus, o Filho de Deus, que se identifica com os pequenos e pobres, há de crescer em nós a força e a alegria do amor.Acolher Cristo que nasce em Belém é aprender a reconhecê-lo em cada irmão e irmã com quem quis se identificar. A consciência da dignidade do próximo está na origem de todo empenho pela promoção humana, a começar dos mais pobres e excluídos.
  
Que a celebração deste Natal seja a celebração da esperança e de uma nova celebração da visita de Deus à humanidade. Nas belíssimas expressões do profeta Isaías, o povo que andava e vivia na escuridão do sem sentido viu acender uma grande luz (Is 9,1). A luz que brilhou naquela noite santíssima é esse "Menino que nos foi dado, que traz nos ombros a marca da realeza, cujo nome é Conselheiro Admirável, Deus forte, Pai dos tempos futuros, Príncipe da paz" (Is 9,5). A Igreja proclama esta Noite Feliz: "Entre os resplendores da santidade, das minhas entranhas Eu te engendrei antes da luz da manhã". Uma criança nascendo de uma virgem (puer natus) é sinal de contradição para ontem, hoje e para nosso futuro.
 
Participemos juntamente com a família, da preparação natalina em nossas Comunidades; da Celebração Penitencial, da Missa do Natal.
  
Desejamos a todos um feliz e santo Natal, com vida nova e renovadas relações mais afetivas com Deus, com os familiares, vizinhos e amigos e todos os que se aproximam de nós no dia-a-dia, principalmente aqueles que mais precisam de nosso apoio. Que o Natal seja para todos aqueles que sofrem um motivo de partilha e de esperança. Jesus nasceu para fazer de nós uma única família, conduzindo-nos na santidade e na justiça para vivermos a verdadeira solidariedade e alegria.
   
Tenhamos os olhos da fé abertos para a grande oportunidade que o momento presente nos coloca, oferecendo uma mensagem de Natal que desperte esperança, ainda que vivenciemos uma dura realidade. A todos, um renovado e abençoado Natal.

Fonte: Pastoral da Comunicação

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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