O 2º Domingo da Páscoa é o domingo da Divina Misericórdia. Durante cinquenta dias, a Igreja estende a festa da Páscoa que se encerra no 50° dia com a Solenidade de Pentecostes.
A misericórdia sempre vence, reafirmou o papa Francisco em sua mensagem pascal: acolhamos a graça da Ressurreição de Cristo! Deixemo-nos renovar pela misericórdia de Deus, deixemo-nos amar por Jesus, deixemos que a força do seu amor transforme também a nossa vida, tornando-nos instrumentos desta misericórdia, canais através dos quais Deus possa irrigar a terra, guardar a criação inteira e fazer florir a justiça e a paz. E assim, a Jesus ressuscitado que transforma a morte em vida, peçamos para mudar o ódio em amor, a vingança em perdão, a guerra em paz. Sim, Cristo é a nossa paz e, por seu intermédio, imploramos a paz para o mundo inteiro.
Na celebração eucarística em sufrágio do papa João Paulo II, ocorrida no domingo da misericórdia (03/04/2005), foi destacado a necessidade que o mundo tem de compreender e acolher a Divina Misericórdia:
Hoje ressoa igualmente o alegre Aleluia da Páscoa. O Evangelho de João sublinha que o Ressuscitado, na tarde daquele dia, apareceu aos Apóstolos e "mostrou-lhes as mãos e o lado" (Jo 20, 20), isto é, os sinais da dolorosa paixão impressos de modo indeléveis no seu corpo mesmo depois da ressurreição. Aquelas chagas gloriosas, que oito dias depois fez o incrédulo Tomé tocar, revelando a misericórdia de Deus que “tanto amou o mundo que deu o seu Filho unigênito” (Jo 3,16). Este mistério da morte está no centro da hodierna liturgia do Domingo in Albis, dedicado ao culto da Divina Misericórdia.
Jesus apresenta-se no meio da comunidade (Jo 20,19-31) e saúda os discípulos com a saudação da plenitude dos bens messiânicos: “A paz (shalom) esteja com vocês”. É a mesma saudação da despedida (Jo 14,27). É a saudação do Cordeiro vencedor que ainda traz em si os sinais de vitória, as marcas nas mãos e no lado (v.20). Dele a comunidade se alimentará. A reação da comunidade é a alegria (16,20-22) que ninguém, de agora em diante, poderá suprimir (VP).
Jesus Ressuscitado faz a comunidade cristã ser igreja de portas abertas, responsável pela criação do mundo novo.
Reunidos em nome da fé e de nossa pertença a Cristo, somos recriados, investidos do seu Espírito: “Tendo falado isso, Jesus soprou sobre eles, dizendo: “Recebam o Espírito Santo” (v.22). É o Pentecostes, é a missão que começa. Essa nova criação faz dos discípulos cristos ressuscitados (R.Gravel).
Assim fortalecida, a comunidade está pronta para a missão que o próprio Jesus recebeu: “Como o Pai me enviou, assim também eu envio vocês” (v.21).
Quem garante, portanto, a missão da comunidade é o Espírito Santo. Para João, o Pentecostes se realiza aqui, na tarde do dia da ressurreição. De agora em diante, batizados no Espírito Santo (1,33), os cristãos têm o encargo de continuar o projeto de Deus: “Os pecados daqueles que vocês perdoarem serão perdoados; os pecados daqueles que vocês não perdoarem não serão perdoados” (22-23).
Jesus, ao soprar sobre os discípulos, comunica-lhes sua própria missão. O sopro recorda Gn 2,7, o sopro vital de Deus que comunica a vida. Recordando o Gênesis, João quer dizer que aqui, no dia da ressurreição, nasce a comunidade dos seguidores de Jesus, aos quais ele confia sua própria missão (VP).
Estando ausente no primeiro encontro, Tomé não fez a experiência do Ressuscitado. Ele escutava o testemunho dos outros, mas precisava mais do que isso: “Se eu não vir a marca dos pregos nas mãos de Jesus, se eu não colocar o meu dedo na marca dos pregos e se eu não colocar a minha mão no lado dele, eu não acreditarei” (v.25). Na assembleia do domingo seguinte, Tomé está presente. O texto de João não diz que Tomé tocou as feridas de Cristo e sim que ele as viu, e o verbo ver, no evangelho de João, tem o mesmo sentido que o verbo crer: ver conduz necessariamente à fé. A expressão: “Meu Senhor e meu Deus!” (v.28) é mais bela profissão de fé do discípulo que encontra o Ressuscitado.
Como Tomé, a comunidade é chamada a ter fé madura que não exige sinais extraordinários para perceber Jesus presente nela. Diante dos conflitos em nossa região, em nosso Brasil e no mundo; diante “da fome e das graves desigualdades sociais, temos de vencer o medo e o desânimo quanto ao futuro da humanidade”.
A vitória de Cristo ressuscitado continua atuando na história e vencendo o mal com o bem. A expectativa da Páscoa definitiva nos anima e encoraja para testemunhar, ainda nesta vida, os valores do Reino de Cristo: a confiança na misericórdia divina, o amor gratuito a todos, a luta pelos direitos humanos, o serviço aos necessitados e o perdão das ofensas. Sejamos, como nos animava nosso querido Dom Luciano Mendes de Almeida, artífices de uma nova era de compreensão, perdão, justiça e concórdia universal. Este será o sinal e anúncio da Páscoa definitiva.
Igreja paroquial: Comunidade de comunidades
Tendo como tema central “Comunidade de comunidades: uma nova paróquia”, estaremos participando da 51ª Assembleia Geral dos Bispos do Brasil, que acontece, a partir da próxima semana (10-19/04), em Aparecida, SP, junto ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida. Queremos reforçar a importância da oração de todos para o bom êxito da assembleia.
A Assembleia é definida pelo Estatuto da CNBB como a expressão da comunhão e corresponsabilidade dos bispos de todo o Brasil. É também espaço de fraternidade, de espiritualidade; de “discernimento solidário sobre os grandes problemas da sociedade e da Igreja, e o estímulo para oferecer orientações pastorais que animem os membros do Povo de Deus a assumirem com fidelidade e decisão sua vocação de discípulos missionários” (DAp 181).
Reunidos, os bispos exercem de maneira colegiada sua missão, partilhando preocupações e esperanças, debruçando-se sobre a realidade na qual está inserido o povo de Deus e, à luz das Sagradas Escrituras e do magistério da igreja, buscam juntos os melhores caminhos para levar a todos a vida em abundância que Jesus veio trazer (Jo 10,10).
A Assembleiaé de fato, instrumento na consolidação da comunhão episcopal (são mais de 400 bispos, incluindo os eméritos), e mediadora na busca da unidade pastoral que marca as 272 circunscrições (2010): arquidioceses, dioceses, prelazias espalhadas pelo Brasil, com quase 10.000 paróquias, 18 mil presbíteros, mais de dois mil diáconos permanentes, 40 mil religiosos e religiosas e membros de outras formas de vida consagrada, além de milhares de agentes pastorais, leigos e leigas, responsáveis pela ação pastoral e evangelizadora de nossas comunidades eclesiais.
Quanto ao tema central da Assembleia, constatamos que a paróquia precisa de uma renovação urgente. As mudanças da realidade clamam por revitalização e nova organização, especialmente articulada em pequenas comunidades, capazes de estabelecer vínculos entre as pessoas que convivem na mesma fé.
É naparóquia, escola de fé, oração, valores e costumes cristãos, que vive a Igreja reunida em torno do Senhor. Ela existe para unir os cristãos ao seu Senhor e atrair muitos outros para essa grande família de Deus, a Igreja: sacramento da salvação. Ela pode se tornar um farol sempre mais luminoso, especialmente em tempos de incertezas e inseguranças. Na paróquia, cada pessoa deve ter a possibilidade de fazer o encontro com Jesus Cristo e integrar-se na comunidade dos seus seguidores.
Dentre os assuntos diversos e prioritários da Assembleia temos ainda: a Jornada Mundial da Juventude, a vinda Papa Francisco ao Brasil, o Ano da Fé, o diretório da Comunicação, o documento dos Quilombolas, a questão agrária no Brasil, análise da conjuntura nacional e eclesial, etc.. O retiro dos bispos, cujo tema é “o Bispo: Mestre e Testemunha da Fé” tem como Pregador nosso estimado Arcebispo de Porto Velho, Dom Esmeraldo Barreto de Farias.
Invocando “a intercessão da Virgem Maria, que guardava todos os acontecimentos no seu coração (Lc 2,19.51), peçamos ao Senhor que nos torne participantes da sua Ressurreição: que nos abra à sua novidade que transforma, que nos torne homens e mulheres capazes de fazer memória daquilo que Ele opera na nossa história pessoal e na do mundo; que nos torne capazes de O percebermos como o Vivente, vivo e operante no meio de nós” (Papa Francisco).