Na celebração eucarística de invocação ao Espírito Santo para eleger o novo papa, no dia que antecedeu a eleição do papa Francisco, o Cardeal Sodano em sua homilia renovou a gratidão de toda Igreja ao pontífice Bento XVI. E recordou a intenção da missa, de implorar ao Senhor outro Bom Pastor para a Igreja. Um pastor de coração generoso, capaz de cumprir a missão de caridade que é própria da Igreja,pois cabe àIgreja “presidir a caridade” (LG 13), servindo e amando a humanidade inteira, promovendo sempre a justiça e a paz.
E eis que Deus nos envia um Papa mais próximo de nós, proveniente de um país emergente da América Latina, o primeiro não europeu desde o século 8, de coração generoso, simples, pastor e profundo conhecedor das dificuldades e do sofrimento que afligem o povo latino-americano.
Tive a oportunidade de conhecer o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio na V Conferencia de Aparecida, testemunhei sua simplicidade, inteligência, espirito missionário e capacidade de diálogo e articulação. Para ele, a última Conferência do Episcopado, em Aparecida, foi “mais fermento de inspiração”, foi “um chamado à criatividade que definiu linhas missionais”, e que “não terminou com um documento, como as conferências anteriores, mas com uma missão”. E do período da conferencia em Aparecida, ele disse em uma entrevista: “Todos os dias, nós concelebrávamos, os duzentos e tantos bispos, com o povo. Nos dias de semana vinha pouquinha gente: duzentas, trezentas pessoas .. sábado e domingo, 30 mil. E as sessões eram embaixo do santuário, em instalações que existem lá para os peregrinos. Então a nossa música de fundo eram os cantos do santuário. A voz do povo de Deus. Essa foi uma das grandes luzes de Aparecida: o povo de Deus envolvido na conferência, em um santuário mariano, a casa da Mãe”.
Hoje, recebemos o papa Francisco, com grande alegria, na certeza de que, como Bispo de Roma, irá realizar sua missão de “anunciar ao mundo a esperança, partindo da pregação do Evangelho de Jesus Cristo” (PG 3). Elevamos a Deus nossa prece para que “ele, tendo sido enviado, como Pastor de todos os fiéis, procure sempre o bem comum da Igreja universal e o de todas as Igrejas particulares”(CD 2).
“Bendito o que vem em nome do Senhor!”(Sl 118,26). A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em espírito de comunhão com a Igreja presente em todo o mundo, saudou Sua Santidade papa Francisco, expressando que este é “o momento de agradecer a bondade de Deus pela bênção de um novo Papa que vem para guiar os fieis católicos na santidade, ensiná-los no amor e servi-los na humildade”.
A eleição de Francisco revigora a Igreja na sua missão de “fazer discípulos entre todas as nações”, conforme o mandato de Jesus (Mt 28,16). Ao dizer “Sim” a este sublime e exigente serviço, Sua Santidade se coloca como Pedro diante de Cristo, confirmando-Lhe seu amor incondicional para, em resposta, ouvir: “Cuida das minhas ovelhas” (Jo 21,17).
Nascido no Continente da Esperança, Sua Santidade traz para o Ministério Petrino a experiência evangelizadora da Igreja latino-americana e caribenha.
A expectativa com que o mundo acompanhou a escolha do Sucessor de Pedro revela o quanto a Igreja pode colaborar com as Nações na construção da paz, da justiça, da igualdade e da solidariedade.
Ao novo Papa não faltará a assistência e a força do Espírito Santo para cumprir esta missão e aprofundar na Igreja o dom do diálogo, em uma sociedade marcada pela pluralidade e pela diversidade, e o compromisso com a vida de todos, a partir dos mais pobres, como nos ensina Jesus Cristo.
Ao saudá-lo no amor de Cristo que nos une e na missão da Igreja que nos irmana, asseguramos-lhe a obediência, o respeito e as orações das comunidades da Igreja no Brasil, para que seja frutuoso o seu Ministério Petrino. Com toda Igreja, confiamos sua vida e seu pontificado à proteção da Virgem Maria, mãe de Deus e mãe da Igreja. Bem-vindo Francisco! A Igreja no Brasil o abraça com amor!(CNBB)
Um papa jesuíta de coração franciscano que surpreende a todos com sua simpatia e afabilidade, iniciando sua fala com um pedido de orações. Pede a benção antes de abençoar. O primeiro papa Francisco “nos evoca seu espírito evangélico de proximidade aos pobres, sua identificação com o povo simples e seu compromisso com a renovação da Igreja” (Pe. Adolfo Nicolás, sj). Desde o primeiro momento em que se apresentou diante do povo de Deus, testemunhou de modo visível sua humildade, experiência pastoral e profundidade espiritual.
Para o jesuíta, PadreRamón de la Cigoña, “Francisco, o Poverello de Assis, veio para reconstruir a Igreja , (o papa) Francisco veio das terras da América do Sul, para o centro da cristande para fazer uma Igreja mais fraterna, simples e evangélica, do jeito de Jesus de Nazaré”.
Nosso papa é da Companhia de Jesus, congregação dos padres jesuítas, fundada por Santo Inácio de Loyola, que recebeu aprovação pontifícia em 1540. São 19 mil padres, irmãos e estudantes jesuítas (na década de 60 eram 36 mil), presentes em mais de 130 países, atuantes há mais de 460 anos, proporcionando educação de qualidade para mais de três milhões de pessoas: são mais de 180 colégios, 200 universidades e faculdades e quase três mil centros de Educação Popular.
Além dos votos de obediência, castidade e pobreza, os jesuítas fazem um voto especial de obediência ao Vigário de Cristo. Em 1974, o papa Paulo VI exortou os jesuítas a continuarem na fidelidade de seus antepassados. “Palavras que recebemos com humilde reconhecimento; naquela ocasião o Papa nos disse: onde quer que na Igreja, inclusive nos campos mais difíceis e de primeira linha, nas encruzilhadas de ideologias, nas trincheiras sociais, houve ou há confrontações entre as exigências do homem e a mensagem cristã, ali estiveram ou estão os jesuítas” (P.H.Kolvenbach).
Eis então que o Papa Francisco, primeiro jesuíta e latino americano, inaugura um novo capítulo da história do governo da Igreja Católica dando sinais de seu modo de ser e de sua missão: despojado, simples, e encarregado de levar boa notícia aos povos.
Para o teólogo Luiz Carlos Suzin, “os jesuítas, que estão fora das atuais tensões em torno dos vazamentos do Vaticano, são um exército de especialistas com história consolidada e excelentes estruturas para dar todo tipo de apoio necessário à missão que (o papa) deverá cumprir”.
Acolhamos, com esperança, as primeiras palavras do papa em sua primeira saudação ao povo reunido na Praça de São Pedro, na noite do dia 13 de março de 2013: “E agora, comecemos esta jornada, o bispo e o povo, esta jornada da Igreja de Roma, que preside, em caridade, todas as outras igrejas, uma jornada de fraternidade em amor, de confiança mútua. Oremos sempre uns pelos outros. Oremos pelo mundo todo para que possa haver um senso maior de fraternidade”.
Confirmando-nos nesta jornada, o Papa Francisco aponta-nos, em sua primeira homilia, um itinerário: “caminhar, edificar, professar Jesus Cristo crucificado”.
Esta foi a ideia central da primeira homilia do papa, proferida na Capela Sistina durante a celebração de conclusão do Conclave que o elegeu. Ele convidou os presentes a “caminhar sempre, na presença do Senhor, à luz do Senhor, procurando viver com irrepreensibilidade”.
Quando não caminhamos na presença de Deus, quando não edificamos sobre a pedra angular que é Cristo, quando não professamos Jesus como o nosso Senhor, as coisas não vão e tudo se esboroa como os castelos de areia que as crianças constroem na praia.
Contudo, não é tão fácil, admitiu o Papa, referindo expressamente o risco de mundanidade. Como para Pedro em Cesareia de Filipo, a tentação é de querer seguir Cristo sem a cruz. Sem a Cruz, não somos discípulos do Senhor, somos mundanos. Há que ter a coragem de caminhar na presença do Senhor, de edificar a Igreja como pedras vivas e de confessar como nossa única glória Cristo crucificado. Assim a Igreja avançará.