Terça-feira, 17 de abril de 2012 - 23h05
Estamos vivendo em Rondônia uma cultura de violência que se transforma em uma via sacra permanente, na qual os doentes e trabalhadores, os povos indígenas e as comunidades rurais e ribeirinhas, os atingidos pelas barragens, os sem terra e desempregados fazem parte. Aos poucos vamos compreendendo que os gritos da Amazônia encontram eco e que Deus está do lado dos crucificados.
Depois de ter vivido quarenta dias, a Quaresma, sem cantar Aleluia, neste domingo de Ressurreição com todos os nossos irmãs e irmãos cristãos somos convocados a proclamar com alegria "Aleluia, o Senhor Ressuscitou, Aleluia"!
No dia da Páscoa a Igreja anuncia que a Ressurreição de Cristo é a verdade fundamental do cristianismo. Sem a certeza da Ressurreição de Jesus, tudo que a Igreja ensina não teria sentido nenhum. O Jesus histórico, sem a Ressurreição, seria apenas mais um alguém que, com suas ideias fascinantes, chegou a revolucionar a história da humanidade. Só isso. Mas a realidade é bem maior: a vitória de Jesus sobre a morte garante tudo aquilo que ele e os profetas anunciaram. A primeira comunidade dos crentes em Jesus Ressuscitado tem por fundamento o testemunho de homens concretos, conhecidos dos cristãos e, na maioria dos casos, vivendo ainda entre eles (L.M.Almeida).
A Páscoa continua sendo atual. E é urgente para todos os povos, principalmente para as comunidades da Amazonia. Nossa fé é na Ressurreição de Jesus, porque a vida venceu a morte. Celebrar a Páscoa é reafirmar a nossa fé na ressurreição de Cristo e na ressurreição de toda luta pela paz e pela justiça. Jesus ressuscitado manifesta uma nova criação: quem é julgado e crucificado, agora é o defensor e juiz da vida.
Com a ressurreição de Cristo, nós celebramos também a nossa ressurreição. O verdadeiro cristão acredita firmemente que o que se realizou em Cristo, realizar-se-á também conosco. Foi ele quem prometeu: “Quem vive e crê em mim não morrerá eternamente” (Jo 11, 26).
Por sua morte e ressurreição, Jesus inaugura o Reino de Deus, projeto divino de paz, justiça e fraternidade universal que o Espírito realiza no mundo. Para o monge Marcelo Barros, a mensagem da Páscoa é que o Espírito que deu a Jesus de Nazaré uma vida nova inspira e impulsiona muitas pessoas a mudar esta realidade do mundo e ressuscitar da opressão o mundo todo. Evidentemente, este caminho é um processo e se realiza através da ação e do compromisso ético de todos os que creem no futuro da humanidade e no amor divino que fecunda o universo. As Igrejas devem ser sinais disso.
Em 1968, os bispos da América Latina, reunidos na conferência de Medellín, Colômbia, se comprometeram a dar a Igreja um rosto de uma Igreja pascal. Uma Igreja pascal significa uma Igreja capaz de evoluir com a humanidade e que se define a si mesma como peregrina e missionária do reino de Deus, ou seja, deste projeto de um mundo novo. Para isso, os bispos propuseram que a Igreja se apresentasse sempre como Igreja pobre e despojada dos meios de poder, comprometida com a libertação de toda a humanidade e de cada ser humano em sua integralidade (Med.5,15).
Ler e interpretar a vida e a fé a partir do mistério pascal possibilitaram a renovação das igrejas e teve consequências concretas, como a valorização da vivência comunitária da fé, a realização do Concílio Vaticano II nos moldes como ele se deu, o movimento ecumênico e a caminhada latino-americana das igrejas cristãs a serviço do povo sofrido, em busca de sua promoção e libertação. De uma compreensão mais profunda do mistério pascal desenvolveu-se a rica renovação liturgia em sua teologia e em suas expressões. Aprendemos com o povo a fazer festa. E mais: fazer das celebrações uma festa. Para o povo sofrido, fazer festa é uma questão de sobrevivência (N. Dornelles).
Na experiência fundante da primeira comunidade, se baseia a força missionária da Igreja que através dos séculos continua proclamando "O Senhor Ressuscitou, verdadeiramente, aleluia!".
As primeiras palavras do evangelho de hoje "No primeiro dia da semana", nos remetem ao relato da criação (Genesis), desta maneira São João nos quer situar diante de uma nova criação: a ressurreição. Ela foi o ato supremo da criação, a maior obra de Deus (Jo 20, 1-9).
Como e onde percebemos a ressurreição de Jesus? Questiona o biblista jesuíta J.Konings. E ainda:Somos comunicadores, com nossa fragilidade e pequenez, com nossa vida e palavra que a vida, o amor vencem a morte?
É importante levar em conta que tanto Maria Madalena como Pedro e o discípulo amado simbolizam a comunidade cristã, e o processo que ela faz para perceber e acreditar na Ressurreição de Jesus.
Em Maria Madalena vemos uma comunidade que ainda está sofrendo pela morte chocante de Jesus, por isso o evangelho frisa que ainda estava escuro, quando ela foi ao sepulcro. Entretanto, o amor corajoso desta mulher a Jesus, leva-a a ir sozinha ao sepulcro, mostrando, assim, a busca da comunidade cristã ansiosa de vida e de amor que, sem saber como será possível, espera que a morte não seja a última palavra. Ela se dirige ao lugar onde tinha sido colocado o corpo morto de seu Mestre, o túmulo. E vê que ele está vazio, porque Deus não aceitou a morte de seu filho amado.
Mas o túmulo vazio por si só é um sinal ambíguo, sujeito a várias interpretações. É um sinal que fala a todos e leva a refletir na possibilidade da ressurreição. É um convite à fé, mas não leva ainda a fé.
É através dos diferentes “ver” de Maria Madalena, Pedro e o discípulo amado, ou seja, da comunidade, que se mostra o processo que ela faz para passar desde a dor da morte à fé na ressurreição.
As palavras de Maria Madalena aos discípulos mostram claramente que ela pensa que tinham roubado o corpo do Senhor. Esse é o primeiro impacto que sacode a comunidade, e a faz reagir. Por isso os dois discípulos saem correndo, o discípulo que leva o apelido do amado de Jesus, que esteve com ele na cruz, chega primeiro. Ele percebe que há sinais de vida, mas ainda não alcança a plena compreensão do que aconteceu.
Finalmente o discípulo amado entra no túmulo e ele "viu e acreditou"! A fé do discípulo amado sofre um salto qualitativo. No lugar onde jazia morto seu mestre amado, os olhos de sua fé se abrem e consegue compreender que Jesus está vivo! Ressuscitou!
Essa fé nova que tem o discípulo amado é dom da graça de Deus, que lhes concede acreditar que Deus tirou do sepulcro da morte o seu Filho, ressuscitou-o! Em Cristo Ressuscitado, recebemos a resposta definitiva de Deus: não à morte, mas à vida é a última palavra que Ele, Deus, pronunciou sobre o destino humano.
Por isso nosso futuro está aberto, podemos ser sempre homens e mulheres de esperança, porque, com a ressurreição de Jesus, entrou na nossa história o sorriso de quem venceu a morte e goza das primícias de uma vida nova, o sorriso da esperança! A fé no Ressuscitado nos impulsiona a ir ao encontro dos crucificados de hoje, nos colocar a seu lado, para partilhar com eles este sorriso, a certeza alegre que Deus está vivo no meio de nós, ressuscitando, libertando da morte e fazendo uma nova criação (Konings).
Estar definitivamente no âmbito divino da Páscoa é viver o fruto da ação do Espírito de Jesus em nossa vida: “Vivo, mas já não sou eu, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Como seguidores de Jesus, devemos refazer a mesma caminhada de Jesus que morreu em defesa da vida e ressuscitou pelo poder de Deus (Fl3,10-11). Isto exige de nós uma espiritualidade de entrega contínua, alimentada na oração.
Possa a Páscoa significar para cada um de nós a “travessia de um estado de desumanização para um estado de humanização”, a proclamação de um mundo novo que começa e toma força na esperança de todas as pessoas que se consagram na luta em defesa da vida. Mais uma vez, Feliz Páscoa, meu irmão, minha irmã!
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