Domingo, 5 de março de 2017 - 05h01
Neste tempo de renovação espiritual e revisão das nossas estruturas, somos convidados, na primeira etapa de nosso itinerário quaresmal, a abrir o coração para a ação de Deus, questionar nossas opções e refazer nossos passos, reconhecendo nossa fragilidade e nos confiando à misericórdia divina, que nos chama à mudança de rumo e nos abre a sua graça.
A Quaresma nos remete ao nosso batismo, ao nosso compromisso cristão, a nossa escolha, para que a Igreja que somos possa realmente testemunhar esse mundo novo iniciado pelo Cristo da Páscoa, o novo Adão, a nova humanidade em Cristo (R. Gravel).
A vida, para nós que fomos batizados e temos fé, é uma caminhada pascal; é conversão; é recolocar Deus no centro da nossa existência; é aceitar a comunhão com Ele e escutar as suas propostas, concretizando no mundo os seus projetos.
A Ressurreição é uma grande experiência filial, afirma padre Libânio. Assim como a mãe cuida do seu filho pequenino e cria uma condição básica de confiança, saber que o Senhor Jesus, que nos amou e se entregou por nós, venceu a morte e todos os males nos dá uma confiança muito profunda, de que também nós, com a força dele, temos condições de ir vencendo e trabalhando contra o mal que impera na sociedade.
Mal que se expressa nas “manifestações diárias da grave e profunda crise que nos atinge no cotidiano” e na “deterioração tão rápida na qualidade de vida da maioria”. Os Estados, praticamente todos eles, que tem com as Prefeituras a grande responsabilidade de garantir os serviços provedores de direitos de cidadania no dia a dia, estão simplesmente falidos. Cadê a saúde, a educação, a segurança pública? A isto se junta algo mais grave: o desemprego em níveis recordes, que afeta de forma radical as condições de milhões de jovens e de famílias inteiras (Ibase).
O papa Paulo VI, na homilia do 1º domingo da quaresma de 1965, reflete o duelo entre o bem e o mal, dizendo que “estamos como que rodeados por algo de funesto, malvado, perverso, que excita as nossas paixões, aproveita-se das nossas fraquezas, insinua-se nos nossos hábitos, vem por trás dos nossos passos e nos sugere o mal. A tentação, portanto, é o encontro entre a boa consciência e a atração do mal; o mal não se apresenta a nós com o seu rosto real.
A tentação é a simulação do bem; é o engano pelo qual o mal assume a máscara do bem; é a confusão entre o bem e o mal. O homem moderno perdeu o justo critério do bem e do mal; perdeu o senso do pecado, como explicam os mestres de vida espiritual. É capaz de se fazer advogado das coisas más, a fim de sustentar a liberdade do próprio prazer, e que tudo pode e deve se manifestar, sem nenhum impedimento em relação ao mal.
A vida cristã é combate, conclui o papa. Fica claro, então, que a grande lição de vida cristã com que se inicia a Quaresma exige de nós, acima de tudo, que sejamos sábios, dispostos a um bom juízo, isto é, prontos para refletir e manter a lâmpada da nossa consciência e do nosso pensamento sempre acesa diante de nós. Não devemos caminhar no escuro, mas portando alto esse esplendor que Deus depositou nas nossas almas e que se chama nossa consciência. Não enganemos a nós mesmos, não apaguemos a voz da consciência, não deformemos a sua retidão de juízo.
A segunda exigência é que sejamos fortes. Se quisermos ser cristãos, hoje especialmente, devemos ser fortes. É preciso viver o Cristianismo com fortaleza, com consciência militante; é necessário suportar também alguns sacrifícios, para conservar intacta a própria fé e para manter o empenho assumido com Cristo, com a comunidade cristã, com a Igreja (Paulo VI).
A liturgia destaca, através do Evangelho, o diálogo de Jesus com o mal. Ele foi conduzido ao deserto, pelo Espírito, para ser tentado (Mt 4,1-11). Os quarentas dias vividos por Jesus no deserto sinalizam o poder de persuasão do mal: Jesus foi tentado até a hora da cruz, mas permaneceu firme em sua livre opção pela sua condição de Filho de Deus, isto é, ele não negou a sua relação com o Pai.
Na 1ª tentação (poder do consumo), o diabo sugere a Jesus que transforme as pedras em pão se é Filho do Deus. E Jesus responde que o ser humano não vive somente de pão, “mas de toda a palavra que sai da boca de Deus”.
A 2ª tentação (poder religioso) está ligada à fome de glória. O diabo sugere a Jesus que se jogue do ponto mais alto do templo diante de todo o povo como espetáculo e prova que é Filho de Deus; certamente nada lhe aconteceria, pois os anjos viriam em seu socorro. Jesus responde com a Escritura: “Não tentarás o Senhor teu Deus”.
A 3ª tentação (poder político) está ligada à fome do dinheiro e do poder. O diabo leva Jesus ao alto de um monte e lhe mostra todas as riquezas do mundo e diz: “Tudo isso eu te darei, se te ajoelhares diante de mim, para me adorar”. Jesus expulsa Satanás e diz: “Adorarás ao Senhor teu Deus e somente a ele servirás”.
No deserto Jesus define as linhas orientadoras de sua missão. As tentações no deserto acompanharam Jesus durante toda a vida pública. Nelas, Jesus é tentado de falsificar a própria missão, realizando uma atividade que só busque satisfazer às necessidades imediatas, buscar o prestígio e ambicionar o poder e as riquezas. Jesus, porém, resiste a essas tentações.
Seu projeto de justiça é transformar as estruturas segundo a vontade de Deus, não pondo Deus a seu próprio serviço ou interesse, e não absolutizando coisas que geram opressão e exploração sobre os homens, criando ídolos (BP).
Para resolver o problema da fome de pão Jesus vai propor a partilha do pão e anunciar a conversão para o Evangelho do Reino de Deus. Para a tentação da glória, Jesus propõe o amor ao próximo, no serviço humilde.
A 3ªtentação é a de querer ser igual a Deus, tentação sugerida pela serpente a Adão e Eva. Obedecendo a Deus, Jesus repara o pecado de Adão desobediente. A missão de Jesus se caracteriza pela luta constante contra o pretenso reinado do diabo neste mundo, ao anunciar o evangelho do Reino de Deus. Jesus exige de seus discípulos, de ontem e de hoje, uma opção básica: ceder às tentações do diabo ou seguir firmemente a Jesus Cristo no caminho do Reino de Deus (L.Garmus).
O Livro Gênesis confirma que Deus é a nossa origem e o nosso destino último; somos seres que Deus criou com amor, a quem Ele deu o seu próprio “sopro”, a quem animou com a sua própria vida. O fim último da nossa existência não é o fracasso, a dissolução no nada, mas a vida definitiva, a felicidade sem fim, a comunhão plena com Deus (Gn 2,7-9;3,1-7).
Na descendência de sangue de Adão, que representa nossa humanidade, somos pecadores e solidários a essa natureza adâmica, pecadora (Konings). Jesus nos mostra outra realidade: a conversão e a mudança.
Para o Apostolo Paulo, a mudança da humanidade, para uma situação de justiça, faz-se em Cristo (Rm 5,12-19) e na aceitação da proposta que ele nos faz hoje: viver da Palavra que sai da boca de Deus, do próprio Cristo. Da solidariedade adâmica, passamos à solidariedade, à adesão à palavra de salvação, de mudança de vida, de conhecimento de Jesus Cristo, correspondendo, com a nossa vida, ao seu amor.
Papa Francisco sugere que nos questionemos, neste período quaresmal: Que seria de nós se Deus nos tivesse fechado as portas? Que seria de nós sem a sua misericórdia, que não se cansou de nos perdoar e sempre nos deu uma oportunidade para começar de novo?
Onde estaríamos nós sem a ajuda de tantos rostos silenciosos que nos estenderam a mão de mil modos e, com ações muito concretas, nos devolveram a esperança e nos ajudaram a recomeçar?
Que a Campanha da Fraternidade nos ajude a superar as tentações e pessimismos e faça nossa fé progredir, buscando sempre o bem do outro, vendo sempre Cristo presente no mais pobre, no menor, na ovelha perdida, no amigo insistente, pois, “crer que aí está Cristo, discernir a melhor maneira para dar um pequeno passo até Ele, pelo bem dessa pessoa, é progresso na fé”.
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