Sábado, 24 de dezembro de 2016 - 17h44
Na noite santa do Natal, festa da iluminação, noite na qual “resplandece a claridade da verdadeira luz”, queremos abrir nosso coração “ao mistério de um Deus que se aproxima de nós”, criar novos espaços de humanidade, e, diante da fragilidade de um menino, reconhecer o mistério de Deus, que esconde sua divindade na simplicidade de tantas pessoas que não são consideradas pela sociedade.
A liturgia é sobre o que dá sentido à história; “exprime a realidade profunda daquilo que somos: somos povo em caminho, e ao nosso redor, também dentro de nós, há trevas e luz; e nesta noite, enquanto o espírito das trevas envolve o mundo, renova-se o acontecimento que sempre nos maravilha e surpreende: o povo em caminho vê uma grande luz” (Is 9,1-6).
O verbo andar nos faz pensar no curso da história, naquele longo caminho que é a história da salvação, com início em Abraão, nosso pai na fé, que um dia o Senhor chamou convidando-o a partir, a sair do seu país para a terra que Ele lhe havia de indicar. Desde então, a nossa identidade de crentes é a de pessoas peregrinas para a terra prometida.
Esta história é sempre acompanhada pelo Senhor! E, na nossa historia pessoal, também se alternam momentos luminosos e escuros, luzes e sombras. Quando amamos a Deus e aos irmãos, andamos na luz; mas, se o nosso coração se fecha, se prevalece em nós o orgulho, a mentira, a busca do próprio interesse, então calam as trevas dentro de nós e ao nosso redor(Papa Francisco).
O Profeta Isaías não perde a esperança que se concretiza no nascimento de um menino: Emanuel, o Deus-conosco. Ele sonha com um tempo novo de alegria: esse período de paz, tão laboriosamente construído, nasce das mãos frágeis de uma criança. Nasceu um filho que perpetuará a realeza de Davi, o rei que se torna modelo de líder pacífico e justo. Os títulos dados a esse menino são como a antecipação da mensagem dos anjos no Evangelho de Lucas. O menino se torna conselheiro admirável, Deus forte, pai dos tempos futuros e príncipe da paz, governando na justiça e na santidade.
Isaías já antecipa que o menino nascido será chamado “pai dos tempos futuros”, pois “a paz não há de ter fim” sobre o seu domínio, e o seu reinado será confirmado em justiça e santidade, “a partir de agora e para todo o sempre”.
Segundo Lucas, Jesus nasce na ocasião em que o Império Romano realizava um recenseamento na Palestina, em vista da cobrança de mais impostos (Lc 2,1-14). Sua família não teve o conforto de uma casa, para amparar o menino: ele dorme no ambiente dos animais, em uma manjedoura. Desde o início de sua existência, Jesus se identifica com os pobres e oprimidos.
“Num mundo dilacerado pela lógica do lucro que produz novas pobrezas e gera a cultura do descarte, não desisto de invocar a graça de uma Igreja pobre e para os pobres”, reafirmou o papa nesta semana.
Para as famílias que vivem momentos difíceis, de redução da renda, queda da mobilidade social, desemprego, pobreza e injustiça social, lembremos que “o próprio Jesus nasce numa família modesta, que à pressa tem de fugir para uma terra estrangeira”. Cada família tem diante de si o ícone da família de Nazaré, com o seu dia-a-dia feito de fadigas e até de pesadelos, como quando teve que sofrer a violência incompreensível de Herodes, experiência que ainda hoje se repete tragicamente em muitas famílias (Amoris Laetitia 21; 30).
Nesta Noite de Natal, celebramos em família e partilhamos a alegria do Evangelho: Deus nos ama tanto que nos deu o seu Filho como nosso irmão, como luz nas nossas trevas. Os pastores foram os primeiros a receber o anúncio do nascimento de Jesus. Foram os primeiros, porque estavam entre os últimos, os marginalizados.
No rosto de uma criança se faz visível a Misericórdia que desce sempre mais abaixo, que nasce no ventre da terra e se faz terra fértil (IHu). Nascido da Virgem Maria, verdadeiro homem e verdadeiro Deus, Jesus “entrou na nossa história, partilhou o nosso caminho”. Nele, a ternura do Pai: Jesus é o Amor feito carne.
No tabernáculo do ventre de Maria, Cristo habitou durante nove meses; no tabernáculo da fé da Igreja, permanecerá até ao fim do mundo; no conhecimento e amor da alma fiel habitará pelos séculos dos séculos. Maria é aquela que sabe transformar um curral de animais na casa de Jesus, com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura. Ela é a serva humilde do Pai, que transborda de alegria no louvor. Como Mãe de todos, é sinal de esperança para os povos que sofrem as dores do parto até que germine a justiça (EG 285-286).
Na Carta a Tito, atribuída ao apóstolo Paulo, o sentido da vinda histórica do Senhor Jesus como revelação da graça de Deus e da salvação para todos os seres humanos (Tt 2,11-14), que provoca, necessariamente, uma mudança ética e o surgimento de um novo estilo de vida.
Enquanto nas celebrações da noite e da aurora a liturgia acentua a humildade do Messias, na 3ª missa de Natal (missa do dia) a grandeza, a eterna glória, o brilho da manifestação de Deus se destaca: a Palavra se tornou carne, humanidade frágil, e exatamente nisso “nós contemplamos sua glória” (Jo 1,1-18). Jesus é em pessoa o que Deus nos quer comunicar, desde sempre. A Palavra que é Jesus estava em prontidão junto de Deus desde sempre; aquilo que Deus sempre quis dizer, sua Palavra Ele vem mostrar tornando-se vida humana no meio de nós.
A humanidade já não está condenada a caminhar cegamente, guiando-se por pequenas luzes no meio das trevas, por pequenas manifestações de Deus, mas pelo próprio Jesus, Manifestação total de Deus. Com efeito, Jesus Cristo, que é a luz, veio para tornar filhos de Deus todos os homens (BP).
“Como é belo ver pelas montanhas os passos do mensageiro que anuncia a paz, proclama o profeta Isaias (Is 52,7-10) e traz uma mensagem de salvação: Teu Deus reina”. Quando Deus reina – através do empenho dos humanos, seus “aliados”-, quando ele tem a última palavra, existe saída.
A Carta aos Hebreus diz que ele supera a todos (Hb 1,1-6). O importante é que Jesus mostra na sua existência terrestre o que o Céu nos quer comunicar: ele é a Palavra que está em Deus desde sempre, a Palavra definitiva, depois de tantas incompletas que chegaram até nós através dos profetas (Konings).
Celebramos o Natal em família. Esta é uma festa vinculada à família que ganha ainda mais força quando associada à Festa da Sagrada Família. José e Maria se unem a todos os que anseiam pela libertação de Israel para exclamar: um filho nos foi dado.
Possa a estrela de Belém continuar resplandecendo em nossa família e em nossas comunidades, motivando-nos para a construção de uma nova humanidade e de um Brasil mais solidário e justo.
Que a mensagem do papa para o Dia Mundial da Paz (1º janeiro): “A não violência, uma política pela paz”, encontre eco em nosso coração neste ano que estamos encerrando e em 2017, ano da esperança.
Com o papa, almejamos a paz a todos e oramos “para que a imagem e semelhança de Deus em cada pessoa nos permitam reconhecer-nos mutuamente como dons sagrados com uma dignidade imensa”. Possa cada um de nós fazer “da não violência ativa o nosso estilo de vida”. E que a caridade e a não violência guiem “o modo como nos tratamos uns aos outros nas relações interpessoais, sociais e internacionais”.
Possa a não violência tornar-se o estilo caraterístico das nossas decisões, dos nossos relacionamentos, das nossas ações, da política em todas as suas formas.
Comecemos a “percorrer a senda da não violência dentro da família”. Esta constitui o cadinho indispensável no qual, os casais, pais e filhos, irmãos e irmãs aprendem a comunicar e a cuidar uns dos outros desinteressadamente e onde os atritos devem ser superados, não pela força, mas com o diálogo, o respeito, a busca do bem do outro, a misericórdia e o perdão.
A partir da família, a alegria do amor propaga-se pelo mundo, irradiando para toda a sociedade. Votos de um abençoado Natal e um novo Ano cheio de paz que nos motive “a construir comunidades não violentas, que cuidem da casa comum”.
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