Quarta-feira, 14 de abril de 2010 - 07h14
Neste Ano Sacerdotal, o 47º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, que será celebrado no IV Domingo de Páscoa, Domingo do “Bom Pastor”, no próximo dia 25 de Abril, nos oferece a oportunidade de refletir o tema: “O testemunho suscita vocações”.
A mensagem do papa para este dia destaca que a fecundidade da proposta vocacional depende da ação gratuita de Deus, e é favorecida pela qualidade e riqueza do testemunho pessoal e comunitário de todos aqueles que já responderam ao chamado do Senhor no ministério sacerdotal e na vida consagrada, pois o seu testemunho pode suscitar em outras pessoas o desejo de, por sua vez, corresponder com generosidade ao apelo de Cristo.
Portanto, o tema deste ano está intimamente ligado com a vida e a missão dos sacerdotes e dos consagrados e é motivo para todos aqueles que o Senhor chamou para trabalhar na sua vinha de renovar sua fidelidade de resposta.
Já no Antigo Testamento os profetas tinham consciência de que eram chamados a testemunhar com a sua vida aquilo que anunciavam, prontos a enfrentar mesmo a incompreensão, a rejeição, a perseguição. A tarefa, que Deus lhes confiara, envolvia-os completamente, como um fogo ardente no coração impossível de conter (Jr 20,9), e, por isso, estavam prontos a entregar ao Senhor não só a voz, mas todos os elementos da sua vida.
Na plenitude dos tempos, será Jesus, o enviado do Pai (Jo 5,36), que, através da sua missão, testemunha o amor de Deus por todos os homens sem distinção, com especial atenção pelos últimos, os pecadores, os pobres e marginalizados. Jesus é a suprema Testemunha de Deus e da sua ânsia de que todos se salvem. Na aurora dos novos tempos, João Batista, com uma vida gasta inteiramente para preparar o caminho para Cristo, testemunha que se cumpram, no Filho de Maria de Nazaré, as promessas de Deus. Quando O vê chegar ao rio Jordão, onde estava batizando, João indica-O aos seus discípulos como “o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29). O seu testemunho é tão fecundo que dois dos seus discípulos, “ouvindo o que ele tinha dito, seguiram Jesus” (Jo 1,37).
Também a vocação de Pedro, conforme é descrita pelo evangelista João, passa pelo testemunho de seu irmão André; este, após ter encontrado o Mestre aceita seu convite para permanecer com Ele, logo sente necessidade de comunicar a Pedro aquilo que descobriu permanecendo junto do Senhor: “Encontramos o Messias” (que quer dizer Cristo). E levou-o a Jesus (Jo 1,41-42). O mesmo aconteceu com Natanael (Bartolomeu), graças ao testemunho de outro discípulo, Filipe, que cheio de alegria lhe comunica a sua grande descoberta: “Acabamos de encontrar Aquele de quem escreveu Moisés na Lei e que os Profetas anunciaram: é Jesus, o filho de José, de Nazaré” (Jo 1,45).
A iniciativa livre e gratuita de Deus cruza-se com a responsabilidade humana daqueles que acolhem o seu convite, e interpela-os para se tornarem, com o próprio testemunho, instrumentos do chamado divino. O mesmo acontece, ainda hoje, na Igreja: Deus serve-se do testemunho de sacerdotes fiéis à sua missão, para suscitar novas vocações sacerdotais e religiosas para o serviço do seu Povo. Três aspectos da vida do presbítero e dos religiosos são essenciais para um testemunho sacerdotal eficaz:
1. Amizade com Cristo. Elemento fundamental e comprovado de toda a vocação ao sacerdócio e à vida consagrada é a amizade com Cristo. Jesus vivia em constante união com o Pai, e isto suscitava nos discípulos o desejo de viverem a mesma experiência, aprendendo d’Ele a comunhão e o diálogo incessante com Deus. Se o sacerdote é o “homem de Deus”, que pertence a Deus e ajuda a conhecê-Lo e a amá-Lo, não pode deixar de cultivar uma profunda intimidade com Ele e permanecer no seu amor, reservando tempo para a escuta da sua Palavra. A oração é o primeiro testemunho que suscita vocações. Tal como o apóstolo André comunica ao irmão que conheceu o Mestre, assim também quem quiser ser discípulo e testemunha de Cristo deve tê-Lo visto pessoalmente, conhecido, aprendido a amá-Lo e a permanecer com Ele.
2. Dom total de si mesmo a Deus. Outro aspecto da consagração sacerdotal e da vida religiosa é o dom total de si mesmo a Deus. Escreve o apóstolo João: “Nisto conhecemos o amor: Jesus deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos nossos irmãos” (1 Jo 3,16). Com estas palavras, os discípulos são convidados a entrar na mesma lógica de Jesus que, ao longo de toda a sua vida, cumpriu a vontade do Pai até à entrega suprema de Si mesmo na cruz. Manifesta-se aqui a misericórdia de Deus em toda a sua plenitude; amor misericordioso que derrotou as trevas do mal, do pecado e da morte. A figura de Jesus que, na Última Ceia, Se levanta da mesa, depõe o manto, pega numa toalha, ata-a à cintura e Se inclina a lavar os pés aos Apóstolos, exprime o sentido de serviço e doação que caracterizou toda a sua vida, por obediência à vontade do Pai (Jo 13,3-15). No seguimento de Jesus, cada pessoa chamada a uma vida de especial consagração deve esforçar-se por testemunhar o dom total de si mesma a Deus. Daqui brota a capacidade para se dar depois àqueles que a Providência lhe confia no ministério pastoral, com dedicação plena, contínua e fiel, e com a alegria de fazer-se companheiro de viagem de muitos irmãos, a fim de que se abram ao encontro com Cristo e a sua Palavra se torne luz para o seu caminho. A história de cada vocação cruza-se quase sempre com o testemunho de um sacerdote que vive com alegria a doação de si mesmo aos irmãos por amor do Reino dos Céus. É que a presença e a palavra de um padre são capazes de despertar interrogações e de conduzir mesmo a decisões definitivas (PDV 39).
3. Comunhão no amor. Um terceiro aspecto que caracteriza o sacerdote e a pessoa consagrada é viver a comunhão. Jesus indicou como sinal distintivo de quem deseja ser seu discípulo, a profunda comunhão no amor: “É por isto que todos saberão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,35). De modo particular, o sacerdote deve ser um homem de comunhão, aberto a todos, capaz de fazer caminhar unido todo o rebanho que a bondade do Senhor lhe confiou, ajudando a superar divisões, sanar lacerações, aplanar contrastes e incompreensões, perdoar as ofensas.
O Concilio Vaticano II, referindo-se ao testemunho capaz de suscitar vocações, destaca o exemplo de caridade e de fraterna cooperação que devem oferecer os sacerdotes (OT 2). “A própria vida dos padres, a sua dedicação incondicional ao rebanho de Deus, o seu testemunho de amoroso serviço ao Senhor e à sua Igreja, testemunho assinalado pela opção da cruz acolhida na esperança e na alegria pascal, a sua concórdia fraterna e o seu zelo pela evangelização do mundo são o primeiro e mais persuasivo fator de fecundidade vocacional” (PDV 41).
Podemos concluir com o papa que as vocações sacerdotais nascem do contato com os sacerdotes e religiosos, como uma espécie de patrimônio precioso comunicado com a palavra, o exemplo e a existência inteira. Fiel à sua vocação, cada presbítero e consagrado/a transmitem a alegria de servir Cristo, e convidam todos os cristãos a responderem à vocação universal à santidade. Para a promoção de vocações específicas ao ministério sacerdotal e à vida consagrada, para se tornar mais forte e incisivo o anúncio vocacional, é indispensável o exemplo daqueles que já disseram o próprio “sim” a Deus e ao projeto de vida que Ele tem para cada um.
Fonte: Pascom
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