Sábado, 29 de novembro de 2014 - 20h30
Estamos entrando no Tempo do Advento, com forte apelo de esperança e de mudança de coração. “Esperança no Senhor que transforma o mal em bem e a morte em vida”, como acentuou o papa Francisco em Estrasburgo (25/11).
A corrupção na administração pública de nosso Estado tem gerado um clima de insegurança e indignação. Vivemos uma “gigantesca crise ética que afeta grandemente a convivência humana, a política e a relação com a natureza”. A crise no país e no mundo busca corroer nossa esperança e utopias, reforçando a urgência de uma profunda reforma política que resultará no aperfeiçoamento da democracia. Esta crise, motiva-nos Pe. Libânio, “é uma chance de ultrapassar uma etapa, de reinventar nossos valores vitais”.
Advento é, portanto, tempo de despertar. Temos a oportunidade de um novo começo, a partir da revisão profunda de nossa vida. Que mudanças são necessárias para nos tornarmos pessoas mais conscientes e disponíveis na construção de um mundo mais fraterno, de justiça, compreensão e paz?
É neste tempo que nosso “olhar” de “discípulo missionário nutre-se da luz e da força do Espírito Santo” para “estudar os sinais dos tempos”, munidos de “uma capacidade sempre vigilante” (EG 50-51).
Deus está na historia humana, em meio a suas tensões, êxitos e conflitos, mas encontrá-lo supõe busca. Encontrar Deus atuante na história implica de nossa parte uma atitude de fé, aberta à novidade e ao mistério.
A habitação de Deus na história atinge a plenitude na Encarnação: “E a Palavra se fez carne e pôs sua morada entre nós” (Jo 1,44).
Cada pessoa deve optar, em um ato livre e intransferível, pela luz ou pelas trevas. A Palavra encarnada nos dá a vida que há em si, comunica-nos sua plenitude transformando-nos em filhos e filhas de seu Pai. Portanto, a fé cristã é uma fé histórica. Deus se revela em Jesus Cristo, e por Ele na história humana, no mais insignificante e pobre dessa história. Devemos aprender a crer a partir das condições concretas de nossa vida (Gutierrez).
Para o cristão, a Encarnação manifesta a irrupção de Deus na historia humana: encarnação da pequenez e do serviço em meio ao poder e à prepotência dos grandes deste mundo. É Deus que vem ao encontro de seu povo. Deus está onde seu projeto de vida se faz carne. Os sofrimentos do povo e os aparentes silêncios de Deus terão uma resposta.
Com “os olhos iluminados pela fé” (Ef 1,18), cremos que nossas pequeninas “Comunidades Eclesiais de Base são verdadeiras escolas de compromisso” (CNBB Doc 40,221) e nelas nosso Povo de Deus caminha, se reúne e celebra, luta por uma sociedade justa e solidária, acreditando que “outro mundo é possível”.
Possam nossas comunidades, neste tempo de preparação ao Natal, “manter aceso o desafio profético de uma igreja mais humana, solidária, acolhedora e fraterna”. Enquanto comunidade de amor fraterno, a Igreja “tem necessidade de ouvir sem cessar aquilo que ela deve acreditar, as razões de sua esperança e o mandamento novo do amor” (EN 15). Em sintonia com essa reflexão, o teólogo Schillebeeckx acrescenta que “a igreja deve continuamente purificar-se e tornar-se uma comunidade nova, que mostre aos homens o rosto transcendente e humano, gratuito e surpreendente de Deus”.
O Profeta Isaías, neste 1º domingo do Advento e início de um novo ano litúrgico, mostra o rosto de Deus “Pai e Redentor”, que cuida de seu povo “obra de suas mãos”: “Vós saís ao encontro dos que praticam a justiça e recordam os vossos caminhos” (Is 63,16b-17.19b; 64,2b-7). O Povo dirige-se ao Deus da história, pedindo-Lhe que intervenha para salvar. O amor de Deus se manifestou na história do povo de Israel e, de forma plena, por meio de Jesus Cristo. Estamos no Tempo da Esperança, o advento da certeza de que nada é maior do que o milagre do amor e da gratuidade, que acontece todos os dias na vida do povo que acredita que o Reino de Deus supera toda opressão e morte (VP).
O Evangelho deste domingo nos orienta como deve ser essa nossa atitude de espera (Mc 13,33-37). “O Senhor vem”: a nossa caminhada humana não é um avançar sem sentido ao encontro do nada, mas uma caminhada feita na alegria ao encontro do Senhor que vem. Devemos estar sempre “vigilante”, cumprindo com coragem a missão que Deus nos confiou. Ser uma pessoa “vigilante” significa ser atuante na comunidade, anunciar e denunciar, lutar contra a injustiça e exploração. Preparar para a chegada do Senhor é ter atenção ao que o Reino nos propõe, sobretudo, no que toca aos clamores por justiça, por parte dos empobrecidos, excluídos e oprimidos, a quem a vida e a dignidade são negadas. É na vida, sem nos esquivarmos das suas dificuldades, no nosso dia a dia de caminhada e labor, que o Cristo se faz presente em nosso meio.
O Apóstolo Paulo fala em sintonia com o profeta Isaías: “Deus é fiel; por ele fostes chamados à comunhão com seu Filho, Jesus” (1Cor 1,3-9). É nesta comunhão e fidelidade que residem toda a sabedoria e toda a verdade do cristão. Firmes no Senhor, resistiremos a todos os males cientes de que a justiça sempre prevalecerá.
Este é o Advento da esperança e da justiça. O cristianismo, ao encarnar-se na história humana, em profunda comunhão com as classes desprezadas, foi embalado, desde o início, por perspectiva de esperança e por traços escatológicos. Hoje vivenciamos barbáries não menores que as piores vistas na história. Implantou-se terrível situação de injustiça social para os pobres. E, mais uma vez, confirma Pe. Libânio, o cristianismo é provocado a empunhar a bandeira utópica da libertação dos pobres, da civilização do amor, da sociedade das bem aventuranças.
A leitura da realidade (“sinais dos tempos”) permite que experimentemos a necessidade de conversão, de reconciliação. Não poderíamos ter agido de forma diferente? Assim nos questionamos quando sentimos o sofrimento de nossos irmãos e a destruição do dom de Deus.
Durante o Advento o tema da “evangelização” é reforçado nas comunidades para que todos participem da missão evangelizadora como um dos elementos essenciais da identidade e pertença eclesial.
A Campanha da Evangelização que acontece nesse período começou na semana passada e tem como lema: “Cristo é nossa Paz” (Ef 2,14). O objetivo da Campanha é conscientizar os cristãos para o compromisso evangelizador e para a responsabilidade pela sustentação das atividades pastorais da Igreja no Brasil.
Natal marca nosso encontro com Deus feito homem no presépio. De forma muito singular, pode ser a experiência originária do encontro pessoal com Jesus que marca o início do homem novo, do discípulo missionário. É o processo que se segue ao ato de fé após o encontro pessoal com Jesus.
A salvação em Jesus Cristo traz esperança, dá sentido à vida, leva a viver a cada dia a experiência de novos céus e nova terra que se manifestam nos sinais de vida nova, com dignidade e justiça.
Esta esperança de novos tempos, fruto da graça divina atuando na história, não é apenas uma esperança passiva. Para se concretizar, requer o agir dos discípulos missionários.
O Evangelho denuncia direitos negados, alonga o olhar, abre os ouvidos ao clamor, faz crescer a solidariedade e possibilita um autêntico processo de libertação onde todos se tornem artífices do próprio destino.
A evangelização gera as transformações necessárias na sociedade, pois possibilita, em meio aos sinais dos tempos, encontrar e estabelecer critérios, valores e princípios nas verdadeiras fontes da fé cristã. E recomeçar a partir de Jesus Cristo (TB/CE 2014).
Durante a Campanha da Evangelização acontece a Coleta nacional (3o Domingo do Advento: dia 14/12). A colaboração dos fiéis é partilhada, solidariamente, entre os organismos nacionais da CNBB, os regionais e as dioceses, visando à execução das atividades evangelizadoras, programadas nas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora e nos Planos Bienais.
Encerramos com um convite para todas as famílias que se preparam para o Natal Solidário: que se organizem para a Novena de Natal que é uma das grandes riquezas na nossa caminhada pastoral e “forte expressão de fé” (DAp 258) das nossas Comunidades.
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