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Dom Moacyr

O que a Igreja da Amazônia diz de si mesma?



De 24 a 30 de maio de 1972, realizou-se em Santarém, o Encontro dos Bispos da Amazônia, que constituiu um marco na caminhada da Pastoral desta imensa região. Após 40 anos, o que a Igreja da Amazônia diz de si mesma?

Para a Igreja evangelizar significou encarnar-se na realidade do povo e levar uma mensagem mais centrada no Reino de Deus. Tendo a encarnação como método, assumido por todos nós na Assembléia de Santarém, a Igreja amazônica avançou no que hoje se denomina de inculturação. E plenificou sua presença neste chão quando em Manaus (1997) se declarou como a Igreja que armou sua tenda na Amazônia, ensejando a declaração de uma Igreja com rosto amazônico.

Segundo Pe. Possidonio, esses marcos referenciais fizeram a Igreja na Amazônia assumir profeticamente a causa dos oprimidos dentro de uma realidade de exclusão.

“Cristo aponta para a Amazônia”! Estas foram as palavras do Papa Paulo VIque, em 1972, inspiraram as Linhas prioritárias da Pastoral da Amazônia. A partir do Concílio Vaticano II, Conferência deMedellin e “recolhendo a experiência e os anseios das bases“ a Igreja Amazônica escolheu duas diretrizes básicas:a Encarnação na realidade, pelo conhecimento e pela convivência com o povo, na simplicidade, e a Evangelização libertadora, que orientam a definição das quatro prioridades da Pastoral da Amazônia.

Aformação de agentes de pastoral, as comunidades cristãs de base, a pastoral indígena, e estradas e outras frentes pioneiras, foram as prioridades assumidas, incluindo a juventude, algum tempo depois.

As Igrejas na Amazônia implementaram as decisões de Santarém e Manaus, contudo, a necessidade de avaliar e responderaos novos desafios, sobretudo, quanto à destruição do meio ambiente na Amazônia, os bispos se reuniram, dessa vez em Icoaraci, PA (1990). “A sangria da Amazônia já chega ao extremo e a criação de Deus geme no estertor da morte“escreveram os bispos no documento “Em defesa da Vida na Amazônia”.

Para celebrar o 40º ano do Encontro de Santarém, os bispos das dioceses e prelazias da Amazônia se reúnem em Santarém, a partir desta segunda, 02 de julho atédia 6. Além da participação dos bispos, coordenadores de pastoral, leigos, diáconos, CRP, CNBB, Comissão para Amazônia, CRB Nacional e Regional, representantes dos regionais NE5, O2, CO, CIMI, CPT, Kirche in not e Adveniat, estarão presentes.

E hoje, o que a Igreja da Amazônia diz de si mesma?Os rostos sofredores dos pobres são rostos sofredores de Cristo. Eles desafiam o núcleo do trabalho da Igreja, da pastoral e de nossas atitudes cristãs (DAp 393).

A Amazônia, rica em sua biodiversidade, abriga diversos povos e culturas, que hoje compreendem o desafio que representa a proteção da Amazônia e o seu desenvolvimento sustentável.

A Igreja na Amazônia apoia iniciativas de instituições públicas e privadas que visam à conscientização do povo e soluções concretas para o bem comum e das pessoas em particular.

A maior riqueza da Amazônia, que é o ser humano, é o mais ameaçado. O êxodo do campo para a cidade continua. O povo vive nas periferias em condições precárias, sem nenhuma assistência do Estado.Muitos ribeirinhos deixam seu lugar de origem e migram para a cidade em busca de melhores condições de vida.

Outro fator que provoca o êxodo e a migração, inclusive de outros estados, são os grandes projetos e a expansão do agronegócio.Muitos brasileiros emigram para os países vizinhos. Por outro lado a presença, muitas vezes ilegal, de estrangeiros vindos dos países fronteiriços é cada vez maior.

O ensino desligado da realidade rural não motiva e nem prepara os jovens para se fixarem na sua terra. Alguns deles entram no trabalho informal, e outros, sem perspectivas, enveredam pelo caminho do alcoolismo, prostituição, gangues, drogas que se alastram nas pequenas e grandes cidades e também na zona rural. As drogas pesadas têm na Amazônia seus “maiores corredores” para o mundo. Os pequenos traficantes, jovens e pobres, lotam os presídios, enquanto que os grandes andam impunes e soltos.

Os planos do governo de combate ao narcotráfico são insuficientes e a polícia está despreparada para este tipo de ação.As periferias são palco de violência que atinge, sobretudo, os jovens. Roubos, assaltos, seqüestros são cada vez mais comuns. A desestruturação familiar, o desemprego, as frustrações aumentam os casos de violência doméstica que levam à perda do sentido da vida.

São gravíssimos os males causados pela prostituição infantil e pela exploração sexual de menores.A violência no campo continua ceifando vidas de índios e colonos. São frequentes os casos de trabalho escravo. Quem luta em defesa da justiça e dos direitos humanos muitas vezes é ameaçado e corre risco de morte. Os programas de governo para diminuir a pobreza têm produzido um assistencialismo que gera dependência

Quarenta anos após o encontro de Santarém, o Espírito de Deus conclama de novo as nossas Igrejas da Amazônia e se encontrarem reafirmando o discipulado e a missão que o Senhor nos confiou.

São Pedro e São Paulo, Apóstolos!

Estamos celebrando a Solenidade de São Pedro e São Paulo, contudo, mesmo com a celebração no domingo, o dia 29 continua sendo o dia consagrado a estes dois apóstolos e muito comemorado, de forma tradicional nas Comunidades São Pedro(Arigolandia) e São Paulo (B.Nacional).

Neste ano, de modo especial, pudemos acompanhar a transmissão ao vivo pela Rede Vida e Canção Nova, diretamente da Basílica São Pedro em Roma, da celebração presidida pelo papa, com a imposição do pálio aos novos arcebispos, que inclui Dom Esmeraldo, com o qual nos congratulamos.

Pedro e Paulo representam duas vocações na Igreja, duas diferentes dimensões da missão. Eles são considerados “colunas da Igreja”: Pedro recorda mais a instituição; Paulo, o carisma e a pastoral. São dimensões atuais e se complementam: a responsabilidade institucional e a criatividade missionária.

Simão responde pela fé dos seus irmãos (Mt 16,13-19). Por isso, Jesus lhe dá o nome de Pedro, que significa sua vocação de ser “pedra”, rocha, para que Jesus edifique sobre ele a comunidade daqueles que aderem a ele na fé. Na reflexão de Pe. Konings, Pedro deverá dar firmeza aos seus irmãos (Lc 22,32). Esta “nomeação” vai com uma promessa: as “portas” (cidade, reino) do inferno (o poder do mal, da morte) não poderão nada contra a Igreja, que é uma realização do Reino de Deus. A libertação da prisão ilustra esta promessa (At 12,1-11).

Jesus lhe confia também “o poder das chaves”, isto é, o serviço de administrador de sua casa, de sua família, de sua comunidade. Na medida em que a Igreja é a realização parcial do Reino de Deus, Pedro e seus sucessores, os Papas, são “administradores” dessa parcela do Reino de Deus. Eles têm a última responsabilidade do serviço pastoral. Pedro, sendo aquele que “responde pelos Doze”, administra ou governa as responsabilidades pela evangelização.

Pedro recebe também o poder de “ligar e desligar”, exatamente como último responsável da comunidade. Não se trata de um poder ilimitado, mas da responsabilidade pastoral, que concerne à orientação dos fiéis para a vida em Deus, no caminho de Cristo.

Se Pedro aparece como fundamento institucional da Igreja, Paulo aparece mais na qualidade de fundador carismático. Sua vocação se dá na visão do Cristo no caminho de Damasco: de perseguidor, transforma-se em “apóstolo de Cristo”. É ele que realiza, por excelência, a missão dos apóstolos, de serem testemunhas de Cristo “até os extremos da terra” (At 1,8). Ele é o “apóstolo das nações”. No fim de sua vida, pode oferecer sua vida como “oferenda adequada” a Deus.

Como Pedro, Paulo experimenta Deus que o liberta da tribulação (2Tm 4,6-8.17-18).Ele está prestes a morrer. E aproveita para fazer uma revisão de sua vida, olhando para o passado e para o futuro. Para ele, tudo é graça de Deus. Chegou o momento de dar o grande testemunho. O sangue que Paulo vai derramar fará aumentar e incrementar a evangelização.A paixão de Paulo é o prolongamento da paixão de Jesus (Cl 2,14).

Fonte: Arquidiocese

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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