Sexta-feira, 9 de abril de 2010 - 23h07
“Noite mil vezes feliz” cantamos na vigília pascal. “No esplendor desta noite que viu vencer o Cordeiro e ressurgir Jesus: Noite mil vezes feliz, Deus por nós seu Filho deu, aniquilou-se a maldade, o opressor foi despojado, noite clara como o dia, na luz de Cristo glorioso, exultemos de alegria”! Páscoa é a vitória da Vida sobre a morte. Hoje, renovamos nosso compromisso batismal, alimentamo-nos da ceia eucarística.
O batismo nos insere no mistério de Cristo morto e ressuscitado. Somos chamados a viver e seguir Jesus Cristo e a conformar a nossa vida a dele (Rm 6,4). A vida cristã é fundamentalmente vida em Cristo pelo dom do Espírito, fruto da Páscoa.
Como às mulheres na manhã da Ressurreição nos é repetido: “Por que buscam entre os mortos aquele que está vivo?” (Lc 24,5). Os sinais da vitória de Cristo ressuscitado nos estimulam enquanto suplicamos a graça da conversão e mantemos viva a esperança que não defrauda. O que nos define não são as circunstâncias dramáticas da vida, nem os desafios da sociedade ou as tarefas que devemos empreender, mas todo o amor recebido do Pai, graças a Jesus Cristo pela unção do Espírito Santo (DAp 1).
Com a ressurreição começa o anúncio do Evangelho de Cristo a todos os povos; começa o reinado de Cristo, este novo reino que não conhece outro poder que o da verdade e do amor. A ressurreição revela portanto, qual é a autêntica identidade e a extraordinária estatura do Crucificado. Uma dignidade incomparável e altíssima: Jesus é Deus! Para São Paulo, a secreta identidade de Jesus, mais ainda que a encarnação, revela-se no mistério da ressurreição.
A experiência íntima com o Cristo pascal, cresce, desenvolve-se e se consolida, participando da eucaristia, na qual, cada batizado se une com Cristo na oferta da própria vida ao Pai mediante o Espírito. Ser espiritual significa viver segundo o Espírito de Deus (V.Fernandes). A espiritualidade tem a ver com tudo o que somos e fazemos, segundo o Espírito. O Espírito acende em nós o amor, a paixão por Jesus Cristo e nos leva a pautar toda a nossa vida pela intimidade com ele.
Jesus continua vivo, acompanhando nossa caminhada na fé. “A espiritualidade cristã, que é o seguimento de Jesus, se alimenta de uma verdadeira paixão por Ele, de uma amizade singular ..de uma compenetração intimíssima, comunhão mesmo” (P.Casaldáliga).
Para nós, a Páscoa é o encontro feliz com o Ressuscitado, é a alegria de vê-Lo no meio dos discípulos repartindo o pão nosso de cada dia e o Pão da Palavra, pão da Vida. Os caminhos de vida verdadeira e plena para todos, caminhos de vida eterna, são aqueles abertos pela fé que conduzem à plenitude de vida que Cristo nos trouxe: com esta vida divina, também se desenvolve em plenitude a existência humana, em sua dimensão pessoal, familiar, social e cultural (DAp 13). Essa é a vida que Deus nos participa por seu amor gratuito, porque é o amor que dá a vida.
Durante o ano litúrgico que tem como eixo e fundamento a páscoa, vamos progressivamente inserindo-nos no mistério pascal de Jesus Cristo. “Trata-se da recriação de nosso eu, adquirindo a forma de Jesus Cristo ressuscitado, segundo o Espírito de Deus ( I.Buyst). É processo lento e sofrido, e ao mesmo tempo alegre e esperançoso, que deverá durar até a nossa morte. Perfazendo seu próprio caminho pascal, cada pessoa está ao mesmo tempo participando e colaborando na páscoa de todo o tecido social, de toda a realidade cósmica (Rm 8,18-25), até à plena comunhão, quando Deus será tudo em todos”(1Cor 15,28).
A novidade da ressurreição, escreve-nos o papa Bento XVI, consiste no fato de que Jesus, elevado da humanidade de sua existência terrena, foi constituído Filho de Deus “com poder”. O Jesus humilhado até a morte na cruz pode dizer agora aos Onze: “Foi-me dado todo poder no céu e na terra” (Mt 28,18). Realizou-se o que diz o Salmo 2,8: “Pedi-me, e te darei em herança as nações, em propriedade os confins da terra”. Por isso, com a ressurreição começa o anúncio do Evangelho de Cristo a todos os povos.
Para São Paulo, o título Filho de Deus vem ilustrar a relação íntima de Jesus com Deus, uma relação que se revela plenamente no acontecimento pascal. Jesus ressuscitou para ser o Senhor dos vivos e dos mortos (Rm 14,9; 2Cor 5,15), nosso Salvador (Rm 4,25). Tudo isso está carregado de importantes conseqüências para nossa vida de fé: somos chamados a participar, até no mais profundo de nosso ser, em todo o acontecimento da morte e ressurreição de Cristo.
Diz o Apóstolo: “morremos com Cristo e cremos que viveremos com ele, sabendo que Cristo ressuscitado dentre os mortos já não morre mais; a morte já não tem domínio sobre ele” (Rm 6,8-9). Isso se traduz num compartilhar os sofrimentos de Cristo, numa configuração plena com Ele mediante a ressurreição, que contemplamos com esperança. É o que aconteceu também com São Paulo, cuja experiência está descrita em suas Cartas: “E conhecê-lo, conhecer o poder de sua ressurreição e a comunhão de seus padecimentos até fazer-me semelhante a ele em sua morte, procurando chegar à ressurreição dentre os mortos” (Fl 3,10-11; 2Tm 2,8-12). Viver na fé em Jesus Cristo, viver a verdade e o amor implica renúncias todos os dias, implica sofrimentos. O cristianismo não é o caminho da comodidade, é mais uma escalada exigente, mas iluminada pela luz de Cristo e pela grande esperança que nasce d’Ele.
Santo Agostinho diz: os cristãos não são poupados do sofrimento; ao contrário, a eles cabe um pouco mais, porque viver a fé é uma expressão do valor de enfrentar a vida e a história mais em profundidade. Contudo só assim, experimentando o sofrimento, conhecemos a vida em sua profundidade, em sua beleza, na grande esperança suscitada por Cristo crucificado e ressuscitado.
Ao fazermos memória da páscoa do Senhor, participamos de seu mistério de morte e ressurreição. Em outras palavras, fazer a memória do Cristo é participar; é entrar em comunhão com o seu corpo (tornar um só corpo com Ele e com os irmãos); é participar do seu destino; é participar da ressurreição na vida que brota da sua entrega. Quando nos reunimos para celebrar o mistério de Cristo, Ele mesmo, por seu Espírito, nos vai moldando à sua estatura, porque assume nossa vida em seu mistério (At 20,7-12). Como seguidores de Jesus Cristo progressivamente nos tornamos uma coisa só com ele. É um processo que se dá concretamente no cotidiano da nossa história. Cristo, embora tenha passado pela morte, venceu-a.
Aqui está o desafio para todos os cristãos e comunidades eclesiais: mostrar a capacidade da Igreja de promover e formar discípulos que respondam à vocação recebida e comuniquem em todas as partes, transbordando de gratidão e alegria, o dom do encontro com Jesus Cristo. Não temos outro tesouro a não ser este. Não temos outra felicidade nem outra prioridade que não seja ser instrumentos do Espírito de Deus na Igreja, para que Jesus Cristo seja encontrado, seguido, amado, adorado, anunciado e comunicado a todos, não obstante todas as dificuldades e resistências (DAp14).
Este processo que nos define começou com a ressurreição de Cristo, na qual se funda a esperança de poder entrar com Cristo também em nossa verdadeira pátria, que está no Céu. Sustentados por esta esperança, prosseguimos com coragem e alegria. Feliz Páscoa meu irmão,minha irmã!
Fonte: http://www.arquidiocese.com.br
Fonte: Pascom
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