Quarta-feira, 12 de setembro de 2012 - 18h14
“Discípulos Missionários a partir do evangelho de Marcos” é o tema deste mês da Bíblia.
O Evangelho de Marcos tornou-se o primeiro catecismo da comunidade cristã e é uma resposta à pergunta: “Quem é Jesus?” à luz dos ensinamentos do Mestre.
O evangelista mostra o significado de ser cristão e discípulo de Jesus. E a resposta vai sendo dada aos poucos, à medida que as pessoas se comprometem com o projeto de Deus, atuando uma prática libertadora que traduza a presença e ação de Deus na história (VP).
O texto deste domingo (Mc 7,31-37) nos apresenta Jesus percorrendo regiões pagãs, abrindo os ouvidos e a boca das pessoas. Ele cura o surdo-mudo longe da multidão para que este se sinta, depois, responsável pelo anúncio daquilo que Jesus lhe fez, tornando-se, por sua vez, evangelizador, isto é, portador da boa nova.
Tocando Jesus o surdo-mudo, é o próprio Deus que se ocupa de quem não podia ouvir nem falar; ou seja, ele está reintegrando em sua dignidade e identidade alguém que fora privado da vida. Isso está em íntima sintonia com a primeira leitura. De fato, o episódio é uma catequese sobre Jesus à luz de Isaías 35. Com isso Marcos provoca os que iniciam a caminhada da fé a fazer a seguinte constatação: Jesus é aquele que, anunciado em Isaías, abre agora os ouvidos e a boca das pessoas, para que possam testemunhá-lo. Interessante, ainda, é notar que Jesus toca primeiro os ouvidos e depois a boca: a catequese é primeiramente escuta, assimilação, e a seguir, como consequência, anúncio.
Mas não são os gestos de Jesus que curam o surdo-mudo, e sim sua palavra. Depois que Jesus ordenou “Abre-te!” é que seus ouvidos se abriram e sua língua se soltou, e o homem começou a falar sem dificuldade. Com isso Marcos demitiza a ação de Jesus. Só sua palavra liberta e reintegra, e as pessoas não precisam de rituais ou de magia para abrir os ouvidos e anunciar que ele é o Messias.
E o próprio surdo-mudo, depois de curado, torna-se evangelizador. Essa disponibilidade para crer e se comprometer, não facilmente encontrada nos discípulos, emerge rapidamente naqueles que estavam fora, os pagãos. Tudo isso é grande desafio para os que creem ser já cristãos maduros e comprometidos.
O Texto Base do 12º Intereclesial das CEBs (Porto Velho, 21-25/07/2009) apresenta um belo texto da Missionária Xaveriana do CEBI do Pará, Ir. Tea Frigerio. Trata-se da leitura Bíblica na Amazônia que nos aproxima da Palavra que cura e liberta e torna-nos testemunhas e anunciadores do Deus Vivo.
O texto bíblico, Sagrado, nasce de constantes releituras da experiência fundante do povo de Israel, isto é, da libertação da opressão do Egito. Por sua vez, as releituras são provocadas pelo contexto histórico, pela situação existencial que o povo estava vivendo e que exigia uma atualização da Palavra, a fim de que falasse para os novos tempos. Isso vale para os dois Testamentos.
O texto bíblico nos faz pensar em tecido, em uma grande colcha de retalhos tecida a partir de um retalho fundamental. Texto originário, texto fundante que tem um padrão inicial e com o tempo vai se alargando, enriquecendo. O padrão inicial inspira novos trançados, repetindo, inovando, introduzindo novos desenhos, símbolos. As tecelãs e os tecelões usam novos fios, novas cores. Às vezes prevalecem os tons escuros. Outras vezes, os tons luminosos, tons de desespero e de esperança. Tons que falam das experiências da vida: dor e paixão, crueldade e doação, opressão e liberdade, egoísmo e solidariedade, indiferença e luta, choro e alegria. Texto, tecido que articula a experiência da fé como resposta humana a desafios históricos ou à interpelação divina na história.
Texto fundante que reconhecemos na experiência do êxodo, que identificamos como experiência de libertação. O êxodo, a fé no Deus libertador, é a semente que vai desabrochar, florescer, frutificar nas múltiplas experiências do povo ao longo da história. É luz que ilumina histórias antigas e as relê na variedade de nomes com que o povo vai identificar o Senhor, na experiência de Jesus de Nazaré e das Comunidades.
A rigor, esta experiência nos convida a ir além, pois o Deus do êxodo é libertador porque é o Deus da vida, o Deus presente na vida, é Deus-Vida.
A Vida é o fio condutor. Voltando à imagem do texto-tecido, a vida é o fio-corque perpassa toda trama do desenho, toda a colcha de retalhos. A cor-vida é o fio condutor de toda releitura, é o padrão que compõe o Texto Sagrado.
Texto Sagrado que consideramos Palavra de Deus, que não é livro fechado, mas que se esparrama na história. Fonte que nos convida a escutar a Palavra de Deus no nosso cotidiano, na nossa história. Escuta que ilumina e alimenta criativamente nosso pensar, nosso agir, que nos torna capazes de reler e assim continuar a escrever o Texto Sagrado. A colcha de retalhos não está concluída, pois estamos ainda tecendo, estamos ainda escrevendo.
A Vida é o fio que perpassa todo o Texto Sagrado. A Vida é o trançado que compõe a trama da Amazônia.
Tomando emprestadas as palavras de Norman Myers, podemos dizer: “Não compreenderemos inteiramente a vida enquanto não compreendermos as florestas tropicais”. As florestas tropicais estão entre os mais antigos ecossistemas terrestres. Isso vale por excelência para a Amazônia onde a vida se manifesta nas centenas, senão milhares de inter-relações entre as espécies, nos gratificando com sua explosão vital. A Amazônia tem a sua vocação nitidamente florestal. Por isso, temos que encará-la como fonte inesgotável de vida, luz, renascimento, regeneração e amor. Um milagre em cada amanhecer.
Então silenciamos, aguçamos a vista, colocamos em alerta nossos ouvidos, abrimos nossas mentes, nosso coração para a Palavra de Deus que somos convidados a ouvir, a escrever hoje a partir da Amazônia.
Em sua Carta aos Romanos, Paulo nos associa ao gemido que sai da terra cativa. Anima-nos ao dizer que, ao nosso gemido, o Espírito vem em socorro, pois não sabemos escutar os gemidos, não sabemos gemer (Rm 8,18-27).
Deixar-nos levar pelo Espírito, que une seu gemido ao nosso, é acolher os novos paradigmas que estão sendo elaborados, é usá-los como instrumentos para reler nosso Texto Sagrado. Deixar-nos conduzir pelo Espírito, que faz seu o nosso gemido e o da natureza é permitir que nos leve ao encontro das pessoas, cristãs e não cristãs que já estão, há anos, buscando estas luzes, iluminar nossa fé, nosso agir e responder às interpelações de Deus na nossa história hoje. E, assim permitir que o Espírito faça penetrar em nós o gemido da natureza que anseia por libertação. Assim, o universo libertado, será a oikos, casa comum de todos os seres vivos e do próprio Deus.
A realidade amazônica não é mais somente floresta, rio, hoje é também urbana. As cidades, com suas periferias são para as comunidades cristãs, hoje o grande desafio. Sempre mais escutamos vozes afirmar que no futuro viveremos num mundo urbanizado. As CEBs nasceram e desabrocharam no mundo rural. Ainda estamos num processo doloroso de busca: como enxertar esta experiência na pastoral urbana?
Jesus de Nazaré, ao se encarnar, ao colocar sua tenda em nosso meio nos convida a colocar-nos à escola do povo. Sair para ir ver, para conhecer de perto, para se aproximar e descobrir o sagrado no cotidiano, nos corpos, na natureza, nas expressões religiosas do povo.
Encarar a Amazônia como herança verdadeira, viva. Michael Gonlding acena para nós um caminho ao dizer: “A bacia Amazônica é, acima de tudo, a nossa maior celebração de diversidade do Planeta”.
Celebrar é sentir, é se comprometer: como povo, como terra, floresta da Amazônia. Assim como nos sentimos povo de Deus, povo universal.
A Amazônia nos fala de uma realidade que ultrapassa os limites do Brasil, do continente. Aprender, buscar alternativas para fazer renascer constantemente a vida. Vida que renasce das cinzas que viram adubo.
Assim, vamos percebendo o fio condutor da manutenção da vida que perpassa a Amazônia, tal como também perpassa a Bíblia, interligando as realidades, histórias, vivências diferenciadas, mas todas elas conectadas entre si.
Fonte: Arquidiocese
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