Sábado, 26 de dezembro de 2015 - 21h02
O destaque do último domingo do ano é a Festa da Sagrada Família, celebração que acontece no período do Natal, na qual reafirmamos a nossa confiança na família como caminho para uma sociedade mais justa.
A família, sinal do amor de Deus pela humanidade e da entrega de Cristo à Igreja, é o valor mais querido por nossos povos. Fundada no sacramento do matrimônio, “é imagem de Deus que, em seu mistério mais íntimo não é uma solidão, mas uma família” (DP 582). Na comunhão de amor das três Pessoas divinas, nossas famílias têm sua origem, seu modelo perfeito, sua motivação mais bela e seu último destino (DAp 432-436).
A liturgia deste domingo situa-nos na dinâmica do amor familiar e nos conduz a contemplar na Sagrada Família um modelo de família que quer se encontrar novamente com Jesus. Esta festa é a prolongação da festa do Natal, quando o Filho de Deus se fez homem, nasceu como filho de Maria, se fez irmão de toda a humanidade.
É na família, com seus conflitos e dinâmicas de superações, sempre permeadas pelo amor, que aprendemos a ser verdadeiros filhos de Deus, tal como Jesus. O Evangelho de Lucas mostra Jesus crescendo “em sabedoria, estatura e graça”, na convivência de um lar (Lc 2,41-52).
O processo de aprendizagem de Jesus, na condição de ser humano, segundo o teólogo biblista F.Orofino, deve ser entendido dentro da vida cotidiana de uma aldeia da Galileia no 1º século da Era Cristã. Ao nascer, uma criança pertencia à mãe. A mãe era a única professora, catequista, mestra que uma criança tinha. Assim, competia à mãe ensinar a língua, a religião, as tradições religiosas e familiares, enfim, tudo que fosse importante na vida daquela criança. Dessa forma, a formação de Jesus começa em casa e sob forte influência materna (IHU).
Jesus viveu muito tempo neste ambiente familiar e comunitário. E neste ambiente profundamente religioso, a leitura e a vivência da Palavra eram muito importantes. Se de fato Jesus sabia ler e escrever, deve-se à escola dos escribas que funcionava junto às sinagogas. Mas, a grande escola de Jesus foi a casa familiar, a Palavra na comunidade e a história de seu povo vivida numa época de grande turbulência social, política e religiosa.
Uma frase do Papa Leão Magno nos ajuda a entender o mistério da Encarnação de Jesus: “Jesus é humano, muito humano, tão humano como só Deus pode ser humano” e “Ele veio nos mostrar o caminho para quem quer ser divino: antes de tudo ser profundamente humano” (Fl 2,6-11).
Desde a revelação de Deus a Moisés no Sinai (Ex 3,7) fica claro que na proposta religiosa judaico-cristã não é o ser humano que se eleva, mas é Deus que desce. E esta descida de Deus, que atinge seu ponto máximo na encarnação de Jesus, é provocada pelo grito do pobre, do marginalizado, do excluído, do escravizado. Jesus veio mostrar que todos nós podemos nos tornar divinos. Mas o caminho de nossa divinização exige de nossa parte a mais profunda humanização.
Como casa do amor, a família, ainda que longe dos padrões de perfeição é o modelo vivo da comunidade, pois ela testemunha o amor do próprio Deus. Cuidar da família, nas suas variadas formas e estruturas, é ser sinal do Evangelho, pois a família é a primeira Igreja a ser sinal no mundo do amor de Deus e o suporte para a construção de uma sociedade mais humanizada.
A leitura do Livro do Eclesiástico, neste domingo da Sagrada Família, trata do cuidado para com os pais, especialmente os idosos (Eclo 3,3-7.14-17a). Exorta-nos “a honrar os pais”, pois, o amor e o dever de cuidar não cessam quando o filho se torna emancipado da família de origem, mas permanece o dever de gratidão (VP).
Paulo Apostolo escreve aos colossenses recomendando à comunidade cristã a prática do amor fraterno (Cl 3,12-21). O acento está na reciprocidade do amor e em suas manifestações concretas. Deus me santificou, me escolheu, me amou. Posso viver a caridade que vem do Cristo, o amor paciente, humilde, que não guarda rancor, que “tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1Cor 13,4-7). O perdão expressa de modo particular o amor: é o amor que mantém a comunidade unida e a leva à perfeição. A paz, que é dom de Cristo, surge então como consequência dessa vivência recíproca do amor. A família, parte da comunidade cristã, deve viver esses valores expressos por Paulo.
Encerrando 2015, com sentimentos de gratidão a Deus, vamos iniciar o 1º dia do Novo Ano de 2016 com a Solenidade da Mãe de Deus. A liturgia condensa a obra de Deus na história da humanidade num único gesto: a bênção divina, para que na terra se conheça a sua Salvação e atinja a todos, graças ao nascimento do Menino Deus. Mais que um simples motivo histórico, é um caminho místico que se abre para cada celebrante, para que possa traçar seu caminho espiritual na busca do rosto de Deus em 2016.
O apelo do Papa Francisco em sua mensagem para a celebração desse Dia Mundial da Paz é que ouçamos o grito da humanidade, vençamos a indiferença e conquistemos a Paz, pois para Deus importa-Lhe a humanidade e Ele não a abandona!
Temos a esperança de que o ano de 2016 nos veja a todos confiadamente empenhados, nos diferentes níveis, a realizar a justiça e a trabalhar pela paz. Esta é dom de Deus e trabalho dos homens; confiado a todos os homens e a todas as mulheres, que são chamados a realizá-lo.
Embora o ano passado tenha sido caracterizado, do princípio ao fim, por guerras e atos terroristas, com as suas trágicas consequências de sequestros de pessoas, perseguições por motivos étnicos ou religiosos, multiplicando-se cruelmente em muitas regiões do mundo, a ponto de assumir os contornos daquela que se poderia chamar uma 3ª guerra mundial por pedaços, o papa Francisco, diante do novo ano em vista, exorta-nos a não perder a esperança na capacidade que o homem tem, com a graça de Deus, de superar o mal, não se rendendo à resignação nem à indiferença.
Com o Jubileu da Misericórdia, ele convida a Igreja a rezar e trabalhar para que cada cristão possa maturar um coração humilde e compassivo, capaz de anunciar e testemunhar a misericórdia, de perdoar e abrir-se àqueles que vivem nas mais variadas periferias existenciais, que muitas vezes o mundo contemporâneo cria de forma dramática, sem cair na indiferença que humilha, na habituação que anestesia o espírito e impede de descobrir a novidade, no cinismo que destrói.
Como criaturas dotadas de inalienável dignidade, existimos relacionando-nos com os nossos irmãos e irmãs, pelos quais somos responsáveis e com os quais agimos solidariamente. Fora desta relação, passaríamos a ser menos humanos. É por isso mesmo que a indiferença constitui uma ameaça para a família humana.
A indiferença e consequente desinteresse constituem uma grave falta ao dever que cada pessoa tem de contribuir, na medida das suas capacidades e da função que desempenha na sociedade, para o bem comum, especialmente para a paz, que é um dos bens mais preciosos da humanidade.
Jesus ensina-nos a ser misericordiosos como o Pai (Lc 6,36). A misericórdia é o coração de Deus. Por isso deve ser também o coração de todos aqueles que se reconhecem membros da única grande família dos seus filhos; um coração que bate forte onde quer que esteja em jogo a dignidade humana, reflexo do rosto de Deus nas suas criaturas.
Somos chamados a fazer do amor, da compaixão, da misericórdia e da solidariedade um verdadeiro programa de vida, um estilo de comportamento nas relações de uns com os outros. A solidariedade é a determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum, ou seja, pelo bem de todos e de cada um, porque todos nós somos verdadeiramente responsáveis por todos, porque a compaixão brota da fraternidade.
No espírito do Jubileu da Misericórdia, cada um é chamado a reconhecer como se manifesta a indiferença na sua vida e a adotar um compromisso concreto que contribua para melhorar a realidade onde vive, a começar pela própria família, a vizinhança ou o ambiente de trabalho.
Desejando as famílias os melhores votos de paz e bênçãos abundantes, sob o signo da esperança, rogamos a intercessão de Maria Santíssima, Mãe solícita pelas necessidades da humanidade, para que nos obtenha de seu Filho Jesus, Príncipe da Paz, a bênção do nosso compromisso diário por um mundo fraterno e solidário.
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