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Dom Moacyr

Nova primavera do cristianismo


     Iniciamos Outubro, mês missionário e mariano, com a Semana Nacional da Vida (01-07/10/2013), cujo tema: “Vida, saúde e dignidade: direito e responsabilidade de todos”, nos conduz à celebração do Dia do Nascituro (08/10) e à reflexão sobre o direito à vida e à preservação da dignidade humana.

     A Semana Nacional da Vida foi instituída em 2005 pela 43ª Assembleia da CNBB. O Dia do Nascituro é um dia em homenagem ao novo ser humano, à criança que ainda vive no ventre materno. Neste dia celebramos o direito à proteção de sua vida e saúde, à alimentação, ao respeito e a um nascimento sadio. O objetivo é suscitar nas consciências, nas famílias e na sociedade, o reconhecimento do sentido e valor da vida humana em todos os seus momentos.

     Neste clima mariano, estamos celebrando (12/10) a Padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, cuja presença e devoção têm sido um elo de união e de integração entre todas as culturas e etnias de nosso país. Em todos os municípios de Rondônia constatamos a forte presença de Maria: paróquias e Comunidades dedicadas a Nossa Senhora, sobretudo, Nossa Senhora Aparecida. È Festa em Alto Paraíso, Machadinho, São Carlos do Jamari, e aqui em Porto Velho, além da Balsa, no Santuário Arquidiocesano Nossa Senhora Aparecida.

     Invocada com os mais variados títulos: Nossa Senhora do Rosário, das Graças, Aparecida e tantos outros, Maria “é a figura da Igreja à escuta da Palavra de Deus que nela Se fez carne”. Ela é também símbolo da abertura a Deus e aos outros; escuta ativa, que interioriza, assimila, na qual a Palavra de Deus se torna forma de vida. Desde a Anunciação ao Pentecostes, vemo-La como mulher totalmente disponível à vontade de Deus. É a Imaculada Conceição, Aquela que é cheia de graça” de Deus, dócil à Palavra divina (L c 1,28 e 38).

     A referência à Mãe de Deus mostra-nos como o agir de Deus no mundo envolve sempre a nossa liberdade, porque, na fé, a Palavra divina transforma-nos. Também a nossa ação pastoral não poderá jamais ser eficaz, se não aprendermos de Maria a deixar-nos plasmar pela ação de Deus em nós. Contemplando na Mãe de Deus uma vida modelada pela Palavra, descobrimo-nos também nós chamados a entrar no mistério da fé, pela qual Cristo vem habitar na nossa vida. Como nos recorda S. Ambrósio, cada cristão que crê, em certo sentido, concebe e gera em si mesmo o Verbo de Deus: se há uma só Mãe de Cristo segundo a carne, segundo a fé, porém, Cristo é o fruto de todos (VD 27-28).

     A liturgia de hoje está centralizada na fé e na fidelidade. O evangelho (Lc 17,5-10) começa com um pedido: “Senhor, aumenta nossa fé”, e indica-nos o caminho do serviço e da disponibilidade (VP). Quem vive no espírito de comunhão nunca achará que está fazendo demais para os outros.

     Nesta nova primavera do cristianismo, o papa Joao Paulo II ao tratar da missão da Igreja acentua que o impulso missionário sempre foi um sinal de vitalidade; a missão renova a Igreja, revigora a sua fé e identidade, dá-lhe novo entusiasmo e novas motivações. É dando a fé que ela se fortalece (RM 2).

     O papa João XXIII, em sua encíclica sobre as missões (Princeps Pastorum), motiva-nos sobre o nosso “fundamental e primordial dever de ser testemunha da verdade” e cita João Crisóstomo: “Cristo deixou-nos na terra a fim de que nos tornássemos faróis que iluminam, doutores que ensinam; a fim de que cumpríssemos o nosso dever de fermento; a fim de que nos comportássemos como anjos, como anunciadores entre os homens; a fim de que fôssemos adultos entre os menores, homens espirituais a fim de os ganharmos; a fim de que fôssemos semente e déssemos frutos numerosos. Nem sequer seria necessário expor a doutrina, se a nossa vida fosse irradiante a esse ponto; não seria necessário recorrer às palavras, se as nossas obras dessem um tal testemunho. Não haveria mais nenhum pagão, se nos comportássemos como verdadeiros cristãos” (PP 31).

     O cristianismo, descontados os desvios que sempre ocorrem na história dos homens, é uma mensagem do convívio fraternal, antes de se constituir numa instituição de poder universal. Viver para fazer o bem, como antigamente Francisco de Assis, não é hoje em dia um posicionamento trivial, e sim fruto de uma escolha, uma conversão. Mas temos de ter clareza sobre um fato, que já a Igreja pós Vaticano II reconheceu: os católicos vêm perdendo o contato com o povo, sem reconquistar um espaço no mundo da cultura atual. As lições de Jesus Cristo continuarão sempre um escândalo e uma loucura (A. Valle, Rev/IHU, 209).

     Certa vez, Francisco foi ao Papa, desta vez, o Papa foi até Francisco, marcando um encontro histórico em Assis, denominado: “Francisco encontra São Francisco”, fortalecendo a Igreja em sua missão.

     Da vida e do modo de ser de São Francisco, cuja festa celebramos no dia 4 de outubro, nasceu uma inspiração de vida, um caminho: trata-se da espiritualidade franciscana, que é seguimento do Cristo pobre, humilde e crucificado e que nos leva à configuração com Jesus Cristo. A reflexão do Testamento de São Francisco (1226) vai nos ajudar a viver este caminho:

     Foi assim que o Senhor me concedeu a mim, Frei Francisco, iniciar uma vida de penitência: como estivesse em pecado, parecia-me deveras insuportável olhar para leprosos. E o Senhor mesmo me conduziu entre eles e eu tive misericórdia com eles. E enquanto me retirava deles, justamente o que antes me parecia amargo se me converteu em doçura da alma e do corpo. E depois disto demorei só bem pouco e abandonei o mundo. 
     E o Senhor me deu tanta fé nas igrejas que com simplicidade orava e dizia: Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo aqui e em todas as vossas igrejas que estão no mundo inteiro, e vos bendizemos porque por vossa santa cruz remistes o mundo. 

     E o Senhor me deu e ainda me dá tanta fé nos sacerdotes que vivem segundo a forma da santa Igreja Romana, por causa de suas ordens, que, mesmo que me perseguissem, quero recorrer a eles. E se tivesse tanta sabedoria quanta teve Salomão e encontrasse míseros sacerdotes deste mundo, nas paróquias em que eles moram não quero pregar contra a vontade deles. E hei de respeitar, amar e honrar a eles e a todos os outros como meus senhores...

     E procedo assim porque do mesmo altíssimo Filho de Deus nada enxergo corporalmente neste mundo senão o seu santíssimo corpo e sangue, que eles consagram e somente eles administram aos outros. E quero que estes santíssimos mistérios sejam honrados e venerados acima de tudo em lugares preciosos. E onde quer que encontre em lugares inconvenientes os seus santíssimos nomes e palavras escritos, quero recolhê-los e peço que sejam recolhidos e guardados em lugar decente. E devemos honrar e respeitar todos os teólogos e os que nos ministram as santíssimas palavras divinas como a quem nos ministra espírito e vida. 
     E depois que o Senhor me deu irmãos ninguém me mostrou o que eu deveria fazer, mas o Altíssimo mesmo me revelou que eu devia viver segundo a forma do santo Evangelho. E eu o fiz escrever com poucas palavras e de modo simples e o Senhor Papa me confirmou. E os que vinham para abraçar este gênero de vida distribuíam aos pobres o que acaso possuíam. E eles se contentavam com uma só túnica remendada por dentro e por fora. E mais não queríamos ter. Nós clérigos recitávamos o oficio divino como os demais clérigos; os leigos diziam os pai nossos. E gostávamos muito de estar nas igrejas. Éramos iletrados e nos sujeitávamos a todos. 

     E eu trabalhava com as minhas mãos e quero trabalhar. E quero que todos os outros irmãos se ocupem num trabalho honesto. E os que não souberem trabalhar o aprendam, não por interesse de receber o salário do trabalho, mas por causa do bom exemplo e para afastar a ociosidade. E se acaso não nos pagarem pelo trabalho vamos recorrer à mesa do Senhor e pedir esmola de porta em porta. 

     Como saudação, revelou-me o Senhor que disséssemos: “O Senhor te dê a paz”. Evitem os irmãos aceitar, sob qualquer pretexto, igrejas, modestas habitações e tudo o que for construído para eles se não estiver conforme com a santa pobreza que prometemos pela Regra, demorando nelas sempre como forasteiros e peregrinos...E quero firmemente obedecer ao ministro geral desta fraternidade e ao guardião que lhe aprouver dar-me.. Mas como o Senhor me concedeu dizer e escrever de modo simples e claro a Regra e estas palavras, assim as entendais, com simplicidade e sem comentário, e observai-as com santo fervor até o fim.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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