Quarta-feira, 6 de janeiro de 2010 - 20h37
Neste domingo da Epifania do Senhor celebramos o dia dos Reis: o nascimento de Jesus em Belém foi anunciado por uma estrela no distante Oriente, e alguns magos, vendo a estrela, vieram a Jerusalém à sua procura: “Onde está o recém-nascido rei dos judeus? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo” (Mt 2, 1-12).
Sabemos que os magos vieram de longe representando todos os povos que esperavam ardentemente pelo rei justo, pelo governante que os libertaria dos inimigos e os ensinaria a viver na justiça e no direito. O encontro dos magos com Jesus é muito significativo: Jesus está com sua mãe, um modo de Israel representar o rei. A homenagem que lhe prestam representa a sua submissão. Os presentes que lhe dão mostram a submissão a um rei (ouro), o reconhecimento de que esse rei é divino (incenso) e, por outro lado, de que esse rei é morto (a mirra era usada no sepultamento).
Ano 2010: nossos tempos aguardam palavras de verdade e paz que alimentem a esperança de um mundo diferente, capaz de reconciliação, respeito e solidariedade. O empenho coletivo pela paz é indispensável, mas não bastam as forças humanas. Temos que recorrer a Deus, pois só Ele pode nos ajudar a vencer os ressentimentos e a abrir o coração ao perdão e à alegria de fazer o bem.
A nova encíclica do papa Bento XVI “Caritas in veritate”, publicada no último dia 07 de julho de 2009, trata sobretudo do desenvolvimento humano integral na verdade e na caridade. Desenvolvimento segundo Paulo VI, é o novo nome da paz. A encíclica é dedicada também aos temas da economia, das finanças, do dinheiro e do trabalho.
Segundo o jesuíta Jean-Yves-Calvez, o papa revaloriza a grande encíclica do desenvolvimento, a Populorum progressio, e seu autor, o Papa Paulo VI e trata de outros assuntos: o meio ambiente, a solidariedade internacional (a colaboração na família humana), a situação demográfica do mundo, as migrações, a necessidade de ética na economia, a necessidade de uma nova gestão dos recursos raros em benefício de todos, dos mais pobres em particular. A relação entre mercado e "dom" (cap. III) é um tema que chama a atenção, associado à questão da fraternidade que pode e deve se desdobrar na sociedade civil, na qual o papa tem confiança, apoiando a revalorização do papel do Estado (cuja função parece destinada a crescer). Tudo isto é, poder-se-ia dizer, consequência da "crise": e o é, indiscutivelmente, embora seja preciso observar que a crise não é o tema central, como esperavam muitos; é antes, por alusão, que isso entra em questão. De outra parte, "o amor (a caridade) é tudo", diz o papa, "na e segundo a verdade", ou seja, segundo a estrutura das coisas e a natureza do homem; além da estrutura, o amor não é senão a lancinante dor "emocional".
Passados mais de 40 da publicação da Populorum progressio, o seu tema de fundo (o progresso) permanece ainda um problema em aberto, que se tornou mais agudo e premente com a crise econômico-financeira em curso. Se algumas áreas do globo, outrora oprimidas pela pobreza, registraram mudanças notáveis em termos de crescimento econômico e de participação na produção mundial, há outras zonas que vivem ainda numa situação de miséria comparável à existente nos tempos de Paulo VI; antes, em qualquer caso pode-se mesmo falar de agravamento. A novidade principal foi a explosão da interdependência mundial, já conhecida comumente por globalização. Paulo VI tinha-a em parte previsto, mas os termos e a impetuosidade com que aquela evoluiu são surpreendentes. Nascido no âmbito dos países economicamente desenvolvidos, este processo por sua própria natureza causou um envolvimento de todas as economias. Foi o motor principal para a saída do subdesenvolvimento de regiões inteiras e, por si mesmo, constitui uma grande oportunidade. Contudo, sem a guia da caridade na verdade, este ímpeto mundial pode concorrer para criar riscos de danos até agora desconhecidos e de novas divisões na família humana. Por isso, a caridade e a verdade colocam diante de nós um compromisso inédito e criativo, sem dúvida muito vasto e complexo. Trata-se de dilatar a razão e torná-la capaz de conhecer e orientar estas novas e imponentes dinâmicas, animando-as na perspectiva daquela “civilização do amor”, cuja semente Deus colocou em todo o povo e cultura (CV 33-34).
Ao tratar no capítulo 3 da Fraternidade, desenvolvimento econômico e sociedade civil, o papa diz que “a caridade na verdade coloca o homem perante a admirável experiência do dom. A gratuidade está presente na sua vida sob múltiplas formas, que freqüentemente lhe passam despercebidas por causa duma visão meramente produtiva e utilarista da existência. O ser humano está feito para o dom, que exprime e realiza a sua dimensão de transcendência”(CV 34).
Enquanto dom recebido por todos, a caridade na verdade é uma força que constitui a comunidade, unifica os homens segundo modalidades que não conhecem barreiras nem confins. A comunidade dos homens pode ser constituída por nós mesmos; mas, com as nossas simples forças, nunca poderá ser uma comunidade plenamente fraterna nem alargada para além de qualquer fronteira, ou seja, não poderá tornar-se uma comunidade verdadeiramente universal: a unidade do gênero humano, uma comunhão fraterna para além de qualquer divisão, nasce da convocação da palavra de Deus-Amor. Ao enfrentar esta questão decisiva, devemos especificar, por um lado, que a lógica do dom não exclui a justiça nem se justapõe a ela num segundo tempo e de fora; e, por outro, que o desenvolvimento econômico, social e político precisa, se quiser ser autenticamente humano, de dar espaço ao princípio da gratuidade como expressão de fraternidade(CV 34). O tema do desenvolvimento coincide com o da inclusão relacional de todas as pessoas e de todos os povos na única comunidade da família humana, que se constrói na solidariedade tendo por base os valores fundamentais da justiça e da paz. CV54)
O papa afirma que “perante os enormes problemas do desenvolvimento dos povos que quase nos levam ao desânimo e à rendição, vem em nosso auxílio a palavra do Senhor Jesus Cristo que nos torna cientes deste dado fundamental: “Sem Mim, nada podeis fazer”(Jo 15, 5), e encoraja: “Eu estarei sempre convosco, até ao fim do mundo” (Mt 28, 20). Diante da vastidão do trabalho a realizar, somos apoiados pela fé na presença de Deus junto daqueles que se unem no seu nome e trabalham pela justiça. A maior força ao serviço do desenvolvimento é um humanismo cristão que reavive a caridade e que se deixe guiar pela verdade, acolhendo uma e outra como dom permanente de Deus.
O desenvolvimento tem necessidade de cristãos com os braços levantados para Deus em atitude de oração, cristãos movidos pela consciência de que o amor cheio de verdade (caritas in veritate), do qual procede o autêntico desenvolvimento, não o produzimos nós, mas é-nos dado. Por isso, inclusive nos momentos mais difíceis e complexos, além de reagir conscientemente devemos sobretudo referir-nos ao seu amor. O desenvolvimento implica atenção à vida espiritual, uma séria consideração das experiências de confiança em Deus, de fraternidade espiritual em Cristo, de entrega à providência e à misericórdia divina, de amor e de perdão, de renúncia a si mesmo, de acolhimento do próximo, de justiça e de paz.
A ânsia do cristão é que toda a família humana possa invocar a Deus como o “Pai nosso”. Que a Virgem Maria, proclamada por Paulo VI Mater Ecclesiæ e honrada pelo povo cristão como Speculum Iustitiæ e Regina Pacis, nos proteja e obtenha, com a sua intercessão celeste, a força, a esperança e a alegria necessárias para continuarmos a dedicar-nos com generosidade ao compromisso de realizar o desenvolvimento integral do homem todo e de todos os homens (CV 78-79).
Fonte: Pascom
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